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Capitulo 1

 

   Eram seis horas da manhã quando ela saiu de casa. Fechou o zíper do agasalho para se proteger do frio, ajustou os fones de ouvido e depois de alongar iniciou a caminhada, transformando-a em uma corrida alguns minutos depois.

 

 

Ela adorava aquele caminho, a paisagem bonita e calmante e dificilmente encontrava com alguém.

 

 

Hayley Gibson correu pela alameda, atenta a menor movimentação. Vez ou outra alguém passava por ela, mas eram pessoas que já vira vezes sem conta por ali, e ela mantinha o olhar frente, sem encorajar qualquer contato.

 

 

Lembrou-se de um dia, assim que se mudara para aquela cidade, em que, enquanto corria se aproximara de duas senhoras que falavam dela, a moça que havia se mudado há poucas semanas para aquele bairro, bonita, mas estranha e esquiva. Hayley passara pelas senhoras sem demonstrar que escutara o comentário, e percebeu que elas arregalaram os olhos quando a viram, relaxando quando notaram os fones de ouvido.

 

 

O que as pessoas não sabiam era que ela não escutava nada naqueles fones.

 

 

Ela escutava tudo, via tudo. Nada poderia tirar sua atenção, nunca.

 

 

Após aquele dia ela mudara o caminho em que praticava seu exercício matinal. Aquele era muito mais tranquilo e pouco frequentado, o que dificultava que qualquer movimentação diferente da rotina passasse despercebida.

 

 

Não se importava que as pessoas a julgassem como estranha ou excêntrica. Ela preferia isso a que tentassem ser suas amigas ou se aproximassem dela por qualquer motivo, com qualquer que fosse o propósito.

 

 

As pessoas que se aproximavam dela se machucavam.

 

 

 Percebeu ao longe uma figura alta, um homem vestindo preto, vindo na direção contrária. Instantaneamente colocou-se em alerta, buscando rapidamente na mente por alguém que tivesse aquela estrutura corporal, mas não encontrou ninguém. Olhou ao redor, mas a rua estava vazia. Estava frio, e as pessoas ainda estavam em suas camas a essa hora.

 

 

Só havia ela e o homem, que estava mais próxima dela agora.

 

 

Manteve-se atenta a qualquer movimento, e quanto mais se aproximavam mais nervosa ela sentia-se.

 

 

“Fique calma! Não tenha medo, mantenha o foco!”, ordenou a si mesma, lembrando-se de tudo oque aprendera até ali.

 

 

         O homem passou por ela, olhando brevemente em sua direção, e mesmo enquanto tentava não demonstrar que o estava vendo, percebeu que ele prendeu os olhos nela por um momento.

 

 

         Quando achou que se afastara o suficiente do estranho, virou-se.

 

 

         Ele vinha em sua direção agora, e estava muito perto.

 

 

Há poucos metros, na verdade.

 

 

Hayley virou-se, e correu tão rápido quanto conseguia.

 

 

Em minutos estava em casa. Subiu correndo as escadas e foi até a janela do quarto, abrindo uma fresta da janela e estudando a rua.

 

 

Passou os próximos minutos estudando a rua, procurando por alguém, qualquer mínimo sinal.

 

 

Olhou de relance ao redor do pequeno e estéril quarto, identificando qualquer coisa que precisasse levar consigo, mas Hayley sabia que não havia nada de realmente necessário que já não estivesse na pequena sacola de que descansava próxima da porta do quarto.

 

 

Voltou para sua vigília, atenta à rua lá embaixo. E em alguns instantes ela o viu. O homem veio descendo pela rua, entrando na casa à frente, sem olhar na direção da casa dela.

 

 

E Hayley suspirou aliviada.

 

 

Mas quando, meia hora depois saiu de casa para o trabalho, olhava obcessivamente pelo retrovisor, e deu a volta três vezes no quarteirão antes de seguir para a Biblioteca.

 

 

Esse era o emprego perfeito para Hayley. Era bibliotecária na Biblioteca Pública de Chicago, e era invisível, o que era mais que providencial.

 

 

Os dias se arrastavam naquela biblioteca, em meio a milhares de livros. Em outros tempos ela se perderia em meio àquele paraíso e se desligaria do mundo, mas essa não era mais uma opção.

 

 

Não poderia se distrair nunca.

 

 

Mas naquele dia aconteceu algo diferente.

 

 

E Hayley odiava o diferente, o que saia da rotina, o que surpreendia.

 

 

Aquilo podia significar sua morte.

 

 

Ela o viu em um corredor do fundo, segurando um livro e olhando em sua direção. Sentiu o sangue fugir de seu rosto, mas obrigou-se a manter a calma, a não demonstrar que o vira e reconhecera.

 

 

Ele manteve o olhar sobre ela enquanto se aproximava de uma mesa e se sentava, e Hayley sentiu seu coração falhar uma batida ao fitar diretamente os olhos negros e misteriosos.

 

 

Assim que encerrou seu expediente Hayley foi rapidamente para o carro, fitando o estacionamento atentamente. Deu partida no carro, e fez o caminho para casa por um caminho mais longo, sempre atenta ao espelho retrovisor.

 

 

 

 

 

 

 

 

Mais tarde naquela noite ela preparou uma xicara de chá, subiu e sentou-se próxima a janela do quarto, as luzes apagadas, avaliando a rua abaixo.

 

 

Tudo estava tranquilo, mas aquilo não a convenceu.

 

 

Não queria dizer nada, e Hayley sabia.

 

 

Quando se convenceu que de nada adiantaria sua vigília, ela desceu, verificou as portas e janelas, as correntes de segurança e alarmes. Subiu novamente e foi para o banheiro escovar os dentes.

 

 

Observou seu reflexo no espelho sobre a pia. Viu uma mulher bonita de lisos cabelos castanhos e olhos amendoados, a boca carnuda e sensual. Seus traços eram lindamente marcantes, e aquilo era uma maldição.

 

 

Mas ao mesmo tempo era um lembrete do que tinha ficado para trás, da sua antiga vida. Colocando os óculos que usava sem necessidade sobre a pia, ela encarou seus próprios olhos por um instante, e então lentamente levou o dedo às íris, tirando as lentes de contato.

 

 

E então estavam lá, seus luminosos olhos azuis, claros como um céu sem nuvens de um dia de verão.

 

 

Aqueles olhos haviam visto coisas demais, coisas que Hayley não queria lembrar, coisas que haviam morrido junto com Allison Smith.

 

 

Franziu o cenho, e virou as costas para seu reflexo, indo para o quarto. Abriu a gaveta do criado mudo e tirou a arma de lá, verificando se estava carregada, embora soubesse que estava.

 

 

Foi novamente até a janela mais uma vez e puxou a cortina, checando por alguns instantes a rua deserta abaixo.

 

 

Suspirando Hayley voltou para a cama. Certificando-se de que a arma estava com a trava de segurança acionada, colocou-a sob o travesseiro, deitando-se em seguida.

 

 

 

 

 

 

 

 

Na manhã seguinte, durante o seu exercício, Hayley manteve-se particularmente atenta a pouca movimentação ao seu redor. Atrasou propositalmente a saída de casa, e quase relaxou quando não viu o homem do dia anterior.

 

 

Mas isso não queria dizer nada, e ela sabia. Enganara-se com esses sinais no passado, e pessoas haviam morrido por sua negligencia.

 

 

Há tempos ela havia feito um compromisso consigo mesma de que não seria pega de surpresa nunca mais. Funcionara em Vermont, e funcionaria agora. Ela fugia há dez anos, e sabia que precisaria fugir para sempre.

 

 

Mas ela prometera a si mesma que nunca mais traria alguém para sua vida, para ser morta como as pessoas que ficaram para trás.

 

 

Balançou a cabeça, livrando-se das recordações. Não podia se lembrar, e não queria.

 

 

Não podia permitir-se visitar o passado, as pessoas, os momentos. Há tempos se convencera de que fora uma vida vivida por outra pessoa, não eram suas recordações.

 

 

Hayley não podia visitar o passado sem que sentimentos a tomassem.

 

 

E ela não podia sentir.

 

 

Sentir a deixava fraca, a deixava vulnerável.

 

 

 

 

 

 

 

 

         No final do dia, enquanto voltava do trabalho, Hayley parou no supermercado. Nunca demorava muito ali, no máximo quinze minutos. Nunca comprava muitas coisas, nunca enchia a despensa de sua casa.

 

 

         Carregava uma sacola de mantimentos e já trazia a chave do carro na outra, enquanto andava pelo estacionamento do supermercado. Um carro passou lentamente por ela, uma mulher loira no volante e uma menina no banco de trás. A criança, de mais ou menos sete anos, olhou para ela e sorriu, acenando através da janela do carro.

 

 

         Hayley esboçou um leve sorriso em resposta, mas que logo desapareceu. Aquela era uma cena tão normal, uma mãe no supermercado com sua filha, comprando ingredientes para preparar o jantar do pai que chegaria mais tarde do trabalho e...

 

 

— Olá!

 

 

         Virou-se rapidamente em direção à voz, a mente correndo em direção à arma que tinha presa na cintura da calça jeans que usava, por baixo da blusa e da jaqueta.

 

 

         Era o homem do dia anterior. Ele estava distante somente alguns passos, e poderia pular sobre ela em um instante. De onde Hayley estava podia notar que ele era realmente alto e forte, com longas pernas cobertas por causa jeans, e embora tivesse um ótimo preparo físico e fosse faixa castanha em Krav Magá, ela soube automaticamente que precisaria de algo a mais para vencer aquele homem.

 

 

         Estudando seu oponente, Hayley notou como a barba cerrada lhe dava a aparência perigosamente sexy, como os músculos do braço dele eram salientes, sumindo por baixo da camiseta preta de malha que ele usava. No passado eles haviam se vestido de forma diferente, mas assim como ela estava mais preparada, eles estavam mais versáteis.

 

 

— Você está se sentindo bem? — ele insistiu, seu sorriso grande diminuindo um pouco em sua confiança, e Hayley notou como seus olhos negros eram muito mais brilhantes e charmosos olhando de perto.

 

 

— Estou bem, obrigada. — ela respondeu soturnamente, os olhos nunca deixando os dele, atenta a suas ações, esperando qualquer sinal.

 

 

         Ele a encarou por alguns instantes, o sorriso charmoso desaparecendo totalmente, inclinando a cabeça para o lado, estudando-a.

 

 

— O que você quer? — Hayley perguntou diretamente, não demonstrando qualquer emoção.

 

 

— Só me apresentar. — ele disse, franzindo o cenho para ela. — Nos encontramos ontem por duas vezes, e a vi ao longe hoje, enquanto corria. E coincidentemente, percebi que somos vizinhos. — ele deu um passo em sua direção, e Hayley retrocedeu um passo. Ele percebeu sua tensão, e parou. — Só queria dizer olá.

 

 

— Olá. — Hayley respondeu, virando-se para o carro e guardando a sacola de compras, sentando-se atrás do volante.

 

 

         Deu partida sem olhar para ele, acelerando rapidamente pelas ruas de Chicago.

 

 

         Chegou em casa em poucos minutos, usando um atalho que ela havia descoberto há tempos. Entrou rapidamente e subiu correndo a escada, pegando a sacola de viagem próxima da porta, descendo em seguida. Em exatos dois minutos estava novamente dentro do carro, dando partida. Saiu para rua sem nem mesmo olhar em direção a casa, e quase chorou quando percebeu que algo estava errado.

 

 

Um maldito de um pneu furado.

 

 

Por um momento, enquanto ela apenas encarava o pneu, sentiu todo o peso dos últimos anos sobre seus ombros. Mas então Hayley viu um pequeno carro preto virar no final da rua, e estacionar na garagem da casa em frente.

 

 

O homem desceu, e a encarou. Mesmo a distancia ela o sentiu avaliando-a.

 

 

Hayley pegou o pneu reserva e começou a troca-lo. Enquanto fazia isso, mantinha-se atenta ao homem. Viu que ele foi ate a porta da frente, e alguns segundos depois ele se voltou, e caminhou na direção dela.

 

 

— Posso ajuda-la?

 

 

         Hayley o ignorou, continuando seu trabalho.

 

 

— Não, obrigada.

 

 

         Ele virou-se e deu alguns passos em direção ao outro lado da rua, mas voltou-se.

 

 

— Qual o seu problema? É só comigo mesmo, ou contra os homens em geral? — o tom dele era irritado.

 

 

— Não sei do que você está falando. — Hayley disse com indiferença, ainda trabalhando.

 

 

         Houve um momento de silencio, e então Hayley o ouviu grunhir, e então a mão dele estava sobre a sua.

 

 

— Com licença. — abaixou-se ao seu lado e empurrou suavemente as mãos dela, mas Hayley não saiu do lugar. Eles se encararam, e o os olhos negros e intensos a rasgaram, e contra sua vontade um tremor percorreu seu corpo. — É contra tudo o que acredito ver uma mulher fazer qualquer tipo de esforço e não ajudar.

 

 

Por um momento ela se perdeu nos olhos dele, esquecendo-se de tudo... Sentiu uma tranquilidade que não sentia há tanto tempo que nem podia contar...

 

 

— Não é necessário. Eu posso fazer isso. — Hayley disse, mais dura dessa vez, empurrando a mão dele e retomando o trabalho.

 

 

         Ouviu novamente o som irritado, e quando ele se levantou levou-a consigo.

 

 

— Em que a ofendi? — ele perguntou zangado. — Não me lembro de ter feito nada para você, e nem mesmo trocamos meia dúzia de palavras, mas sou tratado como se tivesse alguma doença contagiosa!

 

 

— Não me ofendeu e não tenho nenhum problema. — Hayley disse, também zangada. Era o primeiro sentimento além do medo que ela sentia em vários anos. — Com exceção de não conhecê-lo e você estar com as mãos sobre mim!

 

 

         Ele a soltou rapidamente, e eles se encaram, e então um lento e sensual sorriso surgiu nos lábios masculinos.

 

 

— Mathew Sullivan. — estendeu a mão para ela. — Muito prazer.

 

 

         Hayley observou a mudança em seu rosto quando ele sorria, duas covinhas aparecendo em suas bochechas, fazendo-o tão absurdamente sensual que ela sentiu as palmas de suas mãos suarem.

 

 

— Muito prazer. — ignorou a mão que ele estendia, e virou-se novamente para o carro.

 

 

         Ouviu um som alto e gutural, e então as mãos dele estavam novamente sobre ela, Puxando-a contra o corpo forte, e então a beijou duramente.

 

 

 

Livre Para Amar

Capitulo 2

 

Hayley ficou paralisada, e enquanto os lábios quentes e persuasivos tocavam os seus, ela não podia fazer outra coisa que não fosse sentir.
Há muito tempo não era beijada... Na verdade, não conseguia lembrar-se de já ter sido beijada... Daquela forma. Aquele homem sabia beijar! Seus lábios eram macios e ao mesmo tempo selvagens, e por um pequeno momento Hayley se permitiu sentir.

 

O que era um erro gigantesco.

 

Todos esses anos e nunca aprendera?

 

Tentou se soltar, mas Mathew a segurou mais forte, apertando-a contra seu corpo e ela realmente sentiu-se assustada.

 

— Me solte! — ela o empurrou forte, fazendo-o cambalear para trás. Ele pareceu assustado, o que a intrigou, mas não queria analisar isto agora.

 

— Hei, calma! — ele disse, levantando as mãos em sinal de rendição, as sobrancelhas erguidas.

 

— Não me peça calma! Não estou nervosa, estou zangada! Você tem o hábito de sair beijando as pessoas por ai? — perguntou ríspida, enquanto dava um passo atrás.
— Não, claro que não. — um sorriso surgiu nos lábios tentadores, e então ele piscou. — Você foi a única, moça. — franziu o cenho, confuso. — Afinal, qual seu nome?
— Vamos deixar uma coisa clara por aqui, Mathew. Nunca.Mais.Toque.Em.Mim! — ela disse lenta e ameaçadoramente cada palavra.

 

— Você precisa se acalmar um pouco, está bem? Desculpe-me por tê-la beijado, não sei o que deu em mim. — ele disse, parecendo sincero, mas Hayley não se convenceu. — Eu poderia terminar de trocar o seu pneu?

 

Ela o encarou por um instante, estudando-o.

 

— Não, obrigada, eu faço isso.

 

— Isso foi uma pergunta educada, o que não quer dizer que você tenha opção. Eu vou troca-lo. — Mathew disse, sério e carrancudo.

 


Hayley não o queria mexendo em nada que fosse seu. Não confiava nele.

 

Mas estava cansada de discutir, e concordou com a cabeça. Quando ele se abaixou, ela disfarçadamente tocou sua arma que ainda estava em sua cintura, na parte de trás, sempre atenta aos movimentos dele. Ficou com a mão lá, dando a entender que segurava em seu bolso traseiro da calça.
— Pronto. — ele disse, colocando-se de pé. Hayley tinha que admitir que ele era habilidoso, pois resolvera o problema em instantes.

 

— Obrigada. — agradeceu friamente. Acionando o alarme do carro, deu-lhe as costas, voltando para a casa.

 

— Ei! — ele a chamou, e em dois passos alcançou-a. Segurou seu braço, e antes que ela pudesse pensar o havia jogado no chão, imobilizando-o ao colocar-se por cima dele, o braço pressionando seu pescoço. Encarou-o, esperando qualquer reação agressiva, mas ele somente a olhou, a expressão confusa, os olhos arregalados.
— Eu disse para não me tocar! — ela rosnou enquanto se levantava, sempre atentada às ações dele.

 

Mathew manteve-se em silencio, encarando-a ofegante.

 

— Qual é o seu problema? — perguntou confuso, enquanto se levantava.
— Já disse para não tocar em mim! — ela respondeu avaliando-o. Ele poderia ter reagido ao seu ataque. Ela sabia que Mathew era treinado para isso. Por que não o fizera? Estaria esperando um melhor momento? Ou...

 

— Eu seguro seu braço, e você me aplica um golpe ninja?

 

— É Krav Magá, não karatê. — corrigiu indiferente. — E fique longe de mim!

 

— Acho bem difícil, uma vez que somos vizinhos. — ele respondeu dando um ligeiro sorriso.

 

— Se esforce. — ela respondeu e fechou a porta, trancando-a com as inúmeras fechaduras.

 

Hayley estava com o coração disparado, há muito tempo não interagia com ninguém dessa forma. Sempre se mantinha atenta aos sinais que as pessoas emitiam, mas Mathew a deixava confusa. Ele não parecia com os outros, mas ela não poderia baixar a guarda.

 

Eles eram espertos, talvez estivessem tentando confundi-la, uma abordagem mais lenta e silenciosa.

 

Subiu para seu quarto e verificou se as janelas estavam bem trancadas. Nenhuma janela, por mais bem trancada que estivesse os impediria, mas ela aproveitava para verificar a rua. Olhou pela abertura da cortina e observou Mathew que retirava as compras de dentro do carro. Ele parou por um instante e olhou para a casa dela. Hayley se escondeu rapidamente fora da visão dele.
Depois foi até o banheiro e lavou o rosto. Olhou-se no espelho e percebeu que seus lábios estavam vermelhos.

 

Tocou-os, e sentiu que estavam levemente inchados, lembrança do beijo de Mathew. “Concentre-se”, ordenou a si mesma.

 

 

 

Ficou rolando na cama a noite inteira. Não conseguia dormir, qualquer mínimo barulho deixando-a incomodada e alerta. Levantou-se mais cedo que de costume, e saiu para correr.

 

Olhou no relógio, eram cinco e meia da manhã. Perfeito! Não haveria mais ninguém por ali aquele horário, inclusive Mathew.

 

Não queria encontrá-lo. Ele a deixava alerta e confusa e Hayley tinha quase certeza que Mathew era um deles... Estremeceu ao lembrar-se do beijo dele, mas convenceu-se de que sentiria isso por qualquer outro homem.

 

Mas Hayley sabia que a sensação que ele despertou em seu corpo estava proibido para ela.

 

Correu por cinco quilômetros e se sentiu nova e revigorada. Havia tido tempo para pensar e tomara a decisão de não mais pensar em Mathew... Pelo menos, não naquele beijo.

 

Ele poderia ser um perigo e na verdade poderia tê-la atacado em um par de ocasiões. Ele tivera a oportunidade, mas por que não o fizera? Esse era o plano? Fazê-la relaxar para diminuir suas chances de fuga?

 

Se era isso, estavam enganados! Ela nunca relaxava... Nunca!
Mas ela gostava daquele lugar. Contra suas próprias defesas, contra todos os cuidados que teve para não colocar nada de pessoal naquele lugar, ela se apegara a essa casa, com toda a falta de sua própria personalidade que havia nela.
Se tivesse uma vida normal, aquela era a casa que ela gostaria de morar com sua família. De criar seus filhos e... Inferno! Esses pensamentos, esses planos, não eram para ela! Mas estava tão cansada de fugir. Podia esperar mais algum tempo, e ver o que aconteceria.

 

Se fosse realmente esperta, estaria dentro do carro agora, procurando uma nova cidade, recomeçando mais uma vez. Esperar era burrice. Poderia significar sua morte. Mas também poderia significar não precisar se mudar tão cedo.
Chegando em casa tomou um longo banho e foi para o trabalho.
Durante todo o dia não notou nenhum movimento diferente, nenhuma pessoa que a levasse a desconfiar de nada. Transcorreu como qualquer outro, monótono e maçante e ela agradeceu aos céus por isso.

 

 

 

Quando Hayley entrou na rua da sua casa, avistou Mathew em frente a sua própria casa, abrindo a porta. Ele parou e virou-se quando a viu estacionar e por um momento seus olhos se cruzaram. Foi um olhar intenso e um lento sorriso apareceu nos lábios dele, mas Hayley virou o rosto e abriu a porta de sua casa.

 


Ela olhou ao redor, sem acreditar!

 

A casa estava inundada. Entrou rapidamente, indo em direção à cozinha. O sifão sob a pia estava quebrado, e quando Hayley o viu, suspirou desanimada.

 

— O que aconteceu?

 

Girou rápida em direção à voz, sentindo o coração falhar uma batida, a adrenalina duelando com o medo dentro de si.

 

— O que faz aqui? — perguntou bruscamente. — Como entrou?

 

— A porta estava aberta. — Mathew respondeu, indicando com a cabeça. — E estou aqui por que vi a água saindo, e vim verificar se precisa de ajuda.

 

— Não preciso, obrigada. — respondeu enquanto se levantava. Não podia acreditar que realmente deixara a porta aberta. Mas o fizera, e aquele homem estar em sua casa agora era a consequência de sua irresponsabilidade. — Você pode ir agora.

 

Mathew a encarou por um instante e ela viu como ele ficou zangado. Abriu a boca, mas fechou-a em seguida. Dirigiu-se com passos rígidos até a porta,  parou por um momento, olhando para fora.

 

— Você quer saber? — perguntou, e voltou-se para ela. Caminhou rapidamente até Hayley e parou a sua frente. Os olhos escuros estavam queimando, a respiração rápida enquanto ele a encarava furioso. — Eu não vou embora! Você é neurótica e eu não sei que inferno a está comendo, mas eu não tenho nada a ver com isso! — deu mais um passo em sua direção e ela se obrigou a não retroceder, mas sentiu tudo dentro de si se retorcer em agonia. — Mas você parece achar que eu sou responsável, que sou culpado por todos os males do mundo! Eu não sou, droga! Eu sou só um maldito de um homem comum!

 

Ela o encarava em silêncio, estudando-o. Ele podia fingir toda aquela indignação? Podia ser tão convincente?

 

Obviamente podia, mas por alguma razão ela acreditava em Mathew. Podia sentir sua revolta por ser julgado, e sabia que era verdadeira. Mas havia muita coisa na balança para que ela simplesmente acreditasse nele... Estava confusa com os acontecimentos, todas as vezes que ele aparecera próximo a ela... Poderiam ser só coincidência, mas há muito ela deixara acreditar em coincidências simples.
— Por que não me diz o que a incomoda, o que eu supostamente fiz que a ofendeu tanto? — ele propôs, com a voz mais serena, mas ainda zangado.

 

O que podia lhe dizer? “Desculpe, mas acho que você talvez esteja atrás de mim para me matar”? Não era uma opção. Talvez, apenas talvez o tivesse julgado errado, mas não abriria sua vida para um estranho.

 


— Você não fez nada, Mathew. Eu apenas não gosto de estranhos, não gosto de surpresas... — sua voz sumiu, e ela apenas encarou-o. Há muito tempo não precisava se desculpar com alguém.

 

Ele curvou a cabeça para o lado, avaliando-a. Sorriu lentamente e então virou-lhe as costas. Hayley pode ouvir o clique suave da porta quando ele a fechou atrás de si. Quase imediatamente a campainha tocou, e ela franziu o cenho confusa, enquanto se encaminhava para a porta.

 


— Olá! — Mathew cumprimentou sorrindo, assim que ela abriu a porta. — Sou Mathew, acabei de me mudar para a casa em frente. Você poderia me emprestar uma xícara de açúcar?

 

Sem conseguir evitar, Hayley sorriu em resposta a ele.

 

— Você não trouxe uma xícara.

 

Ele bateu teatralmente nos bolsos, e então suspirou.

 

— Você tem razão. — por um momento eles apenas sorriram um para o outro, e então Mathew olhou para o chão. — Você está com problemas. Posso ajudar?

 

Mesmo tendo decidido dar a ele o beneficio da duvida, era contra todos os seus instintos convidar alguém para entrar em sua casa.

 

— Sim, por favor. — seu sorriso foi tenso quando se afastou para que ele pudesse entrar.

 

Enquanto ele trabalhava debaixo da sua pia, Hayley limpou o chão e então sentou-se em um banco alto do outro lado do balcão, observando-o.
O corpo era forte e ágil, os músculos se evidenciando contra a camiseta de malha preta enquanto ele se movimentava. Ela nunca tinha tido a chance de observar um homem assim.

 

— Você mora aqui há muito tempo? — ele perguntou.

 

— Não muito. — respondeu evasiva — E o que você faz? É encanador? — ouviu rir curtamente, o que trouxe um sorriso aos seus próprios lábios. Era um som quente.

 

— Sou design gráfico. — ele saiu de debaixo da pia e afastou-se para admirar seu trabalho. — Perfeito! — virou-se para ela, sorrindo satisfeito.
Hayley aproximou-se dele e ficaram lado a lado observando o cano.
— Obrigada. — ela murmurou enquanto se virava para ele.

 

Os olhos dele brilharam, e sorriso alargando-se enquanto a encarava.

 

— Me agradeça durante o jantar.

 

Ela ficou séria e afastou-se dele, indo para a sala.

 

— Não vou jantar com você. — afirmou, e ouviu os passos de Mathew seguindo-a.

 

— Pensei que isso havia sido superado, Hayley. — ele comentou suavemente. Diante do silencio dela, uma ideia lhe ocorreu. — Você tem alguém? Por isso não quer se aproximar de mim?

 

— Não se trata disso. — Virou-se para encara-lo. — Apenas não saio. Não vou a encontros. Nada disso. — estendeu a mão para ele. — Realmente agradeço seu auxilio.

 

Mathew olhou sua mão estendida, e então encarou-a, os olhos escuros sondando-a.
— Não posso aceitar isso, Hayley. — disse firmemente. — Eu fiz um trabalho e quero um pagamento. Acontece que sou um encanador muito, muito bom, e dinheiro algum pode pagar. — sorriu de lado, e foi a coisa mais sexy que Hayley já viu. — Então, você precisa cumprir minha exigência.

 

— Não gosto de sair, Mathew. É serio! — não podia acreditar como era difícil dizer não a ele. Mas ela não podia ceder. Não queria sair com ele.

 

— Não precisamos sair... Você pode atravessar a rua e ir ao restaurante Sullivan. — aproximou-se dela, sussurrando. — Soube que ele faz uma massa divina, embora sua especialidade seja os sanduiches.

 

— Não vou a sua casa, Mathew. — ela não respondeu a brincadeira dele, não sorriu. Era aquele tipo de complicação que estivera tentando evitar todos aqueles anos. Era essa proximidade que ela não podia ter. — E acho melhor você ir agora. — foi até a porta, abrindo-a.

 

Ele a encarava do meio da sala. Caminhou lentamente até ela, e segurou a porta, a mão grande próxima a de Hayley.

 

— Você é tão misteriosa... — Mathew disse, e foi como se estivesse falando consigo mesmo. — Imagino por que.

 

— Por quê?

 

— Sim, por que um simples convite para jantar a deixa tão esquiva e aterrorizada.

 

— Não estou aterrorizada!

 

— Prove. — Mathew desafiou suavemente — Jante comigo. Uma vez. E então eu a deixo em paz.

 

Todos os seus instintos ordenavam que ela recusasse. Mas algo duelava com sua convicção e ela não queria pensar nesse algo agora.

 

Ela estava a tanto tempo fugindo... Sempre fugindo, sempre virando as costas para tudo, sempre seguindo em frente, dizendo a si mesma que não importava o que ficara para trás... Sempre tentando se convencer de que estar viva era o suficiente.

 

Mas olhando para os profundos e persuasivos olhos negros, ela não tinha mais tanta certeza que somente estar viva era o suficiente.

 

— Está bem. — disse rápido, antes que se arrependesse, e foi recompensada pelo largo sorriso dele. — Mas você vem jantar aqui. — não iria a lugar algum com ele.

 

            Em sua casa poderia se defender caso precisasse.

 

Mathew franziu o cenho, mas não comentou a exigência.

 

— Está bem. Volto em alguns instantes. — ele disse, apontando para a camiseta molhada.

 


             Hayley concordou, e ele saiu de sua casa, atravessando rapidamente a rua.Vagarosamente fechou a porta, recostando-se contra ela.

 

O que estava fazendo? Estava ficando louca? Há quantos anos não permitia que ninguém se aproximasse, e o resultado disso é que estava aqui, viva! E se estivesse cometendo o pior erro de sua vida?

 


             Meia hora depois a campainha tocou, e ela estava nervosa quando abriu a porta para Mathew.

 


— Você esta linda, Hayley. — ele disse com admiração. Os olhos percorrendo o corpo feminino. Ela usava saia cintura alta preta, e blusa branca.

 

— Obrigada. Entre. — convidou suavemente.

 

A noite foi agradável como Hayley nunca imaginara. Mathew era divertido e lhe contara fatos de sua vida, acontecimentos engraçados de sua infância e adolescência. Ele era encantador, e enquanto ela ria de suas histórias, observava maravilhada as duas fascinantes covinhas de suas bochechas.

 

— Falei a noite toda sobre mim. — ele disse, encarando-a com olhos brilhantes. — E ainda continuo sem saber nada sobre você.

 

O sorriso dela apagou-se rapidamente, a tensão substituindo a descontração.
— Não há o que saber. Tenho vinte e oito anos, sou bibliotecária e moro sozinha. Pronto. Fim da história da minha vida.

 

Ele a encarou, as sobrancelhas erguidas.

 

— Vinte e oito? — disse pensativo, avaliando-a. — Engraçado. Olho para você, e parece ter menos... Mas quando vejo os seus olhos, Hayley... Você parece ser muito mais velha. — Seus olhares estavam fixos agora, e ela sentiu-se incomodada. — É como se houvesse a sabedoria de uma mulher de cinquenta anos ai dentro.

 

Em segundos ele concluíra toda a sua vida, e aquilo a assustou mais do que se ele tivesse se levantado e apontado uma arma para ela. Se ele tivesse feito o ultimo ela poderia revidar. Estava preparada para isso. Tinha uma arma presa em sua perna, uma na gaveta do armário, uma presa embaixo da mesa... Enfim, ela estava preparada para um ataque físico.

 

Mas não para o tipo de ataque que ele fez... Mathew a desnudou, a deixou exposta. Era como se os olhos negros conseguissem enxergar sua alma assustada e cansada.
— Isso não é algo que uma mulher queira ouvir, Mathew. — murmurou, trêmula, e levantou-se da mesa. — Se não se importa, gostaria que fosse embora. Tenho o costume de dormir cedo. — sorriu brevemente para ele e caminhou em direção à porta, ouvindo-o atrás de si.

 

— Talvez se não deitasse cedo não passasse a noite olhando pela janela.
Parou ao ouvir as palavras, virando-se bruscamente para Mathew.

 

— Como disse?

 

— Que você olha dezenas de vezes pela janela durante a noite.

 

Hayley sentiu suas mãos suarem, e obrigou-se a manter a calma, manter a mente limpa.

 

— E como você sabe disso?


Capitulo 3

 

— Bem, digamos que um dia eu fiquei trabalhando até tarde e quando fui fechar as janelas da minha casa te vi. Isso me deixou mais intrigado ainda com você, então passei a te observar sempre.  

 

 

 

            Saber disso fez com que Hayley se arrependesse de ter aceitado levá-lo à sua casa. Que outra pessoa em  sã consciência iria ficar observando outra pela janela sem nenhum motivo aparente? Sem nenhum motivo como o seu? Isso só poderia significar que ele estava ali para colher informações sobre o seu dia-a-dia. Resolvendo não alarmá-lo sobre sua descoberta tratou de dispensá-lo rápido e educadamente.

 

 

 

— Mathew eu realmente preciso ir dormir. – disse ela friamente, mudando totalmente sua postura. Levantando-se e encaminhando-o até a porta.

 

— Tudo bem, agradeço pelo jantar, estava ótimo. – disse ele. Hayley estava fechando a porta quando Mathew parou-a e falou:

 

—Eu não sei o que há com você Hayley, mas eu não vou te machucar como acredito que lhe fizeram anteriormente.

 

 

 

            Hayley sentiu-se mais confusa ainda após ouvir isso. De repente sentiu-se cansada de se esconder, cansada de estar sempre alerta e  desejou que Mathew a tomasse nos braços e a beijasse. Ela queria sentir outra vez aqueles lábios nos seus. Mathew parecendo adivinhar seus pensamentos falou:

 

 

 

— Prometi a mim mesmo Hayley que por mais que eu desejasse beijá-la eu só o faria se você pedisse.

 

 

 

            Hayley manteve-se firme e por mais que fosse justamente o seu desejo não iria fazê-lo, era mais forte que ela. Vendo que ela nada falaria Mathew despediu-se. No momento em que fechou a porta Hayley ficou a sós com um turbilhão de emoções e dúvidas. Recriminava-se por ter permitido aquela aproximação, por não ter pedido-lhe o beijo, por não ter dito tudo o que ela gostaria de dizer sobre ele. Encostou a testa junto à porta enquanto pensava em como poderia ser diferente se não fosse todos os seus problemas, se não tivesse que manter-se só.

 

 

 

            De repente a campainha tocou novamente assustando-a. Olhou no olho mágico e viu que era Mathew. Tão logo abriu a porta, ele a envolveu em seus braços beijando-lhe como se fosse a ultima vez em que poderiam fazer isso. Um beijo tenro e apaixonado e ao mesmo tempo duro e cheio de desejos.

 

            Depois do beijo que mexeu com todo o corpo de Hayley, Mathew aos poucos se afastou. Olhando em seus olhos com aquele sorriso lindo falou:

 

 

 

— Se você me der uma única chance Hayley eu te mostro que não sou quem você pensa. Mas por ora você precisa descansar. Boa Noite. – disse ele dando-lhe um beijo casto.

 

 

 

            Hayley permaneceu ali parada absorvendo as ultimas palavras ditas por Mathew. Poderia de fato conciliar sua vida com um romance? Poderia por em risco toda a fortaleza que construiu ao seu redor por Mathew?

 

Com esses pensamentos, seguiu para o seu quarto. Cumpriu com sua rotina diária de verificar as portas e janelas, a rua e sua arma debaixo do travesseiro. Porém esta noite depois de tantos anos quanto lembrava-se conseguiu ter uma noite de sono ininterrupta. Acordou pela manhã sentindo-se revigorada, saiu para correr em seu caminho habitual, na primeira curva Mathew a alcançou.

 

 

 

— Bom Dia Hayley! – saudou ele sorridente.

 

— Bom Dia! – Hayley respondeu mecanicamente, era difícil ir contra costumes criados há tanto tempo.

 

— Te vi ontem quando cheguei em casa, você não perde a mania de olhar a rua pela janela não é mesmo? – perguntou ele puxando assunto.

 

— Não conseguiria dormir sem isso. – respondeu Hayley com um tom de voz que deixava claro que aquilo não era um assunto para discussão.

 

 

 

           Mas Mathew era insistente e ela já imaginava que ele a questionaria. Ele diminuiu o passo e segurou em seu braço encarando-a.

 

 

 

— Me diga Hayley. O que aconteceu com você para ser assim tão desconfiada de tudo e de todos? — ele perguntou.

 

— É tudo muito complicado Mathew. — ela disse.

 

— Eu tenho certeza que eu conseguiria entender. — ele respondeu.

 

 

 

           Hayley ficou muda e abaixou a cabeça, era difícil demais fugir da intensidade do olhar de Mathew. Percebendo que ela não falaria mais nada, ele segurou em seu queixo levantando lentamente seu rosto para encará-la.

 

 

 

— Eu não consigo imaginar o que pode ter acontecido para te deixar desse jeito. Mas eu juro a você, que eu estou disposto a fazer você se abrir para mim. — ele disse com a voz suave.

 

 

 

          Ela ficou imóvel, olhando para ele tentando acreditar que ele não era um deles, que ele não estava enganando-a todo esse tempo. Ela não poderia se abrir para ele, não depois de tudo o que passou por todos esses anos.

 

 

 

— Eu... eu não confio em você. — Ela admitiu.

 

— Isso eu já percebi. — ele respondeu sorrindo — Mas eu vou te provar que eu só quero o seu bem, me deixe te conhecer Hayley. Deixa eu mostrar para você quem eu sou.

 

 

 

          Ela não respondeu, apenas se virou e continuou a correr, ela precisava pensar. Seguiram em silencio por todo o percurso, mas Hayley estava atenta a toda a movimentação e neste dia notou um novo corredor ali por perto. Lamentou o fato de Mathew estar ao seu lado, caso contrario poderia dar um jeito de sumir de sua vista rapidamente e tentar observá-lo de sua casa. Mathew parecia alheio a tudo isso, embora tenha notado a preocupação no rosto de Hayley, entretanto já estava acostumado a essa expressão. O homem logo sumiu, mas mesmo assim Hayley não relaxou, pelo menos não totalmente, Mathew ao seu lado era uma fraqueza, uma fraqueza que precisava rapidamente eliminar. Pensou ela.

 

 

 

            Durante as duas semanas que passaram, o tal homem não mais foi visto e Hayley fora capaz de baixar um pouco a guarda. Mathew estava a cada dia mais próximo, todos os dias eles iam correr juntos e Hayley estava cada vez mais envolvida por ele. Desde o ultimo beijo na porta de sua casa, ele não havia tentado mais beijá-la, mas ela ansiava por isso cada vez que se encontravam.

 

 

 

— Quando é que você vai concordar em jantar comigo? — ele perguntou certo dia enquanto corriam.

 

— Mas nós já jantamos. — ela respondeu sorrindo.

 

— Eu adoro quando você sorri. — ele disse dando aquele sorriso lindo mostrando as covinhas — Você tem que rir mais Hayley.

 

— Deixa de ser idiota Mathew. — ela disse tentando parecer brava, mas seu sorriso a entregou.

 

— Isso, é esse sorriso que eu quero ver. Mas então, eu quero um jantar de verdade, em um restaurante bacana, quero te buscar na sua casa e depois trazê-la em segurança, é claro.

 

 

 

Hayley parou de correr e o encarou.

 

 

 

— Como um encontro? — ela perguntou. Fazia muito tempo que ela não saia em um encontro.

 

— Sim, como um encontro, um encontro de verdade.

 

 

 

           Ela já estava preparada para dizer não, mas algo dentro dela a fez refletir por um minuto. Ela queria, queria muito se permitir ir em um encontro com Mathew, mas a parte racional dela, dizia que era muito arriscado sair em publico e ficar tão vulnerável. Alem do mais, se Mathew realmente não fosse um deles, o que Hayley acreditava ser verdade, ele estaria em perigo ao lado dela, outros já se feriram antes.

 

 

 

— Por favor. — ele pediu — Um encontro e te deixo em paz.

 

— Você já disse isso antes. — ela brincou.

 

— Dessa vez falo serio. — ele riu. Hayley não pode dizer não, aquele sorriso sempre afetava sua capacidade de raciocinar.

 

— Tudo bem. — ela se ouviu respondendo — Um encontro e não quero chegar tarde em casa.

 

— Perfeito, como você quiser. Te pego hoje a noite as oito, pode ser?

 

 

 

Ela acenou com a cabeça, um pouco atordoada para responder. Mathew saiu correndo deixando-a para trás.

 

 

 

— Hei! Onde você vai? — ela perguntou confusa.

 

— Vou deixar você em paz antes que desista do nosso encontro. — ele gritou já distante.

 

 

 

           O dia passou lento e maçante e Hayley estava ansiosa pelo encontro que teria. Ela começou a se preocupar por estar tão exposta na rua, mas logo pensou em um lugar no centro bem movimentado, que ela poderia sugerir para Mathew. Em um lugar daqueles, era fácil se misturar entre as pessoas, caso alguém fosse atrás dela.

 

 

 

           Chegou em casa depois do expediente e começou a se arrumar, optou por uma saia preta e uma blusa de seda rosa, um visual simples e discreto, ela não queria chamar a atenção de ninguém. Deixou seus cabelos lisos e colocou uma maquiagem leve e elegante. Suspirou quando se viu pronta no espelho, há anos não se arrumava daquele jeito. As sete e cinqüenta a campainha tocou. Ela olhou pela olho mágico e viu Mathew acenando, com as mãos tremulas ela abriu a porta.

 

 

 

— Boa noite. — ela cumprimentou.

 

— Você... você esta... esta deslumbrante. — ele disse.

 

— Obrigada. — ela respondeu sorrindo — Você também não esta nada mal. — Mathew estava de calça jeans e uma camisa preta de botões, estava lindo.

 

 

 

— Vamos? — ele perguntou.

 

— Sim, só me deixe pegar a minha bolsa. — ela respondeu entrando e pegando sua pequena bolsa de mão, ali, escondido em um bolso estratégico, ela levava uma arma calibre vinte e dois.

 

 

 

            Hayley sugeriu o lugar que ela havia pensado e Mathew aceitou a opção. Jantaram uma comida maravilhosa e beberam um vinho espetacular. A noite fluiu de uma maneira que ela não imaginava, Mathew se mostrou um homem muito cavalheiro e engraçado, eles conversaram mais sobre o passado dele e ela se esquivou de todas as perguntas dele. As vezes ela olhava ao redor em busca de alguma coisa estranha, mas nada encontrou.

 

 

 

— Você nunca vai me falar sobre o seu passado? — ele perguntou em um determinado ponto da conversa.

 

— Quem sabe um dia. — ela respondeu suspirando.

 

 

 

O encontro foi ótimo e Hayley estava feliz por ter concordado em sair com Mathew.

 

 

 

— Muito obrigada Mathew, a noite foi ótima. — ela disse enquanto abria a porta.

 

— Eu que agradeço. Você é uma mulher incrível Hayley. — ele respondeu com a voz cheia de sedução.

 

— Então... boa noite. — ela se despediu.

 

— Boa noite.

 

 

 

             Hayley fechou a porta lentamente, seu coração acelerado, ela queria convidá-lo para entrar, mas o habito a fez afastá-lo. Ela afastava todos da sua vida, estava na hora daquilo mudar. Ela abriu a porta em um impulso e pode vê-lo de cabeça baixa indo para a casa dele.

 

 

 

— Mathew! — ela chamou e ele se virou rapidamente — Você quer um café?

 

 

 

             O sorriso que ele abriu fez todas as reservas dela cederem, ele caminhou rapidamente até ela, entrou e fechou a porta.

 

 

 

— Só vai demorar um segundo... — Hayley não conseguiu terminar a frase pois a boca de Mathew já estava sobre a dela.

 

 

 

             O beijo selvagem e apaixonado que ele deu acendeu todos os lugares possíveis do corpo de Hayley, suas mãos acariciavam o seu corpo e ela pode sentir novamente a emoção de sentir prazer. Mathew tirou a camisa e ela pode admirar por um segundo o seu físico maravilhoso, mas ele não deu a chance dela apreciar mais, pois seus beijos ficaram mais urgentes e necessitados e ela somente se deixou levar. Quando percebeu, já estavam nus no meio da sala, ele a deitou no sofá e começou a explorar o seu corpo dando beijo e mordidas.

 

 

 

— Você é perfeita. — ele disse sussurrando.

 

 

 

Ele beijou sua barriga e deu leves lambidas em seu umbigo, fazendo Hayley rir de cócegas.

 

 

 

— Eu já te disse que adoro quando você ri? — ele perguntou brincalhão.

 

— Sim.

 

— Eu vou fazer você sorrir para sempre. — ele prometeu.

 

 

 

              Hayley não teve tempo de refletir sobre o que ele havia acabado de dizer, pois ele já estava lentamente explorando o sexo dela com a língua. Naquele momento, nada mais importava, somente ela e Mathew.

 

 

 

             Eles se amaram durante a noite toda, o sexo havia sido maravilhoso e Hayley sabia que aquilo não tinha mais volta, ela estava apaixonada por Mathew, e doía pensar que eles não poderiam viver um relacionamento.

 

 

 

— O que você esta pensando? — ele perguntou depois de um tempo abraçados. Eles já haviam ido para o quarto e estavam na cama em um confortável silencio.

 

— Em nada. — ela mentiu.

 

— Eu sei que é tudo muito novo e recente Hayley, mas eu quero que você saiba que eu estou muito envolvido por você. — ele disse acariciando seus cabelos.

 

— É complicado Mathew. — ela suspirou.

 

— Nós podemos resolver juntos, eu acho que você já percebeu que eu estou apaixonado por você, e por mais que você tente negar, eu sei que isso é recíproco.

 

  

 

Hayley não disse nada, apenas apreciou o momento e adormeceu em seus braços.

 

 

 

            Estava dormindo profundamente quando um barulho lhe chamou atenção. Imediatamente se pôs em alerta, Mathew dormia sem nada perceber. Hayley abriu lentamente a gaveta do criado mudo onde deixara a arma que sempre mantinha debaixo de seu travesseiro. Levantando-se com cuidado e sem fazer barulho caminhou até a porta, parando ao ouvir Mathew que balbuciava alguma coisa durante o sono. Com muita cautela abriu a porta e seguiu para a cozinha. Outro barulho se fez audível e ela destravou a arma preparando-se para o que fosse preciso. Praticamente não fazia nenhum barulho. Quando passou pela sala a porta encontrava-se aberta, maldiçoou-se por não ter verificado antes. Mathew! De repente uma idéia lhe veio à mente, e se ele realmente fizesse parte de tudo isso? Só esperaram um deslize seu, para agirem, Mathew fora mandado com a missão de distraí-la.

 

 

 

            Não pôde concluir o raciocínio, pois nesse momento alguém saia da cozinha, sem parar para pensar Hayley atirou. A bala atingiu o braço do homem que muito rapidamente conseguira escapar. Correu até a porta a fim de alcançá-lo, mas ele muito rapidamente correra rua abaixo ficando assim fora de seu alcance.

 

            Vendo que não poderia alcançá-lo nem atingi-lo voltou ao quarto para arrumar suas coisas, esbarrando em Mathew que estava quase em suas costas assustado pelo som do tiro. Ao ver a arma na mão de Hayley compreendeu menos ainda.

 

 

 

— Hayley o que houve? Você está bem? Está ferida? – perguntava ele olhando-a para certificar-se que nada lhe ocorrera. Tamanho foi seu espanto quando ela apontou-lhe a arma.

 

— Você sabia de tudo não é? Confesse Mathew! – gritava ela.

 

— Do que você está falando Hayley? Abaixe essa arma. Você não sabe o que está dizendo querida. Eu não sei do que você está falando. – falava ele tentando acalmá-la.

 

— Não minta para mim! Você veio aqui para me distrair!

 

— Não Hayley! Por favor, se acalme. Lembre-se do que eu falei, eu estou com você, estou do seu lado.

 

 

 

            Hayley aos poucos foi baixando a arma. Mathew tinha razão. Ele não poderia fazer parte daquilo tudo. Ele era algo bom que a muito não acontecia em sua vida. Mas era preciso deixá-lo para trás. Virando-se bruscamente correu para o quarto com Mathew atrás de si. Com as visitas de Mathew à sua casa Hayley passou a deixar as malas dentro do guarda roupa.

 

 

 

— Hayley, por favor, me explique o que está acontecendo. – pedia ele.

 

— Não há tempo para isso Mathew. – gritava ela.

 

— Por quê? Qual é o problema? Por favor, me diga. – disse ele ao alcançá-la, segurando seu rosto entre as mãos, fazendo com que ela o encarasse.

 

— Mathew eu sinto muito, não posso permanecer aqui, e para sua segurança é melhor que você também não permaneça. – disse ela contendo as lágrimas que há muito tempo continha, mas que agora ameaçavam cair.

 

—Eu acho que é hora de você me contar o que esta acontecendo Hayley, e então resolvermos juntos essa situação. — ele disse firme.

 

 

 

Hayley tentou se acalmar, ela o amava e ele deveria saber toda a verdade, mesmo correndo o risco de perder o seu grande amor ela decidiu se abrir, respirou fundo e olhou em seus olhos.

 

 

 

— Tudo bem, eu vou te contar....

 

 

Capitulo 4


Hayley podia ver um brilho nos olhos de Mathew com aquela revelação, mas ela não podia se deixar levar por isso.

Alguém havia invadido sua casa e Hayley não era tola de pensar que fora coincidência, apenas um ladrão que invadira uma asa a esmo.

— Vista-se rápido e vamos sair daqui.

Depois que ele estava devidamente vestido, ela segurou a mão de Mathew e foi até seu carro e antes de ligar, abaixou-se na calçada, olhando debaixo do veiculo. Levantou-se e olhou dentro do caput, na mala e debaixo dos bancos, antes de finalmente, sentar-se na direção e fazer sinal para Mathew sentar ao lado dela.

— O que você estava procurando? – ele perguntou.

Sem pensar muito, ela respondeu:

— Uma bomba!

— Uma o quê?! – ele arregalou os olhos encarando-a, mas ela estava totalmente atenta à direção e aos retrovisores, não perdendo tempo olhando-o de volta.

— Meu pai, trabalhava para uma quadrilha de Nova Jersey. Eles eram os “donos da cidade”, emprestavam dinheiro com juros altíssimos e meu pai, bom... Ele cobrava esses empréstimos. – os olhos dela entristeceram e perderam o brilho – Não era o trabalho mais honesto do mundo, mas nós podíamos viver com conforto, muito conforto. Era o que meu velho sempre dizia. Mas ele ficou ambicioso e começou a extraviar dinheiro deles. 

Ela avançou um sinal vermelho e um carro quase bateu neles. Enquanto Mathew ficou apavorado, Hayley agia como se não tivesse acabado de infringir a lei.

— Cuidado! – ele disse e rapidamente ela o encarou.

— Sei o que estou fazendo! – deu mais duas olhadas em cada retrovisor – Posso continuar? – Ele assentiu, enquanto ela o olhava de esguelha e prosseguiu com a história – Minha mãe descobriu e disse que ele precisava parar com aquilo. Que devíamos fugir e meu pai, claro, concordou.

Hayley dirigia como se a rua estivesse vazia, e àquela hora, deveria estar. Mas estranhamente, havia bastante movimento. Mathew se segurava no banco – enquanto ela ziguezagueava entre os carros – como se isso pudesse salvar sua vida, caso um acidente acontecesse.

— O problema, – ela continuou – foi que os bandidos também descobriram. – os olhos dela se encheram de lágrimas e antes que ela continuasse, Mathew colocou a mão sobre a dela.

— Antes de continuar, posso sugerir uma coisa?

— O que?

— Já percebi que estamos rodando, para despistar e você está bem atenta aos retrovisores. Aqui perto tem um edifício garagem, podemos conversar lá, sem você colocar nossas vidas em risco a cada segundo?

Hayley virou-se para dar uma resposta ríspida, mas quando o encarou ele estava pálido. Não era porque ela estava acostumada com essa situação, que todos estavam.

— Tudo bem, vamos até lá.

Ela dirigiu por mais alguns minutos, deu a volta no quarteirão do edifício garagem três vezes antes de finalmente entrar.

Depois que ela escolheu uma vaga estrategicamente fácil para uma possível fuga, ela virou-se para Mathew, que a encarava com total atenção e seriedade.

— Agora pode continuar. – ele disse segurando a mão dela, dando um leve apertão, confortando-a.

— Estávamos no inverno, e a temperatura havia caído bruscamente. Eu tinha acabado de chegar da escola. Naquela época eu era uma adolescente como outra qualquer e me chamava Allison Smith. – ela fez uma careta como se aquele nome deixasse um gosto amargo na boca – Minha mãe fazia um delicioso lanche para nós. Todos os dias eram assim. Ela esperava eu chegar para lancharmos juntas. Quando entrei em casa reclamei do frio e ela disse que já iria até o porão para ver se havia algum problema com o aquecedor, mas que ela não podia ir agora, pois estava fritando bolinhos para nós. – os olhos de Hayley se encheram de lagrimas novamente, mas ela tratou de seca-los com as costas da mão – Eu disse que ela não se preocupasse, que eu mesmo iria. Eu estava lá em baixo há poucos minutos, quando ouvi muitos tiros e a minha primeira reação foi subir correndo as escadas, mas quando coloquei o pé no primeiro degrau, ouvi vozes desconhecidas.

“— Procurem a menina”

“— Há essa hora ela já chegou da escola”

— Eu fiquei apavorada, e corri até um fosso antigo que ficava em baixo do porão. Era algo que o primeiro morador daquela casa tinha feito, não era comum as casas terem isso. Parecia aquelas proteções contra furacão. E havia um lugar, onde a madeira havia rachado, criando um sulco e por ali eu consegui ver os rostos dos homens. Eu simplesmente não me mexi, mal conseguia respirar, com medo de que eles pudessem ouvir meus próprios pulmões. Depois de muitos minutos, que pareceram uma eternidade eles foram embora. Mas eu permaneci lá. Não tive coragem de sair. E se eles não tivessem ido realmente embora? Não sei se o frio aumentou, ou o quê, mas eu parecia congelar. Tremia dos pés à cabeça. – ela fitou as próprias mãos abaixadas em seu colo enquanto falava – De repente eu ouvi barulho novamente, mas esses continuaram por muito tempo, até que a luz cegou meus olhos. A única coisa que eu conseguia pensar era que eu morreria ali, escondida naquele fosso. Mas não eram os bandidos, era a polícia. O policial que me achou, o detetive Reymond, me levou para delegacia e me colocou sobre o programa de proteção às testemunhas. Apenas lá eu descobri que meu pai também havia sido assassinado. – lagrimas correram por sua face e, não conseguindo mais segurar, Hayley chorava de soluçar – E... E eu... Eu nem pude... Ir ao enterro... Ao enterro dos meus pais, Mathew!

Hayley cobriu o rosto com as mãos, como se sentisse vergonha de suas lagrimas. E Mathew a puxou para seu colo, encostando a cabeça dela em seu peito, num conforto silencioso, enquanto acariciava sua cabeça.          

Quando Hayley conseguiu parar de chorar, ela se recompôs e respirando fundo o encarou.

— Quantos anos você tinha, querida? – ele perguntou beijando cada lado de sua face, ainda molhada pelas lágrimas.

— Quinze!

— Céus!

— Mas não parou por aí.

— Não?!

Ela balançou a cabeça em negação.

— Com meu depoimento eles conseguiram prender algumas pessoas da quadrilha. Mas os chefões mesmo fugiram. Como eu estava sob proteção, eu fui morar com uma tia no Texas. Tia Nancy era irmã da minha mãe, era uma pessoa doce, bondosa. Quando ela soube o que havia acontecido com a minha família ficou horrorizada e me acolheu como uma filha. Morei com ela por três anos e começava a achar que minha vida voltava ao normal. Voltei a estudar em uma escola, que ficava distante do sitio, mas Tia Nancy insistiu que eu precisava terminar os estudos, para ter uma profissão e dar orgulho a ela e aos meus pais. Um dia eu precisei ficar na escola até mais tarde, fazendo um trabalho e quando eu cheguei em casa, estava tudo revirado e eles haviam matado minha tia também.

— Como você soube que foram eles?

— Ora Mathews, quem mais mataria uma velinha do interior do Texas? – ela o olhou como se fosse tão obvio – E o detetive Reymond, depois de ter me colocado com uma família adotiva, com um novo nome e tudo mais, me disse que prendeu dois capangas que estavam presentes quando minha tia foi assassinada. – ela tentou sair do colo dele, mas ele não deixou, abraçando-a mais apertado – Fiquei com essa família por mais dois anos, mas agora eu estava mais esperta e quando percebi que um homem estranho começou a circular na região, arrumei minhas coisas e fui embora, sem me despedir, sem falar com ninguém. Percebi ali, que eu não poderia mais colocar ninguém em perigo. Não podia permitir que pessoas continuassem morrendo por minha culpa.

— Mas a sua família adotiva?

— Eles ficaram bem, o detetive Reymond me confirmou quando eu entrei em contato com ele pra avisar onde eu estava. – ela suspirou como se pudesse tirar do ar, forças para continuar aquela historia, que Mathew estava achando arrepiante. Parecia coisas que ele só tinha visto, até então, nos filmes – Depois disso eu não fiquei mais de um ano em cada lugar, sempre me mudando, sempre atenta. Trocando de emprego, não deixando ninguém se aproximar, não fazendo amizades, não me relacionando...

— E isso tem exatamente?

— Cinco anos.

— Eu não entendo... – ele começou a falar, e ela o encarou – Porque, depois de tantos anos, eles ainda te perseguem?

— Não é obvio? – ela revirou os olhos – Meu pai desviou muito, mas muito dinheiro mesmo, Mathew e eles acham que eu sei onde está, mas eu não sei. Oras eu só tinha quinze anos, acham mesmo que meu pai me diria algo a respeito?

            Um silencio pairou no carro durante um tempo, até que Mathew começou a mexer nos dedos, como se contasse algo.

— Sabia que você não tinha vinte oito anos! – ele sorriu tentando aliviar a tensão do ar, mas como não funcionou ele fitou-a sério e perguntou: — Por isso você me evitou?

— Também.

— Como assim “também”?

— Eu achei que você fosse um deles. Que tivessem mudado a abordagem. – ela deu de ombros.

— E o que faremos agora?

— Faremos?!

— Sim. Acho que você saberá melhor que eu, mas acredito que você deva ligar para o detetive Reymond.

— Primeiro não existe “nós” Mathew. Você voltará pra sua casa e eu irei embora, me mudarei e começarei vida nova, como sempre fiz. Segundo... – ela colocou o dedo nos lábios dele quando ele fez menção de protestar – eu já liguei, mas ele não atende o celular. Um numero especial que ele usa apenas para contato com as pessoas sob o programa de proteção.

— Como assim, não existe nós? Claro que existe! Eu não vou abandoná-la. Se você vai fugir, eu vou junto.

— Você está louco?  – ela olhou para ele furiosa e pulou de seu colo, retornando ao banco do motorista, antes que ele pudesse prendê-la. – Você não vai comigo.

— Isso não está em discussão.

— Ah, mas não está mesmo!

— Se você não me deixar ir junto, eu vou segui-la e quando menos você esperar eu vou estar do seu lado, batendo na sua porta, onde quer que você esteja.

Hayley cruzou os braços em cima do volante e abaixou o rosto sobre eles. Permaneceu um tempo perdida em seus próprios pensamentos. Depois levantou e encarou o nada à sua frente.

— Será que você não entende, Mathew? Eu não posso perder mais ninguém. Não posso perder você!

— Você que não entende, Hayley. Se você for embora, se me deixar, eles vão vencer do mesmo jeito. Vai me perder do mesmo jeito. Nós vamos nos perder.

Ela o encarou por um momento. Como ele não poderia entender que era melhor ele longe, e vivo, do que correndo risco com ela?

— Nós vamos embora juntos, querida. Nós agora vamos voltar e você vai trabalhar, como se nada tivesse acontecido. Eles vão achar que você não desconfia de nada e não vão se preocupar, então quando você sair do trabalho eu te pego lá, como se nós fossemos apenas para um encontro e nós vamos embora.

— Você não pode estar falando serio!

— Claro que estou. Venha, deixe o carro aqui e vamos pegar um taxi. Você fica o resto da noite na minha casa e amanhã eu te pego com meu carro.

Ainda relutante com a ideia Hayley saiu do carro e acompanhou Mathew. Ela estava divida. Ao mesmo tempo em que ela não queria colocar a vida dele em risco, havia tanto amor nas palavras dele, tanto carinho, que ela egoistamente, não queria deixar de ter aquilo. Há muito tempo ela não se permitia amar e ser amada. Agora que esse sentimento havia sido plantado novamente em seu coração ela não podia desistir dele. Não agora! Não nunca!

            Durante todo caminho no taxi, ele não a soltou. Acomodou-a contra seu peito e envolveu-a em seus braços enquanto o taxi fazia o caminho de volta. Nem ela se dava conta do tanto que ela havia dirigido, já começava a amanhecer quando ela começou a reconhecer as ruas próximas a casa deles.

            Quando desceram em frente à casa de Mathew, Hayley estava com a jaqueta dele e os cabelos preso por baixo dela, e um boné que ela deixava sempre guardado na mala do carro. Quem olhasse de longe, podia facilmente confundi-la com um homem.

            Assim que Mathew colocou a chave na fechadura, uma sensação estranha surgiu no estomago de Hayley. Parecia que ela estava adivinhando! O semblante de Mathew se petrificou quando ele percebeu que suas coisas haviam sido reviradas e sua casa estava de cabeça para baixo.

Hayley soltou um gemido abafado e automaticamente, puxou uma arma do tornozelo enquanto Mathew, teimosamente, adentrava na casa, avaliando os estragos.

— Vamos embora daqui. – ela disse.

— Espera, eu preciso pegar umas coisas.

— Poucas coisas e rápido.

            Ele pegou seu notebook, onde estava todo seu trabalho, meia dúzia de peças de roupas e saíram.

            Hayley se espantou quando ele parou na porta da biblioteca.

— Você está louco? Vamos embora...

— Me dê o telefone do detetive Reymond. Enquanto eu tento contato com ele, voltaremos ao plano inicial. Venho te buscar as cinco.

— Mas quanto mais tempo ficarmos aqui...

— Querida, me ouça. Eu sei que você é quem tem vivido no inferno todos esses anos e já está mais que acostumada com essas fugas.  – ele acariciou o rosto dela – Mas já está na hora de você ser cuidada e protegida e eu farei isso. Então, por favor, continue atenta a qualquer movimento estranho enquanto eu vou providenciar tudo pra nossa fuga. Confie em mim, por favor.

— Eu confio.

Eles se beijaram e Hayley desceu do carro, agindo como todos os dias e caminhou para sua mesa de trabalho.

Assim que ela se afastou, Mathew pegou o telefone e discou rapidamente um número. A pessoa do outro lado atendeu no primeiro toque.

— Descobri tudo sobre ela... Sim, sim... Tenho certeza que ela falou a verdade... Preciso que faça algo... Preciso que você localize um tal detetive Reymond, ele quem tem ajudado ela... Certo, me retorne o mais rápido possível... Vou estar com ela novamente as cinco e preciso dessa informação antes disso...

            Mathew desligou e saiu com o carro.

Final 

 

Hayley estava ansiosa pelo final do dia. Fugir de um lugar e recomeçar em outro era sempre estressante, mas agora ela estaria com Mathew... E por mais que soubesse que era loucura ele acompanha-la, não podia negar que isso tornava as coisas muito mais tranquilas...

 

Ela chegava quase a confiar que tudo aquilo terminaria bem.

 

— Srta. Gibson?

 

Ela ergueu o olhar para Natalie, a secretária do diretor da biblioteca.

 

— Sim?

 

— O Sr. Stewart quer vê-la em sua sala.

 

Hayley balançou a cabeça, enquanto a seguia. Não pôde evitar sentir-se incomodada enquanto caminhava pelo corredor até a parte administrativa. Tocou a arma em sua cintura, mas isso não lhe trouxe paz.

 

Algo estava acontecendo, e ela sabia. Todos os seus instintos estavam em alerta, e sua real vontade era se virar e correr.

 

Mas Hayley controlou seus temores, e continuou andando calmamente, dizendo a si mesma que estava tudo bem. Arrependeu-se no momento em que entrou na grande sala do diretor e a secretaria fechou a porta atrás de si.
Havia dois homens vestidos de terno preto. Assim que os viu seu coração disparou, e rapidamente virou-se para a porta. Disparou pelo corredor, mas antes que pudesse sair das dependências administrativas, dois homens colocaram-se em seu caminho.
— Você precisa vir conosco.

 

Chegara o dia em que tanto temera. Durante todos aqueles anos que fugira, que se escondera, que tivera cuidado, Hayley temia que nunca fosse ser o suficiente, e tinha pesadelos com o dia que realmente não conseguisse escapar deles.

 

Deu dois passos atrás, os olhos nunca os abandonando, alerta aos seus movimentos.
— Não tente fugir. — Era um homem moreno e alto, a voz tão fria e ameaçadora que Hayley sentiu o medo apossar-se de sua alma.

 

Ignorando o aviso ela girou e correu. Virou no corredor e deu de frente com uma parede de músculos. Hayley o atacou, mas antes que pudesse aplicar-lhe um golpe Krav Magá, ele a imobilizou. Os outros dois homens aproximaram-se deles, e a arrastaram de volta ao escritório do diretor.

 

— Hayley, nós nãos queremos machucá-la. — um dos homens falou, e ela lembrou-se que o tinha visto enquanto corria, semanas antes.

 

— Não tenho nada a dizer a vocês. Nada. — disfarçadamente ela estudava o local, buscando uma forma de fugir.

 

Mas não seria fácil. Haviam três homens dentro do escritório, e dois do lado de fora. Hayley achava difícil que dessa vez conseguisse escapar.
Lembrou-se de Mathew, e agradeceu a Deus que tivesse sido pega agora, antes de se encontrar com ele.

 

Mathew estaria a salvo.

 

— Hayley, o detetive Reymond está morto.

 

Encarou o homem a sua frente. Se um homem como o detetive, tão capaz e competente, estava morto, que chances ela tinha?

 

— E a próxima sou eu? — tentou aparentar calma, algo que não sentia.

 

— Não somos seus inimigos, Hayley. — o homem disse serio. — Ao contrário. Nós somos agentes e detetives do FBI, e estamos neste caso há anos, sempre perseguindo essa quadrilha.

 

— Eu nunca soube disso antes. — ela o encarou desconfiada, avaliando o distintivo que ele lhe apresentou, onde havia seu nome escrito: Paul Scott.

 

— Nem deveria. O Programa de Proteção a Testemunha funciona de forma sigilosa.

 

Não podemos nos dar ao luxo de que a nova identidade de um protegido seja descoberta, e por isso tomamos todas as medidas imagináveis para preservá-la. O detetive Reymond era o responsável por remanejá-la e providenciar seus novos documentos quando necessário, e além dele, somente eu tinha conhecimento de sua identidade, e ninguém mais. Entretanto, com o assassinato do detetive, percebemos como são ousados, e como são muito mais numerosos do que pensávamos.

 

Hayley o encarava atenta. E o que afinal eles queriam?

 

— Dessa forma, decidimos atacar e eliminar de vez por todas esta quadrilha. Você tem fugido deles por anos, e eles estão muito interessados em você, em descobrir o paradeiro do dinheiro...

 

— Eu não sei onde está esse dinheiro!

 

— Nós sabemos disso, mas eles não sabem. Essa é a nossa arma, você é a nossa arma. Eles virão atrás de você, e nós os pegaremos.

 

— Eles já vieram. — ela sussurrou aterrorizada. — Eles estão por ai, em algum lugar, esperando o momento de me pegarem. Eu estou fugindo hoje, daqui a algumas horas na verdade.

 

— Não, para isto dar certo você precisa ficar e fingir que nada aconteceu.

 

— Desculpe, Detetive Scott, mas não posso. Todas as vezes que eles chegaram perto demais, alguém morreu. — pensou em Mathew e seu coração doeu. — Tenho alguém importante em minha vida agora, e não posso arriscar sua segurança.

 

— E você prefere passar mais dez anos fugindo, Hayley? Prefere isso a ficar e nos ajudar?— fez um momento de silêncio que foi mais eloquente que mil palavras. — O que o Sr. Sullivan acha disso?

 

Não a surpreendeu que ele soubesse quem era Mathew, e que o usasse contra ela. Não fora disso que fugira a vida toda? De tornar-se fraca ao envolver-se com alguém?

 

— Hayley, pense no que tudo isso significa. Você poderá enfim ter uma vida normal, aqui ou em qualquer lugar que você escolha. — disse ele, persuasivo. — Significa poder baixar a guarda, significa poder fazer amigos... Casar, construir família...
— O que eu precisaria fazer? — interrompeu-o, brusca. Não gostava daquilo, e não queria que ele dissesse em voz alta seus sonhos, ha muito destruídos.

 

— Você precisa continuar com sua rotina normal, como se nada de diferente tivesse acontecido... Eles virão até você...

 

— Eles virão até mim! — riu sem humor, levantando-se, exasperada. — Eles estavam na minha casa ontem! Na casa de Mathew! Por que não os pegaram então?

 

— Os que estavam lá eram os pequenos... Nós queremos os grandes, Hayley. Queremos acabar com eles de uma vez por todas, e você é essencial neste jogo.

 

— Não sei... — caminhou pela sala, a mente rodando em volta dos últimos acontecimentos. Poderia fazer isso? Se arrependeria se não fizesse?

 

— Hayley, temos algumas informações importantes... Se nós conseguirmos pegá-los desta vez, conseguiremos pegar todos. — E como sabem disso? — perguntou interessada.

 

— Nós pegamos o homem que invadiu a sua casa. Com o incentivo certo, ele se mostrou extremamente útil. — sorriu ironicamente. — Os chefões estão aqui, Hayley. Eles mesmos vieram para acabar com você. Estão organizando uma grande emboscada, e mesmo que você saia agora, acho difícil que você consiga chegar muito longe.

 

— Se eles estão aqui, por que vocês não vão até eles?

 

— Por que não sabemos onde exatamente eles estão, nem nosso informante.
Hayley passou a mão nos cabelos. Poderia fazer isso?

 

— Estarei segura?

 

— Você tem estado sob proteção efetiva há varias semanas, Hayley. Estará totalmente segura até que os peguemos.

 

— Eu estava sob proteção, mas ele entrou na minha casa. — seu tom foi acusatório, enquanto ela o encarava friamente.

 

— Estávamos prontos para intervir no momento em que fosse necessário, Hayley. — ele respondeu sério. — Nunca foi uma opção colocar sua vida em risco.

 

Hayley ficou em silencio por um momento, pensando. O que Mathew pensaria disso?

 

E então ela soube. Soube que não era justo arrasta-lo para um a vida de fugas constantes... Por mais que ele estivesse disposto agora, ela sabia quão difícil era com o tempo.

 

Definitivamente não era a vida que ela queria para o homem que amava.
Por ele, Hayley precisava tentar ser uma mulher livre.

 

— Quero que Mathew seja colocado agora mesmo em segurança. — disse com firmeza, demonstrando que aquilo não estava em discussão. — Quero que o levem para algum lugar, e o mantenham seguro até que tudo seja resolvido.

 

— Considere feito.

 

Eles se olharam, e Hayley soube que, tal como pudera confiar sua vida ao detetive Reymond, também poderia confiar em Paul Scott.

 

Quando ela saiu da biblioteca ao final do expediente, encontrou seu carro no estacionamento, como detetive Scott prometera que estaria. Analisou-o detidamente, e então entrou e deu partida.

 

Mathew havia ligado varias vezes, mas ela se recusara a atendê-lo. Ele provavelmente estaria zangado de ser tirado de cena, e ela não queria ser distraída por ele... E não queria correr o risco de que ele a convencesse a deixa-lo participar daquela loucura.

 

Poucas quadras depois seu celular acusou o recebimento de um correio de voz, e automaticamente ela sabia que era dele. Parou no acostamento, e apertou a tecla, seu coração vibrando ao ouvir a voz sexy de Mathew.

 

 

 

“Hayley, fúria não é adequado para definir meu sentimento neste momento. Ou admiração. Você é uma exasperante de uma mulher cheia de fibra e determinação, e eu só queria poder cuidar de você. Mas ao invés disso, você mandou esses grandalhões, contra os quais eu não tenho a mínima chance, para me escoltar para um lugar qualquer. Você sabe que eu seria contra ao que está fazendo, não por estar tentando uma forma de parar de fugir, mas de me afastar de você mais uma vez. A única coisa que eu queria era estar do seu lado, não importa onde ou fazendo o que. Mas você não deixou, então só me resta pedir a Deus que você volte logo, e salva, para mim. Acredito que você já saiba, mas o Detetive Reymond está morto. Meu irmão é policial, e pedi que verificasse, e foi o que ele descobriu. Eu te amo, e estarei esperando sua volta. Tenha cuidado.”

 

 

 

Ouvir as palavras dele a quebraram, e ela chorou, a saudade que já sentia dele pesando em seu coração. Hayley o amava loucamente, e só queria poder deitar a cabeça em seu ombro agora, sentindo o cheiro da pele morna.

 

Ouviu novamente a mensagem, sorrindo ao ouvi-lo dizer que a amava.
Deu partida novamente no carro e acelerou, e foi quando ela viu dois carros a distancia fazendo o mesmo. Atenta, entrou em outra rua, e os dois carros a seguiram. Pegando o celular, discou rapidamente o telefone do detetive, que atendeu no primeiro toque.

 

— Scott.

 

— Você tem alguém me seguindo agora?

 

— Tenho um carro logo atrás de você. Hayley, o que está acontecendo?

 

— Há Dois carros, a mais ou menos duzentos metros.

 

— Tem certeza que estão atrás de você?

 

— Por favor! — não pôde evitar que uma curta risada irônica escapasse de seus lábios. — Estou nisso há dez anos!

 

— Certo, mandarei reforços imediatamente.

 

Desligando ela manteve-se atenta ao retrovisor. Rapidamente conseguiu identificar o carro dos agentes, a alguns metros, e os dois carros continuavam lá, mas agora estavam mais perto.

 

Quando Hayley diminuiu a velocidade para parar em um sinal vermelho, eles aceleraram, e um dos carros parou ao lado do dela. A janela escura do passageiro foi baixada, e um homem de cabelos grisalhos a encarou, sorrindo amigavelmente.

 

Ela o encarou, as mãos suadas e trêmulas, enquanto voltava a um dia, dez anos atrás, quando vira aquele homem pela primeira vez.

 

Olhou para frente, uma lagrima involuntária correndo por sua face pálida. Acelerou, atravessando o sinal vermelho e quase batendo contra outro carro. Os outros carros a seguiram, e logo estavam em uma perseguição acirrada. Em poucos minutos mais veículos, que Hayley esperava que fossem da polícia, se juntaram a eles. Em instantes vários tiros estavam sendo trocados, e alguns carros foram ficando para trás, e ela pensou que os bandidos iriam desistir.

 

Mas ao contrário do que ela esperava, um carro a sua direita bateu violentamente contra o seu. Ela gritou e segurou firme no volante, acelerando mais ainda. No carro à sua esquerda, o homem de cabelos grisalhos a encarou, novamente sorrindo, e então apontou um revolver em sua direção, atirando em seguida, sem deixar de sorrir.

 

O tiro quebrou a janela do passageiro, e Hayley não podia acreditar o quão perto a bala passara dela própria.

 

O homem sorriu novamente, e projetou a cabeça para fora, falando alto para que ela ouvisse.

 

— Você é uma mulher corajosa, e eu gosto disso. Mas estou cansado dessa brincadeira de criança. — apontou novamente a arma para ela, e atirou.
Ela sentiu a dor, e o calor correr livre por sua cabeça. Perdeu a direção, e o carro rodou na pista. Os pneus em atrito contra o asfalto, a velocidade com que o carro girava, a dor, o sangue quente em suas mãos, e o barulho ensurdecer de seu próprio grito a confundiram e nublaram sua visão, e quando enfim o carro se estabilizou e parou de girar, ela já não via mais nada.

 

 

 

Um barulho irritante penetrou sua consciência, e quando conseguiu abrir os olhos tudo era muito branco e frio.

 

— Hayley?

 

Virou-se em direção a voz tão rápida quanto a cabeça dolorida lhe permitia.
E ali estava ele, o homem que amava. Lindo mesmo com a aparência cansada, os olhos vermelhos e injetados. Havia preocupação em seu rosto, mas também alivio.

 

— Como se sente?

 

— Com sede. — murmurou, a voz grossa e falha.

 

Uma enfermeira entrou no quarto, e então um médico, e nos minutos seguintes Hayley foi minuciosamente examinada.

 

A bala havia penetrado sua cabeça, e ela tivera sorte de não estar morta, visto que o projétil passara a centímetros do cérebro. Fora operada para retirar a bala, e ficara na UTI por três dias. Após o exame, satisfeito com os resultados o médico comunicou que ela estava em plena recuperação, e fora de perigo. A enfermeira trouxe-lhe água e a ajudou a beber pequenos goles, e lhe deu comprimidos para dor, retirando-se em seguida.

 

Ela queria conversar com Mathew, queria saber o que acontecera... Mas o sono e cansaço a venceu, e ela dormiu, sentindo-o acariciar ritmicamente sua mão.

 

Quando acordou novamente, olhou ao redor, e Mathew estava lá, dormindo em uma poltrona, a mão descansando possessivamente sobre o braço dela, a cabeça debruçada sobre a lateral de sua cama.

 

Percebeu que estava em outro quarto e que, embora estivesse com o corpo dolorido, no geral sentia-se bem. Moveu-se um pouco, buscando uma melhor posição, e Mathew imediatamente levantou a cabeça, encarando-a, os olhos sonolentos e vermelhos.

 

— Como se sente, amor? — ele perguntou, preocupação marcando sua voz.

 

— Bem. — sorriu para ele, feliz em vê-lo. — Com sede.

 

Ele a ajudou a beber pequenos goles de água, sorrindo para ela como se fazer aquilo o deixasse satisfeito.

 

— O que foi? — Hayley perguntou, observando-o.

 

— É bom tê-la de volta, dorminhoca. — Mathew acariciou sua face com carinho. — Estava com saudade.

 

— O que aconteceu?

 

— Todos eles foram presos, graças a Deus. — ele disse, sentando-se na poltrona sem interromper o contato com ela. — Quando atiraram em você, eles tentaram fugir enquanto ainda trocavam tiros com a polícia, mas os federais estavam realmente preparados para qualquer eventualidade, e conseguiram pegá-los na saída da cidade. Vários da quadrilha morreram, e alguns policiais também, mas todos os que sobreviveram foram presos. — sorriu ao limpar delicadamente as lágrimas que rolavam pela face dela. — Você está livre, amor.

 

— Livre? — Hayley testou a palavra, e a esperança que ela lhe trouxe aqueceu sua alma.

 

— Sim, livre. Nós podemos ir onde quisermos, fazer o que quisermos... Sem precisar andar em círculos, nem olhar mil vezes a rua antes de dormir. — disse provocador, e dessa vez ela riu alto, parando ao sentir a dor. Gemeu, e mais lágrimas rolaram, grossas e abundantes, felicidade pela nova vida que a esperava juntando-se à tristeza de tudo o que ficara para trás, todas as pessoas que morreram... Tudo o que não se permitira sentir por longos anos agora estavam de volta, e enquanto soluções balançavam seu corpo, ela pôde sentir a paz invadindo-a.

 

Três anos depois, Hayley olhou para o bebê em seu colo, mamando avidamente em seu seio.

 

Landon Sullivan tinha quatro meses, e nascera dois anos após o casamento de Hayley e Mathew. Ele era um lindo bebê, muito parecido com o pai, com exceção dos olhos extremamente azuis como os de Hayley. Acariciou os cabelos abundantes e negros do filho, e sorriu em resposta ao grande sorriso sem dentes que Landon abriu, parando de mamar.

 

Nunca pensara que poderia viver um momento como esse, ou todos os outros momentos mágicos que vivera nos últimos três anos. Era um sonho acordar ao lado de Mathew, ser sua esposa, dividir seus sonhos com ele, ter estabilidade.

 

Quando o filho acabou de mamar ela o levou até o ombro, batendo suavemente em suas costas, e aproximou-se da janela. Olhando para o quintal, viu Mathew cortando a grama, os músculos suados enquanto trabalhava. Observando o marido, enquanto tinha o filho deles nos braços, sentiu-se grata a Deus pela linda família que tinha hoje.

 

Agora sentia-se em segurança em qualquer lugar que estivesse. Os chefões da quadrilha tinham ido a julgamento há quatorze meses, e pego pena de morte por mais de vinte assassinatos a sangue frio, além de terem ordenado mais de trinta execuções, e ainda pelos diversos atentados contra Hayley. Os demais integrantes da quadrilha pegaram de cinquenta a oitenta anos de prisão, sem direito à liberdade condicional, e alguns ainda pegaram prisão perpétua.
Depois de se recuperar totalmente, Mathew a levara até San Diego para conhecer sua família, que a receberam de braços abertos. Ela se sentira em casa, e quando, alguns meses depois ele a pedira em casamento, ela só tinha uma resposta a dar.

 

Eles haviam se mudado para a Califórnia, por que Hayley queria morar em um lugar ensolarado. Ficara feliz quando eles compraram aquela casa, e soube que era a ultima vez que se mudaria. Aquele era seu lar, o lar de sua família, e ela amava tudo ali.

 

Depois que Landon dormiu, ela o colocou no berço e do quarto, levando a babá eletrônica consigo. Foi para a cozinha, ouvindo os sons confortadores do bebê sugando a chupeta. Preparou suco e serviu dois copos, levando-os para a parte de fora da casa.

 

— Uma folga para o meu homem trabalhador. — disse, aproximando-se de Mathew. Ele lhe sorriu em boas vindas, e ela levou a bandeja para a área coberta do jardim, colocando-a sobre uma mesa com altos bancos.

 

Mathew a seguiu, e tomou rapidamente o copo de suco, então a abraçou e beijou avidamente.

 

— O bebê está dormindo?

 

— Sim, papai, ele está. — ela respondeu sorrindo, inclinando o pescoço para dar acesso aos lábios dele.

 

— Huumm... Acho que podemos aproveitar esse tempo de uma forma extremamente agradável, não? — ele perguntou, a voz sexy e rouca, enquanto deslizava a língua pelo pescoço dela e pressionava sua ereção contra a esposa.

 

— Aposto que sim, querido. — Hayley pegou o rosto dele entre as mãos e o beijou de forma possessiva e apaixonada. — Mas você sabe que todos os meus momentos com você e nosso filho são agradavelmente inesquecíveis, não sabe? — perguntou ao afastar-se dele, seus olhos brilhando de amor.

 

 

Mathew sorriu e a levantou nos braços, levando-a para dentro da casa.

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