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Capitulo 1

 

— Guardiã Achila – chamou o Senhor do Mundo dos Mortos, meu mestre, Hector. Ao seu chamado apenas obedeço, pois é assim que deve ser tanto pelo seu poder quanto pelo meu dever.

 

— Pois não meu mestre? – falei em reverencia.

 

— Achila, minha mais sábia guardiã, diga-me quanto tempo falta para completarem-se cem anos de servidão? – perguntou-me. Sempre soube muito bem como respondê-lo, o que me remeteu à posição de primeira guardiã, meu senhor tinha uma grande necessidade de sentir-se o mais sábio, felizes os súditos que percebiam tal característica, também era bastante temperamental, por muito menos almas já foram condenadas à inexistência.

 

— Como poderei saber meu senhor, pois somente tu conheces todos os tempos. – respondi. 

 

— Em tempos mortais me refiro, mas respondo-te, faltam-te exatos dezoito anos e meio para ganhares, se assim desejar, tua nova vida onde bem preferir. – disse ele. — Com isso Achila, hoje tu serás designada à sua ultima missão, e escolhi a mais competente dentre todas as guardiãs, pois protegerás e ensinaras quando chegar o tempo correto o herdeiro deste mundo onde vives.

 

— Sua ordem é minha ação. – respondi. 

      Durante os mil e oitocentos anos em que o meu senhor era casado com sua amada Agatha nunca se ouviu tal ordem. Era do conhecimento de todos os mundos a incapacidade materna da senhora, e sua frustração fazia com que ela retirasse a vida de qualquer filho bastardo que viesse a ser gerado no mundo mortal. Se dela não podia vir o herdeiro de outra não viria, e meu senhor jamais tentou impedi-la.

 

— Pressinto sua indagação guardiã, não, este herdeiro não é filho da minha Agatha. Sua função será protegê-lo de minha esposa e sua ira assim como a sua família até que complete dezoito anos mortais e seus poderes comessem a surgir  daí por diante sua missão será prepara-lo para em seis meses assumir o meu lugar.

 

— Está meu senhor cansado de governar este mundo? – perguntei. Ser a primeira serva, independente de que atribuição nos dava direito ao dialogo, outros servos apenas ouvem e obedecem, não lhes é dado o direito de questionamento.

 

— Não, mas é necessário, pressinto tempos difíceis em breve e o auxilio de um herdeiro seria indispensável. – respondeu ele.

 

— Compreendo meu senhor. – falei.

 

— Eu sei que sim. Agora vá, encaminhe-se para o mundo mortal de forma que apenas o garoto sinta tua presença, ele nascerá em algumas horas, há tempo suficiente para esconder ele e sua família da ira de Agatha. Neste mesmo dia nascerá sua mulher ela será trazida e criada aqui por mim e por Agatha. – encaminhava-me para o mais próximo portal quando meu senhor chamou-me novamente. — Compreendes que se falhares por qual quer que seja o motivo não haverá vida após o centésimo ano não é mesmo? – perguntou ele.

 

— Perfeitamente bem senhor, e mesmo que pela sua misericórdia houvesse vida, a dor por decepcioná-lo seria tão grande que seria lembrada na nova vida e isto com toda certeza a deixaria vazia. Prefiro a inexistência a esta opção. – respondi.

 

         Meu lar para muitos pode parecer o inferno, mas é o lugar que eu chamo de meu e não é bem assim que ele é definido por nós guardiãs. Sua terra é infértil e o frio e o calor trocam de lugar como se estivessem em uma eterna dança, no mundo dos mortos há três níveis. A maioria das almas vaga pelo vale sinuoso ao oeste. São almas que em vida não foram pessoas nem muito boas e nem muito más, o que para os humanos seria o Purgatório. Ao norte está o abismo onde se encontram as piores almas e alguns e seres mais odiados pelos deuses, isto seria o inferno. Ao leste encontra-se o jardim onde aqueles que fazem por merecer ou caem nas graças de algum deus vivem e já este é conhecido para os humanos como paraíso. E finalmente a Oeste ficam os portais, usados por nós para ir e vir.

 

Nós guardiãs somos responsáveis por levar as almas para o mundo dos mortos, utilizando os portais para tal serviço, daí por diante era por conta dos guiadores que sabiam só de olhar para onde levar a alma que acabava de chegar. Tínhamos livre acesso a todas as portas quando se tratava de ir do mundo humano para o Mundo dos Mortos, bastava inserir a chave que sempre carregávamos em qualquer porta e ela nos levaria até onde queríamos, mas se estivéssemos no Mundo dos Mortos precisaríamos ir à Oeste em direção ao portal que guardávamos, entretanto tal coisa era um acontecimento raro e quando acontecia significava que a guardiã estava prestes a completar cem anos de servidão e uma sucessora já estaria em treinamento.

 

Quando meu senhor me liberou, segui em direção ao meu portal, e depois a primeira porta e logo estava dentro de um quarto de hospital onde uma mortal sofria pela dor de um nascimento.

 

         Identifiquei toda a família que deveria proteger ao tocar na mãe que ali se encontrava tornando-os invisíveis para qualquer ser não humano com exceção a mim e a Hector.

 

         Alguns minutos depois a criança nasceu, era um menino e seu nome seria Leonardo.

 

       O destino do garoto já estava traçado antes mesmo de nascer, assim que completasse dezoito anos dentro de si surgiria um poder que sobrepujaria o meu tão logo estivesse completamente desperto e assim ele estaria completamente descoberto e praticamente por si, eis minha função, prepará-lo. Não será uma trajetória fácil, porém necessária.

 

 

 

Nos anos que se seguiram acompanhei Leonardo de perto quase que em todos os dias do ano humano, salvo por algumas poucas vezes que Hector solicitava minha presença.

 

Leonardo fora capaz de me ver desde o inicio fui responsável por sua calma e tranquilidade, quando começou a falar foi eu que vi suas primeiras palavras, era noite e uma enorme tempestade caia sobre a cidade e com isso Leonardo não conseguia adormecer, minha vontade era de pegá-lo no colo e ajudá-lo, mas não era permitido tocar nele. E enquanto eu tentava acalma-lo ele chamou pela mãe. Não sei se todos os bebes humanos são assim, pois até o momento não tive contato com nenhum, ou se era por que o menino era filho de Hector, mas ele já falava a muito tempo comigo mentalmente e foi surpresa para ambos quando seus pensamentos se tornaram palavras. Dei um jeito de fazer com que a mãe acordasse e fosse até o filho e pela primeira vez senti comoção ao ver a vida humana de perto, a alegria dos pais de Leonardo ao vê-lo falar era grande. O que não era normal, pois uma guardiã não possui sentimentos, mas como em todo o tempo nunca nenhuma outra teve tanto contato com os humanos tal fato estava trazendo de volta sentimentos que eu tivera em vida há muito tempo.

 

Com o crescimento de Leonardo me tornei, como os humanos chamam, sua melhor amiga, e então ele começou a falar de mim para os pais que acharam que Achila devia ser uma amiga imaginaria da criança segundo eles era normal sendo assim não me preocupei, mas quando seus pais começaram a achar que ele tinha algum problema por já estar crescido e evitar contato com as outras crianças para ficar comigo decidi não aparecer mais. Consultei Hector sobre isso e ele concordou e no seu terceiro aniversário Leonardo não poderia mais me ver. Foi angustiante vê-lo chamar por mim durante varias noites, mas em pouco tempo superou e passou a ter uma vida normal para uma criança.

 

Acompanhei-o em todas as suas fases, seu primeiro dia de aula, seu primeiro amor, sua primeira namorada, os medos e as incertezas da adolescência. Quando ele estava a sós com alguém eu aproveitava para ir ao encontro de Hector que à medida que os anos passavam queria saber mais e mais sobre o filho. Nessas ocasiões Agatha estava no jardim e não podia ouvir-nos, mas apesar de todo o cuidado que tínhamos já haviam rumores no mundo dos mortos que uma guardiã protegia um herdeiro.

 

Com o passar dos anos Leonardo tornou-se um rapaz insolente e dado a confusões, não era muito levado a sério e suas namoradas eram trocadas como roupas, como os seus amigos diziam, era revoltante ver o comportamento dele pois agora além de ajuda-lo a controlar seus poderes eu teria que fazê-lo aprender a se comportar corretamente como um príncipe.

 

Os anos logo passaram e o dia em que minha missão de fato iria iniciar-se chegava. Eu já havia aparecido para a mãe de Leonardo e lhe explicado tudo o que aconteceria a seguir. A senhora tivera sua memória apagada e durante toda a vida acreditou que seu filho fosse mesmo de seu marido, mas nessa noite quando a verdade lhe foi revelada pude ver quão prejudicial fora essa decisão.

 

A chegada do décimo oitavo aniversário de Leonardo me fez perceber o quanto me afeiçoei a ele durante esses anos É inevitável não me lembrar de toda a sua trajetória  até ali, mas de agora em diante tudo teria que mudar. Leonardo precisa amadurecer, e toda esta mudança começará esta noite.

 

 

 

 

 

***

 

 

 

 

— Leo meu bem venha para casa cedo, eu gostaria de passar um tempo com você também. – falou Eleonor ao telefone para o filho.

 

— Tudo bem mãe, eu vou chegar cedo, só vou dar uma volta com o pessoal, eles querem comemorar meu aniversario também. – disse Leonardo. — Mas vou tentar chegar o mais cedo possível.

 

         Leonardo falara aquilo apenas para tranquilizar a mãe, era seu aniversario de dezoito anos queria mais era comemorar com sua turma, não tinha a intenção de chegar em casa tão cedo. O plano era ir aos melhores bares da cidade. Leonardo sempre fora o mais novo da sua turma, pois nunca se identificou com os amigos da sua idade. Estava a caminho da casa de Jessy, a garota com quem ficaria naquela noite, saia do carro quando viu uma moça com uma roupa estranha vindo em sua direção.

 

— Leonardo! – disse ela. — Se você tiver que se despedir de alguém você tem uma hora para fazer isso.

 

— Oi gata, onde é a festa a fantasia? – perguntou Leonardo rindo da moça a sua frente. — E porque eu tenho que me despedir? Você vai me raptar por um acaso?

 

— Quase isso. – disse Achila antes de desaparecer diante dos seus olhos.

 

         Leonardo ficou ali parado sem entender nada dando em voltas em torno de si mesmo tentando encontrar a moça. Julgou que devia estar alucinando, deu de ombros e seguiu em direção a casa de Jessy, mas não conseguia esquecer-se da moça que lhe aparecera, tinha a sensação de conhecê-la de algum lugar e por alguma razão algo lhe dizia que ela não estava brincando.

 

— Leo você está atrasado! O pessoal já está lá no bar esperando por você. Leo? Ei você está me ouvindo? – perguntou Jessy vendo que Leonardo não estava lhe dando atenção.

 

— Oi gata, desculpa estou sim. – respondeu ele voltando a atenção para a loira a sua frente.

 

— Não parecia, você parece que está em outro mundo hoje. – reclamou ela. — Mas vamos logo que já estamos muito atrasados. 

 

         Seguiram para a festa, mas enquanto todos bebiam e se divertiam sem entender por que Leonardo sentia-se impelido a ir para casa, meia hora depois não aguentando mais despediu-se dos amigos.

 

— Você está bem Leo? Fizemos esta festa para você e você sai assim sem mais nem menos? – perguntou um dos seus amigos que haviam organizado tudo.

 

— Sinto muito parceiro, mas eu realmente preciso ir para casa. – disse ele saindo.

 

         Sem entender por que não parava de pensar nas palavras da moça:“Se você tiver que se despedir de alguém você tem uma hora para fazer isso” e por incrível que pareça tudo dentro de si dizia que ele deveria ir mesmo para casa despedir-se.

 

Não entendia como nem porque mas sempre tivera uma intuição muito aguçada e quando sentia essas coisas procurava não ignorar. Consultou seu relógio e um pensamento lhe veio “faltam vinte minutos” correu para o carro e acelerou o máximo que pôde em direção a sua casa.

 

         Chegou doze minutos depois, seu coração estava acelerado quase como se ele soubesse que nunca mais veria sua mãe novamente, era um sentimento esmagador, era o mesmo que sentira quando seu pai morrera a cinco anos atrás. Parou o carro de qualquer jeito e correu para dentro de casa, encontrou sua mãe na sala assistindo um filme, ela imediatamente se levantou, não esperava o filho ali tão cedo. Leonardo correu ao encontro da mãe e a abraçou.

 

— Meu amor aconteceu alguma coisa? – perguntou Eleonor.

 

— Não mãe, a senhora não pediu para que eu viesse cedo para casa hoje? Então resolvi vir para ficar com a senhora.

 

— Que bom meu amor. Venha vamos preparar pipoca para assistirmos um filme, o que eu estava assistindo já acabou, fique aí escolhendo um. – disse ela indo em direção a cozinha. Leonardo a puxou para um abraço fazendo Eleonor começar a chorar.

 

— Mãe o que está acontecendo? Por que estou com a mesma sensação que tive no dia em que o pai morreu? Eu não gosto disso mãe. – disse Leonardo secando as lágrimas da mãe.

 

— Ah meu amor. – disse ela sentando-se novamente junto com Leonardo. — Sua vida irá mudar tanto de agora em diante.

 

— Como assim mãe? Eu não estou entendendo. A senhora fala de responsabilidades e essas coisas? – perguntou ele.

 

— Não meu bem, falo do seu destino, falo daquilo pelo qual você nasceu. Lembra que a mamãe sempre disse que você era um príncipe? O meu príncipe. – disse Eleonor acariciando o rosto do filho. — pois então, de fato é isto que você é meu amor.

 

— Como assim? Que conversa é essa mãe, eu não estou entendendo nada! – questionou Leonardo com uma angustia crescente dentro do peito.

 

         Achila apenas observava, ainda sem se revelar, passara tempo demais próximo aos humanos e aprendera a identificar suas emoções e no momento ela compreendera que eles precisavam de privacidade, esperaria os dois terminarem sua despedida. Alguns minutos não faria diferença no final das contas.

 

— Meu bem, não sei se você se lembra, mas a mamãe sempre te contou historias, com o tempo você parou de acreditar nelas, mas na verdade é que por trás do seu nascimento existe uma historia daquelas.

 

— Que historia mãe? O que a senhora quer dizer com isso? E de que historias a senhora está falando? Daquelas fantásticas com seres mágicos, magia e essas coisas? – perguntou ele incrédulo.

 

— Exatamente meu filho. Você é filho de um ser místico, descobri anos depois do seu nascimento seu pai...

 

— O que tem o papai? Que loucura é essa mãe? A senhora tomou algum remédio que não lhe fez bem? – interrompeu Leonardo exaltado.

 

— O seu verdadeiro pai Leonardo! – disse Eleonor em um tom de voz mais alto que o normal que fez com que Leonardo se calasse e parasse de gritar.

 

— Como assim o meu verdadeiro pai? O que a senhora quer dizer com isso? – perguntou ele assustado. — Não me diga que... Ah mãe! Eu não acredito numa coisa dessas! A senhora traiu o papai? Como pode fazer isso?

 

— Primeiramente, me respeite garoto. Eu nunca trairia seu pai. Agora sente-se calado e escute o que tenho para falar. – disse ela inquisitiva.

 

         Leonardo sentou-se, nunca tinha visto a mãe daquele jeito e isso o impressionara. Ficou calado esperando que ela começasse.

 

— Antes de conhecer seu pai eu me envolvi com outro homem. – começou ela.

 

— Ah mãe pelo amor de Deus eu não quero sab...

 

— Cale a boca Leonardo! Apenas fique quieto e escute. – interrompeu ela. Leonardo apenas abaixou a cabeça em sinal de concordância. — Como eu dizia, me envolvi com outro homem, e foi algo rápido e só o vi uma única vez. Mas foi como se ele tivesse me enfeitiçado. O que de fato aconteceu.

 

— E quem era esse homem? A senhora nunca tentou entrar em contato com ele? Como a senhora escondeu isso de mim esse tempo todo mãe? Se a senhora pensava que eu poderia não ama-la mais ou ao papai por causa disse saiba que isso jamais aconteceria. Eu posso ser o pior filho do mundo mãe, como eu sei que sou, mas abandoná-los? Eu jamais faria isso? – desabafou Leonardo.

 

— Não diga isso meu bem, você não é o pior filho do mundo. E como é bom ouvir isso, mas não foi por isso que nunca te contei essas coisas, eu não lembrava disso até pouco tempo atrás. – revelou Eleonor.

 

         Nesse momento Leonardo não pode ver pois estava de costas, mas Achila se fez visível, Eleonor não assustou-se, há alguns meses quando ela lhe aparecera e lhe fizera recobrar a memória de como tudo havia acontecido, pois até então acreditava que Leonardo era mesmo filho de John, seu marido, assim como ele morrera acreditando nisto.

 

Já havia aceitado o destino do filho, sabia que Achila sempre o acompanhava, sabia que ela era sua guardiã assim como também sabia que a hora de seu filho partir havia chegado. Doía-lhe deixá-lo, mas como Achila havia dito, seria muito perigoso para ele permanecer ali e pelo menos com ela seu filho iria aprender a se defender de quem quer que tentasse fazer-lhe algum mal.

 

— Como assim não lembrava? Mãe não estou entendendo nada? Por que está me contando isso agora? – perguntou Leonardo cada vez mais aflito.

 

— Por que chegou a hora de você ir meu bem e provavelmente encontrará seu verdadeiro pai. – respondeu Eleonor.

 

— Como assim mãe? Ir para onde? A senhora está me deixando preocupado!

 

         Nesse instante Achila tocou em seu ombro, ambos sentiram como se uma corrente elétrica atravessasse seus corpos. A reação de Leonardo foi se afastar imediatamente e a de Achila foi de retirar a mão de seu ombro. Era a primeira vez que ela o tocava e essa sensação era estranha e nova para Achila.

 

— Você!? Quem é você e o que você está fazendo aqui? – perguntou Leonardo assustado por ver aquela moça novamente e ainda mais em sua casa.

 

— Filho, esta... – Eleonor procurou a melhor forma de se referir a Achila. — esta jovem. - pois era assim que Achila aparentava ser. — ela te levara e te ensinará tudo o que você precisa aprender. – disse ela já sabendo o que aconteceria dali em diante.

 

— Eu não quero ir a lugar nenhum mãe! A senhora conhece ela!? – perguntou Leonardo espantado.

 

— Sim, já apareci para ela há algum tempo e expliquei tudo o que você viveria após completarem-se dezoito anos de vida humana. Eu tenho que te levar agora Leonardo, por favor, venha comigo de boa vontade e não tente pois você não tem para onde fugir. – disse Achila seriamente prevendo os passos de Leonardo.

 

— Mãe, a senhora poderia me explicar o que essa louca está falando? – questionou Leonardo afastando-se de Achila e puxando a mãe junto com ele.

 

— Filho, ouça a sua mãe, não é o que parece, ela não é louca. Vai ser difícil de compreender, mas ela te explicará tudo depois. – disse Eleonor tentando fazer o filho compreender.

 

— A senhora está louca também?! Eu não vou a lugar nenhum. – disse ele afastando-se.

 

         Achila não tinha muita paciência para coisas assim então deu um passo à frente e estendeu a mão para Leonardo que a ignorou totalmente. Ele virou-se e subia para o seu quarto quando um vento muito forte o cercou, fechou os olhos e quando abriu estava em um lugar completamente diferente.

Submissão ao Herdeiro

Capitulo 2

 

 

Leonardo olhava ao redor ainda sem entender o que acontecera. Estava indo para seu quarto, como poderia agora estar aqui, nesse campo vasto cercado por densas árvores e imensas montanhas, fora que era noite, como poderia já estar claro?

 

Há alguns metros estava Achila, ela olhava-o com uma expressão séria, nem seu olhar nem seu semblante demonstravam nenhum tipo de sentimento.

 

— Onde eu estou? O que você fez? – Leonardo perguntou.

 

                Achila não se pronunciou, ao invés disso, ela caminhou lentamente na direção dele fazendo-o recuar alguns passos, mas parando ao ouvir sua intuição que de nada adiantaria fugir. Assim que ela parou a alguns centímetros dele, se encararam e então ele ouviu sua voz.

 

— Estou com você desde o dia do seu nascimento Leonardo. – enquanto Achila falava sua boca não se mexia. Ela estava comunicando-se com ele através do pensamento – Sei dos seus receios, dos seus medos, conheço seus pontos fortes e fracos, mas a partir de agora, nada disso terá importância. A partir dessa noite, você aprenderá a ser um príncipe e também a controlar e usar seus poderes.

 

— Noite?! – ele olhou novamente ao redor – Mas está claro! E que poderes? Eu não tenho poderes! Do que você está falando? – Leonardo falava uma frase atrás da outra, totalmente sem sentido.

 

— Sim noite – Achila ainda não mexia seus lábios – Eu posso fazer você ver o que eu quiser, então achei melhor que estivesse claro como o dia aqui.

 

— Nós estamos no inferno?

 

— Não! – Leonardo pode perceber os lábios de Achila se contraírem, oprimindo o que ele achou que seria um sorriso – Não chamamos de inferno e sim Mundo dos Mortos e... – Achila continuou quando a duvida de Leonardo permaneceu – não estamos nele. Ainda estamos no seu mundo.

 

                Leonardo olhou incrédulo. E que poderes eram esse a que ela se referia? Tirando sua fortíssima intuição, nunca acontecera nada excepcional em sua vida que demonstrasse que ele fosse diferente ou filho de um Senhor das Trevas...

 

— Não das trevas, Senhor do Mundo dos Mortos. – Achila o interrompeu deixando claro que nem os pensamentos de Leonardo eram imunes a ela.

 

— Pare com isso! Eu não quero você na minha mente, não quero você dentro da minha cabeça.

 

— Então nós temos que começar nosso treinamento o quanto antes, pois isso é uma das coisas que vou lhe ensinar. Você poderá bloquear e os demais seres do Mundo dos Mortos e ninguém terá acesso a seus pensamentos.

 

— E que poderes são esses? – ele fez uma cara debochada – Eu não tenho poder nenhum! Acho que você me confundiu com outro garoto.

 

— Não se preocupem, assim que o relógio do seu mundo soar meia noite, você terá dezoito anos completos e poderá sentir todo seu poder. – ele a encarou – Até lá preciso que você sabia de uma coisa: Nosso mundo nunca teve um herdeiro. O Mestre, seu pai, Hector já tivera outros filhos humanos, entretanto Agatha, sua amada esposa infértil, tratou de matá-los. Você foi o primeiro que recebeu proteção desde o minuto que nasceu. Seu nome, hoje, é conhecido em todo Mundo dos Mortos e muitos ansiarão sua morte. Você deverá se impor Leonardo, deverá se comportar como um rei, apenas prestando obediência ao mestre.

 

— Eu não prestarei obediência a ninguém.

 

— É sobre esse tipo de comportamento que estou falando. Você não terá tempo para ser o moleque mimado que você sempre foi. Se você o fizer, toda precaução do Mestre para mantê-lo vivo terá sido em vão. – claro que Achila ocultou o fato que sua existencia também dependia do sucesso de Leonardo.

 

— E se eu não quiser ser o príncipe dos mortos? – Leonardo disse exasperado – Eu não pedi isso. Ninguém me deu escolha!

 

— É porque você não tem uma. – Achila o respondeu,

 

                Antes que Leonardo pudesse rebater ele sentiu uma sensação estranha no peito, na altura do coração. Era como se ele estivesse se aquecendo e bombeando sangue quente por todo seu corpo.

 

— Começou! – ela anunciou.

 

                Enquanto o calor ia se espalhando ele pode perceber seus sentidos se aguçando, audição, olfato, visão. Tudo ficou mais nítido, mais perceptivel. Ele conseguia ouvir barulho de um riacho, ainda que seus olhos não pudessem ver. Achila assumiu diante da sua nova visão, uma aura fantasmagórica, que estranhamente a deixou ainda mais bela.

 

                Quando todo seu corpo já havia passado pelo processo de aquecimento ele encarou Achila novamente e pode ver nela uma satisfação genuína.

 

— Venha, – ela disse para Leonardo – vamos começar.

 

                Eles caminharam até o centro do campo onde estavam e pararam um de frente para o outro. Achila assumiu uma postura de liderança e o encarou.

 

— Nós não temos como saber que tipo de poderes você tem, apesar de que eu tenha certa desconfiança, então conforme formos treinando iremos descobrindo quais são. – ela ficou a poucos centímetros dele, tão próximo que ela pôde sentir seu perfume praticamente penetrar em seu corpo pálido e sucumbido – A primeira coisa que eu preciso que você faça é bloquear minha voz. Você precisa me imaginar fora da sua mente, afastando minha voz, criando barreiras, muros, bloqueando seus pensamentos...

 

— Você sabe que eu não faço a menor ideia de como fazer isso, não é?

 

— Apenas concentre-se em me afastar – ela o ignorou – Você precisa fazer isso, você tem que fazer isso.

 

                Leonardo até tentou mais não conseguiu, ele apenas pensava em como Achila era bela e como ele queria estar comemorando seu aniversario com os amigos.

 

— Concentre-se! – ela esbravejou e sua voz ecoou ao redor deles.

 

                Muitos minutos depois, Leonardo se sentia cansado apenas de tentar e por poucos segundos ele conseguiu afastar Achila de sua mente, mas logo ela retornou com força total, deixando-o confuso.

 

— Você não entende, que se você não conseguir me bloquear, não aprender, outros virão e poderão te influenciar? – ela o olhava atentamente. – Você não faz ideia do tipo de tortura, da intensidade dor que eles podem lhe infligir.

 

— Não, eu não faço! – Leonardo disse alterado – Até algumas horas – ele olhou ao redor -  ou minutos atrás, pois nem isso eu sei mais, eu era só um garoto normal, que gostava de sair com os amigos, namorar muitas garotas e agora eu tenho que ser uma droga de um príncipe dos defuntos.

 

— Eu não devia ter deixado você todos esses anos com sua família humana. – Achila começou a rodeá-lo – Olhe quem você se tornou. – ela o encarou e depois voltou a andar novamente – Você é o príncipe, filho de um grande Mestre. Seu pai é um homem forte, sábio. Ele é um Mestre respeitado e temido. E você não é nem uma sombra dele. – ela parou novamente em frente a ele e o encarou com uma expressão impaciente – O meu dever é torna-lo digno de ocupar o lugar do Mestre, então pare de ser esse humano fraco e concentre-se.

 

                Leonardo se sentia exasperado, cansado e agora se sentia humilhado. Ele não pedira para ser herdeiro de mundo nenhum, nunca achou que essas historias que se lia nos livros, tivessem a menor possibilidade de existir.

 

                Os pensamentos dele foram interrompidos quando Achila fez alguns gestos com as mãos e ao aponta-las para o solo, duas espadas apareceram. Elas eram prateadas, reluzentes e os cabos eram dourados cravejado de pedras vermelhas.

 

— Vamos tentar algo mais fácil...

 

— Mais fácil?! – Leonardo olhou incrédulo – Eu nunca segurei nem um canivete! Você vai me matar...

 

— Não seja tolo! Segure-a. – ela colocou a espada nas mãos dele, mas ele não conseguiu ergue-la – Agora se conecte a espada e ela sentirá você, o seu poder. Está tudo na sua mente Leonardo. Ordene, diga à espada que ela deve te obedecer e acredite que ela vai.

 

                Leonardo tentou e falhou. Continuou sem conseguir levantar a espada do chão. Achila então adotou posição de luta elevando sua espada à frente do corpo e a outra mão acima da cabeça, seus pés afastados e o corpo ligeiramente inclinado.

 

— O que você está fazendo? – Leonardo perguntou assustado.

 

— Talvez você precise de um estímulo. – Achila rodou e passou a espada a centímetros do rosto de Leonardo, fazendo-o instintivamente jogar seu corpo para trás e cair sentado.

 

— Você está ficando maluca?!

 

— Levante-se... Concentre-se. Ordene que a espada te obedeça, conecte-se a ela.  – Achila rodopiou novamente e dessa vez a espada atingiu a coxa esquerda de Leonardo, o sangue escorreu e a dor lancinante o fez dar um grito que pode ser ouvido ao longe.

 

— Sua maluca! Olhe o que você fez.

 

— Pare de chorar feito um bebê. – Achila se armou novamente – Levante-se e lute.

 

                Num impulso intempestivo e enraivecido Leonardo se levantou e olhou irado para espada ordenando mentalmente que ela o obedecesse. Imediatamente a espada se tornou leve como uma pluma e ele a levantou quase acima da cabeça, pois ainda estava fazendo força na tentativa de sustentar o peso antes existente.

 

                Ele olhou incrédulo para lâmina em sua mão e deu um largo sorriso de satisfação consigo mesmo.

 

— Agora se concentre novamente, use sua intuição para antecipar meus movimentos. – Achila disse se armando novamente para ataca-lo.

 

                Leonardo a olhou indignado. Nem um “muito bem” por ele ter conseguido se conectar à espada – pensou ele.

 

— Estou aqui para lhe ensinar, não para te mimar. Se você conseguiu, não fez mais que sua obrigação, agora se concentre. Antecipe meus movimentos. 

 

— Não gosto de você lendo meus pensamentos!

 

— Então aprenda a bloquear a mente. – Achila o atacou novamente, mas Leonardo previu seus movimentos e se defendeu fazendo as lâminas das espadas titilarem.

 

                Continuaram lutando com as espadas por mais algumas horas consecutiva Leonardo estava exausto, suas mãos haviam criado bolhas de tanto segurar a espada. Seus pés queimavam dentro do tênis e ele havia ganhado alguns cortes superficiais no corpo, mas sentia-se vitorioso, pois conseguiu, uma única vez, acertar Achila.

 

— Ande, levante-se, o treino não terminou.

 

— Me dê dez minutos.

 

— Os inimigos não lhe darão dez minutos. Eles usarão seu cansaço, sua fraqueza para mata-lo, ou pior, para chantagear o Mestre.

 

— Pior?!

 

— Levante-se Leonardo! – Achila ordenou incitando a espada contra ele, deixando-a a centímetros do seu corpo.

 

— Ao contrario de você eu estou vivo! – Leonardo gritou – Preciso de descanso.

 

— Não há tempo para descanso.

 

                Leonardo estava cansado e exasperado. Ele não podia continuar, não conseguiria, suas forças estavam esgotadas. Todo seu corpo estava dolorido.

 

— Então mate-me Achila, – ele gritou – vá enfrente, enfie a espada!

 

                Mas ela não o fez. Não estava ali para isso, jamais mataria o herdeiro de seu Mestre. Lentamente ela recuou e com um gesto com as mãos fez as espadas desaparecerem.

 

— Foi o que pensei. – Leonardo sorria debochado – Você não pode me matar, não pode me obrigar. – Leonardo se levantou cambaleando e foi até algumas árvores ali próximo, se recostou em uma delas e fechou os olhos. Achila o olhava a distancia. – Eu vou dormir, me acorde em umas seis horas e se eu estiver disposto, a gente continua com essa palhaçada.

 

                Achila ficou observando-o dormir alguns minutos, se sentia totalmente irritada. Leonardo era petulante e não demonstrava nenhum sinal que fosse mudar. Enquanto as horas passavam ela andava de um lado para o outro, impaciente.

 

                Três horas depois ela foi até ele e o chutou nos pés, para que ele acordasse e quando ele abriu os olhos, fitou-a com um sorriso debochado e disse:

 

— Ainda não passaram seis horas. Seja boazinha e vá pegar algo para eu comer e beber, quando acordar estarei faminto e preciso me alimentar.

 

                Virou-se para o lado e dormiu novamente. Achila sentiu uma fúria que há muito ela não sentia. Ficar muito tempo perto dos humanos trouxe à tona sensações que ela há muito desconhecia.

 

                Achila caminhou até outra árvore que estava ali próximo. Essa árvore não era como as outras, ela se destacava por seu tamanho, cor e altura. Era uma sequoia, e ela era tão grande que seriam precisos dez homens de mãos dadas para dar a volta na árvore. Para um humano era apenas mais uma dentre tantas, mas para Achila era um portal para o Mundo dos Mortos. Muitos como esse estavam espalhados em todas as partes do mundo humano.

 

                Quando Achila chegou até a fortaleza onde Hector ficava a movimentação era grande. Muitos guerreiros iam e vinham e Agatha estava aos berros, agora que o treinamento de Leonardo começara, ela iria novamente, tentar eliminá-lo e estava enviando os guerreiros atrás dele. Achila não se preocupou de imediato, contanto que Leonardo continuasse onde estava, não tinham como acha-lo.

 

                Achila adentrou na câmara onde o trono de Hector ficava e automaticamente ele se levantou.

 

— O que faz aqui guardiã? – ele perguntou rispidamente e Achila pode sentir toda sua fúria – Você deveria estar treinando meu herdeiro.

 

— Perdoe-me Mestre – Achila disse fazendo uma reverencia e se abaixando apoiada apenas em um joelho com uma das mãos para trás. – Eu necessitava informá-lo sobre o comportamento do rapaz.

 

— Não me interessa seu comportamento. – ele caminhou enfurecido até ela, entretanto ela não o olhou. Sabia que como primeira serva, apesar de poder fazer alguns questionamentos, só deveria encara-lo caso fosse permitido – Você deve treiná-lo a todo custo.

 

— Ele não se interessa Mestre. É negligente, debochado...

 

— Então ensine a ele a ser interessado e não me volte aqui até que ele tenha aprendido tudo que deve durante esses seis meses, Guardiã.

 

— Sim Mestre! – Achila se levantou e virou-se ainda sem olhar Hector. Antes que ela pudesse atravessar a porta da câmara, Hector a chamou. Lentamente ela se virou e o olhou – Mestre?

 

— Deixe-o correr um pouco de perigo. Quem sabe assim, não desperte seu interesse.

 

— Considere feito Mestre. – Achila disse fazendo uma reverencia com a cabeça e saiu.

 

                Achila caminhava para seu portal, quando encontrou com Viana no corredor. Ela parou em frente à Achila, que se curvou fazendo uma reverencia.

 

                Viana era, assim como Leonardo, filha de um ser místico, no entanto ela era herdeira de um dos Mestres dos Elementos. Esses soberanos dos quatro elementos, fizeram uma aliança com Hector, para que eles fossem praticamente indestrutíveis e com isso, Viana fora prometida para Leonardo no dia em que nasceram. Obviamente esse acordo foi feito escondido de Agatha e permaneceu omitido, até que ela tomou conhecimento de Leonardo. Quando isso aconteceu, ele já estava devidamente protegido.

 

                Diferentemente de Hector, Adalberon, que era mestre do fogo, levou sua amada mortal e sua filha para viverem com ele no Mundo dos Mortos, e Viana agora, era conhecida por todos como a futura princesa desse reino.

 

— Onde está meu noivo serva? – Viana perguntou com empáfia.

 

— Ainda não está pronto jovem Mestra. – Achila respondeu de olhos baixos.

 

— Quando poderei conhecê-lo?

 

— Quando seu treinamento estiver completo, jovem Mestra.

 

— Vá, suma da minha frente.

 

— Pois não, jovem Mestra – Achila fez outra reverencia e caminhou para seu portal.

 

***

 

                Leonardo ouviu um barulho e abriu os olhos, já estava prestes a brigar com Achila por acorda-lo novamente, mas se espantou ao não vê-la por perto. O barulho foi se aproximando e ele se levantou assustado. “Achila” sussurrou ele, mas não houve resposta.

 

                Ele se concentrou, fechando os olhos e focando sua audição. Pode ouvir novamente o barulho de água, animais se rastejando, pássaros voando até que ouviu vozes. Seu coração acelerou com o pavor sobre o que ouvia.

 

“Ele tem que estar por perto, posso sentir seu medo, quase ouço seus pensamentos”.

 

“O guerreiro que matá-lo cairá nas graças da Mestra”.

 

“E seremos nós, meu bravo amigo! Seremos nós”.

 

                Leonardo sentiu um frio percorrer sua espinha. Achila estava certa, estavam vindo para mata-lo. “Onde está essa droga de guardiã agora?” Ele se perguntava, enquanto corria desesperado pelo meio das árvores.

 

                O barulho dos passos dos guerreiros se afastava e Leonardo parou de correr. Chegou a um riacho e bebeu um pouco de água, pois a sede deixava sua garganta seca e seus pulmões doendo.

 

                Ele ainda se perguntava onde estaria Achila. Será que se cansara dele? Como ele acharia o caminho de casa?                

 

                Leonardo caminhou por mais alguns minutos, sempre atento aos guerreiros e cauteloso para não fazer ruído e tentar não deixar rastro. Achou atrás de uma cachoeira, uma caverna que usou como abrigo para dormir, o que foi praticamente impossível com toda sua tensão.

Capitulo 3

 

Leonardo acordou assustado, ele havia dormido por somente algumas horas. Sua intuição o dizia para ele se manter em vigília, mas a fome falou mais alto e Leonardo foi em busca de alguma arvore que tivesse frutas. Encontrou um pouco distante do lugar onde estava, uma macieira. Leonardo então pegou todas as maçãs que conseguiu alcançar e as comeu até que se sentiu satisfeito. Se perguntou onde estaria Achila e se ela realmente o tinha abandonado a sua própria sorte.

 

 

 

“Que lugar é esse? Como eu irei voltar para a minha casa? ” ele pensou preocupado.

 

 

 

Leonardo andava sem rumo em meio aquela floresta, quando novamente ele se concentrou e ouviu vozes.

 

 

 

— Nós ainda não sabemos se ele já dominou seus poderes. — alguém disse em um sussurro.

 

— Você ouviu o que andam dizendo, ele é displicente e mimado, é obvio que ele ainda não aprendeu nada. — disse outra voz mais confiante.

 

— Não podemos arriscar, todos nós sabemos que o herdeiro de Hector é muito forte e poderoso. — a voz amendrontada disse.

 

— Ele não aceitou o treinamento, não sabe como usar os poderes, nós o mataremos sem trabalho.

 

 

 

Leonardo sentiu um frio na espinha ao ouvir o que os desconhecidos diziam.

 

 

 

“Estou perdido!” ele pensou com medo. Ele então se escondeu atras de uma grande arvore.  “ Achila! Achila!” ele chamava em pensamento, “Se você estiver me escutando, venha me ajudar. Eles querem me matar, mas eu não tenho nem uma maldita espada para me defender.”

 

 

 

Do outro lado do portal, Achila observava Leonardo, sozinho e indefeso. Sentiu uma vontade enorme de ampará-lo, mas não podia. O deixou sozinho para ele perceber, o quão importante era ele ser treinado. Ela com seus poderes, fez com que Leonardo achasse que havia pessoas em busca dele para matá-lo, mas isso não era verdade, era somente um truque de mente. Leonardo estava sozinho naquele lugar, ninguem poderia encontrá-lo enquanto ele estivesse do outro lado do portal.

 

 

 

— O que faz ai parada olhando para esse lago escuro serva? — perguntou Viana, a prometida de Leonardo.

 

— Estou verificando os progressos do herdeiro mestra. — Achila respondeu fazendo uma reverência.

 

— E como está o meu futuro prometido?

 

— Ainda está tendo dificuldades, mas farei de tudo para ensiná-lo o mais rapidamente, senhora. — respondeu.

 

— Achas que és capaz de fazer tal coisa? — Viana perguntou.

 

— Sim senhora, meu Senhor mestres dos mortos designou tal tarefa a mim, e eu jamais falharia.

 

— Acho bom! Agora, eu gostaria de ver o meu noivo. — Viana ordenou.

 

 

 

Achila não entendia o por que, mas se sentiu estranhamente desconfortável com a imagem de Viana e Leonado juntos, pensou rapidamente em uma resposta.

 

 

 

— Não será possivel ainda minha senhora. O herdeiro ainda é muito ligado ao mundo dos humanos, ele precisa de tempo e disciplina.

 

— Vá! — ordenou Achila. — Vá fazer o seu trabalho serviçal.

 

 

 

Achila obedeceu prontamente as ordens de Viana e se encaminhou para a arvore que era o portal.

 

 

 

Leonardo estava mentalmente exausto, toda essa historia era muita coisa para ele absorver. “Eu sou um herdeiro?” ele pensava. Ele ainda esperava acordar e perceber que tudo não passava de um pesadelo, mas a cada hora que passava se sentia mais e mais confuso. “Infelizmente essa é a minha realidade” pensou derrotado.

 

 

 

Quando não ouviu mais vozes atrás dele, Leonardo se levantou e começou a andar sem rumo novamente.

 

 

 

“Achila! Você não é a leitora de mentes aqui? Pois bem, leia a droga da minha mente agora! Venha aqui!” ele ordenou em pensamento. O silêncio ainda preenchia o lugar.

 

“ Ok, eu já entendi, eu preciso de sua ajuda, eu estou a vários dias aqui, pelo menos é o que eu acho. E eu estou faminto, essas frutas não me alimentam direito, e eu estou muito, extremamente cansado de me esconder dessas pessoas que querem me matar. Então, se você estiver me ouvindo, e eu acho que está, venha aqui para continuarmos com o treinamento... por favor!” ele pediu.

 

 

 

Nesse momento Achila apareceu para e ele, e um grande alivio percorreu pelo seu corpo. Ele ainda não havia percebido quanta saudades ele sentia dela.

 

 

 

— Achila! Você estava aqui esse tempo todo? — ele perguntou euforico.

 

— Não, mas eu estava observando do outro lado do portal. — Achila respondeu com o rosto neutro.

 

 

 

Achila não sabia o motivo, mas ver a felicidade de Leonardo ao vê-la, seu corpo respondeu de uma forma que nunca havia respondido. O que poderia ser isso?

 

 

 

— Eu... eu senti medo aqui sozinho Achila! — Leonardo disse acuado.

 

— Você é o herdeiro de Hector, o mestre do mundo dos mortos! Você não deveria sentir medo. — Achila respondeu.

 

— Mas, você me deixou aqui, sozinho, e eu ouvi vozes, havia pessoas aqui querendo me matar. — ele respondeu exasperado.

 

— Se você tivesse me deixado te treinar, você saberia como agir.

 

— Eu quero que você me treine Achila, eu prometo me esforçar para aprender. Eu nunca mais quero sentir esse pavor novamente. Eu quero aprender a me defender. — Ele disse decidido.

 

— Então vamos recomeçar, mas você terá de fazer tudo o que eu lhe disser. Sem reclamações, sem argumentações, se eu disser pule, você irá pular. Estamos entendidos?

 

— Sim, eu farei o que você disser. Mas por favor, eu preciso me alimentar.

 

 

 

Achila sabia que um bom guerreiro precisava estar alimentado antes de qualquer batalha, sendo assim, fez aparecer uma mesa com um verdadeiro banquete diante deles. Havia todo o tipo de comida e bebidas e Leonardo ficou maravilhado com aquilo tudo.

 

 

 

— Você consegue fazer isso tudo somente com o poder da mente? —  Ele perguntou curioso.

 

— Sim, e você poderá fazer muito mais só, se você se dedicar ao máximo. — Achila explicou.

 

 

 

Leonardo avançou na mesa e começou a comer as iguarias que Achila ofereceu.

 

 

 

— Você não vai comer? — ele perguntou.

 

— Eu não como. — ela respondeu.

 

— Nunca? — ele parecia interessado em sua resposta.

 

— Nunca.

 

— O que você é? — ele perguntou, mas imediatamente se arrependeu do tom que usou na pergunta. — Me desculpe, eu não quis parecer rude.

 

— Eu sou uma guardiã, eu protejo os portais do meu mundo, eu sou uma das responsáveis por levar as almas das pessoas, e eu fui designada para treinar você. Isso é tudo o que você precisa saber. —  Achila respondeu rapidamente.

 

— Você deve ser muito boa para esse tal de Hector te dar esse trabalho. — Leonardo disse com a boca cheia.

 

— Primeiramente você deve se referir ao seu pai como Senhor, ele é o ser mais importante do mundo dos mortos, e por isso devemos respeitá-lo. E eu tenho certeza que o meu Senhor que detém de toda sabedoria, sabia o motivo de me mandar para essa missão. Agora pare de falar de boca cheia, termine logo sua refeição e prepare-se para se tornar o herdeiro de Hector, Senhor dos mundos dos mortos.

 

 

 

Leonardo somente assentiu com o que Achila disse, mas sabia que ela deveria ser a melhor em sua função. Todo esse ar superior a tornava ainda mais interessante.

 

 

 

“ Concentre-se Leonardo!” ela ordenou em pensamento.

 

“ Eu realmente gostaria que você não entrasse mais em minha mente.” ele pensou para ela.

 

“ Assim que você acabar de comer, podemos começar com esse exercicio.”

 

 

 

Leonardo, largou o pedaço de frango que estava em sua mão, ele ja estava satisfeito e agora estava ansioso para aprender o que Achila iria ensinar.

 

 

 

Achila passou o restante daquela tarde ensinando de todos os modos Leonardo a se concentrar, mas ele era teimoso e quase nunca ouvia o que ela dizia.

 

 

 

— Acho que você gostaria de ficar mais um tempo sozinho aqui. Você é muito relapso e teimoso.

 

— Você esta exigindo muito de mim. — ele reclamou.

 

— Eu exijo por que sei que você é capaz. — ela completou — Agora aja como um homem e foque nos seus objetivos.

 

 

 

Leonardo ficou sério e decidiu dar tudo de si para agradar Achila. Ele não entendia o por que, mas estava cada vez mais fascinado por ela, Achila era linda e graciosa, mas ao mesmo tempo, determinada e decidida.

 

 

 

Achila percebeu a mudança no comportamento de Leonardo, ele havia ficado mais sério e focado. Ele ja havia conseguido bloqueá-la por duas vezes, e ela não sabia o que ele havia pensado para mudar tal atitude. 

 

 

 

Todos os dias os dois treinavam exaustivamente, Achila o alimentava e o observava em seu sono. Ela se sentia calma e serena quando estava ao lado dele. Eles ja haviam feito muitos progressos no treinamento, e Leonardo ja conseguia bloqueá-la completamente de seus pensamentos.

 

 

 

Cinco meses haviam se passado e Achila e Leonardo ja estavam muito bem entrosados.

 

 

 

— Vamos Achila! Me ataque mais forte. — ele a provocava.

 

— Eu estou dando tudo de mim! — Achila respondeu com satisfação na voz.

 

 

 

Leonardo ja havia aprendido quase todos os seus poderes, ele suportava muito mais dor que Hector previa. Alem de neutralizar seus inimigos somente com o poder da mente.

 

 

 

— Você só tem que aprender a controlar seus poderes Leonardo, daí então, meu trabalho estará terminado. — ela disse com a voz triste. Pensar em se afastar de Leonardo fazia o seu coração se apertar. A convivência com ele era fácil e agradável, Leonardo não era mais aquele menino mimado e irresponsável. Ele agora era um homem, um verdadeiro herdeiro, corajoso e de coração bom.

 

 

 

Ao ouvir Achila mencionar o fim do treinamento, Leonardo sentiu o chão vacilar em seus pés.

 

 

 

— Mas nós ainda nos veremos no mundo dos mortos não é mesmo Achila? — ele perguntou esperançoso. Quando ela não respondeu, ele começou a se preocupar. — Achila? Nós não vamos nos afastar quando o treinamento terminar não é?

 

 

 

Achila sentiu uma dor esmagadora no peito, não sabia como contar para Leonardo, que após o treinamento, ela ganharia nova vida e os dois se separariam.

 

 

 

— Até que enfim nós nos encontramos! — Disse uma voz atrás dela. Ela conhecia essa voz, era Viana.

 

 

 

Achila sabia que a partir de agora, tudo estava acabado, Leonardo conheceria sua prometida e Achila teria que sair de sua vida.

 

 

 

— Mestra. — Achila a cumprimentou com reverência.

 

— Quem é você? — Leonardo perguntou confuso. Havia cinco meses que ele e Achila estavam sozinhos naquele lugar, ver essa desconhecida se aproximar, o fez lembrar que havia um mundo fora dali.

 

— Você não sabe quem eu sou? — Viana perguntou alterada.

 

— Não, eu deveria? — Leonardo não gostou da forma arrogante como a moça perguntou.

 

— Sim, você deveria. Eu sou Viana, sua futura esposa.

 

 

 

Leonardo olhou para Viana confuso e depois olhou para Achila, que estava de cabeça baixa.

 

 

 

— Que historia é essa Achila? — ele perguntou.

 

— Eu sou filha de Adalberon, mestre do fogo. — Viana respondeu antes de Achila.

 

— Pouco me importa de quem você é filha. — Leonardo respondeu furioso. “Quem essa menina pensa que é?” ele pensou.

 

 

 

“ Ela é sua noiva prometida.” Achila respondeu em seus pensamentos. Leonardo estava tão furioso que esqueceu de erguer seus escudos protegendo seus pensamentos, assim Achila conseguiu entrar em sua mente.

 

“ Minha noiva?” ele pensou furioso para Achila.

 

“ Sim, desde que ela nasceu, seus pais fizeram uma aliança com meu mestre Hector e então eles a prometeram a você. Você será o novo principe e a senhora Viana, a nova princesa.” Achila respondeu com pesar em sua voz.

 

“ E quem disse que eu irei aceitar isso?” Leonardo questionou.

 

“ São ordens do meu mestre. Ninguem questiona as ordens dele.”

 

“ Isso é o que nós vamos ver.” ele respondeu.

 

 

 

Viana percebeu o silêncio no lugar.

 

 

 

— Parem de falar em pensamento! — ela ordenou. — Eu não tenho esse poder e gostaria de participar da conversa.

 

— Me desculpe mestra. — Achila respondeu ainda curvada — Eu estava explicando para o herdeiro que a senhora foi prometida a ele.

 

— Você não acha que tinha que ter me falado isso antes Achila? — Leonardo perguntou alterado.

 

— Eu não tinha permissão para contar, meu mestre havia me dito que ele mesmo contaria. Eu não sabia que a senhora Viana poderia atravessar o portal.

 

— Eu não podia, até hoje. Meu pai sempre atende aos meus pedidos, então eu pedi a ele para conhecer meu futuro esposo e ele ordenou que a guardiã Masui abrisse o portal para mim. — Viana respondeu. — Mas eu não devo me explicar a você, você é apenas... uma serviçal.

 

— Sinto muito senhora. — Achila respondeu.

 

— Você não pode falar assim com ela! — Gritou Leonardo — Escuta aqui Viana, eu não te conheço e não pretendo me casar com você. Então pode esquecer essa historia de casamento.

 

— Seu dever é se casar comigo! — Gritou Viana exasperada.

 

— O meu dever pelo o que eu sei é herdar o trono de Hector, e eu estou fazendo de tudo para aprender. Mas ninguem me falou sobre casar, eu nem estou apaixonado por você, pelo amor de Deus.

 

— A paixão nada mais é que um sentimento tolo. — Viana respondeu.

 

— Ja chega com isso! — Uma voz masculina grave gritou.

 

 

 

Achila se ajoelhou em reverencia e imediatamente Leonardo sabia de quem se tratava.

 

 

 

— Hector! — ele disse vendo pela primeira vez, o seu pai.

 

 

 

 

 

Capitulo 4

 

— Sim, eu sou Hector, mestre do mundo dos mortos, e seu pai. — ele respondeu.

 

 

 

Leonardo ficou boquiaberto, sempre que ouvia Achila falar, imaginava Hector com uma aparência de um monstro ou aberração, mas Hector era... normal. Ele tinha um ar autoritário e imponente e sua presença era sentida imediatamente, mas fora isso, e os seus guardas que o acompanhavam lado a lado, ele era um homem como qualquer outro.

 

 

 

— Vejo que já conheceu a sua futura esposa. — Hector disse.

 

— Acabei de conhece-la, mas eu não irei me casar com essa moça. — Leonardo respondeu carrancudo.

 

— Não seja insolente Leonardo, é o seu dever se casar com Viana e assim será. — Hector ordenou.

 

— Eu aceitei o fardo de herdar o seu reino, idéia essa que eu ainda estou me acostumando, e agora isso, esse casamento arranjado em pleno século vinte e um?

 

— Eu não aceito discussões, minha palavra é lei, e se eu digo que você se casará com Viana, isso acontecerá.

 

— Eu não a amo, eu não posso me casar com uma mulher que eu não tenho sentimentos. — Leonardo argumentou.

 

— Olhe ao seu redor Leonardo, você não tem muitas escolhas aqui não é mesmo? — Hector dizia apontando para a floresta sem fim — Você é meu herdeiro e assumirá o meu lugar no reino. Eu vi como você progrediu em seu treinamento, acho que já esta pronto para conhecer o seu novo lar.

 

 

 

Achila ao ouvir aquilo ficou desesperada, não era possivel, ela ainda tinha mais um mês com Leonardo, não poderia ser o fim. Hector com seus poderes sentiu a hesitação de Achila.

 

 

 

— Guardiã, o que te aflinge? — ele questionou.

 

— Mestre, creio que o herdeiro ainda não está pronto para assumir o teu lugar. — ela respondeu.

 

— Eu acho que ele está pronto sim. — se intrometeu Viana.

 

— Cale-se! — ordenou Hector.

 

— Me desculpe a intromissão Mestre. — respondeu Viana, que se encolheu com seu comando

 

— Guardiã, tenho certeza que Leonardo está pronto. — Hector disse para Achila. — Você fez muito bem o seu trabalho, e agora terá o que tanto desejas. Ao final das celebrações do casamento de Leonardo e Viana, você ganhará uma nova vida.

 

 

 

Achila olhou diretamente nos olhos de Leonardo e viu a surpresa que ele teve com essas palavras.

 

 

 

“Então era isso? Você só estava me ajudando por que iria ganhar uma nova vida?” ele perguntou em pensamento.

 

“Leonardo, eu... Apenas cumpro ordens” ela respondeu se explicando.

 

“Eu pensei que, pensei que você queria me ajudar, que você gostava de mim, mas eu só fui um meio para você chegar ao seu propósito não é isso?”

 

“Ele é o meu Mestre, ele me ordenou a treinar você e ter uma nova vida era tudo o que eu mais queria, mas agora...”  a voz de Achila falhou em seus pensamentos.

 

“Agora o que Achila?” Leonardo questionou.

 

 

 

— Explendido! — Hector aplaudiu.

 

 

 

Leonardo olhou para ele intrigado e Hector o tocou nos ombros.

 

 

 

— Você bloqueou totalmente os seus pensamentos enquanto conversava mentalmente com Achila, nem eu consegui ouvi-los. — Hector disse animado. — Até mesmo o que a guardiã disse ficou bloqueado. Você realmente é mais poderoso do que eu imaginei.

 

Leonardo apenas o encarou, sabia bloquear sua mente, mas não fazia ideia que tinha expandido seu poder à mente de Achila.

 

— Muito bem, agora vamos, você precisa conhecer o seu novo lar. — Hector ordenou que seus guardas o seguissem e ficassem atentos, ele temia que alguem viesse a mando de Agatha para matar o herdeiro.

 

 

 

Leonardo olhou para Achila, mas ela continuava com a cabeça baixa. Ele precisava saber o que ela ia falar antes de Hector interrompe-los.

 

 

 

“Achila, fale comigo” ele pediu em pensamento. Mas Achila apenas o ignorou e então Leonardo soube, que para ela, ele não passou de um obstaculo, que ela teve que passar para chegar em seu objetivo, uma nova vida.

 

 

 

Achila observava Leonardo andando ao lado de Hector e Viana, e percebeu que seu lugar não era mais ali, sim, ela começava a achar que nutria sentimentos por Leonardo. Sensações essas que há muito já sentiu, mas que agora eram como uma vaga lembrança, entretanto sua recompensa pelo treinamento e proteção de Leonardo, agora lhe parecia errado. Mas Achila iria até o fim, pois ele pertencia à Viana e jamais prestaria atenção em uma mera serva.

 

 

 

                Antes que pudessem atraverssar o portal Leonardo parou abruptamente. Ao perceber que ele estancara, Hector e Viana se viraram ao mesmo tempo para fita-lo.

 

— O que houve Leonardo? – Hector perguntou.

 

— Eu quero terminar o treinamento!

 

                Achila parou também, ao ouvir Leonardo dizer isso.

 

— Mas não há necessidade, eu andei observando-o.  Você evoluiu muito...

 

— Mas quero seguir o plano inicial. Se eu me saí bem, posso melhorar mais ainda. Quero mais um mês para ter controle absoluto dos meus poderes. – Ele encarava Hector – Você disse que eu havia bloqueado os pensamentos de Achila, entretanto eu não tenho conhecimento de como eu o fiz. Acredito que com mais esse mês eu vá ter total controle dos meus poderes, como afetar os inimigos e os aliados.

 

                Hector o encarou por um tempo, depois desviou seu olhar para Achila, que mantinha a cabeça baixa e os olhos fixados no chão.

 

— Certo! Se você quer assim, eu concedo esse mês. O casamento fica adiado até lá, entretanto hoje quero lhe apresentar ao meu reino. Vamos. Vocês  podem continuar o treinamento amanhã.

 

 

 

                Quando eles atravessaram o portal muitos guerreiros se enfileiravam para ver de perto o herdeiro de Hector. Aquele que fez o Mestre do Mundo dos Mortos contrariar sua amada Agatha, atitude jamais presenciada entre eles.

 

                Hector sempre tivera Agatha como a coisa mais importante de sua existencia. Cada capricho dela era realizado como se fosse uma ordem do proprio Mestre. Não havia um só ser no Mundo dos Mortos que ousasse contrariar a Mestra das mestras. Entretanto o proprio Hector o fez. Ele simplesmente trouxe do mundo humano um meio sangue, para ser herdeiro de seu trono e assumir a liderança daquele reino.

 

                Enquanto caminhavam, Achila entrou na mente de Leonardo que estava admirado com a imensidão daquele reino.

 

“Bloqueie sua mente Mestre Leonardo. Não descuide disso, principalmente aqui.”

 

“Farei isso. E nao precisa me chamar de mestre. Eu nao quero que me chame assim.”

 

                Ele virou-se para encara-la e ela apenas assentiu antes de abaixar o olhar.

 

                Leonardo estava começando ficar irritado com o comportamento dela. Achila o ensinara tudo que sabia. Ele lembrava-se bem de como teve dificuldade em criar a bola de energia, no entanto ela foi paciente até que ele acabou aprendendo. A projeção foi fácil, mas Achila estava sempre lhe testando. Mas o que ele sentiu mais facilidade mesmo foi o o controle da mente. Como ele podia fazer com que as pessoas vissem o que ele queria. Lembrou-se da expressao carrancuda de Achila quando ele a fez ver os dois se beijando.

 

 

 

                O dia se passou, em o que parecia uma grande festividade. Muitos seres do mundo dos mortos, com permissão para transitar na Fortaleza de Hector, foram conhecer Leonardo. Todos queriam ver de perto o herdeiro mais famoso dos dois mundos.

 

                Até o final do dia Agatha não havia se feito presente, mas depois que o ultimo ser foi embora ela apareceu, de esgueira enquanto Hector conversava com Aldaberon e Leonardo estava perdido em seus pensamentos observando Viana que ria e conversava animadamente com outra garota, que Leonardo não sabia dizer o que era.

 

                Agatha parou ao lado dele e soprou seu ouvido o pegando de surpresa.

 

— Então você é o filho que fez meu Hector esmagar minha vontade, minha dor, passar por cima do meu amor, para proteger? – ela dizia sorrindo na vã tentativa de esconder sua ira.

 

— Parece que sou. – Leonardo deu de ombros – Você deve ser Agatha.

 

— Mestra pra você moleque. Me respeite, eu não sou sua serva e não lhe devo obediencia.

 

— Eu não lhe pedi, no entanto eu também não sou seu servo e também não lhe devo obediencia. Então continuarei lhe chamando de Agatha e se você não gosta, basta não dirigir a palavra a mim.

 

                Os olhos de Agatha queimaram em fúria e ela deu um passo ameaçador na direção de Leonardo que fez um gesto com a mão na tentativa de fazer sua espada aparecer, mas foi interrompido por Hector que se aproximou deles.

 

— Tudo bem por aqui?

 

— Tudo ótimo esposo amado. Vim apenas conhecer e dar boas vindas ao seu herdeiro.

 

— Leonardo?

 

— Tudo perfeito, meu pai. – ele encarou Agatha “Eu não temo você” ele disse em seu pensamento e ela apenas o encarou  – Eu agora gostaria de descansar.

 

— Achila! – Hector gritou.

 

— Pois não Mestre? – ela entrou fazendo sua habitual reverencia e apoiando-se no chão com um joelho.

 

— Você já está mais acostumada às necessidades de meu filho, Guardiã. Leve-o para seus aposentos e veja do que mais ele necessita e providencie.

 

— Prontamente Mestre. – ela se levantou – Por favor Mestre Leonardo, acompanhe-me.

 

               

 

                Eles seguiram até os aposentos de Leonardo em silêncio. Quando entraram no que, nem de longe, parecia um quarto, Leonardo fechou a porta atras dele e com seus poderes bloqueou o lugar, fazendo-o ficar invisível para qualquer outra pessoa. Um guerreiro que passava em frente a porta olhou duas vezes para se certificar, quando viu que ali não havia mais nada além de uma imensa parede de pedras.

 

               

 

— Você pode usar seus poderes para projetar tudo que desejar Mes...

 

— Eu já disse para não me chamar assim! – Leonardo disse rispidamente.

 

— Perdoe-me Leonardo, como eu dizia...

 

— Não importa Achila, eu sei o que posso projetar. – ele caminhou se aproximando, mas ela apenas abaixou o olhar – Eu quero saber o que você ia dizer lá na floresta antes que meu pai, nos interrompesse.

 

— Nada de importante m... Leonardo.

 

— Não minta pra mim. – ele alterou sua voz e vendo que ela não se pronunciaria ele usou da sua servidão para fazê-la falar a verdade – Eu ordeno Achila, me diga a verdade!

 

— Ia dizer que minha nova vida não era mais o que eu queria, mas não sei o porque, agora me parece incerto.

 

— Eu sei porque Achila. – Leonardo se aproximou e segurou fortemente seu rosto palido e sua pele fria, sem se importar, a beijou asperamente, como se a vida dele dependesse daquele beijo. Mesmo que ela não soubesse, Leonardo tinha certeza dos seus sentimentos por ela.

 

                Achila não resistiu e se entregou àquele gesto de carinho. E por um momento ficou feliz por ter passado tanto tempo com os humanos e ter uma leve lembrança de como era um beijo apaixonado.           

 

                Eles ficaram se beijando ainda por algum tempo e quando se afastaram, os lábios de Leonardo estavam frios, porém inchados devido a intensidade do beijo.

 

— E isso eu não fiz você ver Achila, – ele sorriu vitorioso e se afastou um pouco dela – nós realmente nos beijamos.

 

— Mas Leonardo, isso é errado, você e Viana...

 

— Ah por favor Achila, você me conhece a vida toda. Sabe muito bem que eu jamais me casaria com aquela menina mimada.

 

— Mas você disse ao Mestre que ia treinar mais um mês e depois...

 

— Eu só queria passar mais um mês com você – ele se aproximou novamente e a abraçou – Diz que você sente o mesmo por mim Achila.

 

— Leonardo... Eu... – Achila tentou se desvencilhar dos braços dele, mas Leonardo não permitiu – Eu não posso...

 

— Não me venha com essa que não pode se envolver com o filho do “mestre”.

 

— Não é isso. –  ela o encarou – Eu não posso sentir, embora passar muito tempo com os humanos tenha me feito através de vocês, reviver algumas lembranças desses sentimentos, mas sentir mesmo...

 

Leonardo se afastou entristecido.

 

— Então você não gosta de mim?

 

— Não é isso! Nós Guardiãs, não sentimos, não possuimos o dom de ter sentimentos, mas nenhuma também nunca teve permissão pra ficar tanto tempo perto dos humanos. Eu não sei se é o sentimento, mas eu quero ficar perto de você o máximo de tempo que eu puder e agora, voltar a ter uma vida e me afastar está parecendo incerto.

 

 

 

                Eles se entreolharam e se beijaram novamente. Certo ou não e mesmo que Achila não tivesse certeza, eles estavam apaixonados e na cabeça de Leonardo nada era impecilho pra que ficassem juntos.

 

 

 

                No mês seguinte Achila e Leonardo treinavam incessantemente e algumas vezes Hector ou Viana assistiam o desempenho de Leonardo. O que eles não sabiam era que na maioria das vezes, era apenas uma ilusão criada por Leonardo para enganá-los. Ele e Achila na verdade estavam enlaçados em um beijo apaixonado, deitados sob as árvores, conversando e poucas vezes até treinando mesmo.

 

               

 

                No final daquele mês Leonardo estava irritado e com pouca paciência. Cuspia ignorancia sem motivo aparente para os bajuladores do reino. Achila de uma forma estranha também se sentia triste. Durante todo mês eles planejaram uma fuga, mas de nada adiantaria se Hector não devolvesse a ela sua vida. E como ele já dissera inumeras vezes só faria isso depois do casamento de Leonardo e Viana.

 

                Naquela noite quando, mais uma vez eles tentavam achar uma solução para seu problema, e finalmente combinaram uma saída, Achila se retirou dos aposentos de Leonardo. Quando a porta que fora escondida com os poderes dele, reapareceu em seu lugar e Achila a atravessou, Viana que passava próximo, escondeu-se atrás de uma pilastra e ficou vigiando.

 

                Leonardo olhou para os lados e ao verificar que ninguem os observava puxou Achila novamente para um beijo apaixonado.

 

                No mesmo instante Viana se retirou silenciosamente e foi até Hector contar o que vira e quando ele não acreditou ela ofereceu que ele entrasse em sua mente e visse com os proprios olhos o que ele havia presenciado.

 

 

 

                No dia seguinte, se realizaria a celebração do casamento. Leonardo havia combinado com Achila que usaria a projeção astral para que todos achassem que ele estava se casando com Viana enquanto na verdade ele estaria longe, nos limites da floresta esperando que Achila o encontrasse, já com sua nova vida.

 

 

 

                Mas ele não conseguiu contato com ela durante todo dia, era como se Achila tivesse se evaporado. Quando perguntou seu pai a respeito dela, dizendo que queria apenas despedir, Hector o informou que ela já havia ganho sua vida  e partido para o mundo dos humanos.

 

— Era o que ela almejava por longos anos. Achila era minha melhor guardiã, mas ela queria ir para o mundo dos humanos e faria qualquer coisa para conseguir isso.

 

 

 

                Leonardo voltou para seus aponsentos irritado. Achila havia mentido para ele, tudo que eles haviam vivido até ali era mentira.

 

               

 

                Quando deu o horario marcado para celebração do casamento, Leonardo, vestido como um verdadeiro principe, caminhou em direção ao grande salão onde ele e Viana cortariam o dedo assinando com sangue, o contrato do casamento.

 

                Enquanto Hector estava distraído dizendo algumas palavras, uma voz penetrou na mente de Leonardo.

 

“Foi dificil, mas eu consegui. A tristeza, essa emocão inútil, está atrapalhando sua concentraçao em bloquear sua mente”

 

“O que você quer Agatha?” – Leonardo pensou e a encarou.

 

“Apenas te ajudar herdeiro. A sua amada não está no mundo real. Viana a viu saindo dos seus aposentos ontem, viu também o beijo de vocês. Claro que ela siu correndo e contou para meu amado marido”

 

                Leonardo apertou os olhos para conter sua raiva e não fazer Viana sucumbir com uma dor lancinante ali mesmo.

 

“E onde está Achila?”

 

“Nas masmorras, eu só não sei qual...São muitas”

 

“Porque você está me ajudando?”

 

“Não seja idiota, eu não estou lhe ajudando. Eu faço isso apenas por mim. Se você for embora com aquela serva eu me livro da sua presensa desagradável”

 

 

 

                Leonardo na mesma hora se afastou de Viana e saiu correndo em busca da masmorra onde Achila estava. Ouviu Hector o chamar, mas simplesmente o bloqueou. Nesse mesmo instante o Mestre do Mundo dos Mortos ordenou que todos os guerreiros o impeçam Leonardo de sair e se vira olhando enfurecido para Agatha, que tem um largo sorriso no rosto. Ele soube imediatamente que ela tinha a ver com a repentina reação de Leonardo.

 

               

 

— O que eu faço com você, mulher? – Hector perguntou enfurecido.

 

                Agatha apenas riu e respondeu:

 

— Continua me amando, querido! – depois ela se retirou para seus aposentos.

 

 

 

 

 

                Quando Leonardo está proximo da ultima masmorra da fortaleza, Viana aparece parada na porta de entrada.

 

— Saia da minha frente Viana.

 

— Não seja tolo Leonardo! Você não pode abrir mão do seu trono, desse reino, por uma serva. Não pode abrir mão do nosso casamento.

 

— Deixa eu te contar um segredinho então Viana: Pouco me importa tudo isso, eu nunca pedi pra ter nada disso, nunca quis ser herdeiro de porcaria nenhuma, mas tudo isso teve uma coisa de boa e essa coisa se chama Achila. Meu amor por ela é maior que tudo isso aqui e eu só quero encontrá-la para sairmos daqui e vivermos juntos.

 

— Você jamais a encontrará...

 

               

 

                Mas antes que ela pudesse continuar Leonardo a fez sentir uma dor aguda na cabeça,  Viana se ajoelhou e colocou a cabeça entre as mãos se encolhendo, enquanto Leonardo a fazia sentir dor e invadia sua mente.

 

                Ficou desesperado quando viu que Hector havia ordenado que enquanto o casamento acontecesse, seus carrascos levassem Achila para o ritual de ceifamento.

 

                Ele sentiu seu estomago embrulhar e um pavor percorreu seu corpo, a incerteza se sua amada ainda estava viva era assutadora.

 

Concentrando-se como nunca antes, ele buscou a mente de Achila e procurou por todo reino, quando finalmente a encontrou em um bosque de pedra, coberto por uma névoa, distante dali.

 

                Achila estava fraca e não conseguia se comunicar, então Leonardo remeteu todo seu poder aos carrascos e conseguiu fazê-los acreditar que Hector ainda não havia dado a ordem final.

 

                A vida de Achila estava segura por enquanto e Leonardo lembrou-se quando ela tentou ensinar-lhe o teletransporte. Ele falhara diversas vezes e eles chegaram juntos à conclusão que ele não tinha esse poder, mas naquele momento ele apenas precisava ter e com toda força do seu coração somado a muita concentração, Leonardo consegiu se teletransportar e aparecer ao lado de Achila. Sem hesitar, ele projetou sua espada e cortou a cabeça dos dois carrascos que estavam ao lado dela.

 

 

 

                Leonardo a pegou no colo, plantando um leve beijo em seus lábios e começou a caminhar para sair daquele local. Quando Hector apareceu em sua frente, instintivamente Leonardo protegeu mentalmente o corpo fraco de Achila e encarou o pai.

 

— O que você está fazendo, meu filho?

 

 

— O que parece, meu pai. Salvando minha amada.

Final

 

— Amada? Como podes amar um ser tão inferior Leonardo? – esbravejou Hector.

 

— Não a vejo como ser inferior, não fui criado sob seus domínios meu pai, de onde venho me ensinaram que todos são iguais, se em teu reino não é assim, sinto muito deveria ter me criado aqui ao teu lado, mas o medinho à sua mulher o impediu. Antes tivesse ficado sem herdeiro, não são vocês imortais? Por que precisam de mim? – gritava Leonardo.

 

— Largue-a imediatamente e volte ao casamento. – Hector ordenou.

 

— Não cumpro suas ordens, não o tenho como pai e nem mesmo como superior. Aprendi tudo o que precisava com Achila e se quiser me impedir fique à vontade, morrerei lutando por ela.

 

         Hector enfurecido ergueu as mãos e de imediato dezenas de guerreiros com suas espadas em punho surgiram ao seu lado.

 

— Se não serás meu herdeiro em paz não viverás. – gritou ele dando ordem aos guerreiros para atacá-lo.

 

Leonardo criou ao seu redor um campo de força que, em segundos estava cercado por guerreiros de todas as espécies tentando quebrá-lo. Enquanto isso falava calmamente com Achila.

 

— Você é capaz de aguentar enquanto acabo com eles? – perguntou Leonardo confiante.

 

—  Sim, mas não sei por quanto tempo. – respondeu Achila com uma voz fraca.

 

         Leonardo fechou os olhos por um momento, de repente um dos guerreiros de Hector estava dentro do campo de força, o tempo que ele levou para compreender o que havia acontecido Leonardo já estava por cima dele, drenando suas forças. Achila olhava incrédula, durante o ultimo mês Leonardo sem querer drenara um pouco das forças dela e depois desse dia passaram a treinar tal poder, mas o mês acabara sem que ele tivesse domínio total sobre tal habilidade. O guerreiro jazia inerte no chão Leonardo não chegou a tirar-lhe a vida, mas o paralisara. A energia fluía entre suas mãos, Leonardo rapidamente levou até Achila e tocou onde seria seu coração. Achila que mantinha os olhos fechados até então, rapidamente os abriu encarando Leonardo que sorria satisfeito.

 

— Como você conseguiu dominar isso? – perguntou Achila

 

—  Não faço ideia! Acho que meus poderes surgem da necessidade. Tenho que ir não se esforce muito você precisa recuperar suas energias. - disse Leonardo saindo de perto de Achila, ao sair o campo de força diminuiu protegendo somente Achila. Leonardo rapidamente evocou sua espada e se pôs a lutar contra os guerreiros de seu pai.

 

         Achila olhava-o admirada, era responsável por aquela mudança, vê-lo lutar com tanta agilidade e desenvoltura fazia-a sentir algo, não sabia denominar, mas se tivesse tal capacidade saberia que seria orgulho. 

 

         Hector observava em um misto de surpresa e admiração Leonardo era de longe o herdeiro perfeito, determinado e corajoso. “Se ao menos tivesse ele lutando pelos mesmos ideais” – pensou ele. Hector analisava o que seria mais vantajoso: ter o filho ao seu lado ou não ter filho algum. Evocou mais guerreiros apenas para testá-lo, Leonardo derrotava todos.

 

         Hector usava aquela batalha para ter noção de quão poderoso poderia ser o filho, e como último teste resolveu ir contra Achila.  Evocou mais guerreiros ainda, mas ao invés de direcioná-los contra Leonardo colocou-os contra o campo de força. Hector pôde sentir o poder de Leonardo vacilar com a distração, mas com a mesma rapidez Leonardo voltou a ficar firme, surpreendendo-o.

 

         O Campo de força que protegia Achila começava a ceder. Dentro dele Achila já se encontrava em posição de combate e no momento que o campo rompeu-se Achila se defendeu usando a energia das trevas que fazia com que os guerreiros a sua volta simplesmente deixassem de existir, mas eram muitos e por não estar totalmente recuperada ela logo foi capturada e levada ao encontro de Hector.

 

         Leonardo se viu em desespero, e era o que Hector pretendia, porém ele não contava que isso faria seus poderes aumentarem ainda mais. Leonardo fora capaz de drenar a energia dos guerreiros que capturaram Achila e ela logo teletransportou-se para o seu lado. Estavam os dois preparados para outra leva de ataques quando os guerreiros simplesmente sumiram.

 

— Desistiu de comandar seus fantoches meu pai? – perguntou Leonardo cheio de desprezo.

 

“Acho melhor não provocá-lo Leonardo.” – disse Achila em pensamento.

 

“Eu não tenho medo dele Achila.”

 

“Pois deveria, você tem que parar de ser tão prepotente Leonardo.”  

 

“Quando sairmos daqui você terá todo o tempo para ensinar-me isso.”

 

         A conversa dos dois foi interrompida por Hector.

 

— Não, mas venho fazer-lhe uma proposta. – começou Hector. — Prefiro mil vezes ter meu herdeiro como aliado do que como inimigo. Entremos num consenso então.

 

         Hector com um simples gesto transportou todos que ali estavam para a sala do trono, juntamente com Agatha, Viana e seu pai representando os Mestres dos Elementos.

 

 — Venho propor uma contra aliança. – Começou Hector. Viana e seu pai protestaram imediatamente, Agatha continuou indiferente, Leonardo e Achila apenas trocaram olhares. — Faço a vontade do meu herdeiro anulo o casamento com Viana e ...

 

— Isto é inadmissível Hector – esbravejou Adalberon. — Nossa aliança é clara, o teu herdeiro deve casar-se com a primeira herdeira dos Mestres dos Elementos, minha filha Viana. Não há motivos para fazer as vontades de um moleque mimado como esse seu. Viana espera pelo seu noivo desde o nascimento.

 

— Não me interrompa Adalberon. Escute-me primeiro. – disse Hector mais alto ainda. — Viana estará livre para casar-se com quem quiser, Leonardo reinará ao meu lado, e os benefícios dados aos Mestres dos Elementos permanecerão inalterados.

 

         Agatha remexeu-se em seu lugar, não queria Leonardo por perto, pelo tempo em que esteve em treinamento todas as atenções de Hector eram para ele o que dirá se o garoto ficasse ao lado do pai.

 

— Acredito que o jovem tenha que ser consultado primeiro amado esposo. – disse Agatha.

 

— E eu? – gritou Viana histericamente. — Ninguém pensa em consultar-me? Por um acaso não tenho direitos? Passei toda a minha vida me preparando para este casamento, não é justo que ago...

 

— Cale-se Viana! – ordenou seu pai.

 

— Ela é apenas uma serviçal! Que grande piada será um rei casado com uma serviçal. – gritou Viana enfurecida desrespeitando as ordens do pai.

 

         Adalberon ordenou-lhe que se calasse outra vez, mas desta vez tirando-lhe a voz. Estarrecida com a atitude do pai Viana tentava em vão gritar-lhe, seus olhos emanavam ódio genuíno em direção à Achila e Leonardo.

 

— Bem melhor. – comentou Hector. — Minha esposa tem razão o herdeiro deve ser consultado, entretanto apenas para sabermos sua opinião, pois caso anule-se o casamento sua única escolha será reinar ao meu lado.

 

         Leonardo segurava a mão de Achila apenas observando os acontecimentos que se desenrolavam diante de si. Desde o inicio conversava com ela. Combinaram que exigiriam a vida de Achila e depois pensariam em uma maneira de viverem juntos no mundo mortal.

 

— Fale alguma coisa garoto! – exclamou Agatha impaciente diante o silencio de Leonardo.

 

— Aceito os termos, entretanto tenho perguntas a fazer e dependendo das respostas haverá condições para que eu reine ao teu lado. – disse Leonardo por fim.

 

— Pergunte. – disse Hector.

 

— Quando a vida for concedida à Achila ela voltará a ser humana correto? — Hector apenas assentiu com um movimento leve indicando que sim. — Ela voltará a ser humana em que estagio? – perguntou Leonardo que realmente não sabia a resposta, assim como Achila não tinha nenhum conhecimento, as guardiãs nunca tomavam conhecimento do que acontecia umas às outras ao completarem-se os cem anos.

 

— Nascerá outra vez. – respondeu Hector.

 

— Quero que Achila torne-se humana com a idade que aparenta ter, ou seja, próxima a minha. Agora minha outra pergunta. – disse Leonardo. — Assim como o senhor sou dotado de imortalidade?

 

— Sua imortalidade é algo que, assim como a todos os meios sangue existentes, é ativada mediante sua escolha, se escolheres ser imortal um ritual será celebrado e passarás a ter a idade da escolha por toda a eternidade. Entretanto para qualquer meio sangue herdeiro não há escolha entre ser ou não imortal, você só poderá escolher quando ativar sua imortalidade – respondeu Hector.

 

— Então minhas perguntas já estão respondidas e minhas condições são poder viver no mundo mortal e ao lado de Achila, sendo nós dois imortais. – começou ele. — E como o senhor também é imortal e eu nunca ocuparei de fato o trono, pois estarei sempre à sua sombra e supervisão, proponho então que o senhor apenas convoque-me quando necessário e em troca serei sempre leal a este reino desde que nada seja feito contra o mundo em que vivo.

 

— O que diz Adalberon com relação ao casamento? – perguntou Hector.

 

— Se de fato nenhuma das vantagens por nós negociadas anteriormente for quebrada o casamento torna-se desnecessário, entretanto preciso de algo para assegurar que o acordo não seja quebrado. – respondeu Adalberon.

 

         Viana tentava desesperadamente interromper estava se corroendo por dentro por não ter a capacidade de falar através do pensamento como à maioria ali. Tentava protestar contra o descaso para com ela, mas logo aquietou-se, uma ideia havia lhe surgido, se não ia ter casamento... 

 

— Darei apenas a minha palavra Adalberon, por todos estes anos viveste com os seus em meu reino, nada pedi em troca até então, havia a aliança, mas esta foi firmada sob inúmeras chances de dar errado, bastava o herdeiro não sobreviver. Se puderam viver com esta incerteza poderão viver apenas com minha palavra. – respondeu Hector. — Entretanto se quiserem consultar os outros Mestres convoque-os até aqui imediatamente.

 

— Com toda certeza. Com sua licença Hector. – disse Adalberon saindo.

 

         Viana não tentava mais falar nada, apenas olhava com seu ódio habitual para todos.  A energia que ela emanava era tão intensa que estava incomodando Leonardo, aproveitando o momento resolveu consultar Achila sobre isso.

 

“O que significam essas oscilações no ar Achila?” – perguntou ele em pensamento. Agora Leonardo já sabia como bloquear quem quer que fosse, podendo assim conversar tranquilamente com ela enquanto todos aguardavam.

 

“Isso vem de Viana, o ódio que ela sente nesse momento é tão intenso que move as partículas de ar em sua volta. Estou muito impressionada que possas sentir tal oscilação, pouquíssimos seres são capaz de senti-las.”

 

“E no que isso me é útil?”

 

“Com isso você pode identificar a aproximação do inimigo a uma distancia que nem mesmo seus sentidos ainda tenham sido capazes de captar. Ou seja, é uma super expansão dos seus sentidos.”

 

“Você também é capaz de sentir?”

 

“Não.”

 

“Então como sabia imediatamente do que eu estava falando?”

 

“Uma guardiã passa por trinta anos de treinamento antes de assumir sozinha um portal, sabemos de tudo que você possa imaginar, não há ser no mundo que possa nos surpreender.”

 

“Acredito então que eu sou uma exceção”

 

“Não compreendo em que.”

 

“Surpreendi-a com minhas condições. Acredito que tenhas sentido algo, ou seja lá como isso aconteça para você, pois senti as partículas de ar moverem-se ao teu redor. Talvez isso seja alegria. Achila.”

 

“Sabe que não posso sentir Leonardo, entretanto, esta perspectiva me parece correta.” – respondeu ela dando pela primeira vez em toda a sua existência como guardiã um tímido sorriso. Leonardo soube nesse instante que ela seria para sempre a única pessoa que ele iria amar.

 

         A conversa dos dois foi interrompida por Adalberon que voltava com os outros Mestres dos Elementos; Albadir Mestre da terra, Adamanto Mestre do ar e Agabo Mestre da água. Depois de explicado todos os termos e condições do novo acordo os quatro acabaram por aceitar.

 

— Fica então o casamento entre os herdeiros anulado. Suas condições serão realizadas em troca da vida de Achila que será tomada caso recuse uma vez sequer à minha convocação. E nada acontecerá ao teu mundo realizando-se assim tua ultima premissa.

 

         Leonardo jurava lealdade a Hector quando Achila simplesmente sumira do seu lado.  Imediatamente pôs-se em posição de batalha diante de Hector acreditando que ele havia feito algo a ela.

 

— Julga-me tão tirano assim a ponto de quebrar com minha palavra imediatamente depois de dá-la herdeiro? – vociferou Hector. — Abaixe sua espada a guardiã saiu por vontade própria. – concluiu.

 

— Para onde ela foi? – perguntou Leonardo alarmado. Achila saíra tão rápido que ele não teve a menor condição de perguntar-lhe o que havia acontecido.

 

— Por conta da sua afronta não moverei um músculo em seu auxilio, somente para que aprendas que a palavra de Hector vale mais do que mil vidas, encontre-a por seus próprios esforços  e volte dentro de uma hora para que ela possa viver na idade aparente caso contrario ela renascerá tão logo completem-se seus cem anos.

 

         Dito isso Hector retirou-se para seus aposentos sendo seguido por todos os demais ali presentes deixando Leonardo a beira do desespero. Não tinha a mínima noção de como sair dali muito menos de como encontrar Achila. Correu para a saída do castelo como se isso fosse lhe ajudar. Seus pensamentos eram frenéticos e desordenados, sua aflição lhe fez esquecer-se de todos os ensinamentos de Achila com relação à concentração. 

 

         Obrigou-se a ficar calmo, respirando fundo parou para reviver em sua mente os últimos minutos a fim de entender o que teria feito Achila desaparecer.

 

Pôde ver tudo o que havia acontecido como um espectador, seria interessante se não estivesse tão aflito. Não encontrou nada significativo, forçou-se então a repetir os minutos outra vez com mais atenção, foi quando pode perceber que enquanto os Mestres dos Elementos entravam na sala do trono Viana saia à francesa do lugar.  Como neste momento estava conversando com Achila nem percebeu que ela não estava mais lá.

 

Tinha certeza que Viana tinha algo haver com tudo aquilo, resolveu então ir ao encontro de Adalberon a fim de questioná-lo sobre sua filha.  Como não fazia ideia de onde encontrá-lo concentrou-se para sentir sua energia. Lamentava por esse poder só ter se manifestado a pouco tempo, se tivesse tido chance de treiná-lo com Achila poderia encontrá-la sem ajuda de ninguém.

 

Depois de preciosos doze minutos conseguiu identificar Adalberon, imediatamente teletransportou-se até ele que já encontrava-se em sua casa.

 

— Adalberon – gritou Leonardo entrando casa adentro.

 

— O que queres herdeiro? – perguntou ele nada amigável voltando-se para Leonardo.

 

— Onde está tua filha? Preciso que me diga seu paradeiro agora mesmo. – ordenou Leonardo.

 

— E por que eu faria isso? Por um acaso mudaste de ideia e irá desposá-la?

 

— Nunca! Sua filha desapareceu pouco antes de Achila também sumir, aposto minha imortalidade como ela tem alguma coisa haver com isso.

 

— E o que eu tenho haver com isso? Me deixe em paz garoto.

 

— O que você tem contra mim? Que mal te fiz? Não perdeste nada no acordo com o meu pai apenas não irei mais casar-me com sua filha. A troco de que queres agora dificultar minha vida? – perguntou Leonardo apelando para o emocional que nem sabia se Adalberon tinha, mas precisava tentar de tudo.

 

— Ganhei uma filha irritada! Se um dia for pai entenderás. – respondeu ele.  — Entretanto, não vejo vantagem alguma em não ajudá-lo, provaste ser um bravo guerreiro em pouco tempo, não quero ver a longo prazo todas as suas habilidades contra mim e meu povo.

 

         Adalberon dirigiu-se a uma espécie de aquário de pedra que se encontrava no canto da sala, olhou-o por alguns segundos e respondeu:

 

— Minha filha encontra-se em seu mundo nesse momento, Achila batalha pela vida de sua mãe.

 

         Todo o sangue fugira do corpo de Leonardo e por pouco não desmaiara. Seu ser resumia-se em um único sentimento. Ira. Não soube como, mas fora capaz de ir do Mundo dos Mortos o Mundo Mortal em um piscar de olhos. Entretanto ainda encontrava-se dois quarteirões de sua casa. Leonardo pôs-se então a correr, pois não conseguira se teletransportar ali devido ao esforço de ir de um mundo ao outro sem auxilio de um portal.

 

 

 

 

 

         Desde o nascimento de Leonardo Achila estava ligada a ele e à sua família e no momento que Viana pós em perigo a vida de Eleonor ela imediatamente fora levada até sua casa a fim de protegê-la. Eleonor dormia e Viana estava prestes a cravar um punhal no coração da senhora quando Achila a impediu.

 

         Achila conseguiu neutralizar Viana por tempo necessário para que Eleonor, que acordara assustada saísse de perto dela, porém suas energias não estavam cem por cento, a transferência não era capaz disso, apenas evitava uma morte eminente, Achila levaria certo tempo para recuperar suas próprias forças e o tempo que se passara não havia sido suficiente.

 

         Aproveitando-se disso, pois era capaz de sentir quão fraca a guardiã estava, Viana atacou-a. Achila fora arremessada contra a parede e caíra desacordada no chão.

 

         Viana deixou Achila caída no chão e foi até Eleonor que estava paralisada num canto do quarto, muito assustada, Viana fez surgirem correntes nas paredes onde prendeu Eleonor também Achila, ainda desacordada. Poderia matá-las imediatamente, entretanto esperou Achila recobrar a consciência, queria ver sua vida esvair-se de seus olhos quando a matasse. Enquanto esperava ia revirando as coisas de Eleonor simplesmente por não ter o que fazer.

 

— Sabe dona Eleonor, eu queria mesmo me casar com o seu filho, mas você não educou ele direitinho sabe? Ele é muito mimado, na verdade é insuportável! Mas eu tenho que me casar com ele por que passei minha vida inteira vivendo para ele, sabe o que é sua mãe não deixar você sequer ter uma vida por que você é a prometida para o herdeiro? – dizia ela que voltara a falar tão logo saíra da vista do pai. A essa altura o quarto já estava completamente revirado.

 

Achila dava sinal de que estava prestes a acordar. Eleonor nada falava. Viana andava de um lado para o outro dentro do quarto impaciente até que Achila começou a se mexer e aos poucos voltando a si.

 

— Ah finalmente a bela adormecida acordou! – Exclamou Viana batendo palmas ao ver Achila abrir os olhos.  — Agora posso te matar!

 

— Você não vai matar ninguém Viana – disse Achila tentando exercer o controle ordenado em Viana. Se conseguisse Viana faria o que ela mandasse julgando ser uma decisão própria.

 

— Me poupe vadia. – disse Viana esbofeteando Achila. — Você não tem forças nem para falar quanto mais para tentar me ordenar algo. Conheço seus truques guardiã não tente usá-los comigo. Agora chega de papo furado.

 

         Viana absorvia o calor do ambiente e de seu corpo, convertendo-o numa esfera de fogo que crescia entre suas mãos, ela pretendia incendiar a casa.

 

         Estava a ponto de lançar a esfera de fogo contra Achila e Eleonor quando Leonardo surgira. Ao ver o que estava prestes a acontecer seu corpo eletrificou-se e algo semelhante a um raio saíra de suas mãos em direção a Viana que imediatamente fora paralisada.

 

         Espantado com o que ele mesmo havia feito Leonardo permaneceu parado no mesmo lugar a olhar para suas mãos até que a realidade abateu-se sobre ele levando-o a libertar sua mãe e Achila das correntes. 

 

         Eleonor que pensou que jamais veria o filho abraçou-se com ele como se fosse sua última chance de fazê-lo.

 

— Mãe, mãe, olhe para mim. – disse Leonardo segurando-a pelos ombros fazendo com que ela o encarasse. — Eu preciso ir agora, mas eu prometo que logo voltarei.

 

         Eleonor concordou entre lágrimas, porém não falava nada, Leonardo não suportava vê-la daquela forma, julgou que ela estivesse em estado de choque, resolveu então perguntar a Achila se ela tinha forças para apagar aqueles eventos traumáticos da memória dela. Achila disse que sim e o fez, Eleonor voltou a dormir tranquilamente, em meio ao caos causado por Viana, como se nada tivesse acontecido.

 

— Achila, temos poucos minutos para retornar até a sala do trono caso contrario você renascerá. – disse Leonardo. — Tem alguma maneira de estarmos lá imediatamente? Não faço ideia de como vim parar aqui então também não tenho noção de como voltar, mas se você não conseguir, se não conseguirmos eu me torno imortal imediatamente e espero você ter a idad...

 

— Leonardo. – disse Achila pondo um dedo em seus lábios para que ele parasse de falar. — Se acalme! Sua memória é muito fraca, quantas vezes lhe expliquei como uma guardiã vai e vem? – disse ela segurando uma chave em um colar até então invisível e inserindo-o na porta do quarto de sua mãe, ao abrir a porta lá estava a sala do trono.

 

— É verdade! – exclamou Leonardo exultante de alegria. 

 

 

 

 

 

         Seguiram de volta para o Mundo dos Mortos levando Viana junto, Adalberon não gostou do estado que sua filha se encontrava, mas por sua experiência sabia que essa paralisia seria temporária. Entretanto a pedido de Leonardo Hector ordenara que Viana jamais saísse do Mundo dos Mortos, caso contrario estaria amaldiçoada a ficar naquele estado eternamente tão logo pusesse os pés no Mundo Mortal.

 

         Cumprindo com sua palavra Achila tornou a ser humana na idade em que aparentava ter assim que completou cem anos como guardiã.

 

         Partiram para o mundo humano tão logo puderam, Eleonor aguardava Leonardo como se ele tivesse apenas ido à casa de um amigo, pois de nada se lembrava, nem mesmo de já ter visto Achila ou de ter estado longe de Leonardo. Para ela Achila era uma jovem por qual Leonardo se apaixonara.

 

         Escolheram passar pelo ritual de imortalização ao completarem ambos vinte e três anos, idade que Achila tinha ao falecer em sua primeira vida há quatrocentos mil anos.

 

         Hector concedera a Achila a lembrança de tudo que havia vivido e aprendido anteriormente. Seus poderes permaneciam, com exceção à chave do portal. Dois meses depois Leonardo já havia identificado todos os seus poderes, e somente um surgira, o de fazer Achila sorrir. E esse era o mais usado. 

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