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Paixão Secreta

Capitulo 1

Helena saiu de casa com lágrimas nos olhos após mais uma discussão com Paulo. E pior, por telefone. Seu filho de cinco anos olhava pra ela assustado enquanto ela o colocava seguro na cadeirinha fixada no banco traseiro de seu carro.

 

Nesses quinze anos de casamento sua vida mudou muito.

Paulo sempre trabalhou bastante. Quando se conheceram ela tinha apenas dezenove anos e ele já tinha trinta e cinco. Era um homem sério, porém galanteador. Se conheceram, pois Paulo todos os dias almoçava no restaurante que ela trabalhava. Ele sempre almoçava sozinho. Depois de uma semana ele começou a elogiá-la todos os dias, até que ele a convidou pra sair. Muito menina, deslumbrada com os galanteios e a beleza dele, ela não pensou duas vezes e aceitou.

 

A seriedade de Paulo conquistou Helena e em pouco tempo ela se viu apaixonada por ele e ele também demonstrava estar apaixonado, mas do jeito dele. Começaram a namorar pouco tempo depois e ele, muito rico, insistia que pra ela largar o emprego, mas ela se negava. Paulo não deixava de mostrar a vida que poderia dar a ela. Dum carro novo a Helena e logo depois levou os pais dela para morarem em um novo apartamento, que era tão grande, que cabia a casa antiga que eles moravam e ainda sobrava espaço. Paulo fazia questão de pagar o aluguel do apartamento, mesmo Helena sendo contra.

Casaram-se um ano depois de se conhecerem. E assim que se casaram ele obrigou-a a sair do restaurante “Eu posso sustentá-la, mulher minha não trabalha”. Muito apaixonada ela aceitou e passou a ficar em casa. Mas ela começou a se sentir sozinha, apesar dos empregados da casa. Paulo saia de casa muito cedo e chegava em casa tarde.

 

A vida deles era praticamente uma rotina rigorosa como de quartel. Ele chegava tomava um banho, jantavam juntos, pois não importava a hora que ele chegasse, Helena o esperava para jantar, iam pra cama faziam amor e dormiam. No dia seguinte Helena fazia questão de acordar cedo pra tomar o desjejum com o marido, e depois que ele saía mais solidão.

Ela não tinha muitos amigos e a maioria eram amigos em comum com Paulo, e se viam apenas em festas e comemorações especiais. Apenas uma amiga, Diana, era do tempo de colégio. Elas se encontravam uma vez a cada quinze dias para um cinema. E mesmo assim se ela se atrasasse, Paulo reclamava.

 

Quando Helena informou a Paulo que gostaria de ter um filho, ele foi contra. Disse que ainda estava muito cedo e que ela esperasse. Passaram-se quase dez anos até que ela resolveu que engravidaria mesmo contra vontade dele. Ela lembrava muito bem como havia sido a reação dele quando ela contou que estava grávida...

***

 

Ela estava muito nervosa naquela noite. Ela esperava Paulo sair do banho para jantarem como todas as noites. Andava de um lado para outro com os braços cruzados e esfregava os braços. Paulo saiu do banho e naquele dia estava diferente. Ele sorria pra ela como na época em que se conheceram no restaurante. Há muito tempo ele não fazia aquilo. Durante o jantar ele conversava animadamente com ela dizendo que havia feito um negócio de ouro. Que eles ficariam pelo menos meio milhão mais ricos.

- Querido! Tenho uma coisa pra te contar.

 

- O que foi querida? Está tudo bem? – Se tinha uma coisa que Helena não podia reclamar, era do quanto ele era protetor. Apesar da ausência ele visava sempre o bem estar dela.

- Ah não, está tudo ótimo. – respondeu ela o tranquilizando – Eu... – ela respirou fundo buscando coragem de algum lugar – Eu fiz um exame de sangue hoje.

 

- Exame de sangue? Hoje? Você não me avisou que sairia. – Paulo disse sem alterar sua expressão, mas ela sabia pelo tom da voz dele que ele não havia gostado. Ele não gostava que Helena saísse sem avisar.

- Foi de última hora. – Ela tirou o papel de baixo do prato – Aqui o resultado.

 

                Helena entregou o resultado do exame de sangue na mão Paulo e assim que ele abriu seu semblante mudou. Toda aquela animação e alegria desapareceram e seu rosto se transformou em algo escuro.

- Grávida? Você está grávida? Porra!

 

- Calma querido é só um bebê. O nosso bebê!

- Mas eu disse que você esperasse e você me enganou. – ele falou furioso.

 

- Não querido, – ela pôs a mão em cima da dele, mas ele puxou – o remédio falhou. - Ele fez uma cara de quem não acreditou nela.

- Perdi o apetite, vou me deitar.

 

                Ele se levantou jogando o garfo no prato e saiu. Helena ficou lá, sentada chorando sem saber como seria sua vida dali para frente.

***
                Depois daquele dia Paulo começou a chegar em casa cada vez mais tarde. Eles dificilmente conseguiam jantar juntos. Faziam amor somente no fim de semana quando ele não estava trabalhando.
                Claro que ele não deixou de dar assistência a ela e ao filho, nem antes, nem depois que ele nasceu. Mostrou-se um pai até amoroso, porém ausente.
                E nos últimos dois anos, eles mudaram completamente. Ele a acusava de só dar atenção ao Junior e ela sempre reclamava do seu horário de trabalho. Eles brigavam mais que se entendiam. A vida tinha virado um inferno.
                E naquela manhã não tinha sido diferente. Ele tinha uma viagem de um mês pra fazer a trabalho e exigia que ela o acompanhasse, mas Junior estava no meio do ano letivo e ela disse que ele não poderia se afastar da escola por tanto tempo. “Eu pago a escola pra ele rasgar papel, isso ele pode fazer em qualquer lugar”. Disse ele e quando ela tentou explicar que não era bem assim, ele desligou na cara dela.

 

                Helena chegou à porta da escola de óculos escuros para esconder os olhos vermelhos de tanto chorar. Depois que deixou Junior na sala, ela voltava para o carro, quando seu celular começou a tocar. Era Paulo! Ela não queria começar novamente a discussão no meio das outras mães, então ignorou. O celular começou a tocar novamente e ela começou a ficar nervosa, se atrapalhou e o celular caiu da sua mão. Antes mesmo que ela pudesse pegar, uma mão grande e máscula pegou o telefone.

                Quando ela encarou o dono daquela mão ela ficou sem ar. O homem era simplesmente lindo. Alto, moreno com a barba rala, olhos negros e cabelo arrepiado.

 

- Acho que isso é seu. – ele disse sorrindo. Helena ficou um tempo ainda sem fala, admirando aquele homem lindo. – E está tocando.

“Tocando! Merda Paulo” – Ah obrigada.

 

- Não há de que. – “Nossa que mulher linda!” Pensou ele.

Eles ficaram parados. Um de frente para o outro. Até que novamente o celular dela começa a tocar. Ela dá um sorriso sem graça e vai em direção ao carro. Quando ela entra no carro e olha pra porta da escola, o moreno estava olhando pra ela.

 

- Alô Paulo. – ela respondeu puxando o ar, buscando paciência em algum lugar.

- Onde você está?

 

- Na escola, estou indo pra casa agora.

- Eu vim fazer as malas. Venha logo, precisamos conversar.

 

- Estou indo – “Ótimo, mais discussão” ela pensou.

                Quando chegou Paulo estava estranhamente calmo. Sua mala estava pronta na sala e ele estava no escritório falando ao celular. Helena parou na porta e ficou esperando que ele terminasse.

 

- Estou indo viajar. – Helena arregalou os olhos – Você não precisa se preocupar. Não precisa ir. Fez a sua escolha. – apesar da sua aparência calma ela sabia que ele estava irritado. – Estarei no celular, quero que você me ligue todos os dias. Eu também ligarei pra você. - ele deu um beijo na testa dela e saiu.

- Tudo bem, faça boa viagem. – foi tudo que ela conseguiu responder.

 


                Helena não entendeu a mudança brusca de comportamento do marido, mas para não irritá-lo não questionou.

                Sua semana passou normalmente, com ela levando e buscando Junior na escola. E reencontrando todos os dias com aquele moreno que levava uma menininha para escola. E que ela reparou, todas as mães ficavam olhando.

 

                Na sexta feira teve reunião dos pais e pra sua surpresa, Junior e a filha do moreno eram da mesma turma. E amigos, eles não se desgrudavam.

                No final da reunião as crianças começaram a pedir pra ir tomar um sorvete. Helena ficou sem graça, tentava em vão puxar Junior pra perto, mas ele não largava a amiguinha.

 

- Oi novamente, deixe eu me apresentar direito. – ele abriu um largo sorriso pra ela – Meu nome é Marcelo. – ele estendeu a mão pra Helena que sorriu timidamente e continuou - Essa é minha filha Bia. Parece que nossos filhos são amigos. E eu não sei você, mas quando Bia cisma com uma coisa, não há quem tire da cabeça dela. Então que tal levarmos eles para um sorvete aqui perto.

- Eu não sei, preciso ir pra casa. – respondeu Helena pensando que Paulo poderia não gostar de ligar e não a encontrar em casa.

 

- Ora, vamos, não levará mais que dez minutos e as crianças ficarão felizes. – “E eu também” pensou Marcelo.

- Tudo bem! – finalmente concordou Helena.

 

                Eles foram a uma pracinha ali perto e sentaram no banco. As crianças se lambuzaram de sorvete e depois foram brincar um pouco. Helena e Marcelo conversaram muito. O papo dele era tão agradável que ela mal se deu conta do tempo passar. Já começava escurecer quando ela percebeu que os dez minutos haviam se transformado em duas horas.

- Caramba! Eu preciso ir Marcelo.  – ela chamou Junior - Já está tarde. Paulo vai ligar e ficar preocupado. – Marcelo fez um beicinho divertido e ela sorriu. – Sua esposa não vai ficar preocupada?

 

- Não. – ele deu de ombros - Ela nos abandonou quando Bia tinha seis meses. Nunca mais eu a vi nem soube do seu paradeiro.

- Oh! Sinto muito.

 

- Tudo bem, eu já superei isso. Somos felizes eu e Bia. – e o papo rolou mais um tempo. Ela descobriu coisas pessoais a respeito dele. Que ele trabalhava em casa pra dar conta de cuidar da filha. Haviam se mudado pra perto da li, havia uns dois meses.

                Sentiu-se estranhamente a vontade de falar da vida pessoal dela também. Disse que era casada com um homem mais velho e ausente. Que sempre se sentiu solitária, mas que nos últimos anos, após o nascimento de Junior, as coisas pioraram. E que agora eles mal se viam. Contou do impasse sobre a viagem.

 

- Desculpe, não sei por que eu estou te enchendo com meus problemas, claro que você não quer saber disso.

- Não se desculpe – ele colocou a mão sobre a dela – eu posso te ouvir sempre que você precisar. Sua companhia é muito agradável.

 

                Helena ficou atordoada com aquele toque. Sentiu borboletas na sua barriga, coisa que nunca havia acontecido. Nem com Paulo.

- Obrigada. Eu realmente preciso ir.

 

- Eu te acompanho até o carro. - ele disse e eles pegaram as crianças e foram até o carro de Helena.

                Depois de ajeitar Junior no carro ela deu a volta e ofereceu carona a Marcelo.

 

- Obrigado, mas realmente moramos muito perto. – ele deu um beijo em sua bochecha surpreendendo Helena que sorriu. – Até semana que vem Helena. Tenha um ótimo fim de semana.

- Pra vocês também.

 

                Quando chegou em casa havia recado de Paulo. Ela ligou pra ele.

- Oi Paulo.

 

- Onde diabos você estava?

- Eu levei Junior na pracinha perto da escola, me distrai com a hora.

 

- Pracinha? Agora você vai a pracinhas? Ele tem um mundo dentro de casa. Não precisa ir a pracinhas. – Helena ouviu uma voz ao fundo.

- Quem está aí com você Paulo?

 

- Minha secretária. – ele respondeu bufando e sem fazer nenhuma questão de esconder – Não mude de assunto. Não quero você levando ele à pracinhas. E se for necessário, eu disse necessário sair, me avise. – ele disse com um tom autoritário.

- Tudo bem, agora eu vou dar banho nele. – ela desligou com os olhos cheios de lágrimas. Então era por isso que ele havia desistido de levá-la. Ele havia levado a secretária. Conhecia bem a secretária do marido, e sabia melhor ainda que tipo de mulher ela era.

 

                Helena não sabia qual sentimento predominava o de tristeza ou o de raiva.

- Tudo bem mamãe? – Junior perguntou enquanto ela distraidamente o ensaboava na banheira da sua suíte.

 

- Está sim meu querido.

- Eu gostei muito do tio Marcelo mamãe. A Bia é minha melhor amiga. – ele disse e ela sorriu.

 

                E a menção do nome de Marcelo a fez lembrar do fim de tarde agradabilíssimo que passou com ele. Ele era encantador e muito educado.

                Ela não sabia explicar o porquê, mas passou o fim de semana inteiro pensando em Marcelo.

Capitulo 2

Helena tentou se distrair, brincava com o filho de pique esconde, pega-pega, e de tudo o que ele quisesse só para não pensar no Marcelo, o que era quase impossível por que Junior não parava de falar em Bia. Ela não conseguia esquecer a forma como Marcelo criava a filha, ele era tão carinhoso e cuidadoso com ela. Para uma criança criada só pelo pai Bia era muito educada e meiga, e ele tão atencioso e protetor, sempre desejou que Paulo fosse assim com o filho...

 

Durante todo o fim de semana Paulo ligou por diversas vezes, sempre querendo saber o que ela fez e deixou de fazer durante o dia, mas não de uma maneira carinhosa, mas sim autoritária. Ela nunca havia se importado com isso, mas dessa vez estava ficando bastante incomodada com esse tratamento, mas entendia que ele devia estar com raiva ainda por ela ter se recusado a ir com ele.

Na noite do domingo um temporal começou a cair e Junior fez questão de ir dormir junto dela, o que era muito bom por que assim era teria com que se distrair.
– Mamãe, posso dormir aqui?  – perguntou Junior entrando no quarto arrastando seu cobertor pelo chão

 

– Mas por que você quer dormir aqui meu amor? – Perguntou baixando o livro que estava lendo e pondo o filho no colo

– É que eu estou com medo dos trovões – disse ele com uma voz tristonha.

 

– Mas você já é um homenzinho não precisa ter medo de trovão, – disse sorrindo para o filho enquanto afagava-lhe os cabelos – mas a mamãe deixa venha...

         Depois de algum tempo em silêncio enquanto Helena cantava uma suave canção que costumar cantar pra Junior dormir quando ele era bebê e ela pensou que ele já estava dormindo, perguntou:

 

– Mamãe você gosta da Bia?

– Claro meu amor! Por que não gostaria?

 

– Ela é minha melhor amiga! – disse sentando-se entre as pernas da mãe.

– Deu pra perceber meu bem. – disse Helena apertando-lhe a bochecha adorava o sorriso do filho, achava linda a covinha que se formava quando ele sorria.

 

– Podemos chamar pra ela vir aqui um dia brincar comigo?

–Vamos ver meu bem, agora vamos voltar a dormir. – falou puxando-o para si e dando um beijo no filho.

 

         Um pouco de silêncio se seguiu até Junior perguntar novamente

– E do tio Marcelo mamãe você gosta? Ele trata a Bia tão legal não é?

 

– Verdade meu amor...

– Por que o papai não é assim comigo mamãe? Será que ele não gosta de mim tanto quanto o tio Marcelo gosta da Bia?

 

– O Papai te ama meu amor, não tenha duvidas disso – disse ela com o coração apertado – É que cada pessoa tem um jeito diferente de demonstrar isso entendeu?

– Sim, entendi – respondeu.

 

         Pouco depois já estava dormindo tranquilamente, mas Helena ainda ficara por muito tempo acordada pensando no filho, em Paulo, em Marcelo... Havia sentido falta dele nos últimos dias e por mais que uma parte de si se preocupasse com esse fato, outra dizia que ela estava apenas sentindo falta das conversas deles.

         A manhã de segunda feira passou rápido, quando percebeu já era hora de levar Junior para o colégio. Helena arrumou o filho e depois foram almoçar.

 

Durante todo o caminho sentia uma estranha sensação de ansiedade percorrer-lhe o corpo, fingia não saber a razão, mas na verdade sabia perfeitamente bem...

Estacionou o carro e saiu para retirar o filho quando ouviu atrás de sim um belo e sonoro boa tarde, virou-se sem perceber o tamanho do sorriso que estava dando naquele momento, ele estava mais lindo do que se lembrava, e ela mais feliz do que a ultima vez.

 

– Como foi o fim de semana de vocês? – perguntou ao garoto, enquanto ajudava-a a desafivelar o cinto que prendia Junior a cadeirinha.

– Foi bom tio Marcelo, eu e a mamãe brincamos até cansar e ontem eu dormi na cama dela e hoje acordamos só pra assistir desenho animado.

 

– Foi mesmo! – disse pondo Junior sentado em seu ombro – E porque um rapazinho forte e corajoso quis dormir com a mamãe ontem?

– É porque ela estava com medo dos trovoes, e eu fiquei lá para proteger ela o papai não esta em casa eu que sou o homem da casa agora!

 

– Mas que rapazinho corajoso! Ele te protegeu direitinho mamãe? – perguntou Marcelo virando-se para Helena que seguia atrás rindo de toda aquela cena.

– Claro! Eu não senti um tiquinho de medo que fosse!

 

– Tio Marcelo onde está a Bia? – Junior perguntou enquanto Marcelo o colocava no chão
– Ela já está lá dentro esperando por você eu estava voltando pra casa quando vi você! Vai lá que já vai começar a aula!

         Junior saiu correndo, mas voltou deu um beijo e um abraço na mãe depois um abraço em Marcelo, quando já estava se preparando para correr outra vez lembrou-se de algo e voltou
– Tio Marcelo, o senhor deixa a Bia ir lá em casa um dia desses? O senhor fica com a mamãe e eu e ele podemos tomar banho de piscina!

 

– Olha me parece uma boa idéia tenho certeza que ela vai adorar eu vou ver com sua mãe um dia esta bem?! Agora vaaai pra aula menino!

– Obrigado Tio Marcelo! Tchau mãe! – disse no meio da correria
– Tchau meu amor comporte-se! 

 

         Helena ainda ficou alguns segundo ali parada no portão olhando o filho sumir escola adentro sentindo um aperto no peito. Desejou mais do que nunca que Paulo fosse assim com o filho, enquanto lembrava-se do dia em que dissera a ele que estava grávida, e caminhava ao lado de Marcelo de volta para o carro, quando deu por si já havia perguntado:

– Como foi quando você descobriu que seria pai?

 

         Marcelo olhou-a surpreso pela pergunta, mas logo respondeu;

– Foi o segundo dia mais lindo da minha vida! Sempre foi meu sonho e mesmo com tantas dificuldades foi a melhor coisa que me aconteceu!

 

– E qual foi o melhor dia?

– Quando a Bia nasceu eu estava lá ao lado da minha ex-esposa, foi um parto difícil, mas foi a coisa mais linda que já vi na minha vida! Colocá-la nos braços, vê-la mamando pela primeira vez, eu passei uma noite inteira acordado admirando minha bebezinha enquanto a mãe dela descansava nunca mais vou me esquecer desse dia! E pra você como foi?

 

– Foi difícil, o meu marido não queria, e acabou não reagindo muito bem na hora, mas depois ele adorou a ideia de ter um filho – mentiu, Paulo nunca levou muito jeito com criança, tratava o filho muito bem, mas não era da mesma forma, faltava um carinho genuíno, sabia que ele amava o filho, mas ele tinha certa dificuldade em demonstrar isso, Helena não teve coragem de dizer a verdade e entristeceu-se por isso.

         Chegaram ao carro de Helena e um silêncio instalou-se entre eles, ate que Marcelo o quebrou.

 

– Se seu filho disser a Bia que ela vai pra sua casa tomar banho de piscina sinto muito, mas vai ter que acontecer mesmo, ela vai falar disso para o resto da vida se não for!

– Há! Mas é claro que ela pode ir - “E você de preferência pra tomar banho também” pensou sem querer – Já estou até imaginando a alegria daqueles dois!

 

– Verdade – disse Marcelo rindo, Helena achou aquela risada a coisa mais linda que já ouvira nos últimos tempos, como queria ouvi-lo rindo assim só pra ela e por causa dela. – Mas vamos ver mesmo um dia esta bem? – disse abrindo a porta do carro pra ela entrar.

– Obrigada, tudo bem depois eu digo um dia legal pra vocês irem – Mas Helena sabia muito bem que Paulo jamais permitiria isso, mas também não queria ser chata, iria esperar o assunto cair no esquecimento.

 

– Vocês? Hum! Então o convite se estende ao pai também? – disse ele fechando a porta do carro

– Tem certeza que não lhe causara nenhum problema? – ao perguntar isso ele viu com muita rapidez Helena ficar vermelha, notou que ela ficava mais linda ainda assim. Sua mente voou longe neste momento e com muito esforço trouxe-a de volta para se despedir dela. – Bom, depois você me diz alguma coisa, tenha uma boa tarde! – disse plantando-lhe um beijo no rosto perigosamente perto de seus lábios, não que tenha sido de propósito, mas pelo menos pode vê-la outra vez enrubescer, gostou da facilidade com que isso acontecia!

 

– Bo... Boa tarde pra você também – disse ela desconcertada.

         Helena foi para casa lentamente, estava nervosa, ou era impressão dela ou Marcelo quase que a beijara! Essa dele levar Bia na casa dela não ia dar certo! Precisava encontrar uma solução pra isso, o filho também era bem persistente só iria sossegar quando Bia estivesse lá.

 

         A tarde passou lentamente, sua única distração era Eleonora, empregada da família desde que ela fora morar naquela casa, uma senhora muito sensata, que adorava conversar, ela tinha uma sensibilidade incrível, e tão logo Helena sentou-se na mesa, para tentar ajudar ela a fazer alguma coisa ela percebeu que alguma coisa havia acontecido porem, Helena nunca falava de primeira, sempre dava voltas e voltas até chegar ao assunto no qual ela queria conselhos.

– Vamos logo falando o que aconteceu minha filha, eu te conheço muito bem que algo está te afligindo?

 

– Nada! que mania a senhora tem de sempre achar que aconteceu alguma coisa.

– Quando você tiver a minha idade Helena talvez você entenda

 

         Helena estava pensando se devia ou não contar sobre Marcelo quando o telefone tocou,

– Deve ser o Sr. Paulo. Vá atender vá e depois você vai me contar direitinho o que aconteceu, por que eu sei que tem alguma coisa.

 

– Esta bom Srª Vidente! – disse enquanto dirigia-se ao telefone.

– Oi querido. – disse ao atender, pois sabia que era Paulo.

 

– Oi como você está? – perguntou friamente

– Estou bem e você? Como estão as coisas por aí?

 

– Tranquilas...

         A conversa seguiu monótona como sempre, Paulo em nenhum momento procurou saber como Junior estava, sentia-se triste e cansada de toda aquela falta de atenção.

 

A noite Helena completamente exausta deitou-se para dormir e não conseguiu. Marcelo povoava seus pensamentos como uma assombração.

         Na manha seguinte Eleonora sugeriu que Helena coloca-se siga-me no telefone de casa. Um serviço para que ela pudesse atender Paulo mesmo quando ela eventualmente estivesse na rua, o que evitaria brigas desnecessárias.

 

         Durante todas as tardes que se seguiram Marcelo e Helena saíram com os filhos para algum lugar, seja para tomar um sorvete, seja para ir a um circo. Marcelo se revelava cada dia mais encantador e Helena começava a temer que estivesse se apaixonando por ele, mas procurava banir esse pensamento de sua mente tão logo ele surgia. Não era plenamente feliz mas pode-se dizer que pelo menos ela tinha uma vida tranquila ao lado do marido.

         As semanas que se passaram foram ótimas, mas estavam chegando a um fim, Paulo voltaria na próxima segunda feira, era sexta feira e Marcelo convidou-a para ir ao cinema deixando-a totalmente dividida. Disse apenas que no sábado daria a resposta e saiu. Estava insegura em ralação a sair com ele, das outras vezes pelo menos tinham as crianças como desculpa.

 

            Durante todo o sábado Helena se mostrou inquieta e não demorou muito ate Eleonora vir lhe perguntar, desta vez porem, Helena não deu voltas até chegar o assunto, contou-lhe detalhe por detalhe tudo o que estava acontecendo, mas escondeu o que ela supostamente estava sentindo por Marcelo.

         Não soube como, mas Eleonora conseguiu convencê-la a ir, que ela tomaria conta de Junior. Ligou para Marcelo confirmando o cinema para mais tarde. Bia ficaria com a mãe dele.
Ela se arrumou animadamente. Colocou um vestido justo preto até os joelhos, os cabelos castanhos soltos caindo levemente pelos ombros, uma maquiagem linda destacando seus olhos incrivelmente azuis, e uma sandália vinho.

 

Dirigia calmamente para a casa de Marcelo quando seu celular tocou, era Paulo.

– Oi querido... – disse totalmente nervosa e rezando para que sua voz não a denunciasse e que ele não notasse o barulho do motor, pra isso foi parando lentamente próximo a calçada.

 

– O que você está fazendo?

– Lendo, por quê?

 

– Nada só pra saber mesmo.

– Quando você volta?

 

– Segunda! Liguei justamente para avisar a hora que chegarei, por volta das quatro da tarde, vá me buscar no aeroporto.

– Tudo bem, mas e o Junior, será que dá tempo de irmos buscá-lo no colégio?

 

– Mande Eleonora amanha para não correr o risco de deixar o menino esperando. Até amanha Helena.

         Ele desligou logo depois e nem percebeu que ela não estava realmente em casa, tinha que agradecer a Eleonora por ter lhe sugerido o serviço.

 

Sentia um misto de liberdade e receio. Ao chegar na casa de Marcelo, por mais que um por um lado achasse aquilo um absurdo e errado outro lhe dizia que não estava fazendo nada demais e que se estava tendo que tomar tais medidas era só porque Paulo era muito controlador.

         Marcelo já esperava por ela, era estranho sair com ele sem o barulho das crianças por perto, mas não tanto assim. Marcelo estava lido com uma calça jeans e blusa verde justa no corpo, exibindo seus músculos. Seu perfume como pode sentir quando ele sentou-se ao seu era delicioso.

 

         Conversaram animadamente durante todo caminho até o cinema. A noite foi mais que agradável. Assistiram uma comédia e Helena se divertiu como há muito não se lembrava. Depois que o filme terminou comeram uma pizza e finalmente foram embora.

         Helena estacionou em frente a casa de Marcelo já se despedindo mas ele não saiu do carro. Aproximou-se dela e ela virou o rosto para que ele beijasse sua bochecha como já era de costume, mas ele segurou o rosto dela e beijou sua boca.

 

         Foi um beijo tão maravilhoso, cheio de paixão e desejo. Ela não tentou evitar, pelo contrário, se entregou ao beijo e retribuiu. Mas quando Marcelo parou ela abaixou a cabeça, não tinha coragem de encará-lo.

- Olhe para mim Helena. – ele pediu. Ela lentamente levantou os olhos e o encarou.

 

- Isso não deveria ter acontecido!

- Você não gostou? – ele perguntou.

 

- Não é isso...

- Então deixe-me falar Helena. – ele suspirou e segurou na mão dela. – Eu estou apaixonado por você. – Helena arregalou os olhos – E sei que você também está por mim. Não adianta você negar. – Ele beijou sua mão – Sei que seu casamento não é bom. – ele colocou uma mexa do cabelo dela trás da orelha - Claro que eu não posso dar tudo que Paulo dá a vocês, mas eu quero cuidar de vocês. De você e do Junior. Quero que você seja minha. Se separe e venha morar comigo.

 

- Marcelo, eu não... – ele colocou um dedo nos lábios dela.

- Shhhh! Eu não quero resposta agora. Sei que te peguei de surpresa. Pense a respeito, o tempo que precisar. Eu vou te esperar Helena. Só não demore muito, pois não sei se meu coração aguenta.

 

         Ele deu outro beijo nela, dessa vez mais curto e saiu do carro. Helena ainda ficou um tempo parada sem saber o que fazer e depois foi pra casa.

         Aquela conversa e o beijo não saíram da sua cabeça.

 

         Na segunda feira Helena buscou Paulo no aeroporto e ele como sempre mal humorado. Deu um beijo rápido em sua testa e disse para que fossem logo para casa, pois ele estava exausto e queria dormir.

         Ao entrarem em casa, Junior veio correndo assim que o pai entrou e abraçou a perna dele. Paulo apenas deu tapinhas leves nas costas do filho e pediu para que ele o soltasse que ele iria tomar um banho. O menino soltou e correu para o colo da mãe.

 

         Paulo saiu do banho, jantou e foi-se deitar. Helena ainda ficou um tempo com Junior no quarto dele até ele pegar no sono e depois foi pro seu quarto. Passou parte da madrugada olhando Paulo e pensando em como era a vida deles.

         Na manhã seguinte estavam tomando café da manhã muito cedo, pois Paulo teria que ir pro escritório. Junior ainda dormia.

 

- Paulo... – Helena disse quebrando o silêncio – Eu quero o divórcio!

Capitulo 3

Paulo deixou calmamente sua xícara de café na mesa e olhou para Helena com olhos de pura fúria. Helena sabia que Paulo jamais a machucaria fisicamente, mas naquele momento sentiu medo.

 

- Você quer o quê? - Perguntou ele, sua voz era falsamente calma, mas após anos de convivência Helena sabia identificar quando seu marido estava furioso.

- Eu... Eu quero o divórcio Paulo - Disse ela tentando se manter calma - Nós dois sabemos que esse casamento é por pura convivência e conveniência, será melhor para todos se cada um fosse para o seu próprio caminho - Ela olhava dentro de seus olhos.

 

- De onde veio essa ideia agora Helena, o que esta acontecendo? Aliás, você esta estranha. O que houve durante a minha viagem? - Ele estava claramente alterado agora.

- Paulo, durante esse tempo que você esteve fora, eu pude pensar e refletir sobre o nosso casamento, eu já não estou mais feliz, não sei se algum dia eu fui feliz. Junior não esta feliz, ele sente a sua falta, você vive no trabalho e... - Ela dizia, mas ele a interrompeu bruscamente.

 

- Você não tem tudo o que você precisa? Você tem uma casa linda, um carro do ano, as joias que você quiser. Tomamos sempre os melhores vinhos e comemos comida de alta qualidade, sempre tudo do bom e do melhor. Você tem essa vida de madame por que eu trabalho para te proporcionar isso! - Agora ele gritava com ela.

         Helena recuou um pouco com suas palavras, ele estava certo em parte, nunca havia faltado nada material para ela e o filho, mas isso já não era suficiente. Onde estava o amor, o carinho? Isso era o que faltava e se não bastasse isso, ainda tinha...

 

- Você acha que eu não sei que você me trai com aquela sua secretaria? - Helena disse enfrentando-o.

        Ela percebeu como Paulo se alterou com aquela pergunta, naquele momento teve a certeza de que estava sendo traída.

 

- Você esta louca! Eu não tenho nada com a Karina, ela foi me acompanhar por que você não quis ir, não invente coisas - Ele respirava profundamente para se acalmar. Paulo odiava ficar fora de controle.

- Paulo, nós tivemos anos maravilhosos, mas eu não aguento mais, essa sua mania de me controlar a todo tempo, eu me sinto presa, sufocada. - Helena estava chorando agora, a certeza que ela tinha que seu casamento não era baseado no amor, a entristecia.

 

- E você quer ir pra onde? Acha que eu vou deixar você ficar andando solta por ai? Você é minha esposa, deve estar em casa para cuidar das obrigações da casa. - Ele disse exasperado.

- Eu quero ter a liberdade de ir para onde eu quiser, sem ter que ficar te dando satisfações como se eu fosse uma criança - Helena agora gritava chorando.

 

- Helena você tem que me dar satisfação por que você é minha mulher e ponto final. - Ele gritou - Eu não vou te dar o divórcio... Nunca! Você está entendendo? – ele se levantou e apoiou as mãos na mesa - E se você quiser tentar agir pelas minhas costas pedindo o litigioso, eu moverei céus e terra para você nunca mais ver o Junior você esta entendendo? Você vai perder o seu filho Helena, então se acalme e esqueça essa historia.  Eu vou para o escritório agora - Paulo parecia mais calmo agora - Espero que esse assunto esteja encerrado.

Ele passou por ela e saiu para o trabalho. Helena estava desesperada, ela sabia que Paulo falava sério sobre tirar o Junior dela, e ela não conseguia se imaginar sem o filho. Eleonora apareceu na sala e a abraçou.

 

- Calma minha filha, calma! - Eleonora disse alisando seus cabelos.

- Ele não quis me dar o divórcio, ele ameaçou me tirar o Junior se eu pedisse o litigioso - Helena chorava desconsoladamente.

 

- Eu não pude deixar de ouvir a conversa Helena, vocês estavam gritando. O Sr Paulo é um homem difícil muito conservador em relação a família. Ele quer a sua mulher e seu filho ao seu lado, mas eu não concordo com a maneira que ele trata a senhora.  - Eleonora disse.

- Conservador? Ele é um controlar irracional, ele está me mantendo presa nessa casa e esse casamento por conveniência. Eu sempre estou arrumada quando ele chega do trabalho, sempre sorrio nas festas idiotas que ele da para aqueles sócios ridículos dele. Eu faço eventos caridosos e convido as esposas chatas de seus amigos para vir aqui em casa tomar um chá. Eu sou a esposa perfeita pra ele, eu sou a esposa modelo, só isso! - Helena estava com raiva agora, falar essas coisas em voz alta a fez se sentir pior ainda.

 

- Dê tempo ao tempo Helena, sr Paulo é um homem de palavra, você tem que ter cuidado pois eu acho que ele estava falando serio quando disse que  tiraria o Junior - A voz de Eleonora estava receosa.

        Helena sabia que Paulo seria capaz disso, ele era um homem de muitos contatos e de muita influência, e ela não tinha nenhuma profissão ou renda. Estava acuada e desesperada. Na hora de levar Junior para escola estava ansiosa para ver o Marcelo, mas não queria que ele percebesse que ela havia chorado, essa situação era muito constrangedora e ela não sabia se teria coragem de contar para ele sobre a conversa que tivera com Paulo no café da manhã.

 

        Estacionou o carro na frente da escola e o viu encostado no muro da escola, ele estava conversando com o porteiro e quando a viu, abriu um sorriso lindo. Helena se despediu de Junior com um longo abraço e disfarçou sua tristeza com um falso sorriso. Marcelo cumprimentou Junior com um abraço e o levou para dentro da escola, Helena ficou dentro do carro, não queria ir embora, queria um abraço do Marcelo, queria se sentir amada e protegida. Quando voltou ele esperou que todos os pais tivesse ido embora para entrar no carro de Helena. Sem dizer nada ela saiu com o carro e os dois ficaram em silêncio. Marcelo sabia que acontecera alguma coisa, mas foi sensível o bastante para respeitar o tempo dela.

Helena estacionou o carro em uma pracinha quase vazia, aquele era o horário de aula e quase não havia crianças, apenas algumas babás com carrinhos de bebê e alguns idosos jogando dominó.

 

         Ela encostou a cabeça no banco e se permitiu chorar, quando percebeu, Marcelo já estava a embalando em um abraço apertado. Ela precisava disso, ele a confortou de uma maneira que ela não saberia explicar.

- Fale comigo. - Ele finalmente disse - O que esta acontecendo?

 

- Eu... - Helena não conseguia dizer, tinha medo que se falasse, Marcelo poderia desistir dela.

- Fala amor. Pode falar - Ele disse acariciando seu rosto.
Helena então criou coragem e contou sobre a conversa que tivera com Paulo naquela manhã, contou todos os detalhes e como Paulo ameaçou tirar Junior dela.

 

- Agora você entende como a nossa relação não pode funcionar? Isso nunca vai dar certo - Helena disse chorando nos braços de Marcelo. Ela sabia que a qualquer momento ele iria deixá-la, então aproveitou os minutos de conforto em seus braços.

         Marcelo ficou mudo por alguns minutos, que apareceram uma eternidade, quando finalmente ele a afastou e levantou seu rosto com o dedo.

 

- Helena, olha pra mim. - Ele disse com a voz firme - Eu sei que essa situação é difícil, que você ainda vai passar por muitas coisas, mas eu não sou um homem que desiste fácil Helena. Eu quero você, e se você me quiser também, tenho certeza de que podemos fazer as coisas darem certo. Eu não vou abandonar você! - Ele disse beijando-a ardentemente
- Agora, precisamos tomar cuidado, eu sei que isso que estamos fazendo é errado, você é uma mulher casada... - Ele disse calmamente.

- Eu sei disso Marcelo, e estava me sentindo muito culpada por aquele beijo, até hoje de manhã, quando percebi que fui traída. já não sinto como se tivesse feito algo de errado. Sim eu estou apaixonada por você, mas não posso correr esse risco, meu filho é tudo pra mim, vamos ter que ser cuidadosos ok? - Helena disse um pouco mais calma.

 

- Sim querida, as coisas irão se resolver você vai ver. Agora é melhor você voltar pra casa, depois da conversa que vocês tiveram eu tenho certeza que ele vai ficar mais controlador ainda - Marcelo disse dando um beijo e saindo do carro.

          Helena se sentia mais feliz após a conversa com Marcelo. Sabia que ele realmente estava apaixonado por ela e ela nunca havia se sentido querida desse jeito. Chegou em casa e estranhou que Paulo ainda não havia ligado para ela. Tirou suas roupas e foi tomar um banho, levou um susto quando dez minutos depois ouviu a voz de Paulo chamando por ela no quarto

 

- Helena, Helena! - Gritava ele.

         Ela saiu do chuveiro na suíte, vestiu seu roupão e foi para o quarto. Espantou-se quando viu Paulo mexendo em sua bolsa, mas especificamente em seu celular, agradeceu mentalmente quando lembrou que havia apagado as ligações de Marcelo.

 

- Paulo, o que você esta fazendo em casa essa hora? - Helena estava curiosa e muito furiosa por vê-lo invadindo assim a sua privacidade - E o que você esta procurando na minha bolsa? – Perguntou.

- Eu vim mais cedo pra casa por que eu quis, ainda estava cansado da viagem. Vou fazer o resto do trabalho em casa. Algum problema? - Ela estava nervosa e ansiosa, ela sabia que ele estava mentindo, ele estava ali para vigiá-la. Um frio percorreu sua espinha! Teria que ser mais cuidadosa do que nunca.

 

- Nenhum problema, querido! - Ela disse com ironia - E sobre a minha bolsa? Achou o que queria? - Perguntou com raiva.

- Nada, eu só estava verificando a bateria do seu celular, não gosto quando ele descarrega - Ele disse saindo do quarto.

 

         "Mentiroso! Ele deve ter feito algo em meu celular, pode ter colocado algum sistema para rastrear ou gravar as ligações” Ela pensou. Não sabia se estava ficando paranoica ou se realmente suas desconfianças tinham fundamento.

          Os dias foram passando e Helena tinha certeza de que Paulo estava desconfiado de algo. Ele chegava em casa em momentos inesperados e ela desconfiou que ele grampeou seu telefone, por isso pedia o celular de Eleonora para ligar e mandar mensagem para o Marcelo. Conseguiu avisar pra ele que Paulo estava desconfiado e assim ele não ligaria para seu celular. Aguardaria que ela ligasse.

 

          Na sexta feira, Helena foi buscar Junior na escola com a esperança de além de ver, poder conversar com Marcelo. Ela sabia que Paulo teria um jantar de negócios e que chegaria tarde em casa naquele dia. Ficou esperando impaciente dentro do carro, quando avistou Marcelo indo em direção ao portão da escola. Tal foi sua surpresa quando pelo retrovisor viu o carro de Paulo estacionar em baixo de uma arvore do outro lado da rua. O coração de Helena disparou na mesma hora! Era obvio que ele a estava ali apenas para vigiá-la. Marcelo olhou sorridente para o carro de Helena, mas logo percebeu que havia algo errado. Helena estava pálida e balançava lentamente a cabeça para ele. Marcelo percebeu que havia um problema e virou o rosto para cumprimentar outros pais que estavam aguardando seus filhos. Quando as crianças começaram a sair, Helena desceu do carro e foi buscar Junior que estava de mãos dadas com Bia.


- Mãeeee! - gritou ele correndo para dar um abraço em Helena.

 


- Oi meu príncipe, como foi se dia? - Disse ela olhando para Junior, ela não queria olhar para Marcelo, pois sabia que Paulo estava a observando de longe.

- Oi Helena, esta tudo bem? - Marcelo perguntou. Sua voz preocupada.

 

         Dando um olhar rápido Helena respondeu rapidamente - Sim - e se virou para entrar no carro, quando viu Paulo vindo em sua direção.


- Papai! - Junior gritou quando o viu.

 

- Oi filho! - Paulo disse passando a mão na cabeça de Junior rapidamente.

- Papai, que bom que você veio. Você nunca vem me buscar! Olha! Essa aqui é a Bia, ela é minha melhor amiga, e esse aqui é o tio Marcelo, pai dela. - Junior estava animado e eufórico, já que era a primeira vez que Paulo aparecia na porta da escola. Assim como também ele nunca havia participado de nenhuma das festas nem confraternizações da escola.

 

         Helena estava desesperada por dentro, estava com medo de Junior contar que os quatro iam quase todos os dias para pracinha juntos. Mas ela agradeceu aos céus quando ela viu que Junior estava mais entretido conversando com Bia.

Paulo cumprimentou Marcelo e Helena pode ver a preocupação em seus olhos. Ela o percebeu olhando para a mão esquerda de Marcelo, buscando ver se ele tinha uma aliança.

 

- O que aconteceu? - Helena perguntou quando eles estavam se afastando em direção ao carro - Você não tinha uma reunião hoje à noite?

- Eu remarquei a reunião, resolvi vir buscar meu filho, não posso? - Ele perguntou com um ar desconfiado.

 

- Claro que pode... - Helena respondeu tentando parecer com ar descontraído – assim como eu posso estranhar, uma vez que você nunca fez isso.

- Nunca é tarde para começar... – Paulo respondeu num tom debochado.

 


         Foram para casa, cada um em seu carro e Helena se perguntava, se Paulo estava desconfiado de Marcelo, mas logo afastou o pensamento. “Não tinha como ele saber.” Ela pensou.

          Ao chegar no apartamento ficaram em um silêncio desconfortável. Helena deu banho em Junior enquanto Paulo estava ao telefone. Naquela noite ele encomendou pizza e após tomar banho se juntou a Helena e Junior na mesa.

 

         O telefone tocou e Eleonora apareceu.

- Sra Helena, eu sei que eu não devo interromper quando vocês estão jantando, mas essa moça disse que precisa falar urgente com você. – a empregada disse sem graça.

 

- Moça? - Paulo perguntou desconfiado.

- Sim - Respondeu Eleonora - Ela disse que se chama Karina!

 

         Paulo ficou pálido na hora, demorou alguns segundos para Helena entender o que estava acontecendo, quando percebeu que Karina era nome da secretaria de Paulo. Imediatamente ela pegou o telefone das mãos de Eleonora. A empregada pegou Junior no colo e o levou para ver TV . Helena olhou para Paulo com os olhos apertados.


- Alô! - Ela disse com a voz firme, logo depois de colocar o telefone no viva-voz.

 

- É a Sra. Helena? - Disse Karina com voz de deboche.

- Sim, sou eu, o que você quer comigo? - Helena respondeu olhando para Paulo que estava com a expressão apreensiva.

 

- Você sabe que eu tenho... Digamos... Um relacionamento com o seu marido? Mas desde que você deu um piti dizendo que queria se separar, Paulo esta me deixando de lado para vigiar você. Então eu pensei, que se eu começar a te contar uns segredinhos meus e do Paulo, se você não iria se tocar que ele não te ama, que você é apenas a esposa apresentável dele. – Karina disse debochadamente e reforçava as palavras que lhe eram convenientes – E se você acha que eu sou a primeira, está muito enganada...

         Helena ouviu aquilo e não podia acreditar, ela sabia que Paulo a traia, mas jamais imaginou que a amante ligaria para sua casa para lhe contar os segredinhos sujos. Ódio era pouco para o que ela estava sentindo no momento. Quando ela ia responder, Paulo pegou o telefone de suas mãos.

 

- Escuta aqui sua louca - Ele dizia ao telefone para Karina - Pare de ligar para minha casa esta ouvindo? E a propósito, você esta despedida! - Ele gritou e desligou.
Ela ainda estava parada quando ele tocou em seu ombro e ela se esquivou com nojo.

- A quanto tempo Paulo ? - Ela perguntou.

 

- Ela é louca, não tenho nada com ela! - Ele começou a dizer, mas Helena o interrompeu.

- Eu... Eu não quero saber, eu estou com nojo dessa situação. Você não ouse tocar em mim. - Ela gritava - Eu fui a esposa perfeita por anos, fui o seu troféu, mas chega! Você não quer me dar o divorcio? Ótimo, mas você nunca mais vai tocar em mim esta me ouvindo? Nunca mais... - Ela disse saindo para se trancar em seu quarto.

 

Helena chorou sobre o travesseiro e pediu a Deus sabedoria para sair daquela situação. Paulo a traíra, quem sabe quantas vezes. Talvez por todos esses anos. E no final ainda se recusava a dar o divórcio. Que tipo de pessoa era essa com quem ela tinha se casado. Ela não sabia mais quem Paulo era.

O final de semana passou lentamente. Paulo dormiu no quarto de hóspedes na sexta, mas no sábado voltou para seu quarto. Os dois pareciam estranhos em sua própria casa.

 


          Segunda feira Helena foi levar Junior na escola e não viu Marcelo, ficou desapontada pois estava com saudades. Chegou em casa e pegou o telefone de Eleonora para ligar para Marcelo e ele disse que achou melhor evitar de encontrá-la, caso Paulo resolvesse aparecer novamente. Helena ficou feliz por saber que Marcelo estava mesmo preocupado com o bem estar dela. Marcaram então de se encontrar no dia seguinte para se ver, Paulo tinha uma reunião importantíssima e com certeza não iria faltar.

          Pediu para Eleonora buscar Junior e Bia na escola e levá-los a um salão de jogos que tinha ali perto. Marcou com o Marcelo de se encontrarem na pracinha. Ele estava lindo, camisa verde escuro com uma calça de sarja preta, os cabelos estavam bagunçados e seu sorriso era o mais sexy.

 

- Oi amor! - Disse ele lhe dando um beijo em seu rosto.

- Oi! - Ela respondeu tímida.

 

- Senti saudades! - Ele disse acariciando sua mão.

- Eu também! Não podemos ficar em lugares públicos. Vamos para onde? - Perguntou ansiosa.

 

- Que tal irmos para minha casa? – Ele parecia receoso com a pergunta.
Helena estava preocupada, mas a ideia de ficar sozinha com ele fazia seus pelos da nunca se arrepiarem. Ela não conseguia dizer outra resposta a não ser sim.
         Foram em silêncio ate a casa dele, um silêncio confortável e cheio de promessas de uma tarde de amor. Chegaram à residência e Helena estacionou o carro dentro da garagem, não poderia correr o risco de seu carro ser visto em frente a casa dele.
Entraram na casa e Marcelo ofereceu um tour, mostrando cada parte da casa. Helena pode ver o quanto ele era um bom pai, o quarto de Bia era todo pintado de rosa e tinha varias prateleiras com diversas bonecas. A casa era intima e acolhedora, na sala havia um sofá preto grande e confortável, os dois se sentaram e ele ofereceu uma taça de vinho. Ela aceitou e eles conversaram por alguns minutos, até que Marcelo interrompeu o que ela dizia com um beijo. Um beijo sensual e lento. Ele explorava sua boca se uma maneira que a deixava mole em seus braços. Ele interrompeu o beijo repentinamente, se levantou e estendeu a mão para ela. Um convite claro para ela o acompanhar até o quarto. Sem pensar muito Helena se viu aceitando sua mão.
Caminharam se beijando até quarto e pararam em frente a cama.
- Eu quero muito você, mas não quero te apressar em nada. - Ele disse com sua voz rouca de desejo.
Helena também o desejava e não podia mais aguentar. Sem dizer nada ela o agarrou e o beijou. Ela segurou na barra da camiseta dele a tirando-a em seguida. Ela pode ver pela primeira vez seu peitoral musculoso, onde ele exibia uma tatuagem na costela. Um dragão verde e vermelho. Um desenho lindo que o deixava ainda mais delicioso e Heleno se permitiu apreciar a vista por uns momentos.
Marcelo puxou a nunca dela para um beijo e com a outra mão desabotoou habilmente os botões da blusa que ela vestia, deixando seu lindo sutiã de renda branca exposto. Ela o ajudou a abrir o feche do sutiã e ele olhou admirado para os seus seios.
- Você é linda - ele disse apertando seu mamilo com o polegar e o indicador, deixando-a queimando de desejo. Ele continuou essa tortura deliciosa, mas Helena precisava de mais, queria ser tocada onde ela mais necessitava.
Marcelo a deitou na cama sussurrando para ela o quanto ela era linda e gostosa e o quanto a queria nua. Ele retirou a calça que ela usava e admirou sua linda calçinha de renda branca. Ele deslizou lentamente a calcinha e Helena fechou os olhos para sentir a sensação maravilhosa das mãos de Marcelo acariciando seu corpo.

         Quando sentiu a língua de Marcelo acariciar o se clitóris abriu os olhos e não podia acreditar o quão sexy era aquela cena. Ela já estava muito molhada e ao sentir a boca dele em seu sexo já podia sentir o orgasmo se aproximar, Marcelo colocou dois dedos em sua abertura e ainda mordendo e lambendo seu clitóris. Helena alcançou o orgasmo arrebatador e soltou um gemido erótico.

         Marcelo continuou a tortura até que os espasmos pararam, ele começou a beijar sua coxa, sua barriga, seus seios, ate chegar em sua boca. Ele a beijou com paixão.
- Eu imaginei diversas vezes como seria ver você gozar, mas ver pessoalmente é muito melhor do que eu imaginava - ele disse entre beijos.
- Eu quero ver você nu - Ela disse com a voz de desejo, ela precisava dele dentro dela e a calça jeans ainda estava no caminho, ele se levantou e retirou sua calça e boxer juntas, deixando exposto seu membro grosso e duro.  Era esplêndido, proporcional. Ela salivou com a ideia de levá-lo a boca, mas ele tinha outros planos. Ele retirou um preservativo da gaveta da cômoda e o colocou em seu membro, subiu devagar em cima dela, se posicionando em sua entrada molhada. Lentamente ele a penetrou, ela pode sentir a maravilhosa sensação de ser penetrada completamente.
- Você é tão deliciosa amor, quero ver você gozar novamente - Ele sussurrava.
As palavras eróticas de Marcelo e as estocadas em ritmo perfeito levaram Helena para mais um orgasmo maravilhoso. Ela gritou o nome dele e apreciou maravilhada como ele gozou sussurrando seu nome.
Já fazia muito tempo que Helena nao se sentia tao completa e realizada. Era inevitável comprar o sexo com Paulo que havia sido seu primeiro homem. E ele sempre fora duro e egoísta. Nunca se preocupando se ela havia tido um orgasmo ou não.
Os dois continuaram abraçados e ofegantes. Marcelo se ergueu um pouco para não machucá-la com seu peso. A olhou nos olhos, alisou seu rosto com carinho... Aquele momento parecia mágico!
- Eu te amo - Ele disse com sinceridade nos olhos.
- Eu também te amo - Ela respondeu chorando.
Essa declaração fez Helena ter certeza, ela precisava resolver sua vida, e precisava ser rápido.
Eles se arrumaram e foram até o ponto marcado com Eleonora para pegar as crianças, mas para sua surpresa quem estava lá  com as crianças não era Eleonora, e sim Paulo.
- Ora ora, o que temos aqui? – Paulo perguntou com fúria nos olhos, mas uma voz controlada, quando viu Helena e Marcelo descendo do carro.

Capitulo 4

De todas as coisas que poderiam ter acontecido, encontrar Paulo ali era a pior delas. Estremeceu ao vê-lo vir em sua direção, deixando as crianças e Eleonora a alguns metros.

 

Segurando seus ombros ele beijou demoradamente seus lábios. Aquilo era algo que ele nunca havia feito em publico, e mesmo quando a sós, as demonstrações de afeto eram rápidas e insipidas.

As mãos de Paulo deslizaram por suas costas, e ela colocou a mão em seu peito para afasta-lo.

 

- Entre na brincadeira, querida, ou lhe garanto que você se arrependerá! – Paulo ameaçou, falando baixo em seu ouvido.

Para qualquer observador, ele pareceria um homem apaixonado.

 

Helena ficou paralisada, o medo fazendo seu corpo ficar frio, as mãos suadas.

Ele sabia que ela estava com Marcelo. Essa certeza instalou-se em sua mente. Paulo sabia de tudo, e estava ali para flagra-la.

 

Por cima dos ombros dele viu a expressão nervosa de Eleonora. Bia e Junior correram para o Marcelo, contando animadamente sobre o quão divertido fora com Eleonora.

Enfim Paulo se afastou, um sorriso carinhoso nos lábios, enquanto enlaçava a cintura dela e a mantinha próxima do seu corpo.

 

Marcelo escutava a conversa das crianças, tentando ignora-los, mas os olhos pousavam sobre o casal furtivamente, e a dor e o ciúme ali eram indisfarçáveis.

O coração de Helena condoeu-se por ele.

 

- Então... Marcelo, não é? – O tom de Paulo era cínico. – Sua filha, meu filho... Você, minha esposa... Sempre juntos! Todos amigos! – Ele sorriu amigavelmente para benefício das crianças, mas o veneno em seus olhos e no tom de voz era inconfundível.

- Sim, somos todos amigos. Você vê algum problema nisso? – O tom de Marcelo foi duro, e Helena temeu um confronto entre os dois.

 

- Não acredito em amizade entre homem e mulher. Isso é para os tolos. – O olhar duro estava firme sobre Marcelo. – E eu não sou nenhum tolo.

O tom de aviso era claro, mas Marcelo não vacilou sob o olhar de Paulo.

 

- Vamos embora, Paulo. Junior tem dever de casa. – Helena chamou, temerosa. Precisava afasta-los imediatamente. Olhou para Eleonora, que pegou a mão de Junior e caminhou com ele para o carro de Helena.

- Vocês vão comigo no meu carro, Eleonora! Mude o assento do menino e o acomode.

 

- No seu carro? Por quê? – Aquilo a surpreendeu.

- Por que nos somos uma família, querida.

 

Helena julgou prudente não salientar que eles eram uma família há anos, mas nunca andaram juntos por ai, por opção dele.

-Meu carro?

 

- Envio alguém para busca-lo depois. – Paulo a encarou agora, os olhos frios. - Ele ficou aqui por horas e está inteiro.

Helena calou-se, e com a mão de Paulo em sua cintura, foram até o carro dele.

 

De soslaio, viu que Marcelo continuava no mesmo lugar, enquanto o carro se afastava.


Quando chegaram em casa, ela desceu do carro para tirar Junior.

 

- Deixe que Eleonora faça isso! Preciso falar com você! – Ele lhe disse rudemente, enquanto caminhava para dentro da casa, sem olhar em sua direção.

Helena trocou um olhar com Eleonora, e deu um beijo no filho, e seguiu Paulo, que subia as escadas rumo ao quarto do casal.

 

Fechava a porta do quarto, quando ele se virou e a esbofeteou com força. O gesto a surpreendeu e desnorteou, e Helena apoiou-se na porta para não cair. Sentiu a queimação na face, e o gosto de sangue na boca.

- Vagabunda! – Ele gritou com ela, pegando-a pelo braço e jogando-a sobre a cama. – Vadia! Você se acha tão esperta, sua puta! Instalando Siga-me, andando por ai com homens... – Ele a esbofeteou novamente, e ela estava apavorada que ele fosse mata-la. Com toda a frieza do seu casamento, Paulo nunca fora violento.

 

- Eu nunca...

- Você vai negar? Eu sei de tudo, Helena! Eu sei que você deixou o carro lá, enquanto saia para transar, como a prostituta que você é! Eu sei que você mentia para mim, dizendo que estava em casa, quando estava na rua, me traindo!

 

Helena estava deitada na cama, Paulo sentado sobre ela. Seu coração batia loucamente, enquanto sua mente corria em todas as direções, questionando como ele sabia.

- Eu não sei do que você está falando...

 

- Você vai jogar esse jogo comigo, Vadia? Eu tenho recursos! Há um chip rastreador no seu carro! Você é tão ingênua! Acredita mesmo que você ia andar por ai sem que eu tivesse o controle de cada passo que você dá? Achou que podia me enganar? – Ele se debruçou sobre ela, o rosto a centímetros de distancia. – Eu dei tudo á você! – Ele gritou novamente, e ela piscou rápido, assustada. – Dei tudo! E você só queria um garotão que te fodesse...

- Cale a boca! – Era a vez de Helena gritar, nervosa. Levantou a cabeça para igualar seu corpo ao dele. – Você nem devia se importar, já que esteve com várias outras mulheres todo esse tempo! Você não sabe o que é amor, você não sabe o que é fazer amor! Com você é só sexo mecânico, animal, sem sentimentos! Você não sabe tratar uma mulher! – Ele bateu novamente agora, dois tapas fortes que levaram sua cabeça para trás e a deixaram tonta. – Você pode me matar, Paulo! – Ela continuou, sangue escorrendo de um corte acima do lábio superior. - Mas você vai ter ouvido que eu amo outro homem! Que sim, eu me entreguei a ele, e não importando que eu nunca mais o veja, eu vou sempre lembrar dos nossos momentos! Eu vou sempre ama-lo!

 

O silencio que se seguiu a sua declaração exaltada foi pesado e cheio de expectativas.

Ele a encarou por vários segundo, e enfim começou a rir, saindo de cima dela. Helena o encarou estupefata.

 

- Você é tão crédula, Helena! Você acha mesmo que aquele homem a quer por você? É claro que não! Tudo em você transmite riqueza! Ele achou eu podia tirar algo de você, querida! – Ele parou de sorrir, encarando-a. – Mas eu vou lhe dizer, Helena. Você vai se arrepender... Vai se arrepender e muito por isso! – Ele estava próximo da porta agora.

- Você não pode fazer nada contra mim! – Helena corajosamente ignorou o arrepio de apreensão que sentiu diante das palavras dele.

 

- Bem, isso é o que veremos. – O tom dele era macio e calmo, mas ela não se deixou enganar. – Você não vai sair daqui, Helena. Não sem a minha autorização, e certamente não por um longo tempo.

Os olhos dela se arregalaram, e ela pulou da cama em direção á porta, e Paulo gargalhou, debochado.

 

- Você não pode fazer isso! Não pode me trancar aqui! Isso é ilegal! Você não pode... Eu vou chamar a policia!

Ele gargalhou mais ainda, e a empurrou com força quando ela tentou sair do quarto. Helena caiu sentada no chão, olhando-o aturdida.

 

- Você vai fazer oque eu estou mandando, Vadia! Você vai ficar aqui dentro, incomunicável, enquanto eu penso no que fazer com você...

- Você é louco! – A voz dela era um sussurro amedrontado. O que ele ia fazer com ela? O que iria fazer com seu filho?

 

- Não, eu não sou louco. Mas você será se tentar sair daqui.

Com isso ele saiu do quarto, e Helena ficou no chão, enquanto lágrimas amargas inundavam seus olhos.
                         

 

        
Os dias seguintes foram um pesadelo para Helena. Paulo tirara o telefone do quarto, seu notbook da mesa próxima à janela, seu celular. Todas as formas de comunicação foram tiradas de seu alcance. As portas eram mantidas trancadas e as chaves com ele. Paulo lhe informara que, apesar da participação de Eleonora no caso dela com Marcelo, ele decidira mantê-la para que ela cuidasse de Junior, já que a mãe dele estava fora de circulação por tempo indeterminado. Ele lhe avisara, entretanto, que se ela tentasse qualquer forma de comunicação, ele demitiria a empregada, e só Deus sabe que tipo de pessoa viria para cuidar do menino.

Paulo agora trabalhava em casa, e vinha três vezes ao dia com as refeições. Fazia comentários banais sobre o tempo e a economia, como se nada houvesse acontecido e ela não estivesse presa.

 

Helena sabia que ele não podia mantê-la ali para sempre. Ele precisaria viajar a trabalho, como rotina. Junior devia estar perguntando por ela... Chorou ao pensar no filho, e em como ele estaria se sentido sem ela. Sabia que estava bem cuidado fisicamente, por que confiava em Eleonora... Mas e emocionalmente? Eles nunca haviam se separado!

Ela precisava ter paciência. Paulo tinha que cair em si... Tinha que perceber que aquilo era loucura!

 

Mas todas as vezes que ele entrava no quarto estava tranquilo. Conversava com ela calmamente, e mesmo que Helena não respondesse ele mantinha o mesmo padrão todos os dias.


Na manhã do quinto dia de cativeiro Helena soube que ele tinha a intenção de deixa-la ali por tempo indeterminado. Não que Paulo respondesse suas perguntas sobre isso, mas ele estava louco e era capaz de tudo.

 

Ela sabia que precisava tomar uma atitude. Precisava livrar a si mesma e a Junior de Paulo.

No meio da tarde, quando sabia que ele não viria até o quarto, Helena foi ate o closet. Abriu o armário onde estavam pendurados seus vários casacos, e onde no fundo havia varias gavetas.
Abrindo uma das gavetas, Helena a tirou totalmente, puxando para cima uma pequena porta no fundo. Puxou um pacote, olhando atentamente os itens ali.

 

Ela começara a guardar aquelas coisas depois que Junior nasceu. Pensou que o ataque de Paulo à noticia da gravidez fosse passageira e depois tudo se ajeitaria, mas isso não aconteceu. Eles ficaram cada vez mais afastado, e Helena sempre temeu que um dia, ele encontrasse outra pessoa e deixasse. E então ela passara os cinco anos seguintes alimentando aquele pacote.

Colocando o braço novamente, resgatou uma bolsa de veludo, abrindo-a, e meia dúzia de pedras caíram em seu colo. Dois diamantes de tamanho médio, uma esmeralda, um rubi, dois brilhantes.
No primeiro dia de cativeiro, Paulo levara embora suas joias e todos os objetos de valor que estivessem no quarto.

 

Mas ele não sabia daquele pacote, e agora ele seria a sua salvação.

Era noite quando Paulo entrou no quarto com o jantar. Colocou sobre a mesa, e virou-se para ela.

- Hoje Junior está particularmente manhoso. Você está estragando o garoto! Fica choramingando pelos cantos, querendo saber de você, insistindo em pedir sua presença... – Ele tinha a clara intenção de machuca-la, e ela não fez qualquer esforço para disfarçar seu sofrimento.

 

- Deixe-me vê-lo, Paulo. Por favor... – A voz dela quebrou, um soluço angustiado subindo por sua garganta.

- Você fez sua escolha, querida. Você tinha uma família, mas...

 

- Sim, sim, você está certo! – Ela foi até ele, abraçando-o, enquanto chorava. – Você está certo, eu fui inconsequente e irresponsável! Não há desculpa para a minha atitude! Eu só quero a nossa vida de volta, só quero poder sair desse quarto, abraçar o nosso filho. Eu só quero poder andar pela nossa casa livremente.

Paulo franziu o cenho para ela e a afastou de si.

 

- E o seu amante?

- Não, não era meu amante! Foi uma vez, uma tolice, uma loucura!

 

- Mas você disse que o amava...

- Era mentira! – as lágrimas desciam por sua face, e seus olhos imploravam por compreensão. – Era mentira, Paulo! Eu estava tão ferida com sua viagem, com aquela mulher telefonando para a nossa casa! Eu queria me vingar, queria que você sentisse como eu sentia! Eu estava com ciúmes, e queria que você sentisse o mesmo... – Ela chorou inconsolavelmente então, e ele a encarou em silencio por alguns minutos, antes de sair do quarto e trancar a porta.

 


Nos dois dias seguintes ele entrou em silencio e rapidamente no quarto, sem dar chance á ela de falar.

Três dias depois, de madrugada, Helena acordou e viu Paulo deitado ao seu lado na cama, olhando fixamente.

 

- Eu devia prender você aqui para sempre. – Ele disse curtamente, os olhos duros.

- Eu sei. – Helena falou mansamente, submissa. – Mas eu estou tão arrependida, Paulo!

 

- Huum... – Ele murmurou. Deitando sobre Helena, levantou sua camisola, e a penetrou. Ela ficou tensa, e ele foi mais fundo, observando o rosto dela, e Helena fechou os olhos, enquanto ele se movimentava mais rapidamente dentro dela.

Depois que Paulo dormiu, Helena se manteve pensativa e alerta. Não conseguia dormir novamente, e não iria tentar fugir agora. Sabia que ele a estava testando. Paulo tinha um sono extraordinariamente leve.

 


Na manhã do décimo segundo dia Paulo a surpreendeu, dizendo-lhe que devia se arrumar para que jantassem juntos naquela noite. Os seguintes haviam seguido uma rotina: ele passava o dia silenciosamente, e durante a noite vinha para sua cama, eles transavam, e ele adormecia.

Quando chegou a noite, ela estava impecavelmente bonita e extremamente nervosa.

 

Sorriu para Paulo quando ele entrou no quarto, empurrando um carrinho com o jantar.

- Isso me lembra nossos primeiros encontros... – Ela comentou, enquanto arrumava as bandejas na mesa próxima á janela.

 

Ele apenas a olhou demoradamente. Abriu a garrafa de vinho, e serviu as duas taças, entregando uma á ela.

– Paulo...

 

- Sim?

- Junior... Por favor... deixe-me vê-lo.

 

- Não. Ainda não.

- Por favor... Não o vejo há doze dias! – Ela insistiu, com lágrimas nos olhos. – Eu nem preciso sair, você o traz aqui. Por dez minutos. Cinco. O tempo que você determinar... Só me deixe vê-lo, por favor... – ela chorava intensamente.

 

- Pare de chorar e se recomponha. Vou trazer o menino em alguns instantes.

Instantes depois Junior entrou correndo no quarto, abraçando-a forte, enquanto tagarelava incansavelmente. Ela abraçou forte o filho por cinco minutos, e então Paulo anunciou que ele deveria ir dormir. Gritou por Eleonora, que veio busca-lo e manteve a cabeça baixa, enquanto o levava para fora do quarto.

 

Paulo trancou novamente o quarto e eles sentaram-se para jantar.

Eles jantaram em silencio, e ela notou que Paulo fechava e abria os olhos lentamente.

 

- Paulo? Você está bem?

- Sim, muito bem. Coma sua comida! – Ordenou, mas a voz vacilou.

 

Helena pousou os talheres no prato e o observou atentamente, enquanto ele piscava preguiçosamente mais algumas vezes.

- Você não parece bem, querido!

 

- Eu já disse que... Eu lhe disse, Helena... – Ele estava confuso e não conseguia juntas as palavras de forma coerente. Olhou para ela, e em algum lugar de sua mente entendeu. – O que... O que você me deu? – Levantou-se rapidamente, mas as pernas sustentaram seu corpo, e ele caiu de joelhos no chão, segurando-se na mesa. – Sua Vadia! O que você fez?

- Nada, querido. Só percebi que você tem tido noites difíceis, e então lhe dei um remedinho para que você possa relaxar...

 

- Remédio? Que... – Ele tentou se levantar, mas só conseguiu cair novamente. Olhou para ela, de olhos arregalados. – Que remédio você me deu?

- Ah! – Helena fez um gesto de descaso com a mão. – Isso é só Rohypnol. Claro, lhe dei uma quantidade em que terei tempo para fazer o que preciso, mas não se preocupe. Você estará acordado logo, logo.

 

- Você vai se arrepender disso, Helena. – O sono o estava levando, mas ele ainda queria fazer sua ultima ameaça.

- Eu tive quinze anos de arrependimento, Paulo.

 

Ele fechou os olhos, e relaxou o corpo no chão.

Rapidamente, Helena foi ate o closet e puxou uma pequena mala e rapidamente encheu de algumas roupas. Pegou a sacola de veludo com as pedras, e o outro pacote. Abrindo-o, pegou os pequenos montes de dinheiro e o celular, colocando-os na bolsa.

 

Trocou o vestido por jeans, blusa e botas. Puxando a mala foi para o quarto, onde Paulo dormia no chão.

Olhando para ele, não podia acreditar que haviam chegado á esse ponto.

 

Estivera com tanto medo de que algo saísse errado, que ele a pegasse colocando o remédio na bebida... Qualquer coisa poderia ter dado errado, e  Helena agradecia aos céus por que, afinal, estava conseguindo fugir.

Olhando para ele, sentiu-se entristecer. Ela o amara e queria ter sido feliz ao lado dele.

 

Meia hora depois, com as malas no bagageiro, Junior no banco de trás, Helena saiu rapidamente da propriedade. Não importava que o carro tivesse rastreador.

Quando Paulo acordasse, ela estaria longe.

Final

Helena dirigiu até um ponto de táxi próximo a escola de Junior. Estacionou a alguns quilômetros e pegou Junior que voltara a dormir no colo. Fechou o carro, pegou a bagagem na mala do carro e caminhou até o único táxi àquela hora.

 

- Aeroporto internacional, por favor. – ela disse assim que se ajeitou no táxi e colocou Junior deitado em sua perna.

                Helena se contorceu um pouco para tirar o celular do bolso.

 

- Marcelo? – ela disse ainda uma pilha de nervos – Consegui! Estou indo para o aeroporto. Você conseguiu tudo que precisamos? Uhum... Certo... Te encontro lá. Beijos.

                Ela seguiu viagem em silêncio. Levou apenas trinta minutos pra chegar ao aeroporto. Dez minutos depois Marcelo chegou com Bia, que também dormia em seu colo. Eles se entreolharam e foram até o guichê.

 

- Quatro passagens para Buenos Aires, no primeiro voo disponível, dois adultos e duas crianças. – Marcelo disse sorrindo e entregou dois passaportes falsos com nome de Renato Ribeiro e Juliana Ribeiro.

- Documentos das crianças, por favor! – a atendente pediu e Marcelo entregou duas certidões falsas onde tinha o nome de Larissa e Roger Ribeiro.

 

- Bagagem?

- Apenas duas malas. – Marcelo respondeu – Ficaremos poucos dias.

 

                Marcelo conseguiu disfarçar bem o nervoso, mas Helena estava uma pilha. Olhava para trás o tempo todo. Ela estava demonstrando tanta ansiedade que a atendente perguntou.

- Está tudo bem Sra. Juliana? – Mas Helena ignorou a atendente. – Sra. Juliana?

 

- Querida a atendente está falando com você. – Marcelo disse a cutucando.

- Oh desculpe! Pois não? – Helena respondeu.

 

- Está tudo bem? A senhora parece nervosa.

                Helena e Marcelo se entreolharam e depois Helena olhou rapidamente para Junior que ainda dormia.

 

- Está sim, só estou um pouco nervosa, pois nunca andei de avião.

- Ah isso é normal! – a atendente finalmente sorriu e logo depois entregou os bilhetes a eles. – Façam uma boa viagem.

 

                Eles foram para o salão de embarque. O voo deles só sairia em quarenta minutos. Cada tique taque do relógio era uma eternidade. Helena ficava cada vez mais nervosa. Controlador e perseguidor como Paulo era, se ele acordasse antes do que ela planejara, não demoraria muito para chegar ao aeroporto.

***

 

                Paulo levantou forçou os olhos a abrir, mas eles estavam pesados. Olhou ao redor e tudo estava embaçado. Ele piscou várias vezes até que as imagens ficassem nítidas. Uma terrível dor despontou na sua cabeça. Ele tentou se levantar, mas o quarto rodou. O remédio que Helena havia dado a ele com certeza ainda estava agindo em seu organismo.

                Ele apoiou na cama e forçou-se a levantar.

 

- Eleonora! – gritou ele, mas a empregada não apareceu. – Eleonora!

- Pois não senhor Paulo, o que... – ela parou abruptamente ao ver o estado em que o patrão se encontrava. – Meu Deus, o que aconteceu com o senhor?

 

- Onde está a vadia da Helena? – ele gritava mais ainda.

- Não sei senhor, achei que ela estava aqui com você. – Eleonora disse assustada – Eu estava no meu quarto, não vi ninguém...

 

- Droga! Aquela vadia. Ande logo, ligue para Vasco. Mande-o vir imediatamente aqui.

- Vasco? O seu amigo policial?

 

- E você conhece outro? – ele disse com ira nos olhos – Ande logo mulher estúpida. – Eleonora virou-se para ir pegar o telefone, mas antes que ela cruzasse a porta Paulo completou – E Eleonora... Se eu desconfiar que você tem alguma coisa a ver com isso, vou fazer você se arrepender pro resto da sua vida.

- Eu não fiz nada Sr Paulo...

 

- Depois veremos isso, agora ande logo, diga a Vasco que eu o quero aqui em dez minutos.

                A empregada saiu correndo e fez a ligação. Não demorou muito o tenente Vasco chegou à casa. Paulo estava arrumado, de terno e gravata e estava sentado em seu notebook rastreando o veículo de Helena.

 

                Depois de contar rapidamente toda historia para Vasco, o tenente fez algumas ligações e eles saíram. Paulo disse à empregada que se alguém ligasse, ela o informasse no mesmo instante. Ele ainda tinha esperanças que Helena recobrasse o juízo e voltasse pra casa.

                Paulo e Vasco chegaram ao local onde o carro de Helena estava estacionado e Paulo usou a chave reserva para abrir o carro. Procuraram por alguma pista de onde ela poderia ter ido, mas não encontraram nada.

 

                Começaram a rodear o quarteirão quando viram um ponto de táxi. Vasco foi até o despachante e perguntou sobre uma mulher com a descrição de Helena.

- Teve uma moça com um menino no colo sim. Eles pegaram o taxi cinquenta, é o João. Ele ainda não retornou.

 

                Paulo e Vasco se entreolharam.

- Então se comunique com ele imediatamente. Pergunte a ele onde ele está e se ele está com a passageira. – Vasco ordenou.

 

                O despachante fez exatamente o que lhe foi ordenado e entrou em contato com o motorista. Voltou poucos minutos depois com a informação que eles desejavam.

- Ele disse que deixou a moça no Aeroporto internacional, mas que já tem um tempinho. Ele ainda não voltou porque resolveu ir pra casa.

 

- Obrigado. – Vasco disse e correram em direção ao carro de Paulo e rumaram sentido ao aeroporto.

                Assim que entraram no carro, o tenente recebeu uma ligação.
- Vasco falando... Positivo... Sei... Negativo... Ok! Passe-me o número por mensagem.

 

***

                Marcelo e Helena aguardavam a chamada do voo, quando o celular dela começa a tocar. Ela olhou para tela assustada, apesar de ser um número que ela não conhecia.

 

- O que foi querida?

- Esse celular é o que eu tinha escondido. Ninguém tem esse número Marcelo, só você.

 

- Vai ver é engano!

- Eu não... – os olhos dela encheram de lágrimas – Eu não acho que seja engano.

 

- Atende! – Marcelo disse.

- Não! – Helena disse alterada tirou a tampa traseira do celular, arrancou a bateria e pediu para que Marcelo olhasse Junior enquanto ela ia ao banheiro.

 

                Helena caminhou rapidamente, olhando para os lados. Quando entrou no banheiro molhou o celular e depois o jogou na lixeira. Sua respiração estava ofegante e seu rosto vermelho. Ela lavou na esperança de se acalmar, mas não funcionou. “Era Paulo?” Ela não conheceu o número. Não tinha certeza se era ele, mas ela não iria arriscar!

                Quando ela voltou Marcelo estava em pé com Junior no colo, enquanto Bia estava dormindo no banco de espera. Ele informou que haviam chamado o voo deles e ela se aproximou e pegou Bia no colo.

 

***

                O tenente Vasco estacionou o carro de qualquer jeito na entrada do aeroporto e quando um guarda veio reclamar com ele, o tenente apenas levantou o distintivo.

 

                Eles correram até o guichê de informações. E Vasco já chegou mostrando que era policial.

- Procuramos uma mulher acompanhada com um menino...

 

- Helena Prado e Paulo Prado Junior. – Paulo interrompeu. A atendente procurou os nomes e informou que não! Ninguém com aquele nome haviam embarcado no aeroporto nas ultimas vinte e quatro horas.

- Fique calmo Paulo, provavelmente ela viajou com documentos falsos. – O tenente Vasco disse.  – Tem alguma foto deles aí?

 

                Paulo tirou uma foto da carteira. O tenente pegou e mostrou a atendente. Ela olhou e não reconheceu. Perguntou a menina do balcão ao lado.

- Viu essa mulher? – uma atendente perguntou a outra.

 

- Vi sim! – ela respondeu com convicção.

- Tem certeza que era ela? Não está confundindo? – O tenente perguntou – Muitas pessoas passam por aqui, os rostos se misturam.

 

- Tenho certeza sim. Eu reparei bem, pois ela estava muito nervosa. E eu tive que chamá-la duas vezes e ainda assim ela não me deu atenção... Joana, não. O nome era com J... Julia... Juliana, isso, Juliana. – A atendente disse estalando os dedos – Ela só me olhou quando o marido dela a chamou.

- Marido?! – Paulo gritou.

 

- Fique calmo! – Vasco disse a Paulo e depois se virou para a atendente - Eu quero os nomes, numero do voo, destino, tudo que você puder informar.

- Hum... – ela procurou alguns minutos e achou – Aqui. Sr Renato Ribeiro e Juliana Ribeiro. Com duas crianças... Buenos Aires.

 

- Ótimo qual portão de embarque?

- Desculpe, mas esse voo partiu há pouco mais de uma hora. Essa hora provavelmente eles já desembarcaram na Argentina. Era um voo direto!

 

                Paulo se afastou e chutou a lata de lixo xingando vários palavrões. O tenente agradeceu e foi até o amigo.

- Calma, podemos entrar em contato com a policia Argentina, pedir um mandato. Dizer que ela sequestrou o menino.

 

- E pra que? – Paulo agora não estava só irritado, mas estava triste também – Obrigá-la a voltar? Trancafiar Helena em um quarto para o resto da vida? – Paulo passou as mãos no cabelo exasperado – E fora que com documentos falsos, quem garante que mal pisaram no aeroporto e já não foram pra outro lugar? Eu não vou torrar meu dinheiro procurando aquela vadia. Ela fez a escolha dela. O problema é dela! Eu dei tudo a ela, tudo que uma mulher deseja, mas ela preferiu o garotão fodedor. Então que fique com ele. – Paulo disse se levantando e indo em direção a saída do aeroporto para pegar seu carro.

                Depois que Paulo e o tenente chegaram na casa dele, ele se despediu e agradeceu a Vasco pela ajuda.

 


               
                Dois meses depois, Paulo estava sentado em seu escritório quando sua nova secretária entrou com um envelope na mão.

- Com licença Sr Prado?

 

- O que é? – ele disse sem nem levantar os olhos para a secretária.

- Um mensageiro entregou este envelope. Está direcionado ao senhor.

 

- Mensageiro? – Paulo disse esticando a mão para pegar o envelope. Não era um envelope comum, era amarelo com relevo, estava com o nome dele escrito à mão e havia um perfume no envelope. O perfume dela. Era uma carta de Helena.


Paulo,

Pensei muito antes de escrever essa carta para você. Não sabia

se devia, se você gostaria de ler, mas a verdade é que meu coração me disse para escrevê-la.

Espero de verdade que você esteja bem e tenha superado o que

aconteceu. O que eu fiz foi necessário para minha felicidade, a

de Junior e para a sua também. Não pense que sou ingrata.

Fui feliz durante alguns anos com você, mas depois de um

tempo, eu não consegui mais ser. Nós não nos entendíamos.

Mal conversávamos e eu me sentia cada vez mais só e infeliz.

Muitas foram às vezes em que eu chorei em silêncio enquanto

você simplesmente me ignorava. Eu não vou dizer que queria

que nosso casamento tivesse dado certo, pois durante um tempo

ele deu, mas você não se preocupava com a minha felicidade,

nem com a felicidade de Junior. Você só se preocupava com

você. E o seu egoísmo não o fez ver que você estava me perdendo.

Eu tentei, juro que tentei continuar te amando, mas suas

atitudes só me afastaram, o meu amor foi acabando e nossos

últimos dias juntos foram a gota d’água para que ele minasse de vez.

Então por favor, não me odeie, porque apesar de tudo, eu não te odeio.


Eu só fui em busca da minha felicidade e rezo a Deus todos os

dias pra que você encontre a sua. E quem sabe um dia, o destino

possa nos unir novamente e sermos bons amigos.

Abraços, Helena

Ps. Junior sempre pergunta por você. Ele sente sua falta.

 


       Paulo releu a carta muitas vezes. Se pegou sorrindo quando leu a carta pela última vez e sentiu um alivio de saber que depois de tudo que ele havia feito, Helena não o odiava. Ele sabia que a culpa de tudo tinha sido dele, e levou mais de um mês para que tivesse essa certeza.

Epílogo

                Helena e Marcelo estavam em um restaurante aconchegante e familiar. Helena havia mudado o corte e a cor do cabelo. Junior agora com sete anos, não desgrudava do seu Playstation portátil e Bia implicava com ele, dizendo que era melhor do que ele no jogo.

 

                Eles haviam voltado para o Brasil dez meses depois de fugirem. Mudaram-se para Pelotas no Rio Grande do Sul. Uma cidade tranquila e há muitos quilômetros de onde eles antes moraram.

                A reserva que Helena havia feito durante os cinco anos estava dando para eles viverem relativamente bem. Marcelo trabalhava na sua aera. Moravam de aluguel numa casa confortável e as crianças estudavam, em uma escola particular e eram da mesma sala.

 

                Uma vez por semana eles saiam pra jantar juntos, cada vez em um restaurante diferente. Helena não tinha mais receio que Paulo ainda estivesse procurando por ela, mas eles preferiam ficar atentos.

                Eles já haviam feito o pedido e comiam. As crianças estavam eufóricas, pois Marcelo e Helena haviam prometido levá-los em uma pracinha depois da janta. Era a única hora que Junior largava seu jogo. Esse era um habito que não haviam perdido.

 

                Junior levantou a cabeça e franziu a testa, depois um sorriso largo começou a aparecer em seu rosto.

- Pai! – ele gritou e Helena e Marcelo viraram na mesma hora para trás.

 

                Antes que Helena pudesse raciocinar, Junior levantou-se e saiu correndo. Paulo tinha acabado de entrar no restaurante acompanhado de uma moça loira, aparentemente alguns anos mais jovem que Helena. O coração de Helena gelou e Marcelo segurou na sua mão.

Paulo pegou Junior no colo e se aproximou a principio sem demonstrar nenhuma emoção. Quando chegou perto de Helena ela se levantou exibindo sua barriguinha de seis meses de gestação. Paulo olhou para barriga dela, depois a encarou e sorriu. Um sorriso amigável.

 

- Helena! Como vai?

- Paulo! Eu vou bem. E você? – ela disse ainda nervosa. Estranhou que ele ainda tivesse segurando Junior.

 

- Te procurei muito.

- Eu imagino! – Helena disse e Paulo deu uma risada.

 

- Não da forma que você imagina. – ele sorriu e por uma fração de segundos Helena se lembrou do homem que ela conhecera há dezessete anos atrás – Eu quero legalizar nossa situação. – Helena ia falar, mas ele a interrompeu – Mas falamos disso depois. Está é Lorena, minha esposa.

                Todos se cumprimentaram. Lorena era loira, alta e linda. A típica mulher troféu que um homem como Paulo gostava.

 

- Sentem-se conosco. – Marcelo ofereceu, não por confiar ou gostar de Paulo, mas porque sabia o quanto Junior sentia falta do pai.

- Eu não quero atrapalhar – Paulo disse.

 

- Não atrapalha. - Helena respondeu.

                Paulo se sentou e Lorena sentou-se ao lado dele e sorriu para Bia quando ficou na cadeira que antes era de Junior. 
              
                Helena a principio achou aquela situação um tanto estranha e constrangedora. Mas para sua surpresa a noite correu maravilhosamente bem. Junior não desgrudou de Paulo um minuto sequer e o comportamento do pai com ele, definitivamente tinha mudado. Ele estava tratando Junior como nunca tratara durante os cinco anos que viveram juntos.

 

                No final da noite eles já haviam saído do restaurante quando Paulo pediu um minuto a sós com Helena. Ela se afastou com ele.

- Eu queria te agradecer e me desculpar.

 

- Me agradecer? – Helena arregalou os olhos.

- Sim, sua carta me fez enxergar o que já estava na minha cara há muito tempo e eu não enxergava.

 

- Paulo...

- Deixe-me terminar Helena. Eu ensaiei essa fala por dois anos. – ele sorriu - Eu não fui um bom marido pra você, nem um bom pai para Junior e pirei quando você disse que queria o divórcio. Da minha maneira torta eu te amei, - ele suspirou – assim como amo Junior. Depois que você partiu, percebi o quanto o moleque fez falta. E percebi também que eu poderia ter sido um marido melhor e meu comportamento nos nossos últimos dias juntos...

 

- Esquece isso! – Helena o interrompeu – Eu não vou dizer que entendo seu comportamento, mas como eu disse na carta, eu não te odeio. Não guardo rancor. São águas passadas. E fico feliz que você tenha encontrado alguém pra ser feliz.

- Feliz? – ele ficou sério – Não Helena. A única mulher que poderia me fazer feliz era você. – Helena abriu a boca, mas ele colocou o dedo nos lábios dela – Não precisa falar nada. Eu sei que perdi minha oportunidade e agora a única coisa que eu quero é que você seja feliz. E assim eu estarei feliz também.

 

                Helena não disse nada, não sabia o que dizer. Nunca, em quinze anos, tinha visto aquele lado de Paulo. Ela não sabia nem como reagir àquela situação.

- Bom, acho que agora está na hora de irmos – Paulo disse – Me ligue – ele disse entregando a ela um cartão de visitas – Mandarei meu advogado enviar os papeis do divórcio pra você assinar e... – ele fez uma pausa e a encarou – se você não se opuser, eu gostaria que Junior viesse passar um período das férias comigo.

 

                Helena se espantou.

- Claro. – foi tudo que ela conseguiu dizer. Paulo deu um beijo demorado no rosto dela e segurou em seu braço para que eles voltassem para perto de Marcelo e Lorena que brincavam com as crianças.

 

                Os quatro se despediram e Junior deu um abraço apertado no pai. Paulo disse algo no ouvido dele e o menino sorriu e balançou a cabeça concordando.

                Depois que se afastaram, Helena olhou para trás e Paulo estava olhando.

 

- Está tudo bem? – Marcelo perguntou.

- Na verdade, está tudo maravilhosamente bem. – Helena respondeu sorrindo e abraçou Marcelo.

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