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Um Rosto, Dois Corações

Capitulo 1

Lara acabava de sair do banho e estava secando os longos cabelos cor de mel, quando Lana entrou no quarto e se jogou na cama emburrada como sempre. Pegou o livro de “Propaganda Teoria, Técnica e Pratica”, abriu e começou a folheá-lo, de repente fechou o livro novamente e olhou Lara através do espelho. Ela parou de secar o cabelo para encarar a irmã.

- O que foi?
- Já vai sair outra vez? – Lana perguntou.
- Qual a parte de “trabalhar a noite” você não compreendeu? – Lara respondeu sorrindo como sempre. Ela terminou seu cabelo e começou a se maquiar.
- Porque você nunca me leva nessa tal casa de show? Eu sou sua irmã sabia?
- E o que você faria lá Lana? – Lara virou-se para irmã – Olhe para você! Você não sobreviveria dez minutos num lugar como aquele. Ia acabar caindo e sendo pisoteada.
- Se você ficasse comigo, isso não aconteceria.
- Nós temos vinte anos, eu não vou bancar a sua babá, de mais a mais, eu estaria trabalhando, não poderia te dar atenção de qualquer maneira. – Lara deu de ombros e voltou a se maquiar.
- Eu poderia ir com alguém. Vânia, talvez?
- Vânia? – Lara deu uma risada – Só se for uma balada virtual. Aquela menina é nerd até o ultimo fio de cabelo. – Lara voltou sua atenção para Lana novamente. – Olha vamos fazer assim, na minha próxima folga eu te levo lá, se você ainda quiser ir, assim eu vou poder te mostrar como uma menina de vinte anos deve curtir a vida, certo?
- Tanto faz. – Lana desdenhou e voltou pro seu livro.
Lara acabou de se arrumar, pegou sua bolsa e se dirigiu para porta. Quando passou pela cama da irmã deu um beijo no rosto dela e Lana automaticamente limpou com a mão. Lara amava a irmã, mas amava mais ainda implicar com ela e sabia que Lana detestava esse tipo de contato físico.
Depois que Lara saiu andou até a esquina onde um taxi a aguardava. Ela já havia marcado o local com o motorista de confiança, que sempre levava e trazia-a em segurança para casa.
- Para onde hoje senhorita Lara?
- Para Copacabana José, Hotel Luxo’s Internacional. Av Atlântica.
- Pois não, senhorita.
Lara colocou fones de ouvido e foi escutando suas músicas preferidas no seu Ipod. Ela morava na Freguesia, um bairro do Rio de janeiro e ficava bem distante de Copacabana. Quando o taxista parou em frente ao hotel, ela agradeceu e saiu. Ela não pagava as corridas imediatamente, os valores eram acertados com Clovis, seu patrão.
Ela entrou no hotel e se juntou as outras cinco meninas que já estavam ali e trabalhavam com ela. Todas eram lindas e estavam muito bem arrumadas, pareciam modelos.
- Hey Shay! – Falou uma morena com cabelos negros lisos até a cintura – Só estávamos te esperando.
- Desculpe Lory, eu sempre me atrasando, não é? – Lara disse sorrindo e abraçando a morena.
- Clovis já estava uma pilha de nervos.
- E quando ele não está uma pilha de nervos? – Lara perguntou e elas caíram na gargalhada.
- Venha, a suíte presidencial é nosso rumo dessa vez.
- Somos poucas hoje. – ela disse olhando para as outras meninas.
- Sim, é uma despedida de solteiro, coisa íntima, apenas seis caras.
- Contando com o noivo?
- Sim. Sabe que quem ficar com ele terá a maior gorjeta, não sabe? – Lori disse sorrindo para Lara.
- Vamos ver quem será a sortuda então. Vamos subir antes que Clovis nos veja aqui no saguão ainda e dê um ataque.
Elas se juntaram as outras meninas e foram pra suíte presidencial. Lá trocaram suas roupas, por conjuntos de lingerie e cinta-liga, um mais sexy que o outro. Lara foi até o mini system e colocou uma música pra tocar. Bebida e comida já estavam devidamente disponíveis na suíte.
Não demorou muito para que seis homens muito bonitos e bem arrumados entrassem na suíte. Eles pareciam já ter começado a festa em algum lugar, pois dois deles estavam visivelmente bêbados. Chegaram dançando e indo em direção às colegas de Lara.
Ela estava na sacada, com duas taças de champanhe na mão e um dos homens se aproximou dela, que ficou admirada com a beleza dele. Ele era alto, cabelos compridos e loiros na altura do maxilar, pequenos olhos verdes e uma barba cerrada. Quando ele parou ao lado dela, Lara sorriu amigavelmente para ele.
- Olá, acho que isso é pra mim, certo? – Ele disse apontando para a taça e sorrindo tão encantadoramente, que derreteu Lara.
- Certo! – ela retribuiu o sorriso.
- Eu sou o Wagner. – ele disse pegando a champanhe da mão dela.
- Eu a Shay!
- Shay? - ele riu como se ela tivesse contado uma piada.
- Sou fã da Shay Mitchel. – ela sorriu e tomou um gole do seu champanhe. – Então Wagner... Você dança?
- Bom eu não sou nenhum dançarino, mas consigo balançar bem o esqueleto.
- Então vamos. – Lara segurou a mão dele e o arrastou, caminhou na frente e Wagner ficou admirando o corpo dela, vestido com aquele espartilho preto e um sorriso encantador enfeitava seu rosto, quando Lara virou para encará-lo. Ela sorriu de volta.
Pararam no meio da suíte, onde Lori dançava com um rapaz. Quando Lara e Wagner começaram a dançar a amiga de Lara fez sinal pra ela indicando que aquele era o noivo, e que ela tinha se dado bem. Uma das meninas já havia sumido com um dos rapazes bêbados. E outras três estavam em um canto da suíte com os rapazes.
- Chega de dançar, vamos voltar pra sacada! – Wagner disse ao pé do ouvido de Lara, e ela balançou a cabeça positivamente.
Wagner pegou um balde com gelo e uma das garrafas de champanhe e puxou Lara até a varanda. Sentaram-se nas poltronas que havia lá, e começaram a conversar. Lara falou um pouco mais sobre sua vida que o normal, disse que era universitária, e diferente de muitas garotas da profissão dela, estava naquela profissão porque queria, não porque precisava. Que o dinheiro era bom e que dava pra ela pagar a faculdade dela e ainda ajudar sua irmã com as mensalidades. Disse que morava com seus pais, que eles eram idosos e conservadores que nunca poderiam nem sonhar como ela ganhava a vida.
- E onde eles acham que você está agora?
- Numa casa de show, sendo recepcionista.
- E se um dia eles quiserem conhecer o seu local de trabalho?
- Clovis tem muitos contatos. Já precisei levar uma prima que estava nos visitando no “trabalho” – Lara fez aspas com os dedos – E levei-a na Cabana Show, em Jacarepaguá.
- Eu não conseguiria levar essa vida dupla, sou muito transparente e não sei mentir muito bem, eu me atrapalharia todo.
- Acabamos aprendendo a mentir, mas me diga o que você faz? É empresário como o noivo? – Lara perguntou e Wagner caiu na gargalhada.
- Não, – ele disse quando finalmente conseguiu parar de rir um pouco – ser amigo de gente rica, não faz a gente ser rico. Eu sou uma espécie de motoboy, mas eu não entrego qualquer coisa. Geralmente meu trabalho é entregar coisas importantes. Sou um segurança que entrega coisas, digamos assim. – ele deu de ombros – Eu posso ficar na minha moto, que é a coisa que eu mais gosto, não fico preso dentro de um escritório e ainda paga bem.
- Interessante! - Lara disse sinceramente – Mas você não fica com medo de ser assaltado?
- Numa cidade como o Rio de Janeiro? Quem teria esse tipo de medo numa cidade segura como essa? – ele disse fazendo uma careta e eles caíram na gargalhada – Na verdade eu tenho sim, mas além de eu ser bom no que faço, sem falsa modéstia, todas as entregas são seguradas, então...
- Sei como é - ela se levantou e sentou no colo dele – esse lance de ser bom no que se faz. – ela tentou beijá-lo, mas ele virou o rosto.
- Não me leve a mal Shay, mas... – ele disse tirando-a de cima do colo dele.
- Você não gosta de mulher?
Ele deu uma gargalhada. – Ah não, eu gosto! E muito! – ele a olhou de cima a baixo – Muito mesmo. E você é linda, e como é! Mas eu não sou esse tipo de cara. – ele apontou com o queixo o amigo que quase engolia uma das colegas de Lara como um polvo – Eu sou como você diria... “Das antigas”. Gosto de romantismo, relacionamento, flores, bombons, noivado... Coisas que eram bonitas e se perderam no mundo de hoje em dia.
Lara ficou um tempo observando Wagner, com os olhos arregalados. Nem nos seus mais remotos sonhos esse tipo de homem ainda existia. E ela conhecia bem os homens. A maioria dos seus clientes eram homens casados ou comprometidos, que procuravam garotas de programa para sair da rotina, fazer coisas que não tinham coragem ou não achavam certo fazer com suas companheiras, ela já ouvira uma infinidade de desculpas. Mas a verdade é que nunca faltava cliente na agenda dela. Ela ainda se julgava uma sortuda por ter conseguido se encaixar no grupo de Clovis, onde ela tinha uma clientela mais selecionada, que tinham condições de pagar um alto preço.
- Olha Wagner, tudo bem... Eu acho que compreendo... – ela nem achava as palavras certas pra descrever o que ela estava sentindo e pensando – Mas se seu amigo reclamar com Clovis, vou ter problemas.
- Não se preocupe com isso Shay – ele disse enchendo um pouco mais a taça de champanhe dela – Ele sabe que eu só vim porque somos amigos de infância e que eu não tinha outras intenções a não ser arrumar uma boa companhia pra conversar. – ele tomou um gole da sua bebida - E acho que escolhi a pessoa certa.
Lara sorriu e tomou um grande gole. Como podia, nos dias de hoje, ainda existir um homem assim? Ele era lindo e um verdadeiro cavalheiro. Lara simplesmente ficou encantada. Eles conversaram noite adentro e quando ele viu que estava tarde ofereceu a Lara uma carona.
- Eu preciso ir Shay, tenho uma entrega pra fazer amanha às onze da manhã. - ele disse finalizando sua taça – Posso te oferecer uma carona?
- Ah, não é necessário, obrigada. Nós temos quem nos leve. - ela sorriu.
- Então, obrigado pela noite maravilhosa. Foi um prazer conversar com você Shay. – ele se aproximou e deu um beijo quente e demorado no rosto dela. Aquele toque fez o coração de Lara derreter. Wagner se afastou, virou-se e foi em direção ao quarto, parou no meio da porta de vidro e olhou para ela que o estava olhando admirada. – Você não vai me dizer seu nome verdadeiro, vai? – Lara apenas sorriu e ele entendeu – Tudo bem, mas não custava perguntar.

Lara foi pra casa e em todo caminho no taxi não conseguia parar de pensar em Wagner, conseguia ouvir a risada dele como se ele ainda estivesse do seu lado e se pegava sorrindo, feito uma boba.
Quando entrou em casa todos dormiam, menos Lana. Esta fazia questão de ficar a espreita sempre controlando a hora que Lara chegava em casa. Lara entrou no quarto silenciosamente, até uma agulha caindo num tapete faria mais barulho que ela. Ainda assim Lana resmungou reclamando como se Lara tivesse deixado cair um copo de vidro. Lara apenas se desculpou e foi tomar um banho para deitar-se para dormir. Foi mais difícil do que ela imaginou, ficar pensando em Wagner tirou seu sono.
Quando Lara abriu os olhos na minha seguinte, estranhou que Lana não estivesse no quarto. Ela sempre acordava enquanto a irmã estava se arrumando para irem à faculdade. Ela olhou para o relógio e viu que estava muito atrasada, perderia pelo menos duas aulas. Resmungou alguns palavrões reclamando que Lana não a tinha acordado. Colocou uma calça jeans, uma ribana, tênis, fez um rabo de cavalo e saiu, sem nem tomar café, apenas se despedindo dos pais. Magicamente conseguiu se maquiar dentro da van.
Lara tentou encontrar Lana, mas não conseguiu. Era como se a irmã estivesse fugindo dela. Assistiu todas as aulas e resolveu ir pra casa descansar um pouco. Ela não teria que trabalhar hoje, visto que o lucro de ontem fora grande e Clovis havia dado folga as seis meninas que estiveram na suíte.
Quando ela atravessou a porta da faculdade ouviu o roncar de uma moto e automaticamente sua mente levou-a para Wagner, ela sorriu com a lembrança dele. Viu se aproximar uma Suzuki Hayabusa prata, uma moto grande e linda. Apesar de estar um pouco distante, Lara viu que o motoqueiro usava um terno preto, gravata cinza e uma camisa azul, e tinha uma grande bolsa de viagem, pendurada nas costas. Quando o motoqueiro tirou o capacete, as pernas de Lara falharam e ela não conseguiu dar mais um passo. Era Wagner! Lindo exatamente como ela se lembrava. O segurança da faculdade se aproximou ao portão e depois de algumas trocas de palavras ele apontou pra porta onde Lara acabara de sair. Ela correu e se escondeu atrás de uma pilastra onde ele não poderia vê-la.
Tudo que ela queria era poder ver e conversar com ele novamente, mas não ali. Ela se sentia vulnerável na faculdade, era sua real vida. Não queria que Wagner soubesse, ainda, quem ela realmente era.
Conforme ele ia se aproximando da entrada, Lara ia contornando a pilastra para que ele não a visse. Quando Lara olhou pra porta, viu que Lana saía olhando distraidamente para a tela do celular enquanto Wagner também distraído olhava uns papéis em sua mão, os dois inevitavelmente colidiram, fazendo o celular e os papéis caírem no chão.
Lara não conseguia ouvir o que diziam, mas viu um sorriso largo e lindo, aparecer no rosto de Wagner e quando ele disse qualquer coisa, Lana franziu a testa e se afastou fazendo uma carranca. Ele tentou tocar na mão dela e ela se afastou novamente. Wagner deu de ombros e caminhou em direção à porta, mas antes que ele pudesse entrar Lana o chamou e caminhou até ele. Depois e trocarem algumas palavras, Wagner retirou um cartão do bolso e entregou a Lana. Lara observava nervosa, queria ir até eles, tirar Wagner de perto da irmã, mas preferiu ficar escondida. Talvez aparecer só fosse piorar as coisas.
Lara esperou Lana chegar até o portão e correu ao encontro dela.
- Ei!
- Ah é você! – Lana disse indiferente.
- Porque você não me acordou? – Lara reclamou para puxar assunto – Perdi duas aulas.
- Eu não sou seu despertador irmãzinha. Talvez você deva trocar de emprego e começar a trabalhar em horário normal como a maioria das pessoas.
- Se eu for trabalhar como a maioria das pessoas, eu vou ganhar como a maioria das pessoas, e aí talvez eu não consiga te ajudar com a faculdade.
- Não precisa jogar na cara! – Lana fez cara feia.
- Não estou. Apenas não implique com meu trabalho. – Lara suspirou, ela não queria brigar com Lana, não agora. Precisava saber o que ela e Wagner tinham conversado, mas não podia perguntar diretamente, na verdade não sabia nem por onde começar pra obter a informação que precisava. – Não vamos brigar, ok? Como foi seu dia?
- Bom, deixe-me ver – Lana fez cara de deboche - Eu acordei, me arrumei, tomei café, vim pra faculdade, estudei e agora estou voltando pra casa com a minha irmãzinha me fazendo um interrogatório sem sentido.
- Também acordou com o pé esquerdo, diga-se de passagem, não é?
Lana não respondeu, apenas deu um sorriso visivelmente forçado. Elas caminharam em silencio até o ponto da van e ficaram esperando na fila, a vez delas para entrarem, mas a van lotou e apenas Lana conseguiu entrar.
- Te vejo em casa, irmãzinha. – Lana deu tchau com os dedos e sorriu.
Lara revirou os olhos. Às vezes Lana podia ser uma verdadeira vaca. Ela ficou na fila esperando quando viu alguém bater em seu ombro.
- Oi de novo!
- Wagner?
- Ah, agora você se lembra de mim?
Lara pensou um tempo no que responder, mas não fazia ideia do que ele e Lana tinham conversado, então ela apenas sorriu se fazendo de desentendida.
- Tudo bem então, já percebi que você não é muito de falar – ele franziu a testa e sorriu - pelo menos não à luz do dia, acertei? – ele sorriu encantadoramente para ela outra vez e ela apenas retribuiu – Vou esperar você me ligar mais tarde, como disse que faria. – ele beijou o rosto dela como fez na noite anterior, se afastou e sorriu – Como eu queria fazer isso de novo!
Depois que ele se foi, ela acariciou o lugar onde ele beijara e entrou na van, que chegou enquanto eles conversavam. Sua mente ferveu quando percebeu que Lana estava armando alguma coisa. Porque ela prometeria ligar pra um homem que ela nem conhece. Alguma coisa estava errada, mas ela daria um jeito. Era mais esperta das duas. Desviaria a atenção de Lana.
Antes de chegar em casa ligou para Clovis, para ele arrumar entradas para uma boate. Quando chegou, foi direto falar com Lana.
- Ei, boas noticias. – ela jogou a mochila na sua cama e deitou – Arrumei duas entradas pra uma boate ótima na Lapa. Topa?
- Hoje? Amanhã nos temos aula Lara.
- Ah qual é Lana, vamos. – ela se sentou e encarou a irmã – Vai ser legal. Vamos nos divertir. Você não queria ir junto ontem? Então, vou te levar em um lugar mil vezes melhor que meu trabalho.
- Tudo bem, mas só se você me emprestar uma roupa. Eu não tenho roupa para ir nesses lugares.
- Lana quantas vezes eu vou ter que dizer que meu guarda roupa está aberto pra você. Não precisa pedir, basta pegar.
- Ah claro, mas quando fui pegar seu vestido azul você brigou.
- Porque nós íamos pra mesma festa e eu já tinha dito que ia com ele, e você cismou que queria ir com ele também. Ainda assim, eu deixei você ir com ele e escolhi outra roupa, então essa vez não conta.
- Tudo bem, que horas vamos sair daqui.
- Ah, umas nove da noite. Eu ajudo você a se arrumar.
Lara saiu do quarto aliviada, sabendo que tinha desviado o foco de Lana. Talvez ela nem se lembrasse mais de Wagner, ou ela tinha apenas pego o cartão porque achou ele bonito, mas Lara sabia que ela nunca teria coragem de ligar.
As duas estavam lindas, Lana com um vestido preto e curto que ela tinha pego do guarda roupa da irmã e uma peep toe rosa Pink. Lara estava com um vestido vermelho, sem alças e com saia em pregas e um scarpin preto. As duas com cabelos soltos e maquiagem parecidas. Se não fosse pela roupa, iriam parecer a mesma pessoa.
Depois de dançarem um pouco e se divertirem juntas na boate, Lara e Lana sentaram-se no banco do bar e pediram duas margueritas e conversaram animadamente. Vários caras tentaram se aproximar das duas, mas elas dispensaram. Era uma noite das irmãs, como Lara havia dito. Muitas margueritas depois as duas riam de qualquer coisa.
Num determinado momento Lana sorriu e levantou a mão, quando Lara se virou deu de cara com Wagner se aproximando. Ela gelou! Virou-se para Lana olhando pra ela incrédula, mas a irmã apenas sorria. Assim que Wagner se aproximou e viu as duas ele franziu a testa.
- Duas Shay’s? – ele parecia não acreditar no que seus olhos viam.
- Bom, eu não sou Shay, sou Lana. – ela olhou para Lara e sorriu debochadamente – E você Lara, conhece alguma Shay?
- Não! – ela respondeu desviando o olhar e tomando mais um gole de sua bebida. Wagner ainda olhava boquiaberto de uma para outra.
- Não se faça de sonsa. - Lana disse com a voz elevada, tanto pelo barulho da boate quanto pela raiva visível em seu rosto – Shay é o que? Seu nome de guerra.
O desespero ficou visível no rosto de Lara. – Não é nada disso Lana, eu posso explicar.
- Explicar o que está na cara? Não precisa! Sabe Lara por um tempo eu senti muita inveja de você. Você tinha um emprego à noite, como uma pessoa importante. Vestia-se bem, com as melhores roupas. Tinha a vida que eu queria ter, até eu esbarrar com seu amiguinho aí e ele me chamar de Shay, insistir que tivemos uma conversa ótima na noite anterior e aí tudo começou a fazer sentido. Bastou juntar as peças. – ela fez cara de nojo - Agora eu tenho é nojo de você. Você é uma pessoa suja, que se vende e pra que? Agora mais que nunca eu odeio ter o mesmo rosto que você. – Lana se levantou ignorando as lágrimas que escorriam pelo rosto de Lara e foi embora.
Lara ficou lá sentada, sem saber o que fazer. Tinha que impedir Lana de contar pros pais o que ela obviamente havia descoberto. Mas nunca tinha visto a irmã tão irada daquela maneira e ficou com medo de ir atrás e piorar as coisas. Ela apenas chorou e deu espaço para que Lana se acalmasse. Suas palavras a machucaram. Tristeza e desespero tomavam conta dela.
- Venha, vamos sair daqui. – Wagner secou os olhos de Lara, jogou umas notas no balcão e puxou-a pela mão – Isso não é lugar para conversarmos.
Wagner a levou para praia e sentaram-se na areia.
- Então você é gêmea? – Lara assentiu – Acho que essa confusão toda é minha culpa, se eu...
- Não Wagner, a culpa é minha. Você não podia adivinhar que eu era gêmea. Mas no fundo, mais cedo ou mais tarde eu sabia que isso aconteceria.
- Você acha que ela vai te entregar aos seus pais?
- De verdade? Não sei. Ela ficou bem irada, eu nunca tinha a visto daquele jeito. Ela é sempre tão calma e sensata.
- Bom eu peço desculpas, mesmo assim. Eu não conseguia parar de pensar em você, até ia ligar pro meu amigo e pegar o telefone do seu chefe para tentar entrar em contato com você e quando encontrei com sua irmã na faculdade, eu me senti um grande sortudo.
- Você ficou pensando em mim?
- Muito Shay...
- Lara! – ela sorriu – Meu nome é Lara.
- Muito mais bonito e combina com você.
- Obrigada. Eu... – Lara ficou na duvida se falava ou não, mas resolveu abrir seu coração – Eu também pensei muito em você.
E quando ela disse isso Wagner a beijou. Um beijo com o qual Lara não estava acostumada. Geralmente os caras, mesmo quando não eram clientes, se aproximavam dela pela aparência dela. Eles queriam possuí-la. Wagner não parecia querer isso. Ele a beijou como os mocinhos beijavam as mocinhas nos romances que ela via nos filmes. Um beijo lento, carinhoso, quase apaixonado.
Quando eles se afastaram ela sorriu, mas logo depois ficou séria.
- Eu vi.
- Você viu o que? – ele perguntou acariciando o rosto dela.
- Você e Lana conversando. Fiquei apavorada e não soube o que fazer. Agora eu sei, talvez se eu tivesse aparecido naquela hora você teria notado e as coisas não teriam tomado à proporção que tomou. Ou na fila da van, se eu tivesse dito que era eu, e que você tinha falado com minha irmã.
- Então na fila da van era você? – ele sorriu – Fico feliz de ter beijado a irmã certa.
Lara sorriu, mas sempre que relaxava ela se lembrava das palavras de Lana.
- Lana devia ter me contado que você tinha marcado com ela na boate. Eu daria um jeito de te avisar antes.
- Na verdade... – ele suspirou - Foi ela que marcou comigo.

Capitulo 2

Lara o encarou, aturdida. Lana fizera isso? Ela tinha a total intenção de humilha-la, de deixa-la em uma situação constrangedora... A irmã queria diminui-la, envergonha-la.
Sentiu a raiva sufoca-la, na mesma proporção que o medo crescia. Ela estava perdida. Lana iria contar para os pais, com certeza. Talvez estivesse fazendo isso neste momento.
O que ela iria fazer? Seus pais nunca entenderiam, ou aceitariam.
- Ela vai contar... – Ela sussurrou, pálida, enquanto se levantava. – Com certeza ela vai falar tudo, Wagner. Eu preciso ir... Ver o que consigo salvar disso tudo...
Wagner segurou a mão dela, entrelaçando os dedos, os olhos dos dois presos.
- Eu levo você, tudo bem?
- Ah, Wagner... É melhor não. – Ela nunca se sentira mais triste em negar uma carona. – Eu não sei o que vou encontrar em casa, então...
- Eu te levo até a esquina, então. – Sorriu, brincalhão. – Como quando eu era adolescente e namorava escondido.
Mesmo contra a sua vontade, contra toda a seriedade da situação, Lara viu-se sorrindo e concordando. Ele a fascinava.
Durante o caminho, ela o abraçou pela cintura, o vento forte jogando os longos cabelos loiros dela para trás, enquanto eles cruzavam a cidade na grande moto prata dele.
Eles pararam em um sinal vermelho, e Wagner acariciou as mãos dela, entrelaçadas sobre a barriga firme dele. Foi uma caricia suave, quase distraída, como se eles fizessem isso sempre.
Lara nunca conhecera alguém como ele. Os rapazes com quem já saíra eram imaturos e apressados, e carinho não era algo que seus clientes tinham em mente quando estavam com ela. Mas Lara sentia que Wagner a olhava como pessoa, ele via além de seu belo corpo e rosto.
Ele a via como ela era.
Eles chegaram rápido demais ao seu destino, na concepção de Lara. Ela tanto temia o confronto com os pais, como queria ficar próxima a ele, abraçada, como estava.
Ela desceu da moto, e entregou o capacete a ele, que também tirou o seu, enquanto desligava a moto.
- Qual é a sua? – Ele perguntou, olhando para a rua silenciosa.
- Aquela branca, ao lado da verde. – Ela respondeu, apontando a casa no meio do quarteirão. Wagner acompanhou seu gesto, e Lara manteve sua atenção nele. Ele era lindo.
Ele a encarou, abrindo seu lento e terno sorriso, e ela retribuiu, e antes que pudesse pensar, se aconchegou aos braços dele, deitando a cabeça em seu ombro, apoiando-se na lateral do corpo dele.
- Eu tenho que ir... – Ela lamentou.
- Eu sei... – ele respondeu, seu tom espelhando o dela. – Me ligue, está bem?
Ela levantou a cabeça, para encara-lo.
- Você tem certeza?
- Vamos dar um passo de cada vez, certo? – Ele disse com firmeza. – A única coisa que realmente tenho certeza agora, é que você tem povoado meus pensamentos desde ontem, e que em uma cidade do tamanho desta, eu consegui reencontrar você. Então, sim, eu tenho certeza disto agora. Amanhã? Na próxima semana? Próximo mês? Não sei, só posso lhe dizer que agora, neste momento, eu quero muito me encontrar novamente com você.
Ela concordou com a cabeça, reconhecendo a sabedoria da resposta. Ele beijou docemente seus lábios, e então ela se afastou para que ele colocasse o capacete.
Eles ficaram se encarando, até que ele sorriu, e ela automaticamente correspondeu.
- Eu só vou quando você entrar em casa. – Ele declarou gentilmente.
- Ah! – Ela corou, como há muito não fazia na presença de um homem. Ele era tão cavalheiro. Beijou-o levemente, novamente se despedindo, e caminhou para sua casa.
- Lara! – Ele chamou, quando ela havia se afastado poucos metros. Ela virou-se para ele. – Você vai me ligar?
- Com certeza! – Ela sorriu largamente.
- Huum... E você tem meu telefone? – Ela corou novamente, e ele riu alto, tirando um cartão da carteira. Quando Lara foi pega-lo, ele segurou. Ela levantou o olhar para o dele, confusa. – Você é Lara mesmo, não é? – Ela balançou a cabeça e riu, acompanhando-o. – Só para garantir.
Lara caminhou para casa, e antes de entrar acenou para ele, que retribuiu. Apesar do que teria que enfrentar, entrou sorrindo, mas o sorriso morreu e ela franziu o cenho ao encontrar a casa silenciosa e as escuras.
Foi direto para o quarto que dividia com a irmã.
Lana estava tranquilamente deitada em sua cama, folheando a revista onde ela fazia estagio, e não olhou para a irmã quando ela entrou.
Lara olhou ao seu redor, não acreditando no que estava vendo.
Suas roupas estavam jogadas no chão, misturadas com os calçados, as portas do guarda roupa abertas.
- O que aconteceu aqui? – Lara perguntou incrédula. Parecia que um tornado havia passado no quarto.
- Nada demais. – Lana declarou calmamente, sem olhar para ela. – Eu só estava olhando as suas roupas, procurando algo que me agradasse... Mas não encontrei nada. Você sabe – Deu de ombros. -, as pessoas já nos confundem. Eu não quero me vestir com as roupas de uma vadia. Sem ofensas! – Lana a olhou rapidamente, um frio sorriso em seus lábios, voltando em seguida sua atenção para a revista. – Então, eu decidi que vou comprar algumas roupas novas. Você pode deixar seu cartão sobre a mesa.
- Meu cartão? – Ela só podia estar em um pesadelo.
- Seu cartão de crédito, irmãzinha. Eu quero fazer comprar no final de semana. Ah! – Lana colocou a revista de lado, e jogou as pernas para o chão, sentando-se na cama. Mexeu nos cabelos, e Lara notou a joia no pulso da irmã, uma pulseira de prata, intercalada com ouro. Era uma das poucas joias que Lara possuía. – Quando cheguei, papai me perguntou sobre minha parte financeira para a manutenção da casa. Falei para ele que amanhã passaria no banco, mas você pode passar para ele esse valor, certo?
Lara encarou a irmã, sem acreditar.
- Então é isso, Lana? – Uma lágrima solitária desceu por sua face. Aquela não era sua irmã. Não era a irmã com quem brincara na infância. Era uma mulher maldosa e cruel, aproveitando-se dela e de seu segredo para conseguir algo. – Você vai fazer isso comigo? Sua irmã, seu sangue? Vai se aproveitar de mim?
- Minha irmã, a vadia! Minha irmã, a prostituta! – Lana declarou alegremente, como se estivesse apresentando Lara. Caminhou até a ela. – Não seja assim, irmãzinha. Só quero que você divida um pouco do que ganhou comigo. Afinal, a imagem é a mesma, certo? Tanto que seus clientes... Ops! – Colocou a mão na boca, arregalando os olhos, falsamente arrependida. – Amigos... Seus amigos me confundem com você. Sendo assim, acho muito justo usufruir dos seus ganhos.
- Sempre coloquei minhas coisas á sua disposição, Lana...
- Eram empréstimos, Vadia! Você me deixava, por alguns momentos, ter o que você tinha! Belas roupas, belos calçados, divertidos amigos! – Lana gargalhou, sem humor.
- Então, é isso que você quer? Você quer a minha vida para não contar nada para nossos pais?
- Não seja idiota! – Ela gritou, irritada. Olhou para a porta do quarto, e suspirou, recompondo-se. - Não quero sua vida! Nunca conseguiria ser uma prostituta, que se deita com homens por dinheiro! Não, não... – Balançou a cabeça, divertida. – Eu só quero as coisas boas, irmãzinha! Só quero o dinheiro, e tudo que ele pode proporcionar. Você se encarrega dos homens... Afinal, você já está acostumada.
Olhando para sua irmã, Lara soube que aquela sim era a verdadeira Lana. Agora ela estava sem mascaras á sua frente, a inveja e a crueldade demonstradas sem qualquer remorso em seus olhos.
- Você vai me falir! – Lara reclamou, sem forças. – Eu não vou fazer isso...
- Você é quem sabe, querida. Eu não tenho nada a perder, já você... A filhinha tão amável e prestativa é, na verdade, uma puta vendida. Lembro-me da recomendação médica de que papai não se aborreça, por causa do infarto que teve a pouco tempo. – Fez uma pausa, e sorriu ao ver a irmã empalidecer mais ainda. – Então, você é quem decide o que vai ser, Lara. Eu estou aqui para fazer sua vontade!
Elas ouviram uma suave batida na porta, e logo depois sua mãe abriu a porta, olhando-as atentamente.
- Meninas, ouvi gritos... O que aconteceu aqui? – Ela perguntou, olhando horrorizada para o quarto. – Nem quando vocês eram crianças vi tamanha bagunça! – Martha voltou sua atenção para as duas filhas. – Vocês estavam brigando?
Lana olhou para a irmã, um sorriso convencido pairando em seus lábios. Lara tinha um grande senso de responsabilidade, e ela sabia.
Ela conseguiria tudo o que quisesse dela.
- Só uma discussão por causa de roupas, mamãe. – Lara respondeu, olhando para baixo.
- Vocês sabem que seu pai precisa descansar para recuperar a saúde.
- Desculpe, mamãe. Já estamos nos recolhendo. – Lara pediu, sinceramente. Realmente sentia-se culpada por incomodar a mãe.
- Tudo bem, querida. – Entrando no quarto, Martha beijou a face de cada uma das filhas. – Boa noite. Não esqueçam de programar o despertador.
- Boa noite, mamãe. – Lara respondeu, observando-a sair do quarto e fechar a porta.
- Boa escolha, irmãzinha! – Lana disse, tão logo a porta se fechou. – Muito inteligente da sua parte.
- Vá para o inferno! – Lara respondeu entredentes, voltando-se para começar a organizar seu guarda roupa.
- Você me magoou! – Lana declarou debochada, colocando a mão sobre o coração. – Mas vou perdoa-la... Desta vez! – Virou-se para sua cama, se deitando. – Não demore, preciso dormir.
Lara se abaixou, recolhendo as roupas espalhadas. Olhando para Lana, deitada em sua cama, relaxada como se não tivesse acabado de destruir sua vida, sentiu o peito oprimido. Deixou as roupas sobre a cama e saiu do quarto, ouvindo a risada irônica da irmã.
Tentando ao máximo não fazer qualquer ruído, foi para a sala e se deitou no sofá, deixando a forte onda de dor e sofrimento inunda-la.

Capitulo 3

Lara chorou até pegar no sono, e acordou com Lana jogando uma almofada nela.
- Acorde e vá para o quarto, mamãe e papai não podem saber que você dormiu ai, eles vão desconfiar de alguma coisa, e não é isso que queremos não é mesmo? – Lana disse com uma voz falsa de pena.
- Eu já te mandei ir para o inferno ontem, por que você ainda não esta La? – Lara respondeu com ódio na voz.
- Se eu fosse você eu teria cuidado ao falar assim comigo, eu posso mudar de ideia e contar o seu segredinho sujo para os nossos pais, você sabe que eu só estou guardando esse segredo pelo bem estar deles, imagina que decepção para o papai descobrir que sua filhinha querida na verdade é uma puta?
- Shhhh, fala baixo. – Disse Lara segurando a Irma pelo braço e a levando para o quarto. – Deixa de ser falsa, eu sei que você só esta guardando esse segredo por que vai me chantagear, eu estou muito decepcionada com você, finalmente você está mostrando quem realmente é.
- Você esta decepcionada comigo? Quem é você pra falar alguma coisa de alguém sua puta imunda? – Lana perguntou com uma voz de ódio. – Agora cala essa sua boca e me da logo o seu cartão de credito, preciso comprar umas roupinhas novas.
Lara foi até a sua bolsa e pegou o cartão, olhou mais uma vez para a sua irmã e entregou a ela.
- Boa menina. – Disse Lana sorrindo e saindo do quarto.
Lara sentou na sua cama e não podia acreditar no que estava acontecendo, sempre percebeu que sua Irma tinha ciúmes das suas coisas, mas jamais pensou que Lana pudesse ser essa pessoa tão cruel. Lara decidiu que precisava tomar uma atitude o quanto antes, seria insuportável viver dessa maneira, com Lana a chantageando. Com muito pesar, ela se levantou e foi tomar um banho, com toda essa loucura que estava acontecendo, lembrar de Wagner era a única coisa que fazia seu coração se acalmar. Lembrou de cada gesto carinhoso que ele fez, cada palavra doce que ele disse, e dos beijos que ele dava, ele beijava com a alma, se entregando totalmente em cada beijo. Lara sabia que as coisas iriam ser difíceis, mas estava disposta a tentar com Wagner.
Chegou na faculdade atrasada e perdeu 2 aulas, estava distraída e foi chamada atenção duas vezes por um professor. Ela so conseguia pensar em Lana, e em como ela se transformou em uma pessoa totalmente diferente da noite para o dia. Na hora de ir embora, estava de cabeça baixa mandando uma mensagem para o celular de Wagner, quando olhou para frente viu Wagner encostado em sua moto conversando com Lana, ela estava abraçada nele e Lana sentiu um forte sentimento de ciúmes, ela sabia o que a Irma estava fazendo, estava jogando com Wagner, fazendo-o acreditar que ela era Lara. Andou rapidamente para encontra-los.
- Lana! – Lara gritou para a irmã.
Lana não fez nem menção de se afastar, mas Wagner percebeu que havia algo errado.
- Voce é a Lana? – Ele perguntou se afastando.
- Sim, eu sou, mas não tem muita diferença mesmo não é? – Ela disse acariciando seu rosto.
- Com licença. – Wagner disse soltando sua mão e indo em direção a Lara. – Me desculpe, eu a cumprimentei achando que era você e ela não fez questão de desmentir.
- Tudo bem, ela esta querendo me atingir, e esta conseguindo. – Lara disse olhando para a irmã.
- Ah irmã, o que é isso? Nós somos irmãs, devemos dividir tudo, inclusive homens. – Lana disse olhando Wagner dos pés a cabeça.
- Quem é você? Em que monstro você se transformou? – Perguntou Lara incrédula.
- Ah não me venha com esse lance de moralismo, logo você? Você já deve ter dormido com mais homens que a minha sala toda e esta ai toda ofendida com a minha proposta de dividir esse lindo.
- Eu não estou interessado. – Disse Wagner com o tom firme.
- Eu ia te perguntar o que você viu nela, mas uma vez que temos o mesmo rosto, eu já sei a resposta. Mas eu tenho que te dizer, eu sou muito melhor que ela. – Disse Lana olhando para Wagner.
- Com base no que eu já vi até agora, eu duvido muito. – Wagner retrucou.
- Você quem sabe. – Lana disse dando os ombros. – Irmazinha, eu convidei a minha sala inteira para ir para aquela boate que fomos na outra noite, e é claro que eu disse que você conseguiria nossas entradas de graça.
- O que? Você está louca? Eu não posso fazer isso. – Lara gritou.
Wagner a segurou mais perto, só então Lara percebeu que estava gritando em frente sua faculdade.
- Ah, claro que você pode. Eu confio no seu “talento” para conseguir as coisas, irmãzinha. – Lana disse fazendo aspas como os dedos quando disse a palavra “talento”.
- Você é cruel Lana. – Wagner disse com cara de desdém.
- Você já sabe das conseqüências se não fizer o que eu mando. Amanha eu quero os meus amigos com entrada vip para a balada ok? Acho que são .... deixa eu ver, 30 pessoas? Isso 30 pessoas, não me decepcione irmãzinha, ou o seu valioso segredo será revelado. - Lana disse.
- Você esta tentando comprar a amizade das pessoas Lana? - Wagner perguntou.
- Fica fora disso bonitão. - Lana disse claramente furiosa. - Estou te avisando Lara, eu quero meus 30 amigos dentro daquela balada, ou já era esta entendendo? - Lana colocou seus óculos escuros e saiu dando uma risada ironica.
Lara ficou apenas observando a irmã se afastar, seu coração apertado por perceber que conviveu tantos anos com a irmã e nunca percebeu esse lado tão obscuro dela. Wagner a abraçou forte, aconchegando ela em seu peito e confortando-a com palavras doces.
- O que eu faço agora? - Perguntou Lara se afastando.- De maneira nenhuma o Clovis vai deixar entrar 30 pessoas de graça na boate.
- Quem è o Clovis?
- Digamos que ele è o meu patrão. - Respondeu Lara com vergonha. Ela nunca havia se sentido constrangida ao pensar sobre seu trabalho, mas ao conversar com Wagner sobre isso, ficava desconfortavel só de lembrar o que fazia para ganhar dinheiro.
- Sim, certo. - Wagner disse com tristeza nos olhos.
- Wagner, eu nunca menti pra você, nem poderia uma vez que te conheci em, digamos, meu horário de trabalho. Você tem que entender isso è o que eu faço para ganhar a vida.
- Eu sei Lara, mas pelo pouco que te conheço, eu sei, não, eu tenho certeza que você merece muito mais que isso, você é linda, simpática, inteligente, você tem capacidade de ser mais que isso Lara, você merece ser tratada como princesa, e não como um objeto, me desculpe falar isso, mas eu simplesmente não posso deixar você continuar vivendo assim.
- Isso é o que eu faço, isso é o que eu sou Wagner. - Lara disse acariciando seu rosto, ele fechou os olhos com o carinho.
- Eu não consigo mais ficar longe de você Lara.
- Então não fique, não vai ser fácil eu sei, mas não se afaste de mim. - Lara pediu.
Os dois se beijaram apaixonadamente, não se importando com os olhares curiosos dos outros alunos da faculdade, muito relutante Lara se afastou do beijo, encostando sua testa na dele.
- Eu preciso ir, preciso conversar com o Clovis, preciso explicar a situação pra ele, não sei se ele vai entender, mas eu tenho que tentar.
- Lara, você não precisa ceder as chantagens da sua irmã, você pode enfrentar isso, nós podemos enfrentar isso Lara. Eu resolvi não me afastar, eu vou ficar e lutar com você. - Wagner disse firme.
- Eu não sei o que fiz pra merecer você Wagner, você é o homem mais encantador que eu já conheci na vida. Mas não é tão fácil assim, a saúde do meu pai esta fraca, eu não posso causar nenhuma preocupação nele agora, eu só.... não posso.
- E o que você vai fazer? Vai acatar todos esses pedidos insanos que sua irmã está mandando você fazer? Até quando isso?
- Eu não sei ainda Wagner, eu tenho que pensar em alguma coisa, mas não posso deixar ela contar, seria decepção demais para os meus pais.
- Você sabe que essa hora vai chegar nao è? Você não pode manter esse segredo por muito mais tempo.
- Eu sei. - Admitiu Lara.
Os dois se despediram e Lara foi atras de Clóvis, precisava resolver a questão das entradas para os amigos de Lana, se informou com um dos seguranças dele e encontrou Clóvis em um dos "spas" que ele tinha.
- Shay! Você por aqui?
- Sim, eu... eu preciso de um grande favor Clovis.
Lara contou para tudo para Clovis, que só ouviu em silencio, quando Lara terminou ele bateu com os punhos na mesa.
- Porra! - Gritou ele - Você não pode deixar ela te chantagear Shay.
- E o que eu posso fazer?
- Deixe que ela conte, pelo amor de Deus Shay, você já è maior de idade, ninguém pode fazer nada contra você.
- Mas meus pais, você sabe que eles vão me expulsar de casa quando descobrirem.
- E você sabe que você não vai ficar na rua, nós já trabalhamos juntos a muito tempo, e você è de longe a minha melhor menina, eu vou te ajudar Lara. - Clovis disse. Lara se espantou, a muito tempo Clovis não a chamava pelo seu nome real.
- Eu sei disso, mas eu não quero que eles saibam desse jeito, se for para eles descobrirem, que seja por mim, enquanto isso tenho que fazer o que a Lana quer. Por favor Clovis, me ajuda, coloca os amigos delas pra dentro da balada, eu sei que você è sócio lá.
- E depois? Ela vem com outro pedido extravagante e você vai acatar de novo? Se você fizer isso, ela só vai te usar mais Lara.
- Eu vou cuidar disso depois, eu só preciso de tempo, por favor me ajuda.
- Tudo bem, mas só por que eu gosto muito de você, mas fique sabendo que è a ultima vez.
- Obrigada. - Lara disse aliviada.
Saiu de lá um pouco mais animada, quem sabe agora que ela faria o que Lana pediu, a irmã a deixaria em paz.
Chegou em casa e deu um beijo em seus pais que estavam sentados no sofá.
- Você está com uma carinha abatida filha.- Disse sua mãe preocupada.
- Eu estou bem mãe, só um pouco cansada. - Ela respondeu.
- Você está trabalhando muito Larinha. - Seu pai disse.
- É irmãzinha, você está trabalhando muito. - Disse Lana entrando na sala com uma cara falsa de preocupação.
Lara apenas a olhou com cara de nojo.
- Vem irmã, vem descansar um pouco no quarto, você parece cansada mesmo. - Lana a puxou pelo braço em direção ao quarto.
- Como você è falsa. - Lara disse fechando a porta do quarto.
- Cala a boca, você conseguiu as entradas? - Lana perguntou direta.
- Consegui. - Respondeu Lara.
- Quais os métodos que você usou para convencer a seu patrão? Não, não me conta, eu posso imaginar. - Lana disse com cara de nojo.
- Eu consegui a porcaria das entradas não è? Então não enche o meu saco. - Lara disse furiosa. Ela deitou na cama, colocou o fone do seu ipod e decidiu descansar, toda aquela historia estava deixando- a esgotada. Mal havia fechado os olhos quando Lana retirou bruscamente um dos fones.
- Eiii! - Lara reclamou.
- Levanta dai e vem fazer a minha unha agora, amanhã eu quero ir perfeita pra balada. - Lana disse olhando para suas unhas.
- O que? - Lara perguntou incrédula.
- Você ouviu muito bem, vem fazer as minhas unhas.
- Eu não vou fazer as suas unhas, faz você mesmo.
- Mãeeeee!- Gritou Lana.
- O que você vai fazer? - Perguntou Lara apavorada.
- Eu disse que você teria de fazer o que eu mandasse, ou eu contaria... mas parece que você não entendeu.
Nesse momento a mãe das duas entra no quarto;
- O que aconteceu? - Perguntou ela.
- Nada mãe. – Respondeu Lara imediatamente – A Lana só ia dizer que eu vou fazer a unha dela, não vamos almoçar agora.
Lana exibia um sorriso ameaçador para a irmã.
- Meninas, vocês precisam comer. – Disse a mãe com cara de preocupada.
- Estamos bem mãe, não é mesmo Lara? – Lana perguntou irônica.
- Estamos mãe. – Lara respondeu derrotada.
A mãe delas as beijou e saiu do quarto.
- Ótima escolha irmãzinha. Olha, quem diria que existia puta inteligente?
- Cala essa boca suja e senta ai pra eu pintar sua unha. – Lara disse com lágrimas nos olhos.
Lana se sentou vitoriosa na cama e estendeu as mãos para a irmã.
- Use Luvas, não quero pegar nenhuma doença sua. – Lana disse com cara de nojo.
Aquelas palavras magoaram ainda mais Lara, que somente chorou.
No outro dia, Lana exigiu que a irmã a acompanhasse na balada com os seus amigos, todos eles foram, claro, quem iria recusar entradas Vips. Lana estava sorridente e fazia de tudo para chamar a atenção das outras pessoas na balada, mas para Lara ficou claro que eles só estavam ali por que era de graça, e que não faziam questão da amizade de Lana.
Lana exigiu que Lara a servisse a noite toda e que pagasse os seus drinks, ao chegar em casa nessa noite, Lara chorou novamente até dormir.
Os dias que se passaram foram um eterno pesadelo para Lara, as chantagens de Lana foram ficando cada dia mais absurdas. Ela pegava as roupas de Lara, fazia Lara a servir como uma empregada e os pais delas já estavam começando a desconfiar que alguma coisa estava errada. A única coisa que deixava Lara feliz era que Wagner estava com ela, eles se viam quase todos os dias antes dela ir para o “trabalho”, Lara sabia o quanto deveria ser difícil para ele, mas ele fazia questão de enfatizar que ele não a abandonaria. Wagner era realmente um príncipe e Lara tinha certeza de que estava apaixonada por ele.
Em uma quarta feira a noite, Lara estava de “folga” e havia combinado de sair para jantar com Wagner, ela estava feliz nesse dia, finalmente teria um tempo de qualidade com o homem que a fazia se sentir bem. Lana estava deitada na cama lendo uma dessas revistas fúteis de fofoca.
- Já vai sair vadia? – Perguntou Lana observando Lara se maquiar.
- Acho que não é da sua conta. – Respondeu Lara.
- Acho que é sim.
- Escuta aqui Lana, não é por que você esta fazendo esse seu joguinho baixo de chantagem, que agora eu tenho que contar tudo a você.
- Ah você tem sim, a menos que você queira seu segredo revelado.
- Isso esta ficando chato Lana, muda o disco um pouquinho. – Lara fez cara de desdém para a irmã.
- É isso mesmo que eu vou fazer, vou tornar as coisas um pouco mais serias.
- O que você quer dizer com isso? – Perguntou Lara preocupada.
- Você vai sair com o Wagner hoje?
- Já te disse que não é da sua conta. – Respondeu Lara irritada.
- Ah, pela sua reação, eu acho que você vai sair com ele hoje. Mas eu acho que será a ultima vez, por que eu quero que você termine com ele.
- Você quer o que? Você esta louca? É claro que eu não vou terminar com ele.
- Você que sabe irmãzinha, é o seu segredo que esta em jogo aqui, não o meu. – Lana respondeu sorrindo e saiu do quarto.
Lara sentou derrotada na cama, de todas as chantagens que Lana havia feito, essa sem duvida era a mais cruel. Como ela poderia terminar com ele, ela já o amava, isso iria ser muito difícil para ela, seu telefone soou uma mensagem de Wagner dizendo que a esperava na esquina de sua casa.
Lara terminou rapidamente de se arrumar e afastou de lado os pensamentos ruins com as palavras de Lana.
O encontrou na esquina, lindo de terno e cinza e camisa branca e calças jeans, estava muito elegante.
- Nossa, qual é a ocasião? Você esta muito chique. – Lara disse o observando da cabeça aos pés.
- É sempre uma ocasião especial quando eu vou te ver Lara, e você esta muito linda. – Ele disse beijando-a. Lara estava com um vestido preto básico e com uma leve maquiagem, mesmo assim se sentiu linda somente pelo elogio que ele deu.
- Cadê a sua moto? – Lara perguntou confusa.
- Hoje nós vamos de carro, quero aproveitar cada momento com você. – Wagner disse abrindo a porta de um utilitário preto com os vidros escuros.
Ela entrou no carro e ficou muito feliz com o cavalheirismo dele, nunca outro homem abriu a porta do carro para ela entrar. Chegaram em um restaurante chique que Lara sempre desejou conhecer, o ambiente era clássico, com um piano no centro, e lustres enormes de cristal.
Wagner puxou a cadeira para Lara sentar e eles escolheram o vinho e a comida, conversaram animadamente durante o jantar, que estava delicioso.
Lara estava olhando o lugar quando percebeu que Wagner a observava.
- O que foi? – Ela perguntou tomando um gole de seu vinho.
- Você é linda.
- Obrigada, você também é. – Respondeu ela envergonhada.
- Lara, eu sei que é cedo, que nos conhecemos a pouco tempo, mas eu preciso te dizer uma coisa.
Lara sentiu um arrepio frio, e ficou nervosa.
- Eu estou apaixonado por você Lara, eu quero namorar com você, eu quero te fazer feliz, eu quero que você saia desse seu emprego e que possamos viver nossa historia de amor Lara. Eu quero você pra sempre, e só pra mim.
Lara nunca se sentiu mais feliz em toda sua vida, ouvir isso de Wagner era tudo o que ela mais queria. Mas logo em seguida se lembrou das palavras da irmã a ameaçando. O coração de Lara apertou e ela não conseguiu controlar as lagrimas que caiam em seu rosto. Ela não poderia mais ficar aqui, ela tinha que se afastar, se afastar do homem que a amava, se afastar da felicidade.
Lara se levantou e saiu correndo chorando, deixando para trás o amor da sua vida.

Capitulo 4

Ao chegar à rua apressou o passo afim de evitar que Wagner a alcançasse e pegar um táxi. Quando estava quase chegando à esquina ouviu Wagner gritar seu nome, ela olhou para trás e pode ver ele correndo em sua direção. Por sorte um táxi ia passando na hora e ela pediu para que ele parasse e entrou. Entre lágrimas pôde ver Wagner que ainda corria em sua direção, se não fosse o táxi em alguns segundos ele a alcançaria. Após o táxi se afastar ainda olhou para trás e viu ele parado com cara de quem não estava entendendo absolutamente nada. O carro virava uma esquina, mas ela ainda pôde vê-lo lembrar-se de pegar o celular no bolso, instantes depois seu telefone começava a tocar.
Vendo que Lara não atendia as ligações, ele começou a mandar mensagens. Lara fingia não perceber, colocou o celular no silencioso e o jogou dentro da bolsa. Agora que estava ali, precisava pensar em como iria fugir de Wagner. Uma parte de si recriminava-a pela atitude tomada, deveria ter o encarado e dito o que devia dizer, mas preferiu fugir, nem em mil anos teria coragem de olhar outra vez na cara dele.
Não aguentaria passar a noite em casa com Lana lhe infernizando por esporte, decidiu então ir para a casa de Josiane, a única dentre todas as suas amigas que sabia de toda a sua vida, tanto pessoal quanto profissional. Resolveu então ligar para não correr o risco dela não estar em casa.
Enquanto discava o numero da amiga uma mensagem de Wagner chegou e ela acabou abrindo-a sem querer, mas logo a apagou, não via motivos para ficar se torturando lendo o que ele mandava pra ela.
– Oi amiga! O que manda? Faz tempo que você não me liga não é mocinha! – disse Josiane ao atender.
– Oi, desculpa, juro que não foi por mal. – respondeu Lara.
– Mas e aí? O que houve? Você está com uma voz tão baixinha. Eu te conheço Lara! Sei que coisa boa não aconteceu, sei só pelo seu tom de voz.
– Eu estou a caminho da sua casa, mas resolvi ligar antes pra saber se você estaria por aí. Podemos conversar? – perguntou Lara torcendo para que ela dissesse que sim.
– Assim meu bem, eu só estarei em casa por mais uma hora. Hoje é aniversário da minha mãe e sabe como ela é não é? Se eu me atrasar ela com toda certeza irá se chatear.
– Então deixa para lá Josi, outro dia passo por aí esta bem?
– Ai amiga desculpa, você sabe que se eu pudesse eu desmarcaria o que fosse pra te ajudar não sabe? – desculpou-se Josiane.
– Eu sei amiga, não se preocupe. Deseje um feliz aniversário para sua mãe. Depois te ligo pra gente marcar de sair qualquer dia desses.
– Vamos sim. Fique bem querida. E ah! Tem certeza que é algo que você só poderia falar pessoalmente? – perguntou.
– É melhor sabe? É um assunto um tanto quanto difícil.
– Ai amiga, me desculpe mais uma vez.
– Tudo bem! Já disse para não se preocupar. – disse ao desligar.
Já que Josi não estaria em casa decidiu ir ao encontro de Clóvis. O caminho parecia maior que o normal para Lara, a todo instante lembrava-se de Wagner e uma raiva sobre-humana apoderava-se de seu coração quando lembrava de Lana e de suas chantagens. Teria que ser a última, não tinha mais condições algumas de ceder a novas exigências.
Surpreendeu Clóvis ao chegar em seu escritório;.
– O que foi agora menina? – perguntou Clóvis baixando impacientemente o jornal que lia.
– Preciso da sua ajuda novamente Clóvis. – pediu Lara.
– Se for algo semelhante ao que me pediu outro dia pode desistir. – disse ele voltando sua atenção para o jornal.
– Eu preciso me afastar por alguns dias Clóvis e preciso da sua liberação e da sua ajuda para isso, tenho que ficar em um lugar que ninguém possa me encontrar. – respondeu Lara. Clóvis não era o tipo de pessoa que se convenceria facilmente, mas não iria fazer teatrinhos, contaria a verdade. Pelo menos era o que pretendia fazer.
– O que?! Você ficou maluca? Não sei de onde você tirou essa ideia de que eu aceitaria isso Lara! É impossível! – Esbravejou Clóvis.
– Mas Clóvis...
– Não, nada de mais Clóvis ou menos Clóvis Lara! Eu preciso de você aqui trabalhando, inclusive eu ia te ligar agora a pouco antes de você chegar pra dizer que você tem um cliente muito importante esta noite. Daqui a pouco alias. – disse ele consultando o relógio. – Um daqueles rapazes que estava naquela despedida de solteiro quer sair com você hoje a noite. – disse Clóvis levantando-se e pegando um pouco de café na mesinha ao lado.
– Esta noite? Mas eu não estava de folga? Você não pode mandar uma das outras meninas que estavam comigo naquele dia não? – perguntou Lara que não estava nem um pouco afim de trabalhar naquele dia.
– Não, ele foi bem especifico quando disse que queria que fosse você e que fosse esta noite. Outro dia você tira sua folga. – respondeu.
– Tudo bem então. – disse Lara por fim.
– Ótimo! José irá te pegar no horário de sempre. Vá logo para casa e esteja pronta quando ele chegar. – disse ele fazendo sinal para que ela saísse.
Lara saiu de lá com uma sensação muito grande de derrota. Teria que encontrar outra forma de evitar Wagner. Pegou outro táxi e foi para casa, precisava se arrumar rápido, teria apenas uma hora até José chegar para levá-la.
– Boa noite. – disse ao entrar em casa.
– Boa noite meu amor. – disse Martha, sua mãe. – Você tem noticias de sua irmã? Ela saiu faz tempo disse que voltava logo mas não voltou ainda. Também não atende o celular, seu pai e eu já estamos ficando preocupados.
– Não, não sei. – disse Lara dando graças a Deus pela irmã não estar em casa. Deu um beijo nos pais e seguiu para o quarto. Quando ela ia fechando a porta sua mãe apareceu.
– Minha filha, esqueci de te dizer, um rapaz loiro muito bonito veio aqui te procurar. – disse ela referindo-se a Wagner que tinha ido lá atrás dela quando viu que ela não iria lhe retornar as ligações.
– Se ele vier novamente mãe, diz que eu saí esta bem? Diz que eu fui trabalhar, diz que eu morri! Diga qualquer coisa menos que eu estou em casa.
– Nossa! Quem é ele minha filha? Por que não quer vê-lo?
– Ele é só uma pessoa que eu vou ter que esquecer mãe. Nada demais! Agora com licença que eu vou tomar um banho para ir trabalhar. – disse Lara.
– Mas você não estava de folga? – perguntou Martha.
– É eu estava, mas o meu chefe ligou dizendo que a menina que iria ficar no meu lugar adoeceu e eu teria que ir.
– Que chato! Então tudo bem, se o rapaz voltar dou uma desculpa qualquer. Vou tentar ligar para sua irmã outra vez. – disse ela voltando para a sala.
Lara aprontou-se rapidamente e deitou-se um pouco enquanto esperava José chegar. Era impossível impedir que seus pensamentos a levassem até Wagner. Apesar de ter decidido não atender suas ligações nem de entrar em contato com ele, entristecia-se ao ver que ele havia desistido tão facilmente. Fazia horas que ele havia parado de ligar e de mandar SMS. Perguntava-se o que teria acontecido.
Na hora marcada José estava em sua porta. Despediu-se dos pais e seguiu para o táxi, disse o endereço e recolheu-se em seu mundo pondo os fones de ouvidos tão logo José partira, não estava com vontade de conversar essa noite.
Chegando no local marcado, subiu até o apartamento onde estava sendo aguardada. Quando o homem abriu a porta o reconheceu, era um dos que estavam bêbados naquela noite.
– Oi princesa. – disse ele assim que Lara entrou. – estava ansioso por a sua chegada. Você vai precisar se trocar. – disse ele olhando-a de cima a baixo. – Como é seu nome? Naquele dia quando eu bati o olho em você eu sabia que tinha que ficar com você, mas meu amigo fora mais rápido ou sua amiga foi mais rápida, não importa! O que importa é que hoje tenho você só pra mim! O meu nome é Renan, como é seu nome princesa? – tornou a perguntar.
– Shay. – disse ela secamente.
– Combina com você. Vá se trocar, eu estarei no quarto te esperando. – disse ele.
Lara vestiu a roupa que ele havia separado para ela e foi em direção ao quarto. Tentava pensar em qualquer coisa para esquecer o quanto não queria estar ali.
Lara não conseguia se concentrar e Renan por mais que tentasse não estava conseguindo o que queria.
– Não! Para, para pelo amor de Deus. – disse Renan. – eu pensei que você era melhor!
– E o que queres que eu faça meu senhor? – perguntou Lara dissimuladamente fingindo-se de submissa como Clóvis avisou que ele gostaria.
– Que você venha com gosto minha filha! Se eu quisesse alguém que não está nem aí para nada e que ficasse claramente fingindo eu não iria pagar e ia fazer isso com minha namorada! – disse ele grosseiramente. – Sinto muito mas eu vou ter que ligar para o seu chefe! Saia daqui, vá lá pra sala, vista-se. Eu vou pedir meu dinheiro de volta ou alguém que queira trabalhar.
– Como quiser. – disse Lara se afastando.
Isso não era nada bom, Clóvis com certeza lhe daria uma bela de uma bronca, mas realmente não estava com cabeça para trabalhar aquela noite. Vestia-se quando Renan apareceu com o celular na mão.
– Eu não queria lhe causar problemas princesa, mas parece que seu chefe não gostou nada nada do que eu falei. Provavelmente ele vá te ligar em instantes. Diga a outra menina quando ela chegar que eu estarei no quarto dormindo e quero que ela me acorde daquele jeito! E se a mocinha estiver melhor, pode ir ajudar a sua amiguinha. – disse ele dando um tapa na bunda de Lara.
Lara apenas sorriu, mas por dentro tinha vontade de matar ele ali mesmo. Nunca tivera esse pensamento com relação a um cliente, mas com aquele estava sentindo uma repulsa muito grande. Nem que todo o meu pagamento dependesse dele eu voltaria a me deitar com esse homem. – pensou.
Minutos depois que Renan voltara para o quarto Clóvis ligou. Ela sempre andavam com um celular que era fornecido por ele para que pudessem ligar caso alguma coisa acontecesse. Mas quando Clóvis ligava não era nada bom.
– Você enlouqueceu Lara?! – gritou Clóvis do outro lado da linha tão logo ela atendeu. – Você quer que eu perca um dos meus melhores clientes? O que diabos deu em você? Eu não quero saber da sua vida pessoal atrapalhando seu trabalho não entendeu! A sua sorte é que ele aceitou que eu mandasse outra para ficar no seu lugar. Vera está indo com José agora mesmo. Se não fosse isso Lara você teria que trabalhar uma semana inteira sem receber um centavo só pelo prejuízo que esse infeliz iria me causar. Agora trate de se recompor e vá com Vera fazer ele esquecer disso tudo. E pode ter certeza que você não vai ver nem a cor do dinheiro que você teria pra receber amanhã!
– Eu não vou Clóvis! – respondeu Lara calmamente. – nem pelo dinheiro de um mês eu iria!
– O que?! – gritou mais ainda. Lara até conseguia imaginar a cara dele nesse momento.
– Foi isso que eu disse Clóvis, E-U N-Ã-O V-O-U! – repetiu pausadamente.
Lara podia ouvi-lo bufando de ódio. Também pôde ouvir que alguém havia entrado em sua sala naquele momento e fora expulso aos berros. Alguns minutos depois onde ele claramente estava contando até dez, Clóvis tornou a falar:
– Não adianta forçá-la não é mesmo? – começou ele com uma falsa calma. – então vamos fazer o seguinte, Vera está indo até aí, ela fica no seu lugar e você desce que eu já vou ligar para José e dizer pra onde você deve ir depois.
– Eu prefiro ir para casa Clóvis, eu...
– Não me provoque Lara! – interrompeu Clóvis novamente aos berros. – Eu já disse isso a você duas vezes, eu não estou nem aí para o que você passa na sua vida pessoal e se isso te deixa indisposta ou não para o trabalho. Você trabalha para mim e não tem escolha! Pelo menos para uma pessoa você vai ter que dar toda noite! – disse ele grosseiramente gritando ainda mais. – eu sei que você precisa pagar sua faculdade, ajudar seus pais e a sua irmãzinha chantagista. Então trate de ir trabalhar! E olhe que eu estou sendo muito bonzinho com você te mandando para outro cliente Lara! Estamos entendidos?
– Sim. – respondeu Lara a contragosto.
– Ótimo! Fique aí até Vera chegar, José já saberá seu destino. E aí de você se eu receber mais uma reclamação que seja! Entendeu não é?
– Sim. – respondeu novamente, desta vez fazendo uma careta e estirando a língua para o aparelho.
– Ótimo! Esteja pronta quando José chegar, pelo menos isso! – disse ele ao desligar.
Em menos de vinte minutos Vera batia na porta. Lara a abriu e recebeu um olhar preocupado da colega.
– Menina! O que foi isso? Mesmo que eu estivesse em outro carro e ainda que estivesse em movimento eu poderia ouvir os berros de Clóvis pelo celular quando ele ligou para José! O que diabos você fez Lara? – perguntou Vera ao entrar.
Lara deu uma resposta genérica, explicou como ela deveria se comportar com o cliente e saiu. Chegando no táxi José fizera a mesma pergunta de Vera e recebeu a mesma resposta superficial. José vendo que ela ainda não estava muito afim de conversar seguiu em silencio até o destino que Clóvis lhe gritara ao telefone.
Lara sabia que Clóvis a mandaria para o pior cliente possível como castigo por tê-lo afrontado. Já ouvira as meninas falando que ele adorava fazer isso, não importava se fosse a primeira, como era o seu caso, ou a milionésima reclamação.
Chegando ao local, sua certeza se confirmara, Clóvis a mandara para um velho feio e barrigudo. Só mesmo por causa da sua faculdade se obrigara a terminar a noite ali mesmo.
Era mais de três e meia da madrugada quando pôde ir para casa. Quando José a deixou em casa faltava poucos minutos para quatro da manhã. Despediu-se dele e entrou em casa silenciosamente. Chegando em seu quarto deparou-se com Lana deitada com as pernas para cima lendo uma revista qualquer como sempre. Nem se quer se dera ao trabalho de falar com ela, mas como não podia deixar de notar seu enorme sorriso teve que perguntar.
– Está rindo de que aprendiz de bruxa? – perguntou Lara que já não estava nem aí pro que ela iria achar dela falando com ela dessa forma.
– Olhe como você fala comigo sua putazinha de merda! – disse Lana levantando-se como se fosse esbofeteá-la.
– E por que? Você não me chama de coisa pior? Por que tenho que te respeitar e me referir a você como alguém da realeza? Cansei dessa brincadeirinha Lana! Cansei!
– Eu só não lhe parto a cara por que estou muito feliz hoje! Ah! Mas espera, deixa eu ver como eu posso explicar esse sentimento pra você? Puta sente felicidade?
– Me deixa em paz Lana – respondeu Lara começando a retirar a maquiagem.
– Quem começou foi você querida putinha, quer dizer, irmãzinha! Mas para sanar sua curiosidade vou lhe dizer por que estou tão feliz! Acabei de voltar de um encontro com um loiro muito lindo e gostoso!
– Que bom pra você! – respondeu Lara. – estou pouco me lixando pra isso!
– Acho que você se interessaria muito mais se eu dissesse que você conhece ele muito bem!
– O que você quer dizer com isso Lana? – perguntou Lara que agora realmente prestava atenção no que a irmã falava.
– Ah! Agora a coisa começou a ficar interessante não é? Pois é irmãzinha! Você chutou ele mas eu fui lá consolar o pobre rapaz! Já sabe de quem eu estou falando? Pois é estou falando do seu ex-namoradinho Wagner! Nossa irmã eu ...
– Sua vagabunda enrustida – gritou Lara partindo para cima da irmã! – que direito você tem de sair roubando o namorado de alguém?
– Saia de cima de mim sua vadia imunda! – gritou Lana empurrando a irmã para longe. – Quem você acha que é para me chamar de vagabunda? Vagabunda é você e da pior espécie!
– Cale essa boca Lana! Eu não vou mais aguentar nenhum abuso seu entendeu! Chega! Você já passou dos limites! Precisa ficar me chantageando para conseguir o que quer! Você não tem capacidade de conseguir o que quer, você nem sequer tem amigos Lana! Sua inveja a torna insuportável! Quem é que quer sair com uma rabugenta que nem você?! Não gosta de nada, de tudo reclama e esta sempre de cara amarrada! Eu que tenho vergonha de ter o mesmo rosto que você! Sua beleza é tão superficial que só de você abrir a boca todo mundo já vê que você não presta!
– Tem certeza irmãzinha porque o seu queridinho Wagner não achou nada disso hoje! Ele me levou para casa dele! Ele me levou para cama dele! – disse Lana vagarosamente.
– Desgraçada mentirosa!
As duas começaram a se engalfinhar dentro do quarto, Lana tentava se defender da irmã que enfurecida batia-lhe na cara, puxava-lhe o cabelo, arranhava-lhe, descontando tudo o que Lana havia feito com ela nas ultimas semanas. Seus pais assustados com o barulho entraram quarto adentro. Augusto, apenas pedia para que elas parassem enquanto Martha tentava a todo custo tirar Lara de cima de Lana.
– Parem com isso vocês duas! Pedia a mãe tentando em vão separar a briga.
– Parem com isso agora mesmo! – gritou Augusto energicamente. O que fez com que as duas parassem imediatamente, desde que tivera o infarto que o pai delas mal falava quanto mais gritar daquele jeito. Quando viu que as duas pararam falou:
– Façam-me o favor de explicarem o que esta acontecendo aqui agora mesmo! Vocês já estão bem grandinhas para ficarem fazendo essas coisas!
As duas começaram a falar ao mesmo tempo.
– Caladas! Falem uma de cada vez! Lana comece. O que você fez pra Lara estar batendo em você desta forma? – perguntou ele.
Lana adiantou-se ficando perto do pai, virou-se para Lara com um sorriso triunfante no rosto e disse:
– Por que eu descobri o segredinho dela papai! E ela queria me impedir de contar pra vocês!
– Mentirosa! Não é por isso! Ela que...
– Cale a boca Lara deixe sua irmã terminar de falar e depois você fala! Eu não eduquei minhas filhas para ficarem brigando por besteira! Termine Lana.
– Lara é uma vagabunda! – esbravejou Lana.
– Lana! – gritou a mãe.
– É verdade mamãe! Ela é uma vadia! Uma prostitutazinha imunda qualquer! Ela se vende para poder viver no luxo! Vocês acham que esse trabalho dela é o que? É só um disfarce! Onde já se viu uma recepcionista em uma “casa de show” ganhar tanto dinheiro quanto essa puta imunda! E quer saber como eu descobri? Por que um dos clientes dela me abordou na faculdade me chamando de Shay! Que diabos de nome é esse? Eu me perguntei. Disse que não me chamava assim e saí, mas ele veio atrás de mim dizendo que tinha passado a noite toda comigo e que queria mais...
– Já chega! Lara, diga que sua irmã esta mentindo! – interrompeu Augusto.
– É verdade pai! Eu tenho como provar eu sei de uma pess... – tentou continuar Lana, ela pretendia aumentar a história para humilhar mais ainda a irmã.
– Cale essa boca Lana! Deixe sua irmã falar! Lara sua irmã está mentindo não esta? – perguntou ele aproximando-se da filha.
– Não papai – disse Lara de cabeça baixa.
Augusto deu um tapa na cara de Lara, assustando a todos, nem mesmo Lana esperava por isso, embora estivesse adorando. Correu para a mãe que sentara-se na cama aos prantos e abraçou-se a ela.
– Eu não criei uma filha com todo amor e carinho do mundo para ser uma prostituta! – disse Augusto. – Saia da minha casa agora mesmo! Eu não quero ver nem sua sombra aqui entendeu? Deixe de choro mulher – disse ele referindo-se a esposa. – eu acabei de perder uma filha e não estou morrendo! E você – disse ele apontando o dedo na cara de Lara. – Você tem meia hora para arrumar suas coisas e sumir daqui!

Final

Lara olhava para o pai na esperança de estar escutando errado. Ela não podia acreditar que aquilo estava acontecendo, ela fizera tudo que Lana exigiu e ainda assim ela não pensara duas vezes em lhe entregar.
- Papai, por favor, me deixe explicar...
- Não me chame de pai. Eu não tenho uma filha... Uma filha... Que faz o que você faz. Você não é mais minha filha. – Augusto disse com a mão no peito.
- Por favor papai, se acalme. – Lara se aproximou dele, mas o pai recuou, o rosto marcado pelo desprezo.
- O que você ainda está fazendo aqui sua vadia. – Lana gritou abraçada com sua mãe – Vá embora... Pegue seu lixo e vá. Eu não quero ter que dormir mais no mesmo quarto que uma pessoa suja como você.
- Lana chega! – a mãe delas disse.
- Você vai defendê-la mamãe?
- Claro que não. – a mãe de Lara não olhava para ela – Ela vai embora agora, mas eu não quero mais briga aqui. – ela se virou e puxou o marido em direção ao quarto de ambos. Sem olhar para Lara continuou – Arrume logo suas coisas e saia da minha casa. Lana acompanhou os pais, uma falsa expressão de pesar marcando seu rosto.
Com os olhos cheios de lágrimas, pescou o celular de dentro da bolsa. No terceiro toque Clovis atendeu.
- Clóvis... Eu preciso da sua ajuda.
- Lara, o que é dessa vez? – Ele estava irritado, e não fazia questão de disfarçar.
- Eu... Eu preciso de um lugar para ficar. – Um soluço escapou de seus lábios. – É a ultima vez, eu prometo... Lana contou tudo e...
Clovis suspirou do outro lado da linha. Ele podia estar zangado com ela, e tinha seus motivos, mas ele jamais deixaria de cuidar de uma de suas meninas. Ele havia sido enérgico com ela, é verdade, mas como ele mesmo dizia, tinha que manter seu bom nome. Essa era uma das razões para que ele fosse tão requisitado, tanto por garotas que queriam entrar nesse ramo, como pelos clientes. Ele era criterioso e protetor.
- Lara, eu a avisei que isso iria acontecer, não foi? – Ele disse, a voz tranquilizadora. – Você pode ir para o apartamento. Vou ligar para José ir busca-la.
Agradecendo a Clovis, desligou e começou arrumar suas coisas. Lana não demorou a voltar para o quarto e começar a alfineta-la.
- Sabe, acho que quando tirar sua cama daí, vai ter espaço pra uma boa mesa de computador. Vai ser tão bom não precisar dividir mais o quarto com ninguém. – Lara não estava dando atenção para ela - Talvez eu coloque uma estante para meus livros. – ela apontava pra cada canto do quarto onde ela dizia que ia reformar – E o guarda roupas? Nossa agora vai sobrar tanto espaço pras minhas roupas, principalmente para as novas. Hum, será que papai me deixa trocar minha cama por uma de casal? Talvez ele deixe e aí quando Wagner vier dormir aqui, dormiremos juntinhos.
- Cale a boca criatura asquerosa. – Lara olhou para a irmã e seus olhos irradiavam ira – Deixa eu te contar uma novidade irmãzinha. Você acha que fez um bom negocio em contar meu segredo? Então eu vou revelar umas coisinhas pra você. – Lara ia se aproximando cada palavra que dizia – Se é verdade que ele dormiu com você, foi em mim que ele pensou, porque é de mim que ele gosta e você, foi tão “garota de programa” quanto eu ao se deitar com ele, apenas para me atingir. A diferença é que quando eu me deito com meus clientes, eles pagam pra isso e você foi de graça. – ela se aproximou um pouco mais de Lana ainda ameaçadoramente – E quanto às suas roupas novas, eu vou levar todas. Você comprou com meu cartão de crédito. Isso é roubo, então se você criar caso por conta das roupas eu vou na policia e dou queixa de você por furto. – Lana apenas olhava com os olhos arregalados e Lara se aproximou tanto que ela caiu sentada na cama – Agora irmãzinha querida, eu vou ser livre pra viver meu romance com o Wagner enquanto você vai ficar aí, sozinha e infeliz.
Lana permaneceu calada sentada em cima da cama. Lara tinha tocado no seu ponto fraco, ela nunca fora uma pessoa popular, não tinha amigos verdadeiros e com certeza, ela não queria ser presa por roubar o cartão da irmã.
Quando Lara terminou, pegou suas coisas e antes de sair do quarto olhou Lana que não a encarava.
- E boa sorte em pagar sua faculdade sem a minha ajuda. – Lara sorriu quando Lana olhou para ela com os olhos arregalados – Quem foi que saiu perdendo no fim das contas mesmo Lana?
Lara parou em frente a porta do quarto dos pais antes de sair, pensou em bater e abrir a porta, mas preferiu apenas falar.
- Sei que decepcionei vocês e peço desculpas por isso. Estou indo embora agora, mas por favor, se vocês precisarem de alguma coisa me liguem. Amo vocês.
Não houve resposta do outro lado da porta, os olhos de Lara voltou a encher de lágrimas, mas ela os secou e saiu. Sabia que esse dia chegaria, deveria estar preparada e de certa forma estava. Ela só não estava preparada para ver sua irmã se transformar em uma pessoa cruel e mesquinha.
Amanhecia quando José a levou até o condomínio onde Clovis tinha um apartamento com outras meninas. Depois que escolheu um dos beliches ela encostou sua mala do lado e se deitou. Não estava com cabeça para arrumar nada. Uma das meninas se aproximou dela.
- Tudo bem?
- Acho que sim. – ela deu de ombros. Claro que àquela altura, todas as meninas já estavam cientes dos acontecimentos – Sabe Jú, dessa historia toda, o que mais me entristece é Wagner. Um cara tão legal...
- Você sabe que os caras legais não são pra gente Lara! – a colega de trabalho sentou na ponta da cama dela – Ele podia estar encantado com você, mas no final, ele ia procurar uma moça direita pra casar. Romance não é pra gente.
- É! Talvez você tenha razão. – ela suspirou - Acabou que eu apenas antecipei o inevitável.
- E quanto aos seus pais, dê tempo a eles. Você sempre foi uma boa filha, sempre ajudou eles em tudo. Eles vão ver que o seu trabalho não tem nada a ver com o seu caráter.
- Tomara que você tenha razão Jú, tomara.
Não sabia quanto tempo havia dormido, mas a tarde caía quando acordou, com seu celular tocando. Viu o nome de Wagner piscar na tela, e sorriu com a lembrança dos beijos dele, mas jogou o telefone de lado. Jú estava certa, por mais que não houvesse mais Lana entre eles, a relação deles não tinha futuro.
Lara tomou um banho e quando voltou pro quarto seu celular estava tocando novamente, ela olhou e dessa vez era Clovis.
- Oi Clovis... Sim, já estou no apartamento, nem sei como te agradecer... Hoje? – Não poderia negar nada a Clovis. Ele a ajudara em vários momentos, e lhe dera um lugar para ficar. Além do mais, precisava levar sua vida adiante. - Tudo bem, eu vou.
Lara desligou o telefone revirando os olhos, ela não estava bem para trabalhar, mas Clovis disse ser um cliente que já a conhecia e fez questão que fosse ela. Depois de colocar um vestido vermelho justo no corpo e uma sandália alta, ela fez um rabo de cavalo e foi para seu encontro. José já esperava na portaria do prédio.
- Hum, esqueci de pegar o endereço com o Clovis, espere um minuto José que te digo nosso destino. – ela disse assim que entrou no taxi, mexendo em sua bolsa procurando o celular.
- Não é necessário senhorita Lara, eu tenho o endereço.
- Ah! Tudo bem então.
O taxista dirigiu até o Leblon e parou em frente ao Vip’s Suítes e Lara se lembrou que já estivera ali com um embaixador uma vez, talvez fosse ele. Ela agradeceu ao taxista e dirigiu-se para a recepção e falou com a gerente que era a responsável para direcionar as meninas do Clovis.
Lara foi para suíte Brisa, que era simplesmente enorme, tinha duas saunas, um terraço onde ficava a piscina com cascata e tinha uma vista privilegiada do mar. Quando Lara entrou a suíte estava com luz fraca, uma musica suave tocava ao fundo, mas não havia ninguém. Ela deixou a bolsa em cima do aparador e informou sua chegada, mas novamente ninguém respondeu. Ela caminhou lentamente até próximo a cama, mas ainda não havia ninguém, quando ela olhou para o terraço, as luzes estavam apagadas e ela pode ver a silhueta de um homem sentado em uma das cadeiras de madeira que decoravam o local. Em cima da mesa havia um balde de gelo com uma garrafa. Ela foi se aproximando lentamente enquanto o homem apenas tinha as mãos cruzadas na frente do corpo e rodava os polegares entre si.
- Olá...eu sou a Shay. – ela disse desconfiada – Qual seu nome?
- Sente-se. – ele disse com uma voz embolada, como se quisesse disfarçar a voz. Lara obedeceu e se sentou – Precisamos conversar. – Quando o homem disse “precisamos conversar” sua voz soou normal e Lara reconheceu imediatamente.
- Wagner?
- Então você conhece bem a minha voz. – Ele se levantou foi até o interruptor e acendeu a luz. Lara o observou encantada, ele tinha um sorriso no rosto e estava especialmente lindo. Um terno cinza de corte fino, camisa branca e gravata vermelho sangue.
Wagner serviu duas taças de vinho e deu uma a Lara, apesar dos olhos dele demonstrarem alegria, ele não sorria mais.
- O que você está fazendo aqui?
- Já que você se recusava a atender minhas ligações, eu fui até sua casa para conversarmos, sua irmã atendeu e disse que você não morava mais lá. Fiquei desesperado sem saber como te encontrar, aí liguei pro meu amigo, que me deu o telefone do Clovis e quando eu perguntei se ele sabia onde você estava ele não quis me dizer, então eu pedi o endereço do escritório dele, fui até lá e contei pra ele nossa história. Ele concordou em marcar esse encontro pra mim. – Wagner finalmente sorriu – Agora eu devo um favor a ele.
- E o que você quer? – Lara disse triste.
- Já disse precisamos conversar...
- Olha Wagner...
- Por favor Lara, me deixe falar. – ele se sentou em frente a ela – Eu sempre procurei e mulher certa, tive poucos relacionamentos porque que nunca duravam muito porque sempre apostei na menina errada, ou elas se cansavam do meu jeito romântico, ou elas simplesmente resolviam ficar com outros caras e eu nunca gostei de dividir – ele suspirou e encarou Lara - quando te conheci na despedida de solteiro do Tony eu te achei tão linda, tão inteligente, interessante que eu simplesmente não consegui tirar você da cabeça. Passei a noite inteira pensando em você, pensando que eu fui embora cedo e podíamos ter ficado mais tempo conversando, lamentei cada segundo que eu resolvi ir embora. Até que o destino te colocou na minha frente novamente e eu senti meu peito aquecer como há muito tempo eu não sentia. – ele acariciou o rosto dela – O jeito como você ganha a vida... Bem... Não é algo que eu aprove, já pedi pra você largar seu emprego, mas pior que dividir você com o que você faz, seria não ter você. Eu não consigo pensar numa vida sem você Lara.
- Você poderia escolher a Lana, vocês já até transaram – as palavras saíram amargas da boca de Lara e seus olhos se encheram de lágrimas – seria mais fácil.
- Transamos? – ele perguntou indignado – Quem disse isso? – ele jogou as mãos para o alto – Nem precisa responder... Foi a Lana. – ele se aproximou dela e a olhou bem nos olhos – Olhe pra mim... Nós não transamos. Depois que você foi embora do restaurante eu pensei em ir atrás de você, achei que eu tinha te assustado quando eu disse estar apaixonado então resolvi te dar espaço, não queria te sufocar. Algum tempo depois eu recebi um sms de um número privado, dizendo que era você e que queria ir na minha casa para conversarmos e eu dei o endereço também por mensagem. – Lara abaixou a cabeça e ele delicadamente colocou a mão no queixo dela e levantou – Quando Lana apareceu na minha porta, eu não tive duvidas que era você, a roupa era diferente do restaurante, mas era você. Seu perfume, sua roupa, jeito da maquiagem, sorriso e até o jeito de falar. Eu a convidei a entrar e servi duas taças de vinho. Perguntei porque ela saiu correndo e ela disse que não sabia, que não tinha certeza, foi quando eu perguntei se você tinha se assustado com minha declaração de estar apaixonado. Quando eu disse isso ela deixou a taça cair e eu fui pegar um pano para limpar o chão, quando voltei ela tinha tirado o vestido e sorria para mim como você sorriu da primeira vez que nos vimos. Ela se aproximou de mim e passou a mão por baixo da minha camisa, na linha da cintura e eu... Bem, claro que eu enlouqueci, eu a puxei contra mim e a beijei – Lara sentiu uma raiva que nunca sentira antes, imaginar Wagner beijando Lana despertou nela um ciúme que ela nunca teve de ninguém – mas quando eu a beijei, imediatamente percebi que não era você, então eu a empurrei e ela sorriu maliciosamente como só a Lana sabe fazer. Eu a mandei embora e ela fez um escândalo, perguntou o que você tinha que ela não e nessa hora ela tirou o sutiã, eu pedi que ela se vestisse e fosse embora, mas ela não o fez. Então eu juntei as coisas dela e a coloquei pra fora do meu apartamento, de uma maneira nada gentil. – Lara levantou as sobrancelhas para ele de um jeito divertido – Eu sei, não gostei de tratá-la assim, mas ela me tirou do serio.
- Então foi por isso, foi porque você a rejeitou que ela contou pros meus pais.
- Desculpe, eu não sabia que ela faria isso.
- Não se desculpe. – ela o encarou - Agora... Sobre tudo que conversamos... Sua declaração não me assustou, mas eu tinha ido terminar com você. Lana disse que se eu não fizesse ela contaria tudo. Mas eu não tinha coragem, também estou apaixonada – e ao ouvir isso Wagner a beijou.
Ele se levantaram e se enroscaram nos braços um do outro, se entregando aquele momento. O mundo não existia mais quando eles estavam juntos. Lentamente eles foram caminhando para cama. Seus corpos respondiam um ao outro como se tivessem sido feitos para se encaixarem. Foram tirando a roupa um do outro de forma calma, onde nenhum dos dois tinha pressa de terminar.
Wagner colocou Lara sobre a cama a ficou observando como quem olha uma pintura rara. Ele deitou-se sobre ela e a beijou enquanto sua mão deslizava pelo seu corpo, parando delicadamente sobre seu seio de tamanho perfeito, que cabia na mão de Wagner. Ele desceu e beijou cada centímetro do seu corpo, deixando em Lara um caminho de prazer onde tocava. Ele subiu suas bocas se encontraram novamente, eles já não aguentavam mais aquela dança sensual e seus corpos pediam por mais. Ele a penetrou e fizeram amor lenta e carinhosamente como Lara nunca tinha feito. Era como se ela estivesse fazendo sexo pela primeira vez, porque ela nunca havia feito com tanta paixão.
Quando eles terminaram Lara tinha um sorriso bobo no rosto, como uma adolescente. Ficaram abraçados, ela deitada sobre o peito de Wagner fazendo carinho com a unha do umbigo ao baixo ventre dele.
- Wagner...
- Sim querida!
- Eu tenho um grande problema pra resolver. Não sei se você pode me ajudar.
- Seja qual for o problema, eu estarei do seu lado. Farei tudo que estiver ao meu alcance para ajuda-la.
- Então será que a empresa que você trabalha não está precisando de uma secretária, recepcionista ou algo do tipo.
- Você está brincando comigo? – Wagner sorria feito criança no natal.
Lara levantou a cabeça e o beijou. – Não, estou falando sério. – ela acariciou seu rosto – Se você pode, por amor, aceitar meu trabalho, eu posso pelo mesmo motivo arrumar outro.
- E o Clovis?
- Clovis? – ela deu uma risada – Ele é um cara legal, protetor não é como esses cafetões que vemos na TV. Ele não obriga ninguém a trabalhar para ele, pelo contrário, há meninas nesse ramo que se matariam para ser uma “das meninas” de Clovis. – ela o beijou – De mais a mais, eu não serei a primeira nem a ultima a deixar a equipe dele.
- Então eu acho que devemos comemorar. – Wagner se virou e deitou por cima de Lara novamente – Acho que tenho algumas ideias de como podemos começar.
Seis meses depois Wagner e Lara saiam do teatro da Gávea e foram em um restaurante ali perto. Eles comentavam e riam da peça que tinham acabado de ver quando Wagner ficou sério. Seus olhos ficaram fixos em um ponto na rua e automaticamente Lara se virou para olhar.
Seu coração gelou quando ela viu Lana, com um short extremamente curto, sutiã com bojo, sandália plataforma e uma bolsa pequena pendurada no ombro. Ela olhou para Wagner novamente e ele observava a reação dela.
- Meu Deus, Lana!
- Ironia do destino ou hipocrisia. – Wagner disse olhando novamente para Lana.
- Se eu não estivesse vendo com meus próprios olhos, eu jamais acreditaria.
- Você quer ir falar com ela? – Lara o encarou – Eu te acompanho, se você quiser.
Ela tomou um gole do seu coquetel e balançou negativamente a cabeça.
- Nós não temos nada pra conversar querido. Ela está fazendo a escolha dela.
- Tudo bem! Então voltemos ao nosso jantar.
Lara agradeceu aos céus que Lana não a vira. Eles terminaram de comer, pediram a conta e saíram. Lana agora estava um pouco mais distante, mas eles tiveram que andar na direção dela para pegar a moto de Wagner. Lara tentou se esconder mas não teve jeito, quando eles chegaram perto da garagem Lana os viu.
- Irmãzinha! – ela gritou de longe e veio correndo na direção deles – Quanto tempo. Hummmm parece que você fisgou mesmo o bofe. – ela olhou Wagner de cima a baixo – Não quer me emprestar ele um pouquinho, só essa noite.
- Vá embora Lana. – Wagner disse enquanto Lara apenas a observava.
- Ei, essa área é minha – ela deu de ombros – eu não tenho que ir embora.
- Então se você nos da licença, nos vamos. – Lara disse, mas Lana segurou no braço dela.
- Espere, vocês não querem me ajudar? – ela olhou para os lados – Eu tenho que dar pro meu cafetão duzentos reais, se vocês me derem esse dinheiro eu posso ir pra casa dormir. E não preciso aturar esses bêbados caloteiros. – ela deu uma risada – Sabia que as vezes eu tenho que bater em alguns pra eles me pagarem? – ela tirou da bolsa um pedaço de ferro que mais parecia um prego enorme, com uns quinze centímetros.
- Sinto muito Lana, não podemos ajudar. Agora se você nos da licença...
- Não espere. Eu tenho mais uma coisa pra falar...
- Você está bêbada?
- E como você acha que eu aturo bebum? Só com muita vodka nas veias. – ela deu outra risada – Espere. Você não pode me arrumar um lugar junto com você, lá com o seu cafetão.
- Eu não sou mais garota de programa.
- Não é? – ela olhou de Wagner para Lara e depois sorriu e deu um tapinha no ombro de Lara – Se deu bem heim maninha. Então... Seu ex-cafetão...
- Não é assim que funciona.
- Ora que droga Lara, olhe para mim. – ela rodopiou e quase caiu, se não fosse Wagner a segura-la ela se esborracharia no chão – Eu sou sua irmã. Vai me deixar assim, na rua... Eu posso ser morta qualquer dia sabia?
- Agora você se lembra que é minha irmã?
- Não bobinha, me lembro todo dia quando olho minha cara feia no espelho. – ela fez uma careta divertida.
- Olha, eu vou ver o que posso fazer por você, amanhã e te ligo.
- Obrigada – Lana deu um beijo em Lara e sorriu – E aqueles duzentinhos?
Wagner tirou o dinheiro da carteira e entregou a ela. Lana saiu correndo com o dinheiro na mão balançando para as outras garotas de programa verem.
- Olha que meu cunhadinho me deu, vou pra casa. Fiquem aí suas vadias!
Uma das meninas foi correndo atrás de Lana, mas ela foi mais rápida e subiu no ônibus que passava na hora, levantando o dedo do meio pra garota que a perseguia. Lara ficou boquiaberta assistindo a decadência da irmã.
Quando chegaram em casa Lara imediatamente ligou para Clovis.
- Clovis... Oi é Lara... Estou ótima e você?... Fico feliz... Sim está tudo bem sim... Ah Wagner é maravilhoso... Estou te ligando porque preciso de um favor, o seu amigo Joe, não estaria precisando de uma menina... Não claro que não sou eu... É a minha irmã, Lana... Certo, certo... Eu vou avisá-la então... Obrigada Clovis, até mais.
No dia seguinte Lara ligou para irmã e deu o endereço do tal Joe. O cara não era tão seletivo quanto Clovis nem pagava tão bem, mas ela iria ganhar mais do que na rua e o tal Joe cuidava das meninas que trabalhavam pra ele.
Duas semanas depois Lara chegava do trabalho em casa e encontrou velas acesas na mesa de jantar, uma garrafa de vinho no balde e musica tocando. Assim que ela bateu a porta da sala, Wagner surgiu do corredor, usando apenas uma calça jeans e caminhou na direção dela e quando chegou perto a puxou e deu-lhe um beijo.
- Jantar a luz de velas? – ela perguntou brincando – Qual a ocasião.
- Logo você saberá, vá tomar um banho rápido e venha.
Quando Lara voltou, Wagner já estava servindo a mesa. O cheiro era maravilhoso. Salmão com alcaparras e molho de maracujá, arroz à grega e vinho tinto pra acompanhar. Como sempre, Wagner puxou a cadeira para que Lara se sentasse e depois serviu o vinho dela. Beijou os nós dos dedos dela e depois se sentou.
Estavam quase terminando de comer quando ele mudou de assunto.
- Estamos morando juntos há quantos meses? Cinco?
- Seis, não finja que você não sabe. – ela sorriu – Você é melhor nisso do que eu.
- Seis meses. – ele suspirou – E nesse tempo, parece que quanto mais ficamos juntos, mais eu me apaixono por você.
- Eu também querido. – ela colocou a mão por cima da dele – Você é meu príncipe encantado. Com cavalo e tudo.
- Eu te amo tanto Lara.
- Eu também te amo querido, como nunca imaginei amar alguém.
Ele colocou a mão no bolso e puxou uma caixinha e se ajoelhou ao lado dela. - Então se case comigo?
Lara abriu a caixinha e um lindo solitário brilhou. Os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela, Lara, estava sendo pedida em casamento. Sonhou tantas vezes com aquilo, mas nunca achou que realmente fosse acontecer.
- Sim, sim, sim, mil vezes sim meu amor.
Wagner se levantou, colocou o anel em seu dedo e eles se beijaram apaixonadamente, como sempre.

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