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Um Elo de Amor

Capitulo 1

... E eu vos declaro, marido e mulher...

 

– Não sei por que, mas sempre gostei dessa parte, pra mim, é a mais linda de todas, você não acha? - pergunta Joseane.

– Eu prefiro aquela que diz que eu irei amá-la na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, enquanto você for magra e mesmo se ficar gorda! – brinca Elixandro, abraçando-a e dando-lhe um beijo no rosto.

 

– Seu bobo! Não existe essa parte! – repreende Joseane entre risos.

– Então quer dizer que acabo de criar?! Preciso avisar aos padres do mundo inteiro que falta alguma coisa nesses votos de casamento! – responde Elixandro, enquanto puxa-a para o seu colo.

 

– Aposto que as noivas não vão gostar muito disso!

– Provavelmente você tenha razão, como sempre! – Elixandro desliga a televisão, levanta-se com Joseane em seu colo e diz: - Agora vamos que já está tarde, ficar aqui revendo nosso casamento não irá nos ajudar a acordar cedo, amanhã! – Chegando no quarto, coloca-a na cama e vai até o guarda-roupa pegar os lençóis, ao deitar-se do lado dela diz: - Acho que você deveria pensar melhor sobre esses votos que acabei de criar!

 

– Está querendo dizer o que com isso Elixandro?! – Pergunta Joseane fingindo-se de ofendida.

– Que você está cada vez mais fácil de carregar! – Defende-se Elixandro dando-lhe um beijo, e apagando a luz fala: - Agora chega de conversa mocinha, você precisa acordar cedo amanhã lembra-se?

 

– Então me abrace! Você sabe que durmo mais rápido assim! – Pede Joseane, aconchegando-se nos braços do seu marido.

– Não precisava nem pedir...

 

Elixandro e Joseane estão casados a dois anos, vivem em uma cidade pequena e tranqüila, ela é enfermeira em um asilo da cidade vizinha, ele, chefe do setor de tráfego em uma das maiores transportadoras do estado.

Há um ano e três meses tentam realizar seu grande sonho, ter um filho, mas infelizmente eles têm enfrentado algumas dificuldades, porém, suas vidas iriam mudar intensamente quando Joseane chegasse em casa na noite seguinte!

 

Elixandro, como sempre, chegou em casa por volta das 19hs, tomou um banho e foi até a cozinha preparar o jantar, Joseane chegaria dali a mais ou menos uma hora e meia. Era o acordo que haviam feito; durante a semana, por chegar mais cedo, ele prepararia o jantar deles, e, no final de semana, ela cuidaria de tudo para que ele descansasse e não fizesse nada durante o dia, acordo este que ele nunca cumpria! Ele sempre preferia ajudá-la para que, juntos, terminassem os afazeres rapidamente para assim terem mais tempo um para o outro. Era sempre esta, a sua desculpa!

Naquela noite, porém Joseane chegou mais cedo, Elixandro estava começando a preparar as coisas para fazer uma sopa quando Joseane chegou. Ao ouvir o barulho do carro entrando na garagem, foi até a porta para recebê-la.

 

– Meu amor?! Aconteceu alguma coisa? Você chegou tão cedo hoje!

E jogando-se em seus braços, respondeu:

 

– Sim, aconteceu! Mas não se preocupe! – Completou rapidamente, vendo sua cara de preocupado; - Eu que não agüentei esperar, tão pouco ligar, pedi para sair mais cedo, precisava lhe ver! Quase bati o carro na pressa! – Contou-lhe rindo como se acabasse de ouvir uma grande piada. –

– Minha nossa! Então conte logo Jo, você está me matando de curiosidade!

 

E depois de olhar-lhe por um tempo que para ele, pareceu uma eternidade contou:

– Hoje aconteceu a coisa mais maravilhosa de todas, meu amor!

 

– Ah! Pelo amor de Deus acabe logo com esse suspense menina conte de uma vez!

–Eu estou grávida! Eu estou grávida! Vamos ser papais! Vamos ter um bebê!

 

Elixandro levou alguns segundos para processar a informação, milhões de coisas passaram em sua cabeça. O sonho estava se tornando realidade!

Após o choque inicial, sem saber exatamente o que fazer ou o que dizer, beijou-a e a levantou nos braços girando-a pela sala. Ele adorava fazer isso, provocava em Joseane uma felicidade tão infantil que o fazia amá-la ainda mais, adorava ouvi-la rindo feito uma criança e em breve teria todo esse prazer duplicado.

 

– Essa é a noticia mais maravilhosa do mundo, meu amor! – Deitando-a no sofá e ajoelhando-se a sua frente, beijou sua barriga, provocando-lhe mais ainda aquela risada deliciosa. –

– Hoje pela manhã fiz um teste e deu positivo, eu sei que o ideal é fazermos outros para ter certeza, mas desta vez eu não tenho duvidas, meu amor!

 

– Precisamos dar uma festa! Do jeito que você gosta! Vamos chamar todo mundo para comemorar! Minha família, sua família, nossos amigos, a cidade inteira! Para que todos vejam o quanto minha mulher é linda com a barriguinha grande e o quanto estou feliz! Quero que todos tomem conhecimento da nossa felicidade!

– Vamos chamar todos! – Consentiu Joseane – Se é uma festa que você quer, uma festa iremos dar!

 

Entre lágrimas e sorrisos beijaram-se, um beijo que parecia nunca ter fim, tão intimo e profundo que se o desejo fosse fogo, toda a casa incendiaria naquela noite. Pegando-a nos braços, levou-a para o quarto, despiu-lhe o uniforme e a banhou lenta e tranquilamente, com tanto amor e carinho que nenhuma palavra seria suficiente para expressar tamanho sentimento, esqueceram-se de tudo o mais, e, nos braços um do outro, celebraram a realização de um dos seus maiores sonhos, perderam-se no tempo entre caricias e abraços, um amor lento e calmo como se alem de seus corpos, suas almas se amassem...

Capitulo 2

Naquela mesma semana Joseane fez uma ultra confirmando a gestação, e se surpreendeu ao saber que já estava na sétima semana. Elixandro a acompanhou no exame, e foi uma choradeira só quando o médico colocou-os para ouvir o barulho do coraçãozinho do bebê.

 

Saíram do consultório do Dr. Vaz e passaram em uma loja de bebê, comprando já o berço, o carrinho, a cômoda e quase todo enxoval do quarto do bebê, não se importando em se endividarem por um ano. A vendedora até se espantou quando disseram que estavam no início da gestação, pois geralmente as pessoas deixavam essas coisas mais pro final, mas não no caso deles. Eles estavam felizes demais pra esperar.

Elixandro e Joseane resolveram fazer uma surpresa. Convidaram os familiares e amigos para uma festa, sem contar o real motivo da celebração.

 

No dia marcado eles arrumaram a mesas nos fundos da casa e colocaram bolas azuis e rosas ornamentando o lugar. Até a piscina estava lotada de bolas. As toalhas das mesas tinham as mesmas cores das bolas. Os garçons serviam as bebidas e comidas em pratos e copos do mesmo tom da ornamentação.

Por mais que os convidados perguntassem o motivo da festa Elixandro e Joseane desconversavam ou davam alguma desculpa.

 

Duas horas e meia de festa já haviam se passado quando Elixandro bateu o garfo na taça em que ele bebia vinho.

- Queridos amigos e familiares. Eu e Jose pedimos um minuto da atenção de vocês.

 

- Eli vai colocar um vídeo - disse Joseane rindo - e nós gostaríamos que todos assistissem.

Ouviu-se um burburinho e olhares curiosos apontavam pro local onde fora estendido um painel branco.

 

Uma canção de ninar bebê começou e ai o vídeo da ultra iniciou. Muitos convidados, na maioria mulheres, já começaram a rir e a assoviar. Quando o momento do coraçãozinho do bebê batendo passou foi uma explosão de aplausos e parabéns. A felicidade de Joseane e Elixandro foi contagiante e todos os presentes compartilhavam da mesma alegria.

- Eu não acredito que você não me contou! - Joseane ouviu atrás dela. Era Virgínia. Sua melhor amiga há muitos anos. Elas eram como irmãs. Apesar de Joseane ser a caçula de seis irmãos. Os homens não são bons confidentes e ela sentia falta de uma irmã para compartilhar seus sentimentos.

 

Assim que Joseane e Virgínia se conheceram no ginásio, se tornaram inseparáveis. E desde então, não importa que rumo suas vidas tenham tomado, elas sempre dedicam um tempo, uma vez por semana pra se verem.

- Nós almoçamos juntas ontem. - reclamou Virginia, sorrindo.

 

- Desculpe amiga, mas fazia parte da surpresa.

- Eu não poderia estar mais feliz por você amiga. E eu já amo essa criança assim como amo você.

 

- Acho bom mesmo. Afinal você vai ser a madrinha.

- Eu? - os olhos de Virgínia se encheram de lágrimas - Ah Jose, não tenho nem palavras.

 

- Apenas diga "sim"!

- Ora, mas é obvio que Sim! - as duas se abraçaram. O celular de Virginia começou a tocar e elas se afastaram.

 

Quando Virginia olhou a tela e viu quem era, seu semblante mudou. Joseane a criticou com o olhar. E Virginia se afastou para atender.

Alguns minutos depois ela voltou.

 

- Joseane, me desculpe, mas eu tenho que ir embora.

- Já? Está cedo. Nem escureceu ainda.

 

- Eu sei, mas eu realmente tenho que ir. Você me perdoa? - Joseane segurou sua mão e se afastou dos demais convidados, ficando as duas isoladas num corredor, na lateral da casa.

- O que esta acontecendo?- perguntou Joseane.

 

- Era o Dom no telefone. Ele está um pouco irritado. Acho que andou bebendo. É melhor eu ir pra casa. Não quero problema com ele.

- Como você pode deixar ele te tratar dessa maneira Virginia?

 

- É complicado Jose. Nós já conversamos sobre isso. - elas se entreolharam - Mas não tem importância.

- Como não tem importância? Claro que tem...

 

- Jose, por favor, depois conversamos sobre isso. Seus convidados estão esperando e quanto mais eu demorar, mais irritado Dom vai ficar.

- Está bom, mas promete que me liga mais tarde. Quero saber que você está bem.

 

- Tudo bem, eu prometo, agora me deixe ir.

Elas se despediram e Joseane ficou observando Virginia se afastar. Mal ela havia saído no portão e Elixandro apareceu por trás de Joseane.

 

- Querida, todos estão perguntando por você - ele disse sorrindo, mas ao ver o rosto de Joseane, seu semblante mudou. - O que houve? Você está bem?

- Eu estou, mas Virginia... - e ao ver o olhar interrogativo do marido ela continuou - Mais tarde conversamos sobre isso. Agora nossos convidados nos esperam. - ela lhe deu um beijo e o puxou para a festa.

 

Mas duas horas se passaram até que todos haviam ido embora. Enquanto eles arrumavam o que sobrou da festa, Joseane contou pra Elixandro a conversa que havia tido com Virginia.

- Eu não entendo como pode haver homens que tratam suas mulheres assim. - Elixandro disse e Joseane concordou em silencio. E ao ver a expressão de preocupação da sua esposa ele acrescentou - A Virginia quem tem que dar um basta, querida. Enquanto ela não quiser, não podemos fazer muita coisa.

 

- Eu sei. - ela disse com um olhar triste.

Quando Virginia ligou, já passavam da meia noite. Sua voz estava apertada como se ela quisesse esconder que estivera chorando, mas Joseane a conhecia bem, e percebeu.

 

- O que esse imbecil do Dom fez? - Joseane gritava.

- Ele não fez nada Jose, nós só discutimos. - sua voz era quase um sussurro. – Eu estou bem.

 

- Droga Virginia!

- Eu juro Jose. Agora me deixe desligar antes que ele acorde. Semana que vem nos vemos, beijos. - e ela desligou.

 

 

As semanas que se seguiram Elixandro e Joseane, sempre que tinham uma folguinha, saíam pra ver coisas para o bebê. Se contassem os presentes que ganharam e o que já haviam comprado, poderiam ter trigêmeos.

 

Elixandro entrou de férias e ela pediu duas semanas de folga para viajarem juntos, já que depois que o bebê nascesse, ficaria mais difícil.

Quando eles retornaram de viagem Joseane foi fazer a ultra que o seu médico havia pedido. Eles ficaram tão radiantes em ver mais uma vez o bebê que mal prestaram atenção quando o médico disse que já havia passado uma semana do tempo limite pra averiguar o que o exame propunha. O médico no entanto afirmou que o bebê estava bem, e com tudo no lugar.

Os meses passaram rapidamente. Joseane já estava no oitavo mês de gestação. Elixandro a acompanhou em todas as consultas pré natais e todos os exames. Joseane estava tendo uma gravidez ótima, tudo estava perfeitamente bem. Aquele bebê aumentou mais ainda o amor que sentiam um pelo outro. As duas famílias estavam presentes sempre que podiam. O Baby nem havia nascido e já estava sendo mimado. Baby era a forma como eles carinhosamente chamavam, já que haviam decidido que não queriam saber o sexo antes do nascimento. Queriam que fosse surpresa.

 

 

Joseane estava no shopping almoçando com Virginia. Contara-lhe como Elixandro estava demonstrando que seria um ótimo pai. Virginia por sua vez, contou que Dom havia prometido mudar. Disse que ele não beberia mais e que conversaram sobre futuramente pensar em ter filhos.

 

Elas riam animadamente, quando Joseane sente um líquido quente escorrer por suas pernas. Sua expressão na mesma hora mudou de feliz para assustada.

- O que houve Jose?

 

- Minha bolsa estourou! – seus olhos estavam arregalados - Mas está muito cedo!

-Oh! Vamos pro hospital.

 

Ao se levantarem Joseane percebeu que junto ao líquido amniótico havia sangue. "Oh não Baby!" ela pensou. Seus olhos cheios de lágrimas.

- Virginia, avise ahhhhhhhhh - ela gritou com a dor que sentiu e suas pernas fraquejaram. Um segurança do shopping que estava próximo ajudou as a chegar até o carro.

 

Durante todo trajeto Joseane se contorcia de dor. E apesar de ser seu primeiro filho, ela sabia que algo estava errado. Aquela dor junto ao sangramento, não era normal.

Quando Virginia estacionou na porta do hospital, Elixandro, que havia sido avisado enquanto elas estavam no caminho, já as aguardava com dois enfermeiros e uma maca.

 

- Jose, como você está meu amor? - ele perguntou enquanto os enfermeiros a retiravam do carro. Assim que ele viu seu vestido todo sujo de sangue ele se apavorou.

- Tem alguma coisa errada Eli, por favor, nosso Baby. Ahhhhhhhhhh!

 

 

O Dr. Vaz já a aguardava na sala de parto. Os enfermeiros adentraram a sala com Elixandro ao seu encalço, segurando a mão de Joseane, mas ele foi convidado a sair, uma vez que o médico viu o estado em que se encontrava a paciente.

 

- Sinto muito Sr Tavares, mas o Sr terá que aguardar lá fora. – o enfermeiro disse enquanto forçava Elixandro a sair do centro cirúrgico.

- Eu não vou aguardar lá fora. Ela é a minha esposa. E este é o meu bebê.

 

- Sinto muito mesmo. Se tem alguém que pode ajudar sua esposa neste momento é o Dr. Vaz. - e o enfermeiro fechou a porta deixando Elixandro parado sem saber o que fazer.

Ele vagou pelo corredor próximo a sala de parto, de um lado para outro, totalmente absorto em seus pensamentos. Ele olhava para Virginia que agora estava acompanhada de Dom, um homem sempre carrancudo. Dom cumprimentou Elixandro apenas com um aceno de cabeça enquanto uma de suas mãos descansava possessivamente no ombro de Virginia. Ela por sua vez chorava aguardando noticias da amiga.

Duas horas se passaram e ninguém tinha vindo dar noticias. Elixandro já perdera a calma por duas vezes cobrando por alguém que lhe dissesse alguma coisa, mas a única resposta que obtinha era pra que fosse paciente e aguardasse.

 

Duas horas e meia depois, uma assistente social e uma enfermeira vieram informar a Elixandro que a pediatra gostaria de conversar com ele.

- Mas e a Joseane? Como e onde ela está?

 

- Sr ela ainda esta com o Dr. Vaz. Mas a pediatra precisa falar com o Sr e nos pediu para acompanhá-lo até o berçário.

- Pode ir, se o médico aparecer ou a Joseane, eu peço Dom pra ir chamá-lo no berçário. – Dom consentiu e ainda relutante Elixandro acompanhou a enfermeira até o berçário.

 

 

A Dra Soares o aguardava, com alguns papéis na mão.

 

- Olá Sr Tavares. Por favor, sente-se. Eu sou a pediatra Dra Soares – ela apertou a mão dele.

- Onde está meu bebe? – Elixandro olhava para os lados procurando.

 

- Ela já vem. Estão fazendo alguns procedimentos de praxe.

- Ela? Então é uma menina?

 

- O Sr não sabia?

- Não! Preferimos, eu e minha esposa, esperar a surpresa.

 

- Sr Tavares, sua esposa fez o pré-natal?

- Sim. Eu mesmo a acompanhei em todas as consultas e exames.

 

- Entendo! Sr nós examinamos sua bebê ela nasceu com uma síndrome, que normalmente seria detectada num ultrassom feito na décima segunda semana. A sua esposa fez esse exame.

- Síndrome? Que Síndrome? – ele estava confuso - Ela realizou todos os exames.

 

- Nós estamos fazendo mais exames Sr Tavares, mas acreditamos que sua bebê tenha Down. – Elixandro ficou por alguns momentos pensando naquelas palavras. Ele olhou bem no olho da pediatra.

- Não tem problema. Ela é minha filha. Minha Baby será a criança mais amada do mundo, por mim e pela minha esposa. Eu quero ver minha filha agora, se for possível.

 

- O Sr tem ciência de todos os cuidados que uma criança com Down precisa Sr Tavares?

- É claro que tenho. E ela terá e também terá tudo que qualquer outra criança no mundo tem. Agora eu quero ver minha filha. – e a pediatra fez sinal pra enfermeira trazer a bebê.

 

Ao pegar Baby nos braços Elixandro chorou. Mas ele não chorou por sua filha ser portadora de Síndrome de Down, e sim por que ela era, aos seus olhos, perfeita!

- Oh Meu Deus, como ela é linda! – ele encostou seu nariz no da bebê – Você vai se chamar Verônica.

 

Ao levantar a cabeça e olhar para o lado de fora do berçário, Elixandro viu Dom, que acenou com a cabeça e estava mais sério e carrancudo que o de costume. Elixandro entregou Verônica à pediatra.

- Hã, minha esposa...ainda está na sala de parto...

 

- Pode ir Sr Tavares, nós cuidaremos de Verônica. Antes de ir, por favor, assine aqui. Esta é a pulseirinha de identificação dela.

Ao sair do berçário Dom avisou a Elixandro que o médico lhe chamara.

 

Ao chegar à porta do centro cirúrgico, Elixandro viu que Virginia chorava.

- O que aconteceu? Onde está Joseane? – ele olhava do médico para Virginia e ela não levantou a cabeça para encará-lo.

 

- Sr Tavares venha até minha sala, para conversarmos.

- Eu não vou a lugar nenhum até ver Joseane, onde está minha mulher?

 

Muito relutante o médico disse:

- Sinto muito Sr Tavares. Ela teve uma hemorragia, e nós fizemos de tudo para conter, mas ela não resistiu. Sua esposa faleceu.

 

O coração de Elixandro se partiu em milhões de pedaços. Ele caiu de joelhos na frente do medico com as mãos no rosto e chorou de soluçar. A mulher que ele amava estava morta e agora ele teria que criar a pequena Verônica sozinho.

Capitulo 3

Eli observava a pequena Veronica dormindo em seu bercinho, no tranquilo quarto que Joseane amorosamente preparara para recebê-la.

 


Ela era linda, e Elixandro não conseguia deixar de admira-la!


Olhar para ela fazia-o pensar em o quanto esperara para se tornar pai. Mas em seus sonhos, Joseane estava ali, com eles, naquele quarto, vivendo o momento que eles haviam esperado por oito meses, e mesmo antes da gravidez, eles já sonhavam com o momento que seriam pais!

 


Certa vez, ela lhe dissera o que sonhava em ter uma filha e dar o nome de Verônica. Todas as suas bonecas tinham esse nome, e esse era o nome que ela queria dar para sua filha!


E agora a sua Veronica tinha finalmente chegado, mas Joseane não sabia...

 


Joseane havia sido enterrada ha treze dias, e ele ainda não podia acreditar! As vezes ainda a chamava pela casa, e então vinha a lembrança dos últimos acontecimentos.

Ele a havia perdido!

 


Nessas horas, ele se sentia sufocar, e a dor era tão grande que Eli tinha vontade de morrer também... Mas ele tinha Veronica, um eterno pedacinho de Joseane, sua mulher, seu amor, sua vida!


Veronica havia recebido alta da maternidade naquela manhã. Havia nascido com 1.800 kg, e a Pediatra informara que ela precisaria ficar para ganhar peso. Aquilo lhe cortou mais ainda o coração já quebrado! Ele precisava da filha. Precisava tê-la com ele, na casa onde a mãe dela vivera, e onde eles haviam sido tão felizes!

 


Mas não havia sido possível, e ele se curvara á necessidade de ficar com ela no hospital este período.


Ela era uma menina doce e calma... Com uma exceção: Ás vezes ela parecia sentir que algo, alguém, estava faltando. Ela chorava a plenos pulmões, e era um choro tão sofrido que por vezes Elixandro se pegara chorando com ela enquanto tentava conforta-la!

 


Ela havia sido examinada, e a Pediatra lhe dissera que não havia problema com ela; Veronica não sentia dor. Mas Elixandro sabia que seu pequenino coração sentia a falta de Joseane, a mãe que ela não conhecera. E ele sabia disso porque conhecia essa mesma dor, essa saudade!


Ele aproveitara esse tempo no hospital para ler e perguntar tudo sobre síndrome de Down.

 


E os dias foram se passando, e hoje ela finalmente estava em casa.


-Vamos, papai... Está na mesa! – Ele se virou ao som da voz, para ver Virginia chamando-o da porta.

 


Ela estava sendo uma grande amiga desde a morte de Joseane. Durante o período de namoro, noivado e casamento com Josi, Elixandro conhecera e convivera com Virginia, mas ela era amiga de sua esposa, e não dele!


Elas eram irmãs, Joseane dizia.

 


E ele pudera sentir a profundidade desse laço nesse período difícil. Virginia estava quebrada, ele podia ver, mas não só providenciara todas as coisas necessárias para o enterro, como estava auxiliando-o além do imaginável com Veronica!


Ele sorriu levemente para Virginia, e checando mais uma vez a filha, pegou a babá eletrônica e saiu do quarto. Na cozinha ele encontrou a mesa posta com uma farta refeição.

 


-Você não precisava se preocupar, Virginia...


-Por favor, Elixandro. Eu quero fazer isso... Quero estar com vocês, estar com a nenen...

 


Ele sorriu novamente, agradecido, e puxou a cadeira para ela, sentando-se em seguida. Começaram a comer em silencio, até que Eli abordou um assunto que há alguns dias queria falar.


- Virginia... Bem, eu não sei realmente como dizer isso sem parecer ingrato ou qualquer outra coisa... Bem, a Josi antes de... – Era muito difícil dizer a palavra. Fazia parecer tão real, tão conclusivo! – Ela estava preocupada com você... Desculpe, eu não quero me intrometer, mas durante esses dias você tem estado constantemente a nossa volta, cuidando de nós, tornando isso o mais fácil possível, e Dom...

 


Elixandro foi interrompido pela mão de Virginia sobre a sua, oferecendo conforto.


- Não se preocupe com isso, Eli. Josi era minha irmã, minha amiga, minha confidente! Ninguém jamais poderia me fazer abandonar seu esposo ou sua filha em um momento como esse.

 


E os dois ficaram em silencio, ambos lembrando da grande mulher que Joseane fora!


E assim as semanas e os meses se passaram, e Elixandro foi se acostumando a ser um pai solteiro e moldando seu dia a dia às necessidades de Veronica.

 


Eles tinham praticamente uma equipe médica a atender sua filha: Oftalmologista, pediatra, ortopedista... Era uma grande lista, mas Elixandro daria tudo e qualquer coisa pelo desenvolvimento e bem estar de sua pequenina!


E Veronica completou seu primeiro ano de vida. Para Elixandro era complicado festejar, mas Virginia o convencera de que Joseane iria querer isso! Ela amava festas! E Eli não pode ir contra esse argumento.

 


Alguns dias depois Virginia desapareceu! Sem explicações, sem despedidas. Todos sabiam que Dom a maltratava, e diversas vezes Joseane a aconselhara a tomar uma atitude em relação a isso. Em algumas conversas com ele, Josi deixara no ar que havia violência física, mas era algo que mesmo ela somente supunha!


O fato é que Dom viajou para fora de Natal em um dia, e quando voltou Virginia havia ido embora! Ele ficou louco e prometeu que a encontraria não importando quanto tempo passasse...

 


Cada dia, cada semana, cada ano que se passava era de aprendizagem e superação para Eli!


Um dos grandes desafios para Eli, foi tomar a atitude de se mudar pela educação de Veronica.

 

Não queria deixar para trás sua casa e as memórias que moravam nela, mas Veronica havia completado cinco anos, e ele pesquisara incansavelmente, em busca de uma escola que suprisse as necessidades da filha.


E ele a encontrara! Em Florianópolis, Santa Catarina, havia uma escola extremamente conceituada.

 


Elixandro visitara a escola antes de se decidir, e aprovou o que viu! As instalações eram excelentes, o corpo discente era competente e respeitado. As crianças era felizes e bem cuidadas, e ele conversara com vários pais, que confirmaram as impressões que ele teve da escola e declararam sua confiança na instituição!


Aquilo para ele era o que bastava.

 


Providenciara sua transferência no emprego, empacotara a mudança e trouxera Veronica para o novo lar!


E o grande dia chegara!

 


Ele acompanhou a filha ate a sala de aula, sentindo-se tão orgulhoso e ao mesmo tempo tão triste porque sua menininha estava crescendo!


A Professora virou-se com um sorriso carinhoso de boas vindas, e ele imediatamente a reconheceu.

 


-Virginia!

Capitulo 4

Elixandro teve que esfregar os olhos para compreender o que estava vendo , Virginia estava aqui, em Florianopolis . E ela era a nova professora de Veronica! Ela o olhou e ficou parada com a expressao de surpresa em seu rosto , ela estava diferente , seu cabelo, antes castanho escuro, agora estava com luzes , o corte tambem havia mudado , mas o que o chamou mais atenção foi o seu rosto , ele nao saberia dizer o que mudou, mas ela parecia ... Feliz ! Sim, era isso , tinha um brilho em seus olhos que ele nunca havia notado antes , claro ele sempre foi apaixonado por Joseane e nunca, em hipotese alguma reparava em outra mulher , nos 5 anos que se passaram ele se trancou para a vida sentimental , seu foco e atenção eram todos para Veronica , mas ao olhar para Virginia algo mudou, hoje ele pode reparar o quanto ela era linda. Realmente linda.

 

Virginia nao podia acreditar na peça que o destino lhe pregara. Ela havia fugido , fugido de Dom e da vida miseravel que vivia com ele , apos a morte de Joseane , ela ainda aguentou por mais um ano para poder ajudar Elixandro a cuidar de Veronica , mas apos mais uma briga com violencia bruta de Dom, ela resolvera fugir , simplismente sumir , começar uma vida nova, era isso que sua melhor amiga Joseane sempre a aconselhava, e ela seguiu seu ultimo conselho.

Sabia que fora errado sumir completamente da vida de Elixandro e Veronica, mas ela sabia que ele era um bom pai e que iria cuidar perfeitamente de Veronica dando todo apoio e carinho para ela, mas ela tambem nao poderia mais manter contato, sabia que Dom por ser um policial, seria capaz de grampear telefones e e-mails, ele tinha muitos contatos dentro da policia, coisa de alto escalão , não seria dificil , ela nao poderia arriscar. Por isso tomou uma das decisoes mais dificeis da sua vida , se afastar de Veronica. Ela amava aquele bebezinho e sempre pensou que acharia um jeito de ve-la novamente , e por um acaso do destino, ela agora seria sua aluna.

 

- Elixandro ? - Disse ela com uma voz supresa - Meu Deus , é voce mesmo ? - e ela nao pode se conter e deu um abraço apertado nele, ja se passara 4 anos desde que o viu pela ultima vez , eles nao eram amigos , mas ao longo do ano que ela o ajudou eles haviam se aproximado um pouco e ela sentia sua falta .

- Virginia Meu Deus , quanto tempo ! O que aconteceu com voce ? Voce sumiu , achei que nao a veria novamente - ele falou tao rapidamente que ela quase nao entendeu o que ele disse . Quando ela ia responder , sentiu um leve puxão em sua saia , olhou para baixo e viu que Veronica estava chamando a sua atenção, ela nao podia acreditar que estava vendo Veronica novamente , seus olhos se enxeram de lagrimas quando ela abaixou e pegou a menina em seu colo

 

- Veja so voce, como esta grande e linda - Ela disse beijando o rosto de Veronica, lagrimas escorriam por seu rosto

- Me desculpe abandonar voce, eu senti muito a sua falta, mas todos os dias eu pensava em voce - a menina entao , limpou o seu rosto com a maozinha , aquele gesto simples, encheu seu coração de amor

 

- Voce se lembra de mim ? Eu era , quer dizer eu sou a melhor amiga da sua mae , meu nome é Virginia e agora eu vou ser sua professora - disse ela tentando se recompor

- Virginiaaaaaa - disse Veronica animadamente , ela ja estava mais a vontade no colo de Virginia, estava ate alisando os cabelos dela. Muito relutante ela colocou Veronica no chao.

 

Elixandro estava olhando para ela e parecia que ele via em seu interior , dentro de sua alma, ela sabia que ele teria muitas perguntas , mas o sinal ja havia batido e ela precisava entrar na sala

- Eu sei que tenho que te explicar algumas coisas, mas creio que podemos deixar para a hora da saida nao é mesmo ? Voce vem busca-la ou tem mais alguem que pode busca-la tambem ? Ela tentou ser o mais natural possivel, mas por alguma razao que ela nao pode explicar , ela queria saber se ele havia arrumado outra pessoa .

 

-Não ! - Ele disse rapidamente - Somos so eu e minha princesinha ! -

Ela sorriu e esperou ele se despedir de Veronica , o carinho e amor que ele transmitia era incrivel e quase palpavel. Ela viu lagrimas em seus olhos e tratou de acalma-lo.

 

- Elixandro, fique tranquilo, tratarei dela com todo amor disponivel em meu coração , o primeiro dia é dificil , mas logo logo tanto voce, quanto Veronica irao se acostumar - , ele sorriu e ficou parado mais alguns instantes vendo Veronica se enturmar rapidamente com uma amiguinha de sua sala

- Eu sei que voce vai cuidar bem dela - ele disse emocionado e saiu .

 

Virginia nunca esteve mais feliz por ter se especializado em pedagogia para portadores da Sindrome de Down, apos fugir de Dom, procurou uma faculdade e fez o curso pensando em Veronica, ela poderia ajudar crianças especiais como ela.

O dia passou arrastado, Elixandro mal pode se concentrar na explicação que o seu novo gerente estava lhe passando, ele estava pensando em Veronica "Sera que ela se adaptou bem? " , "Sera que chorou, que comeu ou domiu ? " , ele tambem estava pensando em Virginia, na coincidencia louca de encontra-la tao longe de casa e ele nao conseguia deixar de pensar em como ela estava linda.

 

No final do dia foi buscar Veronica, ficou esperando na porta ansioso para ve-la , quando Virginia a trouxe ele deu um abraço apertado nela

- Minha princesinha, como foi o seu dia ? Voce gostou ? - ele perguntou ansioso

 

- Eu brinquei papai, fiz novos amiguinhos - ela disse entusiasmada

- Entao voce ja fez amiguinhos? Que noticia boa ! - ele a estava girando em seu colo. Ele entao olhou para Virginia. Por que toda vez que ele a olhava ele se sentia estranho ? Mas estranho de uma maneira boa , ele nao conseguia entender.

 

- O dia dela foi otimo, ela é uma menina encantadora, estou ainda mais apaixonada por ela - disse Virginia claramente a admirando. - Voce esta morando por aqui perto ? Se voce quiser podemos conversar hoje a noite , mas vou entender se voce quiser deixar para outro dia sei que voce esta cansado por conta de toda essa mudança ... - ela completou sem graça.

- Hoje seria perfeito Virginia, eu moro a 10 minutos daqui - Ele colocou Veronica no chao , pegou um cartao e escreveu seu endereço atras dele - As oito pode ser ? - Ele perguntou

 

-As oito esta perfeito , te vejo la - respondeu ela com um sorriso entusiasmado - Tchau princesa - ela deu um beijo em Veronica

- Tchau tia Virginia - e com isso eles se foram.

 

" Se acalma, se controla " pensou Virginia ao estacionar o carro em frente o endereço que Elixandro havia dado a ela. "Pelo amor de Deus , ele é um conhecido, nao precisa ficar tão nervosa assim " , ela se repreendia

Desceu do carro, arrumou seu vestido e tocou a campanhia , ele imediatamente atendeu a porta

 

- Oi , pode entrar, acabei de colocar a Veronica para domir , voce esta com fome ? Preparei uma comida para nos , só nao repara, nao cozinho tão bem quanto a ... - ele parou de repente - deu um sorriso timido e disse - Joseane -.

- Ela sempre cozinhou bem ne ? - Disse ela ja sentando em um banquinho na cozinha

 

- Voce aceita uma taça de vinho ? - Ele ofereceu ja pegando o Merlot na sua pequena adega climatizada

- Sim, por favor - ela respondeu

 

Um silencio estranho pairou pela cozinha , ficaram assim por alguns minutos enquanto ele terminava o jantar , ela ja havia se oferecido a ajudar mas ele gentilmente recusou a oferta , apos algum tempo ele diz

- Eu ainda sinto a falta dela , e acho que eu sempre vou sentir -

 

- Eu tambem sinto , sempre , tenho a sensação que a algo faltando , um vazio - a voz dela claramente emocionada

- O que aconteceu Virgnia ? Por que voce sumiu derepente ? - Ele perguntou parecendo intrigado

 

A mudança rapida no assunto a pegou de surpresa, mas ela precisava contar a alguem, vinha guardando esse segredo a tanto tempo, seria bom desabafar, e tambem devia isso a ele.

Ela entao contou a historia toda pra ele, contou que tinha receio de Dom a seguir, descobrir seu paradeiro, na ultima briga ele havia a ameaçado de morte , ela nao poderia arriscar, e entao contou que fez a especialização pensando em Veronica e resumiu seus ultimos anos em Floripa , ele tambem contou como foram esses anos cuidando de Veronica, nas dificuldades que enfrentou e no preconceito que Veronica sofria , mesmo sem entender. Conversaram durante o jantar, que alias foi muito elogiado por Virginia, todos esses anos como pai solteiro aprimorou seus sotes culinarios, ela o ajudou a lavar a louça e ja parecia que os dois nao haviam ficado tanto tempo sem se ver assim .

 

- E voce, nao decidiu se casar denovo ? - ele disse secando um prato, parecendo desprentencioso . Ela ficou surpresa com a sua pergunta

- Nao, estive fechada para balanço por todos esses anos , precisava cuidar mais de mim - Ela disse enxugando as mao , nao a pergunte por que mas ela gostou de saber que ele estava curioso sobre a sua vida amorosa, mas logo que percebeu essa estranha sensação , pegou a sua bolsa e disse que tinha que ir, embora ela quisesse ficar mais com ele, tinha que ir embora colocar as ideias em dia

 

- Foi um dia intenso - disse ela sorrindo - Obrigada pelo jantar, estava maravilhoso, nos vemos amanha na escola. Tchau Eli - ela deu um beijo em seu rosto e saiu, sem antes ouvir ele chamar seu nome , ele se virou e ele disse :

- Eu realmente adorei ver voce denovo - e sorriu !

 

Os meses foram passando e a rotina de Elixandro se resumia em levar Veronica para a escolinha, trabalhar, buscar a Veronica, cuidar dela e coloca-la para dormir , e mesmo com a Virginia o ajudando de vez em quando indo em sua casa para arruma-la ou preparar uma comida mais elaborada , ele estava exausto.

-Nossa, voce parece pessimo - Disse Virginia em uma manha quando ele foi levar a menina para escola ,

 

- Sim eu sei, estou muito cansado , desde que nos mudamos nao tenho uma folga , minha mae vai passar uns dias aqui comigo no mes que vem , mas ate la vou ter que aguentar- ele disse desanimado.

- Por que nao vamos ate o lago esse fim de semana ? Tenho uma amiga que tem um chale por la , tenho certeza que ela me emprestaria por dois dias e sei que Veronica vai amar o contato com a natureza ! Vamos ? - Virginia perguntou entusiasmada , desde que Elixandro mudara para Florianopolis , eles estavam mais proximos do que nunca e ela sempre queria ele e Veronica por perto.

 

- Nossa que otima ideia, minha princesa vai amar mesmo, ela ama os animais e as florestas , e eu preciso descansar mesmo - Ele concordou animado

Final de semana chegou e eles foram com o carro de Elixandro ate o lago, Veronica estava muito feliz , so falava em brincar com os "bichichinhos", o chale era muito agradavel, de madeira, um estilo bem rustico, mas que de alguma forma fazia Elixandro se sentir em casa . O local tinha 2 quartos pequenos, uma cozinha minuscula e uma sala com lareira, tudo bem aconchegante !

 

Ele estava retirando as coisas do carro , quando parou para ver Virginia brincando com Veronica , elas davam risadas e Elixandro ficou admirado com o amor que Virginia dava a Veronica, Joseane ficaria muito feliz em saber que a melhor amiga amava sua filha como se fosse filha dela. O coração de Elixandro se apertou , sabia que estava se apaixonando por Virginia, a aproximação deles foi tão natural, que quando ele percebeu ja era tarde , seus pensamentos e desejos eram todos para ela , mas ele pensava que ao se declarar para ela, estaria manchando a imagem de Joseane , sua mulher tao amada , como as outras pessoas reagiriam a esse romance, sera que Joseane guardaria alguma magoa dele de onde quer que ela esteja ? E Virginia ? Sera que corespondia a esse amor ?

Ele continuou as observando até que Virginia levantou os olhos e o viu , ela deu um sorriso que abalou todos os sentidos dele " Senhor, eu sei que pode ser errado e inapropriado, mas se tu me amas, faz essa mulher me amar por favor, ela é a mulher certa para mim e sera uma otima mãe para Veronica " , pensou ele com todas as suas forças .

 

"Estou perdida " pensou Virginia , com tantos homens no mundo fora se apaixonar pelo marido da sua melhor amiga, " Joseane deve estar me xingando do ceu " , por todos esses meses ela tentou nao se envolver , ficava negando a si mesmo que so ia na casa dele para ver Veronica, mas la no fundo ela sabia a verdade , queria estar perto de Elixandro tambem, ela pode conhece-lo melhor , saber do que ele gostava, do que ele odiava , e o amor foi crescendo , da maneira mais linda e pura que um amor pode ter , ela se sentia bem ao lado dele e de Veronica, pela primeira vez se sentia parte de uma familia e ela queria cuidar dos dois, cuidar de Veronica , dar todo amor e carinho possivel para ela, e ela queria entregar seu coração a ele, mas sabia que o coração de Elixandro estava fechado, e que ele jamais se apaixonaria por ela, ele seria um amor impossivel e ela ja estava conformada disso .

A noite chegou e eles haviam acabado de colocar Veronica para dormir, ela estava exausta, havia passado a tarde toda correndo de um lado para o outro atras dos animais, coitados , ela nao os deixou em paz . Elixandro e Virginia estava tomando uma taça de vinho em frente a Lareira, conversavam animadamente contando os casos do passado , as historias engraçadas , a memoria de Joseane estava presente em todos os momentos , eles sentiam saudades, mas agora era uma saudade de boas memorias, do amor que ela passou para eles, e Elixandro estava feliz, feliz por ter conseguido viver alguns anos ao seu lado, feliz por ela ter dado a luz a uma princesinha antes de morrer, era o seu presente para ele , e ali sentado ao lado de Virginia ele soube, era hora de seguir em frente , e olhando para aquela mulher linda ao seu lado ele sabia, era com ela que ele queria ficar.

 

Virginia olhava fixo para a lareira , Elixandro estava quieto a observando, o silencio entre eles era acolhedor, nem um pouco constrangedor , pela primeira vez em anos ela se sentia segura e protegida e adora isso , quando ela poderia imaginar que estaria aqui nesse chale com Elixandro e Veronica, ela seu um sorriso.

- No que esta pensando ? Perguntou ele .

 

- Em como o destino vive nos pregando peças , em como é estranho estamos aqui nesse lugar - disse ela ainda olhaando para a lareira. Ele serviu mais um pouco de vinho , puxou o queixo dela com o dedo ate que ela estava de frente para ele , os olhos fixos nos seus

- Foi o destino que trouxe voce para mim Virginia - e com isso a beijou, de uma maneira lenta e deliciosa. Os labios de Virginia tinha gosto de vinho e mel , sua lingua dançava em movimentos suaves e tranquilos , em algumas noites ele fantasiava sobre beija-la, mas isso era infinitamente melhor , ele estava se perdendo em seu beijo , mas ele tinha uma unica certeza, nao queria e nao poderia mais parar de ama-la.

 

Virginia nao podia acreditar no que estava acontecendo, e nao poderia estar mais feliz , aquele beijo acendeu nela todas as emoções que ela vinha guardando em seu coração, Elixandro a beijava com ternura , explorava sua boca com delicadeza, ela nao queria que isso acabasse, mas sua consciencia a estava incomodando, nao queria trair a memoria de sua amiga , com muita dificuldade se afastou do beijo , colocou sua testa na testa de Elixandro ,

- Me desculpe, nao sei o que me deu, meu Deus voce é o marido da minha melhor amiga, nao posso fazer isso com ela - disse ainda ofegante , ele a olhou e disse

 

- Virginia, eu estou apaixonado por voce , eu tentei lutar muito contra esse sentimento, acredite, mas eu nao posso mais esconder isso, e se voce nao puder me amar de volta eu vou entender, mas voce precisava saber disso, e eu tenho certeza que de onde Joseane estiver ela vai nos abençoar, ela sabe do seu amor incondicional por Veronica e do meu amor por voce-

"Ai meu Deus " Virginia pensou, isso nao poderia ser possivel , ele a amava ? Ele correspondia seus sentimentos ?

 

- Voce esta apaixonado por mim ? - Perguntou ela incredula

- Sim estou , e estou morrendo aqui sem saber o que voce sente por mim tambem - sua voz parecia apreensiva

 

- Eu tambem - disse ela sorrindo ,

- Voce tambem esta apreensiva ? - perguntou ele

 

- Nao, eu tambem estou apaixonada por voce - ele sorriu e voltou a beija-la,

- Deixe-me te amar Virginia - disse ele em seu ouvido , a voz rouca de desejo,

 

-Sim, me ame Elixandro - respondeu com a voz tao baixa que mais parecia um susurro. E entao eles fizeram amor, lento e carinhoso, se descobrindo, se amando, deixando de lado todas as reservas e preocupações !

Um mes tinha se passado desde a viagem ao lago, Virginia e Elixando haviam combinado em serem namorados por enquanto, ela decidiu que deveria ir com calma , apesar dele afirmar que ja se conheciam o suficiente para morarem juntos. A mae de Elixandro veio passar alguns dias com ele e Veronica e ele ja havia contado para ela , Virginia no começo ficou apreensiva, mas Dona Helena foi super compreensiva e apoiou o relacionamento dos dois.

 

Tudo estava indo perfeitamente bem, ela tinha um bom emprego , tinha Veronica e tinha Elixandro. Ela nao poderia estar mais feliz , naquela noite, a mae de Elixandro ficaria com Veronica e os dois sairiam para um jantar romantico, ela havia se arrumado toda, feito cabelo e maquiagem e ficou esperando ele chegar, a campanhia tocou e ela toda sorridente foi abrir a porta, mas seu mundo parou no momento seguinte, quando viu que nao era Elixandro vindo busca-la para jantar .

Era ele, o seu maior pesadelo, Dom , ele a achou ...

Final

– Boa Noite minha linda! – cumprimentou cinicamente – Nossa! – Exclamou olhando-a dos pés a cabeça – Tenho que admitir que você caprichou desta vez, por um acaso pressentiu que eu chegaria e se arrumou toda assim pra mim princesa? – E entrando casa adentro falou – É... Você sabe se esconder muito bem! Aprendeu direitinho né, mas tem uma coisa minha querida, foi comigo que você aprendeu e nem sonhe ter capacidade de me superar, eu disse pra mim mesmo que iria te encontrar!

 

 

Virginia estava completamente paralisada temia que esse dia chegasse, e agora que havia chegado não encontrava forças para fazer o que prometera caso Dom a encontrasse, que era fugir novamente! Diante dele lembrou-se de todas as vezes que ele batera nela, de todas as vezes que tentara em vão fugir de sua vida, de todo o tempo perdido por causa dele, mal conseguia acreditar que um dia amara aquele homem! Não sabia por que aguentou tudo aquilo por tanto tempo.

 

Puxando-a pelos cabelos perguntou – Me diga quem é o desgraçado com quem você esta saindo? Você é minha Virginia, e eu não admito dividi-la com mais ninguém me entendeu?!

Virginia assentiu. Eli! Ele chegaria dali a pouco tempo – Pensou. – O que Dom faria ao vê-lo? Precisava tirá-lo dali o mais rápido possível!

 


– Não há ninguém Dom, eu estava me preparando para sair com umas amigas minhas somente!


– Sua vadiazinha! Eu aqui sofrendo por você e você saindo com suas amiguinhas pra caçar na noite! Venha vamos embora você ficara comigo vinte e quatro horas de agora em diante, não vou perder você de vista outra vez meu amor.

 


Virginia não demonstrava resistência alguma, embora soubesse o que fazer. Depois de fugir de Dom, matriculara-se em um curso de autodefesa e a todo o momento imagens de seu professor lhe vinham à cabeça “Você pode vencer qualquer pessoa é só usar a cabeça, a força sempre perdera para a inteligência Virginia, concentre-se, não importa quão maior que você eu seja ou se você é muito ou pouco menor que eu, você pode encontrar uma maneira de ganhar.” Sim, Virginia sabia exatamente o que fazer mas precisava a todo custo sair dali só então poderia fazer algo.


Dom a levou para seu carro – Entre – Ordenou. O desespero abateu-se sobre ela, deu um passo atrás e tentou falar com Dom, ele por sua vez colocou a mão em sua cabeça e a empurrou para dentro do carro como se fosse alguma criminosa que ele acabara de prender.

 


Procurava a todo custo achar uma solução, Dom era policial saberia muito bem como a esconder sem que ninguém mais a achasse, ela sabia como eles pensavam e ela teria que sair dessa sozinha.

Dom deu a volta e deslizou ao seu lado, pegou uma algema no porta luvas e a algemou na porta do carro.

 


– Não se preocupe querida, isto não ira te machucar é só para o caso de você tentar fazer algo que não deva. – Quando Dom preparava-se para sair Elixandro apareceu, imediatamente percebeu que algo estava errado, dirigia-se até entrada da casa de Virginia que encontrava-se com a porta aberta quando a viu dentro do carro de Dom. Correu até ela mas Dom já havia saído, voltou correndo ao seu carro e pôs-se a persegui-los. Era noite e o transito estava tranqüilo. Dom corria para despistar Elixandro.

Dentro do carro, Dom gritava com Virginia

 


– É com ele que você ia sair Virginia?! Você não tem vergonha na cara?! Sua invejosa desejando o tempo inteiro o marido da amiga. – ele puxou seu cabelo - Bem que eu sempre suspeitei de vocês dois.


– Deixe de loucura Dom não há nada entre nós dois, apenas ele veio me visitar – falou com uma calma totalmente falsa.

 


– Cale a boca! Poupe-me das suas mentiras... Eu sei muito bem o que há entre vocês, eu não cheguei agora querida faz um tempinho que estou lhe observando.


Virginia preferiu ficar quieta, e não provocá-lo. Dom dirigia agora a uma velocidade de 120 km/h e Elixandro acompanhava-os de perto. Cada vez se tornava menor a distancia entre eles. Vendo que estavam pareando Dom jogou o carro para cima de Elixandro. Virginia tenta de todas as formas acalmá-lo tentando esconder que ela mesma estava apavorada.

 


– Dom vamos parar para conversar não adianta nada correr, ele esta na nossa cola então vamos conversar só.. - Dom a ignora, já impaciente Virginia se põe a gritar com ele – Pare esse carro Dom, isso não faz sentido algum, pare Dom, pare esse carr.. – Dom irritado a empurra a cabeça de Virgínia contra o vidro do carro fazendo com que ela desmaie.


- Assim está melhor! Calada. – Dom resmunga.

 


Elixandro ao ver isso acelera, ainda mais, chegando a emparelhar com eles. Dom joga o carro para cima dele novamente, e por reflexo Eli desvia isso faz com que o carro de Dom passe por cima do canteiro e acabe capotando. Desesperado Eli para o carro e sai correndo em direção ao outro para tentar socorrer Virginia que estava toda ensangüentada e ainda desmaiada. Poucos minutos depois Virginia recobra a consciência e percebe que Elixandro esta tentando acordá-la, queria retira-la dali, mas tinha medo de que ela tivesse quebrado algo e piorar a situação dela


– Eli! O que houve?!

 


– Ah! Graças a Deus que você acordou. Está bem? Consegue andar? – Virginia mexe a perna e assente com a cabeça – Ótimo, então vamos sair daqui. – Ela levanta a mão e mostra seu pulso preso pela algema.


– A chave está no bolso dele. Aquele, pegue!

 


Elixandro deu a volta e começou a procurar a chave das algemas quando ele achou e retirou as algemas que prendiam Virginia a Dom ele acordou.


– Saia daqui seu imbecil! – Gritou Dom empurrando-o para fora do carro,

 


Elixandro cai e joga as chaves para Virginia. Dom partiu para cima dele, começam a brigar, enquanto isso Virginia tenta se livrar das algemas, mas com as mãos tremulas acaba deixando as chaves caírem. Depois de pega-las e conseguir se soltar ouve um tiro, imediatamente se levanta e sai correndo em direção aos dois ambos estão no chão, corre imediatamente para Elixandro que estava se levantando com a mão na lateral do abdômen tentando estancar o sangue.


– Você está ferido! Há meu Deus precisamos levar você para o hospital!

 


– Eu estou bem você não deveria ter saído do carro você pode piorar sua situação esta sangrando muito meu bem...


Nesse momento Dom se levanta puxa Virginia pelos cabelos e a agarra com uma das mãos. Elixandro tenta se aproximar, mas Dom dá um chute no ferimento de Elixandro, que cai. Dom aponta arma para a cabeça de Virginia no momento em que Elixandro se levanta. Ele por sua vez se afasta e levanta as mãos. Dom sorri, engravata com o braço Virginia e aponta a arma para Elixandro.

 


– Olhe agora sua vadia – diz forçando-a a olhar para Elixandro – eu vou matar o seu namoradinho e aí vou levá-la comigo e nunca mais você fugirá de mim.


A mente de Virginia trabalhava velozmente resolveu então por em pratica o que aprendeu, ficou de frente para Dom, deu-lhe uma joelhada na cintura, na altura dos rins, desorientando-o com as mãos livres, uma cotovelada na base do pescoço, que fez com que a arma caísse no chão. Eli imediatamente a pega e aponta para Dom, Virginia vai para o lado de Elixandro.

 

Dom está atordoado no chão, mas solta uma gargalhada.


- O que você vai fazer heroizinho? Eu sou policial. Acha que eu vou ficar preso? – Enquanto ele sorria seus olhos queimavam de fúria.

 


Sem pensar duas vezes Elixandro puxa o gatilho e acerta Dom no peito. Ele cai pra trás e Elixandro joga a arma no chão.

Virginia o abraça e começa a chorar. Elixandro pega o telefone e chama uma ambulância e a policia.

 


Os dois foram levados ao hospital e passavam bem. Todos os ferimentos foram superficiais. Um policial tomou o depoimento dos dois e os informou que eles não saíssem da cidade. Depois de toda história esclarecida. Virginia ter contado que fugiu de Dom por ele ser violento e que Elixandro atirou em legitima defesa o caso foi arquivado.


Elixandro e Virgínia não podiam estar mais felizes. Ela havia finalmente decidido ir morar com ele. A paixão que eles sentiam um pelo outro era avassaladora, e agora ela não tinha mais medo. Não precisava se esconder, não havia mais de quem fugir.

 

Dois meses depois estavam em parque fazendo um piquenique e brincando com Verônica quando Virginia disse.


- O que você acha de termos mais um filho? – Elixandro olhou pra ela.

 


- Acho maravilhoso! – ele sorriu.


- Que bom! – ela tirou um papel da bolsa, e entregou nas mãos de Eli.

 


- O que é isso?


- Abra! – Ela disse sorrindo e Elixandro abriu o envelope. Quando ele leu o conteúdo, seus olhos se iluminaram e ele não conteve um largo sorriso.

 


- Jura? Oh Meu Deus! Virgínia! – ele se levantou a pegou nos braços e começou a rodopiar com ela no meio da pracinha. Eles sorriam como duas crianças.


Verônica estava sentada brincando com seus brinquedinhos.

 


- Roda eu também papai. - Elixandro sorriu e fez o mesmo com Verônica.


- Sabe meu anjo, você vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha. Vão poder brincar juntos. – ele deu um beijo estalado na bochecha de Verônica que fez carinho no rosto do pai.

 


- Irmão! – ela disse e Elixandro e Virginia sorriram. Os três se abraçaram. Eram a família que sempre sonharam.


Epílogo.

Elixandro estava olhando pela janela há alguns minutos. O dia lá fora estava ensolarado.

- Está tudo bem querido? – Virginia perguntou. Ele se virou, sorriu e disse.

 


- Está sim, tudo está maravilhoso e eu não poderia estar mais feliz, mas... – ele caminhou até a cama de hospital – Nesse momento eu não consigo não pensar em Joseane. – ele olhou para Virginia sentada com o pequeno Yuri nos braços e Verônica que dormia quietinha ao pé da cama. – Pensar que não tivemos esse momento.


- Não se culpe. Eu também andei pensando nela.

 


- Sim, mas acho que se ela pode nos ver agora, ela está feliz.


- Claro que está assim como nós.

 


- Você me deu novamente uma família Virginia. Eu sou o homem mais feliz do mundo.


- Eu que agradeço. Você é meu herói. – Eles se beijaram e o pequeno Yuri começou a chorar.

 


- Eu te amo. – Elixandro disse.


- Eu também querido.

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