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O Crime e o Escrúpulo

Capitulo 1

4:30 AM
- Alô? É da polícia? Eu quero comunicar uma morte.
- Quem morreu senhora?
- Me... Meu namorado, Ted... Hã... Theodoro Villar.
- Quem é a Sra.?
- Srta... Srta Angela Luque. – A voz de Angela soava desesperada.
- Qual seu endereço Srta? – Angela informa ao atendente- Fique calma Srta. Estamos enviando uma viatura.
- O... Obrigada.

5:15 AM
O telefone do investigador Samuel toca.
- Investigador Mattos falando... Sei... Porra... Claro que eu vou... Qual o endereço?...Ok chego em vinte minutos.

Ele ainda cheirava a uísque barato. Precisava de um banho antes de ir cuidar deste caso.
Depois que chegara da festa do Juiz Conrado Soares, aquela noite, ele não deixou de tomar suas doses diárias de uísque.

Samuel odiava quando o telefone tocava de madrugada. "Porque as pessoas não podem cometer a porra dos seus crimes depois que amahanhece?" ele dizia ao seu superior quando resolvia um crime.

Samuel era um homem amargurado, por conta dos imprevistos da vida. Não tinha amigos. Dedicava seu tempo ao trabalho. E quando estava em casa, tomava doses e mais doses de uísque. Pra esquecer. Pra dormir. Por qualquer motivo. Mas não foi sempre assim. Antes do dia fatídico ele era um homem risonho e divertido. Amava passar as horas livres com sua mulher e sua filha. Iam à praia, parques, shoppings, restaurantes. Tinham os mais variados programas. Naquele dia, estavam vindo de um desses passeios.

Samuel havia chegado cansado do trabalho, mas sua filha há muito pedia para ir ao zoológico naquele dia ela pediu mais uma vez. E claro que ele resolveu leva-la. Quando estavam no caminho de volta, um motorista bêbado bateu no seu carro, fazendo o mesmo capotar cinco vezes e bater contra um poste. Samuel ficou seis dias em coma e quando despertou descobriu que sua mulher e filha não haviam resistido. Ele passou os próximos seis meses caçando o motorista. Dedicou todo seu tempo e experiência para encontrá-lo, porém não conseguiu. Isso o deixou ainda mais amargurado.

Quando Samuel chegou a casa onde havia acontecido o crime, ele estranhou. Era uma mansão, com direito a piscina, sauna, cachorros de guarda, sistema interno de segurança. Se havia acontecido um crime seria fácil demais descobrir, o que não condizia com os casos que ele estava acostumado a trabalhar.

Assim que ele desceu do carro um dos policiais da viatura veio conversar com ele.

- Bom dia sargento. Diga-me o que temos aqui?

- Bom dia investigador. Recebemos um chamado da Srta Luque, informando o acontecido. Ele afirma que Isabel Lopes, a cozinheira, levantou por volta das 4:00 hrs e viu que as luzes da sala estavam acesas. Resolveu verificar e encontrou o cadáver próximo ao bar. Ela começou a gritar e a Srta Luque desceu e viu o corpo de seu namorado estirado no chão. Ela mesma entrou em contato conosco, mas está em choque. Conseguiu falar muito pouco. Seu medico foi chamado. Deu-lhe um calmante, mas ela se recusou a dormir. Disse que eles voltaram de uma festa e o seu namorado estava muito bêbado. Ela disse que foram se deitar. Horas depois ela acordou com os gritos da funcionária.

- A perícia foi chamada? Encontra-se no local?

- Sim investigador, já estão trabalhando no caso.

- Certo, vou dar uma olhada nesta bagunça.

Este parecia ser um caso simples de ser resolvido. Qualquer investigador iniciante poderia estar ali. Não era como os casos que Samuel estava acostumado a trabalhar, que levavam meses para ser desvendados. Ele não entendia por que ele havia sido chamado. Ainda sim faria seu trabalho meticulosamente.

Angela estava sentada em uma poltrona de couro, próximo à porta da grande sala. Usava um robe de cetim preto e seus cabelos ruivos estavam presos no alto da cabeça. Ela tinha uma xícara de chá na mão e olhava fixamente para o corpo imóvel de Ted.

Quando Samuel entrou na casa, acompanhado do sargento da policia e Angela o viu ela sentiu uma estranha sensação no pé da sua barriga. Era o homem da festa daquela noite. Aquele homem que havia chamado sua atenção desde o momento em que o vira, causando um desejo tão intenso que ela não pudera disfarçar, provocando um acesso de ciúme em Ted.

Ele agora estava ali, na sua casa. Ela sentia coisas que desde a sua adolescência não sentia quando estava próximo a ele. Não se permitiria sentir isso novamente.

Ele estava com uma roupa informal. Diferente do smoking da festa, mas continuava sexy.

Ele a observou por alguns minutos lembrando-se de tê-la visto na festa do Juiz Conrado. Ela tinha uma beleza diferente. Destacava-se na multidão. Ele a observou um bom tempo durante a festa. Não esqueceria aquele rosto.

Samuel desviou o seu olhar de Angela e deu uma boa olhada ao redor e onde estava o corpo do morto.

- Senhora... - o sargento disse.

- Senhorita! - ela o corrigiu

- Senhorita, este é o investigador Mattos. Ele gostaria de lhe fazer umas perguntas.

Por mais que Angela estivesse admirada com a beleza rústica de Samuel ela ficou nervosa.

- Investigador? A perícia já não está aqui? Pra que um investigador?

- Mas nestes casos senhorita... -Samuel levantou a mão interrompendo o sargento.

- Em casos de mortes sem testemunhas, Srta Luque, é necessário a presença de um investigador, que neste caso sou eu. Então se minha presença incomoda tanto a Srta, basta cooperar e me deixar fazer o meu trabalho que rapidamente eu a deixo em paz.

Angela o fitou por alguns momentos e balançou a cabeça concordando, ainda assustada com a postura e o tom gélido de Samuel. O que ele tinha de bonito, tinha de grosso.

Ela tomou mais um gole do seu chá.
- Ótimo. Sente-se por favor, enquanto eu lhe faço algumas perguntas.

Ela se sentou novamente e ele começou.

- Srta Luque a que horas você e o Sr Villar chegaram em casa?

- Me chame e Angela, por favor. Por volta de uma hora da manhã.

- Nós não somos amigos, irei chama-la de Srta Luque. - Ele observou a fenda do seu robe que deixava a mostra um bom pedaço das suas pernas. – Você disse ao sargento que o Sr Villar estava bêbado, correto?

- Ted quase sempre estava bêbado. Ele gostava muito de beber.

- Você e o Sr Villar brigaram esta noite?

- Não! – ela mexeu nervosamente na xícara, agora vazia em suas mãos.

- Ele era um homem violento, Srta Luque?

- Não! Porque o Sr esta me perguntando isso?

Samuel não respondeu, mas deu uma boa olhada no antebraço de Angela, aonde havia uma macha levemente arroxeada. E pela sua experiência, o investigador sabia que não era de acidentes corriqueiros.

Ela puxou a manga do robe pra tentar esconder.
- O que vocês fizeram assim que chegaram em casa Srta?

- Fomos direto para o quarto, tomamos um banho e fomos dormir. Poucas horas depois eu acordei com os gritos da Isabel. Vim correndo pra ver o que era e encontrei-o caído no chão.

- Interessante. - disse Samuel – Como era sua vida com o Sr Villar?

- Como assim como era nossa vida? Éramos namorados. Saíamos juntos. Ted passava um bom tempo aqui em casa. A vida normal de um casal.

- E a Srta sabe de alguém que pudesse querer a morte do Sr Theodoro?

- Não. – uma lágrima correu no rosto de Angela, mas o investigador fingiu não notar.

Ele a fitou por alguns instantes. "Porra como ela era linda. E devia ser muito gostosa na cama. Ele a faria gemer..." ele interrompeu seu devaneio e se censurou mentalmente.

- Eu agradeço a sua colaboração. – Precisava se afastar daquela mulher - Agora se me dá licença. - Samuel levantou, parou e olhou-a de cima para baixo. – Posso fazer mais uma pergunta, Senhorita?

- Certamente, investigador. – a voz de Angela soou aliviada, uma vez que aquele interrogatório estava pra acabar. Ele a deixava nervosa. Muito nervosa.

- Onde conseguiu o roxo em seu braço?

Ele a viu se contorcer e esconder o braço.
- Como pode perceber investigador, sou uma pessoa muito clara. Qualquer esbarrão, por menor que seja em um móvel ou maçaneta, pode deixar pequenas marcas.

Ele assentiu com a cabeça.

Mais uma vez sua mente divagou e ele imaginou-a algemada em sua cama. Aquela pele clara à sua mercê. E depois de fazê-la gozar muitas vezes ele a soltaria e a pele clara de seu pulso estaria marcada onde a algema havia estado.

“Porra” Ele sussurrou e depois foi ate o corpo de Ted.

Ele não tocou em nada. Ele apenas estudava a cena, olhava pra tudo e fixava o olhar apertado por muito tempo nos objetos, depois no corpo de Ted. Observava, franzia a testa. Ele mudava de posição e observava as mesmas coisas novamente. Angela já estava ficando nervosa.

Finalmente Samuel terminou sua avaliação. Guardou seu caderninho de anotações e foi em direção a Angela. Ele olhou bem nos olhos dela e depois disse:

- Seu namorado realmente gostava muito de beber Srta Luque. Ele usou dois copos pra tomar seu uísque.



Capitulo 2



O dia do enterro amanheceu ensolarado e quente. Usando vestido preto discreto, de gola alta e mangas ¾, óculos escuros e chapéu de abas largas que cobriam parte do seu rosto, Angela passou, acompanhada de seguranças, pelos vários repórteres que acampavam em frente a sua casa. A notícia de que a policia investigava a causa da morte de Ted se espalhara como fogo em pólvora, e ao amanhecer a casa já estava rodeada pela imprensa.

O caminho até o cemitério foi feito em alta velocidade, com os jornalistas sempre no encalço. Chegando no destino, ela foi rapidamente conduzida para dentro dos muros tristes do cemitério, mas ainda podia ver os flashes espocando a distância.

A cerimônia foi breve. Alguns amigos estavam presentes, alguns primos distante de Ted, e um tio. Ele não tinha mais os pais. Enquanto o caixão baixava e era coberto por terra, Angela enxugou delicadamente as lágrimas que desciam por suas faces pálidas.

Seu coração se contorceu no peito ao vê-lo ser enterrado. Não queria isso. Queria-o com ela, como era quando haviam se conhecido, todo aquele charme e sedução irresistível.

Ela ainda ficou um pouco após todos os outros terem se retirado. Silenciosamente chorou pelo homem que ele fora e por tudo que ele levara consigo para o túmulo.

Levantou o rosto quando sentiu o vento forte na pele... A tarde caíra e ela não se dera conta. Começou a caminhar para a saída, tristemente consciente do silêncio e da solidão que reinava naquele lugar.

Estava a alguns passos do carro quando, sem aviso, flashes estouraram novamente em seu rosto... Jornalistas faziam as mais variadas perguntas, todas ao mesmo tempo, microfones e celulares eram empurrados em direção a sua boca. Os seguranças tentavam conter o avanço, mas eles eram poucos em comparação ás dezenas de repórteres que se aglomeravam ao redor dela.

Ela tentava se esquivar, cobria o rosto dos flashes que a cegavam, mas nada adiantava. Não conseguia sair do lugar, eles a estavam deixando sufocada.

Sentiu uma mão segurar duramente seu braço e puxá-la, enquanto escutava um homem falar alto que ela não daria entrevistas. Em segundos estava sentada no banco de trás de seu carro, enquanto o motorista arrancava em alta velocidade, sendo seguidos pelos seguranças e vários carros de imprensa.
-A senhorita está bem?- O investigador Mattos se debruça, se aproximando dela. A palidez da moça em contraste com as roupas escuras é assombrosa.

–Está machucada?

-Angela. Por favor, Investigador, me chame de Angela. – Ela pediu bruscamente, enquanto tirava os óculos e o chapéu. O tom vivo dos cabelos ruivos a fez parecer ainda mais pálida. – Acabei de enterrar o homem com quem vivi pelo ultimo ano. Eu o encontrei na nossa sala. Não, eu definitivamente não estou bem, Senhor. –Ela virou o rosto pela janela, no momento que mais um flash estourou, tentando capturar algo pelas janelas escuras.

Ele a observou atentamente. Algo ali estava lhe escapando. Algo estava muito errado nela. Olhou para o braço dela, lembrando-se do machucado da noite do assassinado, mas este estava coberto pela manga do vestido. Observando o rosto perfeito e pálido dela, o cabelo preso em um coque elegante, o pescoço claro e cumprido coberto pela gola do vestido... A vestimenta dela simplesmente não parecia compatível para o clima do dia. Atentamente fixou o olhar no seu pescoço, percebendo um tom levemente arroxeado que se perdia dentro da gola, deixando apenas uma pequena parte de fora.

Ah, sim... Definitivamente, havia mais coisas ali do que estava claro. Ele estava ali para descobrir.

-Vim até aqui para falar com a senhorita. – Samuel diz após alguns quilômetros em silêncio.

Ela sorri ironicamente ante á insistência dele em usar aquele tratamento. – Imagino que sim! –Ele era tão formal! Tão sério e sisudo. –Só não consigo entender o que mais eu poderia dizer que já não tenha dito.

-A senhorita pode começar me dizendo a que horas chegaram em casa, naquela noite.

-Eu já lhe disse, a 01h00min.

-A senhorita também afirmou que foram direto para o quarto, mas quando questionada sobre os dois copos no bar, admitiu ter tomado uísque com a vitima antes de se recolherem. Poderia me explicar esse choque de informações?

- Certamente, Investigador- O olhar dela é duro e frio para ele, os lábios apertados. – Eu estava cansada e nervosa. Ted estava morto ali na minha frente. Como o Senhor espera que alguém tenha coerência em tal situação?

-A senhorita poderia, então, repetir o que aconteceu naquela noite?

- Chegamos em casa a 01h00min, tomamos um drink e subimos para o quarto. Acordei com os gritos na sala e ele já não estava na cama. Isso foi tudo.

-Sei... –Ele a encara firmemente, e Angela se mexe, desconfortável. – Srta. Luque, de acordo com a perícia a vitima veio a óbito entre as 02h00minh e 03h00minh. Ele foi envenenado. –Samuel observou atentamente as reações da mulher. Assombro, angústia, tristeza. – Foi utilizado cianureto, que mesmo em pequena quantidade pode matar em 5 minutos. Ele não teria tido tempo de chegar no andar de cima se o tivesse ingerido ao chegarem em casa. Ele desceu posteriormente e foi envenenado.

- O que o Senhor quer dizer com foi envenenado? – Ele quase não consegue ouvir a pergunta, tão baixa ela foi pronunciada.

- Não foi encontrado nenhum frasco próximo á vitima, Senhorita. Ele foi assassinado.



Capitulo 3



Samuel agora observava atentamente Angela: seus olhos verdes muito abertos, suas mãos trêmulas, os lábios cheios entreabertos. Tentava captar algo mais nela, talvez aquilo que acreditava que ela estivesse escondendo.

Havia algo que não se encaixava naquela história e era seu trabalho desvendá-lo, ainda que pra isso descobrisse algo desagradável sobre aquela ruiva gostosa.

Na cabeça de Angela ecoava a frase do investigador: “Ele foi assassinado, ele foi assassinado”. Ela tenta recompor-se o melhor que pode, esforçando-se em estabilizar seu tom de voz:

-Entendo... Isso é uma hipótese ou esta é sua conclusão?

Seu olhar intenso a estava enervando. E ela tinha que admitir que não era apenas devido ao rumo que aquela conversava tomava... Ele parecia devora-la com os olhos e ela sentia-se estranhamente excitada com isso.

-Não, Srta. Luque. A investigação ainda está no começo, mas a polícia trabalha com possibilidades, e a de assassinato me parece bastante plausível! Além da cozinheira, havia mais pessoas na casa no dia da morte do Sr.Villar, certo?

-Sim, haviam alguns empregados. – Respondeu Angela, sua voz muito baixa.
-Vou precisar dos nomes e interrogá-los o quanto antes. Além disso, a Srta. se recorda de algo de diferente, alguma coisa fora do lugar que ainda não tenha mencionado?

Desviando os olhos, Angela tenta lembrar-se de todos os acontecimentos daquele dia. Muita coisa havia acontecido, mas ela não conseguia lembrar-se de tudo. Também havia bebido alguns drinques...

-Ted bebeu um pouco demais, acho. – E sua mente foi preenchida pelas imagens do comportamento inconveniente dele durante a festa, tocando-a de forma quase bruta, de forma muito possessiva, quase machucando-a!

O carro parou em frente à sua casa, e Angela imediatamente saiu. Dirigiu-se à porta e ao olhar por sobre o ombro, percebeu que o investigador já estava ao seu lado. Uma de suas empregadas, uma senhora de meia idade e jeito maternal a recebeu.

-Sr. Mattos, esta é a Sra. Antonia Silva. – Samuel acena com a cabeça, cumprimentando-a – Depois êle irá falar com a Sra. sobre os demais funcionários que estavam aqui na noite em que Ted...
Angela interrompe-se. Sua voz está embargada. Ela cruza o hall até o bar, serve-se uma dose de uísque e a bebe de uma só vez.

-Escolha interessante, Srta. Luque. – Samuel não pôde deixar de notar que ela servira-se da mesma bebida que o tal Theodoro tinha tomado pela última vez!

Ela o olha sem entender e ela olha para o copo vazio, lembrando-se de outras coisas na festa: após algum tempo, Ted estava realmente irritado, com ciúmes. Seguindo-a todo o tempo, vigiando-a. Tentou beija-la diversas vezes, de forma embaraçosa.

-Ted não estava bem, não sei precisar o porquê, mas ele estava diferente. Talvez preocupado, não sei.

Colocando finalmente seu copo sobre o balcão ela o olhou. Observou-o quieta, pensando no que ele poderia estar pensando de toda essa história. Mas pelo olhar inquisidor que via nele, percebia que ela não teria sossego tão cedo. Apertando a boca em desagrado, ela se pegou imaginando se ele tinha alguém, se era casado, se era feliz... Atraente como era, certamente devia ter alguma mulher muito satisfeita com o belo homem que tinha. “Eu não tenho nada a ver com isso!” – repreendeu-se. “Mas que ele era bonito, era, oras!”.

-A Srta. sabe se ele estava com algum problema? Desculpe a indiscrição, mas a Srta. disse que ele parecia estranho, então vou perguntar outra vez: vocês brigaram naquele dia? Durante a festa, depois?

Samuel lembrou-se do braço marcado de Angela. Pelo o que andou perguntando por aí sobre o falecido, o cara além de ter bebido muito naquele dia, mostrava-se bastante possessivo com relação a ela ultimamente.

Além dos convidados, ele mesmo havia presenciado o comportamento peculiar do casal: era como se ela estivesse tentando acalmá-lo e estavam a ponto de realmente brigar na frente de todos. Mas queria saber dela sobre isso, e porque ela tinha mentido quando a perguntara.

-Sim, as coisas não estavam realmente muito bem entre nós e naquela noite, Ted estava bravo com alguma coisa, mas eu já disse que não sei com o que era. Ele não me disse! Ele estava bêbado, então ficou mais agressivo. Apertou meu braço quando tentei me afastar dele, sei lá. Eu não sei!

Angela tinha perdido toda a sua calma, estava nervosa e muito irritada por ter revelado algo tão íntimo, algo do qual ela não queria mais recordar. Levou as mãos aos longos cabelos, enrolado-os num rabo de cavalo, estava exasperada.

“Por que esta explosão? Por que ela mentiu?” – Perguntou-se Samuel.

Ela caminhou até um sofá, sentou-se, tirou os sapatos altos. Então, inclinou o corpo para frente, colocando os cotovelos sobre os joelhos e as mãos sobre o rosto. As cenas voltaram à sua mente quando ambos chegaram em casa após a festa, a discussão no carro, acusando-a de estar se oferecendo para outros caras, os dois copos de uísque que beberam, a raiva incontida nos olhos. Aquilo tudo doía demais. E mal sabia Samuel que Ted estava com ciúmes principalmente dele!

-Sr. Mattos, namorados brigam às vezes e não estava acontecendo nada de excepcional. É tudo o que eu posso dizer.

Aproximando-se dela, Samuel viu à sua frente uma mulher frágil, delicada, chorando e teve vontade de confortá-la, segurá-la forte e dizer-lhe palavras que a tranquilizassem. Passou a mão pelo rosto, ao notar que gostaria de protegê-la, que sentia uma enorme vontade de beijar aquela boca carnuda, e acariciá-la até fazê-la esquecer-se de todo seu sofrimento, o que quer que fosse que aquele babaca a tinha feito passar! Mas ele sabia que havia uma coisa séria aqui, ele sabia que ela escondia algo, que não estava contando tudo o que realmente acontecera!

-Srta. Angela, gostaria de esclarecer que suas declarações sobre o ocorrido são conflitantes, em diversos pontos. Angela enxugou os olhos, e quando os abriu viu as pernas musculosas e levantou o olhar para o seu rosto.



Capitulo 4



O batimento cardíaco de Angela acelerou, suas pernas já não respondiam mais ao comando de seu cérebro. Como diabos ela foi se envolver em um caso de assassinato?

Investigador Mattos notou seu rosto perder toda cor... Ele nunca a vira tão pálida, nem mesmo no dia que o corpo de Theodoro fora encontrado morto.

- Senhorita esta tudo bem? – Perguntou ele notando que havia algo de errado.

- Na verdade, não estou me sentindo muito bem inspetor, preciso repousar um pouco. Esses dias tem sido muito exaustivos para mim. Eu realmente prefiro continuar essa conversa em outro momento. Agora, se me da licença... – Ele a ajudou a se levantar e ao tocar em sua mão, sentiu um arrepio em sua espinha, uma sensação gostosa que a muito não sentia, “Foco Samuel , regra numero um de sua lista, nunca misture trabalho com prazer” pensou ele ao retirar com muito esforço suas mãos das dela , ele viu em seus olhos que ela sentira a mesma coisa , com um leve aceno de cabeça , Angela saiu, deixando – o sozinho na sala de jantar daquela imensa mansão. Samuel ficou ali, parado por alguns minutos, pensando sobre a conversa que acabara de ter. “A reação dela quando disse que precisaria de um advogado foi muito estranha... Ela está escondendo alguma coisa. Angela deveria ser a primeira a querer que o culpado fosse descoberto. Ela sabe de algo... Mas oque? O que esta linda ruiva esta escondendo de mim?“, pensou Samuel antes de ir embora.


Pelo resto do dia, Samuel não parou de pensar em Angela e no segredo que ela escondia.. Sim, havia algo de errado, e seu dever era descobrir o que... Mas ele já não estava mais conseguindo se concentrar no caso, só pensava naquela ruiva misteriosa, seu belo corpo e no prazer que seria descobrir cada pedaço dele, explorando-o com sua língua. Ele balançou a cabeça para espantar os pensamentos inapropriados, “Ela acabou de perder o namorado, e alem disso, é uma das principais suspeitas do crime, nem pense em ferrar com tudo!” ele disse a si próprio.


O resto da semana passou muito rápido, Samuel foi todos os dias para a mansão em busca dos empregados para interroga-los. Havia pelo menos cinco empregados que estavam no local na hora do crime, e ele precisaria falar com todos para esclarecer esse caso.
Começou interrogando Sr Carlos , o porteiro da Mansão , ele também fazia a vigilância da casa , mas o mesmo , disse não ter visto nada fora do normal, confirmou o horário que Srta Luque e Theodoro chegaram da festa, e também afirmou categoricamente que não havia mais ninguém no carro com eles. Isso só aumentou as suspeitas de Mattos, “O assassino mora aqui“. Em seguida foi em busca de Antonia Silva, antiga Babá e fiel escudeira da Srta. Luque. Era visível o afeto entre as duas e Antonia parecia uma mãe super-protetora. Estava com Angela desde o seu nascimento, e quando Angela ganhara na loteria, convidara novamente Antonia para trabalhar com ela.
– Sra. Silva, me conte como era a sua relação com a vitima. – perguntou Mattos com um olhar especulativo.
- Sr. Mattos, sou somente a governanta da casa. Eu pouco via o Sr Theodoro. Raramente conversava com ele a não ser quando ele queria algo especifico -Respondeu ela, sua voz era dura e fria como o gelo.
- E como era a relação da Srta. Luque com ele? – perguntou ele já sabendo que a governanta não falaria sobre a intimidade de sua protegida.
-Isso o Senhor deveria perguntar a ela – e então ela hesitou por um momento para depois continuar – Mas posso lhe dizer que o Sr. Theodoro não era um homem bom para ela. Ele bebia muito e causava vários problemas para a Angela, e lhe digo que eu não estou de fato triste pela morte dele -terminou com um suspiro de alivio ao pronunciar aquelas palavras tão duras.

“Uau, o que foi isso?” pensou Mattos, agradecendo e se despedindo de Antonia.

Interrogou então Vanessa, a copeira da mansão. Vanessa aparentava ter seus 25 anos, era loira e tinha pernas incríveis, ela parecia muito bem em seu uniforme, um vestido preto colado ao corpo.
- Sra. Vanessa, a senhora poderia me dizer como era a sua relação com Sr. Villar?
- Srta, por favor – disse ela sorridente a ele se inclinando a mesa para que ele pudesse ter uma visão privilegiada de seus seios.
“Ela esta flertando comigo?” pensou ele. - Srta então, como era sua relação com a vitima? – por um momento viu um flash de dor nos olhos de Vanessa, que logo foi substituído por um olhar despreocupado.
- Normal, eu sou a copeira e ele o namorado da minha patroa. Respeitava-o e sempre atendia aos seus pedidos – ele não pode deixar de perceber o toque de ironia quando ela mencionou a palavra “pedidos”... Seria ela amante de Theodoro?
– Srta Vanessa, Sr Theodoro alguma vez pediu que a Srta fizesse favores sexuais a ele? -Vanessa não reagiu como ele esperava. Samuel imaginava que ela ficaria surpresa e ofendida com a pergunta, mas ao contrário disso, a copeira não esboçou qualquer reação.
– Sim. – E em seguida contou a ele que o Sr Villar sempre a procurava na madrugada para transar.
“Aquele Filho da puta!“ pensou Samuel, indignado por saber que o idiota deixava aquela ruiva linda e gostosa na cama, para procurar a copeira. Não que esta não fosse atraente e sensual, mas as duas não poderiam ser comparadas. Angela era infinitamente mais bonita e sexy que Vanessa. “Só um idiota para fazer isso!“ pensou Samuel. “Teria sido Vanessa a envenena-lo por ciúmes ou amor doentio?” pensou ele, já anotando em seu caderninho mais esta possibilidade.
O próximo a ser interrogado foi Leandro, segurança particular de Angela.
Samuel já havia percebido alguns olhares de Leandro para Srta. Luque, mas ele o entendia... Como não admirar a beleza da estonteante ruiva? Ela era perfeita. Samuel só queria saber até onde esses olhares poderiam chegar e os sentimentos por trás deles.
Leandro pouco acrescentou na investigação. Contou sobre o dia a dia do casal, que incluía visitas ao shopping, viagens caras e baladas de luxo.
A ultima a ser interrogada foi Isabel Lopes, a cozinheira que encontrara o corpo. A mesma aparentava ter uns 50 anos e trabalhava com a Srta. Luque há três anos.
- Sra. Lopes, o que a senhora tem a dizer sobre a noite do crime?
Após pensar por algum momento ela disse – Eu estava indo tomar um copo de água, quando notei a luz da sala acesa. Estranhei, pois sabia que todos já estavam dormindo. Fui até a sala e vi o corpo do Sr Villar no chão, entrei em pânico e gritei por socorro, foi isso. – Ela parecia vaga.
- E a senhora não ouviu mais nada? Imagina quem poderia ter sido? – indagou ele.
-Veja, Sr. Mattos, Theodoro não era o homem mais gentil do mundo, gritava e ofendia os funcionários e agia de forma inapropriada a maioria dos dias, fazia a Srta, Luque sofrer e era violento, não me admira que alguém o queria morto.
Samuel anotou as informações e foi embora. Precisava pensar... Ele não conseguia entender esse quebra cabeça. Pelo que entendeu, Theodoro era um traste acomodado com o dinheiro de Angela, a traia com a empregada e tinha comportamento violento quando bebia. Qualquer um ali teria motivos para mata-lo.

Samuel também não deixou de notar que Angela o evitou em todas as visitas dele a mansão, e isso o deixava desapontado. Desde a primeira vez em que se viram, na casa do juiz, que ele não conseguia tira-la de sua mente, as imagens o deixando tão duro que já não conseguia mais suportar.
Naquela noite se masturbou pensando em Angela.


Nessa mesma noite Angela estava inquieta em sua cama. Aquela semana fora um tormento para ela, a presença do investigador Mattos a deixava tensa, não pela investigação, mas sim por que não conseguia deixar de querê-lo, e muito.
Como poderia ela estar tão atraída por uma pessoa como ele?
Ele era rude e grosso, a tratava com formalidades , e mesmo assim não deixava de imaginar como deveria ser o sexo com ele... Angela tinha certeza que ele seria tão bom na cama quanto é em seu trabalho, e isso a deixava ainda mais excitada.


Sexta feira chegou e Samuel decidiu ir em busca de algo que aliviasse seu corpo da obsessão que sentia por possuir Angela. Foi até um bar que era frequentado por prostitutas, algumas delas bastante conhecidas por ele. Era um lugar no mínimo interessante, visto que a clientela era selecionada... Um desavisado não imaginaria que as mulheres presentes naquele ambiente eram prostitutas.
Desde a morte de sua esposa ele procurava essa “válvula de escape” para saciar a necessidade do seu corpo, mas naquela noite ele simplesmente não parecia estar ali... Todas as belas mulheres naquele lugar pareciam insipidas se comparadas a uma ruiva de corpo escandalosamente quente.
Ele sempre frequentara esse bar, mas hoje a atmosfera estava estranha, um forte arrepio passou pelo seu corpo, e ao olhar ao redor do bar, parou bruscamente.
Ela estava ali, sentada no balcão do bar, tomando um uísque puro, pensativa , olhando fixamente para o copo.
- Você gosta bastante de uísque – Afirmou ele, sentando ao seu lado.
Ela levou um susto e o olhou assustada, - Sr Mattos o que faz aqui? Não vai me dizer que o Senhor esta me seguindo...
- Não Srta. Luque, só vim tomar um drink... Posso acompanha-la?– ela concordou com a cabeça e ele pediu ao garçom o mesmo que ela estava tomando.


Angela estava surpresa, essa noite quando resolveu sair para tomar um drink e pensar um pouco no rumo que tomaria em sua vida, jamais imaginara que encontraria com Sr. Mattos, mas agora que ele estava ali, seu humor havia piorado, ela já estava cansada das suas perguntas e estava incomodada pela constante excitação que sentia quando ele estava próximo. Quando ele se sentou ao seu lado, pode sentir seu cheiro, ele cheirava a uísque barato e alguma fragrância amadeirada. Cheiro de homem.
Uma imagem dela beijando e cheirando seu pescoço passou por sua cabeça, ela queria aquele homem, mas sabia que era muito perigoso se envolver com ele... Muito arriscado.


Samuel estava atordoado. A presença de Angela o deixava nervoso, ela estava ainda mais linda vestindo jeans apertado e baby look preta colada, seus cabelos estava presos em um rabo de cavalo, estava sem maquiagem, mas nem precisava, pelo contrario, ficava ainda mais bonita com a pele limpa, seu perfume tinha cheiro de baunilha. E mesmo sabendo que era totalmente errado e antiético ficar com uma suspeita, ele a queria, e não estava se importando com o amanhã, com o certo, com o ético. Os dois beberam mais algumas doses em silencio, a tensão sexual entre os dois era quase palpável. Angela se levantou para ir ao banheiro, e ao ver sua linda bunda rebolando naquele jeans apertado, Samuel se deixou levar pela luxuria e a seguiu.
Certificou-se de que o banheiro estava vazio, trancou a porta e foi ao seu encontro.
Angela não precisou se virar para sentir a sua presença, tudo o que ela mais desejara estava acontecendo, ele a seguira.
E por apenas uma noite ela se deixaria levar. Sem dizer uma palavra, ele a virou e a encostou na parede, pressionando seu corpo musculoso sobre o dela. Angela já podia sentir sua excitação, duro como pedra, o que a deixou ainda mais molhada. Ele segurou seus braços e os colocou sobre sua cabeça. Angela tentou protestar, mas Samuel colocou o dedo indicador em sua boca para silencia-la.

- shhhhh... Silencio. Se você não quiser, é só dizer pare, eu pararei na hora. Mas se você quiser continuar vai ter que fazer do meu jeito – disse ele sussurrando em seu ouvido, e ela estava ainda mais excitada, se é que isso era possível. Angela apenas concordou com a cabeça, e ele então abriu um sorriso sexy e começou a beija-la no pescoço... Aquilo a arrepiou e ela já pensava que poderia gozar daquela maneira, seu toque era forte e bruto, mas ela gostou, em um movimento rápido, ele levantou sua camiseta, deixando o sutiã esportivo dela a mostra, ela se arrependeu da escolha na hora, mas não deu muita atenção a esse detalhe, ele acariciou seus seios apalpando e alisando, seus mamilos ficaram duros, aquilo era bom demais, mas ela queria toca-lo, porem ele ainda prendia suas mãos no alto da cabeça, e com a outra mão ele explorava seu corpo, deslizando pelo seu tórax e barriga, com habilidade Samuel desabotoou o botão da calça dela e a abaixou num movimento rápido. Angela o ajudou a retira-la. Ela na se importava se estavam no banheiro de um bar, ela só queria senti-lo. Ele passou a mão sobre sua calcinha, já molhada de excitação.

-Mantenha as Mãos acima de sua cabeça – disse ele com a voz rouca.

Ela obedeceu e continuou com as mãos erguidas, ele retirou seu sutiã e abocanhou um dos mamilos, aquilo era bom demais, pensou ela. Ainda com a boca no seu seio, ele retirou a sua calcinha e enfiou dois dedos em seu sexo e Angela gemeu de prazer. Há tempos que não sentia tal sensação, sentiu o orgasmo se aproximar.

- Goze pra mim – ordenou ele com aquela voz autoritária, e Angela gozou, seus músculos apertando os dedos dele, falando palavras incoerentes, ela sentiu o orgasmo mais intenso de sua vida. Ela não notou quando ele retirou as calças dele, mas ele já exibia sua ereção, grande e dura. Ela estava maravilhada, queria senti-lo em sua boca, e como se lesse seus pensamentos ele já a estava abaixando, a colocando de joelhos. Ela não se importou com o chão do banheiro, ela só queria dar prazer a ele. Passou a língua por todo seu membro, sentindo o gosto almiscarado que ele tinha, enfiou o máximo que pode em sua boca e começou a chupa-lo. A forma como ele inclinou seu quadril, a incentivou a toma-lo ainda mais, ele gemia de uma maneira deliciosa e ela acreditou que gozaria só de vê-lo sentir prazer, mas ele já a estava puxando de volta para cima. Samuel pegou uma camisinha no bolso de sua calça e enrolou no seu membro e Angela já não agüentava mais, seu sexo dolorido de necessidade de senti-lo. Samuel a virou de costas, seus mamilos agora pressionados contra a parede gelada estavam sensíveis. Ele puxou o seu cabelo e a penetrou e aquilo foi o paraíso, ele a preenchia de uma maneira surpreendente, o jeito bruto como ele a levava a deixava ainda mais excitada. Com uma das mãos ainda em seus cabelos e a outra em um dos seus seios, Samuel a tomava de um jeito incrível, reivindicando como seu o corpo dela, as estocadas foram ficando ainda mais fortes e intensas e Angela sabia que outro orgasmo estava se formando, o puxão em seus cabelos ficou mais forte, e a dor que ela sentia era gostosa... Ela nunca imaginou que sexo bruto seria tão bom.

Samuel já não agüentava mais, Angela era muito melhor do que ele imaginara, seu sexo era apertado e quente, um convite claro ao prazer, os gemidos que ele dava já estavam levando ele a borda, mas ele queria vê-la gozando de novo. Jamais deixou uma mulher insatisfeita e essa não seria diferente, ele então soltou a mão de seus cabelos e foi diretamente para o clitóris. Ele a sentiu tremer e gozar, seus músculos apertando o seu membro tornaram a sensação maravilhosa, e com um gemido intenso ele gozou também.

Que sexo incrível, que mulher incrível! Samuel havia quebrado todas as regras, mas não havia nada nesse mundo que o impediria de toma-la hoje, e ele não se arrependera. Foi sem duvida o melhor sexo dos últimos tempos. Aquilo era errado, ele sabia, mas senti-la gozando daquele jeito e gritando seu nome, ele percebeu que ela tinha que ser dele e de mais ninguém. Mas isso não era o suficiente, sua investigação não havia acabado.

Mas agora, ele já não sabia se queria descobrir a verdade...



 

Final 









– Temos que sair daqui! Disse Angela finalmente voltando a si

 

– Eu sei, se vista e aguarde um minuto antes de sair. Samuel abriu a porta do banheiro e observou se alguém vinha naquela direção e saiu deixando-a lá dentro e voltou ao bar para pedir outra bebida para si enquanto a aguardava.

Angela ficou boquiaberta diante de tal atitude, estava acostumada a ser tratada de forma totalmente diferente...

 

– O que você esperava vindo de um ogro desse! “Um delicioso ogro desse!” pensou. Vestiu-se e saiu a sua procura, encontrou-o no bar outra vez como se nada tivesse acontecido. Ela sentou-se ao seu lado adotando a mesma postura, mas como a curiosidade era maior acabou perguntando:

– Porque você fez isso?

 

– Isso o que?

– Isso! Saiu sem mais nem menos e esta aqui agindo como se nada tivesse acontecido ali dentro!

 

– Angela não era nenhuma adolescente, sabia muito bem o motivo, mas sem entender exatamente a razão, sentia dentro de si uma intensa necessidade de ouvir sua resposta. E depois de um longo suspiro Samuel respondeu:

– Srtª Angela, se você não entendeu nossa sit...

 

– Sim, sim eu entendo! – Disse Angela lhe interrompendo – Esqueça!

– Mas isso não significa que o meu desejo neste momento não é tê-la em meus braços para que eu possa deitá-la em uma cama, tirar toda essa sua roupa e sem pressa alguma descobrir através dos meus beijos cada pedacinho do seu corpo – Falou Samuel aproximando-se para falar-lhe ao pé do ouvido –

 

Ouvir estas palavras ditas roucamente ao pé do ouvido enviou-lhe ondas de prazer por todo o seu corpo. Infelizmente foram interrompidos pelo celular dele e ao sair para atender Angela começou a racionalizar toda a situação. Acabara de enterrar o namorado e já se via envolvida com outro homem! E justo o que estava investigando o seu caso! Assassinato, para ela era inconcebível a idéia de assassinato... Tomada por um impulso repentino pediu a conta ao barman a sua e a de Samuel, seria uma maneira de “agradecer”, enquanto tomava o ultimo gole de sua bebida o rapaz chegava com sua conta, sem nem mesmo olhar entregou-lhe o cartão de credito e neste momento Samuel voltava e com uma cara de preocupado perguntando:

– Posso saber o que significa isto?

 

– Já estou indo, tomei a liberdade de pedir a conta do que foi consumido ate agora por nós dois...

– Srtª Angela não há motivos para isso! Falou-lhe Samuel categoricamente.

 

– Tarde demais! O rapazinho já esta voltando com o cartão.

– Er... Com licença Srª Luq...

 

– Srtª!

– Há! Sim, sim me desculpe...

 

– Algum problema?

– Acredito que sim Srtª Luque, o cartão da Srtª...

 

– Use este! Falou Angela rapidamente antes que Samuel a impedisse e volta a olhar pra ele com um olhar divertido...

– Então onde estávamos?

 

– Não há necessidade disto Srtª Angela, eu posso pagar pelo que consumo – e é o que eu gosto de fazer. – Quando Angela ia argumentar o rapaz reaparece com uma cara constrangida de quem está temendo interromper.

– Srtª Luque sinto muito mas...

 

– Meu rapaz entregue o cartão a Srta Angela e tome! Fique com o troco como gorjeta, tenha uma boa noite!

– Eu não entendo... – Disse Angela ao receber o cartão – Usava-mos sempre os cartões de Ted, mas não era pra isto ter acontecido eu...

 

– Srtª Angela não precisa se preocupar mais com isso! A conta já está paga. Também estou indo, gostaria que eu a acompanhasse até em casa?

– Não há necessidade Sr. Mattos eu vim de carro, estou bem para dirigir, obrigada.

 

– Acompanharei a Srtª até o estacionamento então.

Seguiram para o estacionamento em silêncio. Ambos queriam falar algo a mais, mas conteram-se, entendiam a situação em que se encontravam, aquilo não deveria ter acontecido, pensaram os dois enquanto se despediam quase que formalmente.

 

Ambos seguiram para suas casas com o desejo de prolongar o que havia acontecido ambos se recriminavam pelo ocorrido, ao mesmo tempo em que lembravam com ardor cada detalhe vivido.


Seis dias se passaram após aquele encontro, Angela se convencera de que fora um erro e que ele também julgava assim, provavelmente ele era comprometido, embora não se lembrasse de ver uma vez sequer aliança em seu dedo. Tentou voltar ao trabalho nos dias que se seguiram. Outras pessoas voltaram para interrogar seus funcionários, Samuel que vinha fazendo todo o trabalho com o interrogatório sozinho agora mandava outros policiais em seu lugar.

No quarto dia ela fora intimada a prestar depoimento na delegacia. Não houve contradições entre este e o último depoimento que dera ao investigador Mattos em sua casa, e ela fora liberada ainda ao fim da tarde. Durante todo o dia aguardava encontrar-se com o investigador Mattos, mas não houve nem menção ao seu nome durante todo o tempo em que lá esteve. No dia seguinte reuniu forças para reunir as coisas de Ted e entregar a doação, retirou todas as suas roupas, seus objetos, as câmeras que ele deixara lá e lembrou-se do estúdio abandonado no sótão.

 

A muito tempo não entrava lá, antes mesmo dele parar de fotografar, Ted mantinha como hobby fotografar pessoas, principalmente em movimento, quando elas menos esperavam ser fotografadas, assim ele poderia capturar a essência de seus sorrisos sinceros, dizia, entrando no estúdio a muito deixado de lado, começou a arrumar a confusão que havia ali, inúmeras fotos espalhadas, misturadas com os frascos de produtos utilizados para revelação das fotos. Pôs-se a separar tudo e por em seus lugares, Ted havia lhe ensinado como revelar as fotos uma vez, ainda se lembrava de todo o procedimento... Após separar os produtos, sentiu falta de alguma coisa, mas não soube dizer do que.

Ao começar a separar as fotografias, muitas delas ainda penduradas nos varaizinhos para secar, foi tomada por uma dor, a saudade finalmente batera, ela havia fugido durante todos esses dias de qualquer coisa que a lembrasse dele, até estava dormindo em outro quarto, pois não suportava estar no mesmo quarto que compartilharam uma vez. Viu inúmeras fotos suas, em todas as poses e de todos os ângulos e se lembrou do quão diferente ele era no começo do namoro, gostaria de entender o que aconteceu, o que o fez mudar tanto, mas sabia que nunca teria a resposta.

 

Voltou para a sala com as fotografias e espalhou-as sobre a mesa do centro, muitas delas retratavam os funcionários da casa em seus afazeres, iria mostrar-lhes quando Vanessa a interrompeu:

– Srtª, Com licença.

 

– Pois não Vanessa, diga.

– Srtª eu gostaria de saber quando poderei tirar férias, minha mãe encontra-se doente e eu gostaria de uns dias a seu lado para ajudar meu irmão a cuidar dela.

 

– Oh! Sinto muito, acredito que você possa tirar férias hoje mesmo, pelo menos por mim poderia ser assim, mas vamos falar com a Sra Antonia para ver como ficara a situação da casa neste período.

Encaminharam-se para a cozinha, Angela acabou por esquecer-se das fotos durante todo o dia. Na manhã do sexto dia ela convencera a si mesma que o investigador Mattos havia pedido transferência do caso devido o que tinha lhes acontecido. – Melhor assim – pensou, mas naquela tarde ele aparecera enquanto ela não estava em casa, havia saído para ir a academia, precisava voltar a sua vida, não podia mais adiar. Voltava para casa tranquilamente, mas ao fazer a curva para entrar em sua propriedade seu coração deu um pulo, o carro do investigador Mattos estava parado a lado de fora do portão, observou que ele viera sozinho, não havia viaturas por perto e ele não tinha parceiro, alegrou-se diante do pensamento de ficar a sós com ele novamente, porém algo lhe dizia que ele não viera somente para vê-la, ele havia descoberto alguma coisa.

 

Entrou em casa e ao vê-lo seu coração disparou, ele ainda não a tinha visto, ficou alguns segundos admirando sua beleza, sentado no sofá ele observava atentamente as fotos a sua frente, respirou fundo afim de acalmar-se e seguiu em sua direção.

– Investigador Mattos, pensei que não o veria mais – Falou-lhe com um tom a mais que o desejado. – Ao vê-la levantou-se,

 

– Srtª Angela, Boa tarde, estive ocupado esses dias e não pude aparecer, gostaria de conversar com a Srtª sobre um assunto delicado, mas creio ter encontrado algo mais interessante, a Srtª poderia me explicar estas fotos?

– Claro! Sente-se, por favor, estas fotos foram tiradas por Ted a algum tempo por que?

 

– Ele costumava tirar fotos Srtª Angela?

– Sim, era um hobby, ele havia abandonado-o a alguns meses, mas não estou entendendo Sr. Mattos.

 

– Onde ele costumava revelar as fotos que tirava?

– Aqui mesmo, dois meses depois que começamos a namorar montamos um estúdio no sótão pra ele.

 

– A Srtª também sabe como revelar fotos? Conhece todo o material necessário para este fim?

– Sim, sei, quer dizer, mais ou menos, ele me ensinara uma vez, mas somente isto, conheço vagamente o processo, por quê? – Tornou a perguntar.

 

– Por que como eu disse a Srtª anteriormente o Sr. Villar foi envenenado por cianureto de potássio. E caso a Srtª não saiba, este produto é utilizado no processo de revelação fotográfica. A Srtª sabia?

– Sabia que era utilizado no processo, mas desconhecia o motivo, assim como a maioria dos outros produtos utilizados, desculpe Sr. Mattos, mas realmente não estou entendendo bem. O Sr. esta querendo dizer que...

 

– Que o fato deste produto encontrar-se em sua casa, provavelmente acessível a todos, inclusive aos empregados, uma vez que fui informado que a governanta possui a chave de todas as portas da casa, confirma minhas suspeitas e a de meus companheiros de que o culpado reside aqui. E este não encontrou dificuldade alguma de conseguir o cianureto. Enquanto a Srtª esteve fora informei a ao delegado e esta a caminho um mandato de busca e apreensão, queremos revistar o estúdio do Sr. Villar ainda esta tarde, gostaria que a senhora me entregasse todas as chaves que dêem acesso ao estúdio para que ele permaneça da forma que está ate...

– Oh! Sr. Mattos receio ter lhe causado problemas

 

– Como assim Srtª Angela?

– Ontem estive separando todas as coisas de Ted para entregar a alguma instituição quando vi as câmeras que ele havia guardado em nosso closet, e depois fui ao estúdio, estava completamente revirado, produtos misturados às fotografias, e arrumei tudo, foi quando reuni as fotos e trouxe pra cá.

 

– Srtª Angela, o Sr. Villar costumava deixar o estúdio da forma como estava ontem ao entrar lá?

– Pra falar a verdade não! Agora que o Sr. esta perguntando recordo-me que Ted era meticulosamente organizado! Não faz sentido est...

 

– Srtª Angela – Disse levantando-se bruscamente – a Srtª sentiu falta de algum produto ou qualquer outra coisa ao arrumar o estúdio?

– Não tenho certeza! Na verdade lembro-me de ter dado por falta de – Angela arrepiou-se ao lembrar – Oh meu Deus! O veneno! O veneno não estava lá! – Exclamou Angela já sentindo todo o corpo tremer diante da súbita revelação.

 

Samuel imediatamente pegou o seu telefone e discou pro seu superior.

-Mande vir imediatamente mandato de busca e apreensão IMEDIATAMENTE entendeu?!

 

Angela assustou-se com tamanha explosão, encolheu-se ainda mais na poltrona em que estava, atordoada não percebeu que Samuel falava com ela até ele chamar-lhe pela terceira vez.

– ANGELA! – Angela não respondeu apenas dirigiu o olhar assustado para ele – Preciso que a Srtª ordene seus seguranças para que não deixe nenhum funcionário sair da casa.

 

– Cer... Certo – levantou-se trêmula, – foi até o interfone e passou a ordem a Leandro.

– Srtª Angela, gostaria de conversar a sós, não quero ser ouvido por ninguém mais além da Srtª.

 

– Sim, podemos ir à biblioteca, o cômodo é acústico e...

– Perfeito! Vamos – Falou-lhe estendendo a mão indicando que ela fosse à frente.

 


Chegando à biblioteca Samuel trancou a porta atrás de si e virou-se para encarar Angela, sentiu uma súbita vontade de aninhá-la nos braços e dizer-lhe que tudo iria ficar bem, mas reprimiu o desejo imediatamente, não podia comprometer-se ainda mais, pelo menos não por enquanto.

– Srtª Angela, gostaria que a Srtª se sentasse – Começou.

 

– Por favor, Sr. Mattos, estamos a sós, me chame de Angela pelo menos aqui. – pediu Angela com um tom de suplica que ela não previra empregar ao pedido.

– Certo, Angela, por favor, se sente tenho algo muito serio e importante para lhe falar. – Angela sentou-se apreensiva.

 

– Angela, o que vamos conversar aqui nada tem haver com a investigação, – e diante de seu olhar que lhe dizia que não estava entendendo nada Samuel deu um longo suspiro como se para reunir forças.

– O que vou lhe falar aqui é algo pessoal, tenho que informá-la por questões pessoais, repito, que você é a principal suspeita de assassinar o Sr. Villar! – Angela empalideceu, estava prestes a falar quando Samuel a interrompeu.

 

– Não! Aguarde minha conclusão, não estou lhe acusando de nada Angela, só estou dizendo que todos os fatos apontam para você, e...

– Sr. Mattos eu não compreendo em que isto é pessoal. – Interrompeu mais uma vez Angela.

 

– Angela, a cinco anos eu era casado e tinha uma filha tão linda quanto a mãe, diante de todas as dádivas que tinha em minha vida, eu era um homem completamente diferente do que você me conhece hoje, agradecia a Deus todas as noites por elas duas, porém, acredito que minhas graças não tenham sido necessárias, pois em uma noite ele as levou de mim, voltávamos os três de um passeio ao zoológico quando um motorista bêbado bateu em nosso carro e depois fugiu, o carro que eu dirigia capotou varias vezes, pois o motorista vinha em altíssima velocidade, fiquei em coma por e quando acordei havia perdido o enterro de minha esposa e de minha filha, após me recuperar fisicamente, passei a caçar este homem que fugiu, procurei sem parar um dia que fosse por seis meses, ate que me vi obrigado a reduzir o ritmo, caso contrario perderia meu emprego e com ele toda e qualquer chance de encontrá-lo, porem, eu nunca desisti, e durante os últimos seis dias, descobri praticamente sem querer que, este homem era o Sr. Villar!

Angela não pode conter o espanto diante de tantas informações e a dor que sentiu por ele era tão intensa que se tornava praticamente física.

 

– Oh meu Deus! Samuel! Eu não posso imaginar o quão terrível foi para você!

– Sim, foi! Nesses últimos dias travei dentro de mim uma genuína batalha, estive completamente dividido, mas já me decidi. Eu ainda posso vingar a morte de minha esposa e filha, simplesmente deixando impune este assassinato, se minhas suspeitas, que digo suspeitas por educação, se confirmarem, tenho uma forma de fazer com que o assassinato do Sr. Villar passe a parecer suicídio ou posso invalidas todas as provas e encerrar o caso por falta destas.

 

– Sr. Mattos eu...

– Entretanto Angela, tenho que lhe informar que há outra suspeita!

 

– Como?! Quem?

– A Srtª Vanessa!

 

– O que?! Vanessa?! Mas, como? Por quê?! Eu não compreendo!

– Angela, sinto ter que lhe dizer isto, mas a Srtª Vanessa e o Sr. Villar estavam tendo um caso a algum tempo!

 

– O que?! Um caso?! Com... O Sr. tem certeza?

– Temo que sim Angela, a própria Vanessa confessou quando a interroguei a alguns dias atrás! Perguntei-lhe se o Sr. Villar pedia favores sexuais à Srtª Vanessa e ela confirmou, até então seria apenas a palavra dela, mas naquela sexta feira, percebi sua confusão ao ver que seus cartões de crédito terem apresentado defeito, não havia defeito Angela, eles lhe roubaram praticamente tudo! Consegui através de um conhecido todos os seus dados bancários, suas movimentações, as faturas dos vários cartões que vocês possuíam em conjunto e também individualmente, tudo! Antes de morrer Angela, o Sr. Villar apresentou um documento no banco com sua assinatura, onde você passava para ele o total controle de seu dinheiro, diante disto o banco realizou a mudança e a dois meses ele controlava toda sua movimentação bancaria, e a alguns dias ele apresentou ao banco um documento falso, mas que acredito que ele subornou alguém do banco para conseguir isto, neste documento constava que a Srtª Vanessa era sua irmã, e havia outro documento por você assinado que dava a ela também controle parcial a sua conta, eles vinham gastando o seu dinheiro “legalmente” desde então, há movimentação de enormes quantias de dinheiro para uma conta particular conjunta deles dois, e por causa dos documentos...

 

– Chega! Eu não quero ouvir mais nada! Oh meu Deus! ¬– gritou Angela aos prantos caindo ao chão, Samuel a segurou a tempo. Ele estava com o rosto devastado de preocupação e ela pelas lágrimas.

– O que foi Angela?! Quer que eu mande chamar um médico?!

 

– Não, não, não, não! – Repetia Angela sem parar, aos prantos.

– Angela! Angela! Fale comigo meu bem! Fale comigo o que houve? Do que você se lembrou agora? – Perguntou Samuel com genuína preocupação.

 

– Oh Samuel, ela fugiu, eu a deixei ir! Ela foi embora!

– Quem foi embora Angela!? Vanessa? Como?! Porque você permitiu isto meu bem?! Você deveria ter me consultado ou a alguém mais que estivesse envolvido na investigação! Oh meu bem, não chore! Por favor, não chore, não chore.

 

Em seus braços Samuel tentava acalmá-la balançando-se para frente e para trás, ninando-a como fazia com a filha quando ela acordava no meio da noite assustava por causa de algum pesadelo. Não suportava vê-la chorar, e sentia o mesmo com relação a Angela, neste momento ele percebeu que seu luto passara, e que ele estava pronto para seguir adiante, quando tudo isso acabasse, tomaria Angela para si e cuidaria dela com todo amor e carinho e a começar por agora, não deixaria nada nem ninguém atingi-la nunca mais.

Sabia que ela era culpada, sabia perfeitamente bem, pela sua experiência que Angela, tomada pelo desespero envenenara Theodoro naquela noite, e ele tinha certeza também que ele provocara isto, a menos que estivesse extremamente enganado, Angela parecia não possuir um pingo de maldade em seu coração. Por que não aproveitar os fatos que surgiram para livrar-lhe diante da justiça? Sempre fora um homem justo e em todos os anos que trabalhara como investigador ainda não tinha se enganado uma vez sequer, e tinha certeza que desta vez não seria diferente.

 

Ele inocentaria Angela, e a justiça saciar-se-ia com Vanessa, pelo roubo. Angela ao mesmo tempo era a culpada e a vitima. Sim, ele faria isso, iria contra seu juramento e iria inocentá-la, se Vanessa tivesse realmente fugido com o restante do dinheiro de Angela, só lhe facilitaria o trabalho, porem, iria “inocentá-la” também da morte de Ted, iria plantar uma prova, e a partir daí tudo pareceria suicídio, mesmo que não fizesse sentido algum por causa de sua relação com Vanessa, mas a pessoa certa lhe devia favores, e como ele o conhecia muito bem sabia que iria pagar sem nem pestanejar. Estava tudo resolvido, só precisava fazer Angela se acalmar e tudo correria bem.

Após muito tempo Angela finalmente se acalmara, Samuel secara suas lágrimas e explicara tudo, tudo o que sentia, tudo o que pretendia fazer por ela, diante desta revelação Angela desmoronara novamente e entre prantos confessou a Samuel tudo o que ele já sabia. Samuel sentira um ódio tão intenso de Theodoro ao saber que naquela noite ele a violentara somente por que sentira ciúmes dele. Ele que só fizera olhar para Angela naquela festa e nada mais, mas o seu ciúme doentio e inexplicável o fizera cometer aquela atrocidade, quase quis se bater de tanta raiva de si mesmo pela maneira como tomara naquele banheiro na sexta feira. Mas prometera a si mesmo que de agora em diante seria o mais gentil possível com ela, pelo menos até que ela se recuperasse deste trauma, pois ele não podia fazer morrer dentro de si um instinto dominador que se apossava de si na cama. Era como ele gostava e faria com que Angela passasse a gostar também.

 


Após alguns minutos saíram da biblioteca, os policiais ainda não haviam chegado e enquanto Angela estava no banheiro lavando o rosto ele cumprira com a primeira parte de seu plano, colocara uma luva e de dentro de sua maleta retirara um pacotinho de plástico, que trouxera por precaução, ficou olhando–o fixamente, lembrando de toda dor e sofrimento que sentira ao acordar seis dias depois no hospital, como que para se convencer que era o certo a se fazer. Só faltava Angela voltar com a outra parte, com o frasco que continha o veneno que ela usara na bebida de Theodoro Villar. Ao entregar o frasco a Samuel, ele o colocou em um lugar que poderia perfeitamente bem ter passado despercebido da ultima vez e longe o suficiente de onde o corpo se encontrava a fim de fazer com que os peritos julgassem que a vitima fizera uma tentativa de fazer com que o suicídio parecesse um assassinato. Conhecia o trabalho e sabia perfeitamente bem que esta seria a conclusão.

– E quanto às minhas impressões digitais Samuel? – Perguntou Angela lembrando-se subitamente deste detalhe.

 

– Não se preocupe meu bem, é este o favor que irei cobrar, e por isso vai parecer que foi uma tentativa do Sr. Villar de incriminar alguém, como o frasco veio diretamente do estúdio só há impressões digitais dele. – ele respirou fundo e continuou - eu sei que vou me arrepender de estar sendo antiético, mas no momento estou fazendo o que meu coração pede. E ele pede justiça a minha família... E eu... eu acho que estou apaixonado por você Angela, coisa que eu não sinto há muitos anos. Não quero vê-la atrás das grades por um homem como ele. Assassino, estuprador e ladrão.

Angela sorriu diante daquela declaração, também tinha certeza do que sentia por ele, porém sua preocupação persistia.

 

– Mas não vão se questionar o porquê do suicídio já que ele estava de caso com Vanessa?

Retirou a luva e chegou mais próximo de Angela, e com a mão em seu queixo fazendo-a olhar para ele falou:

 

– A Srtª esta me saindo uma boa investigadora Srtª Angela! Pretende roubar o meu lugar?

– Roubar! Não Sr. Mattos! Na verdade sim, mas não é o “seu lugar” que eu quero roubar.

 

– E o que seria Srtª Angela?

– O seu coração Sr. Mattos, o seu coração...

 

E encorpando a voz fazendo-a parecer mais grave falou:

– Srtª Angela Luque diante desta confissão eu a declaro culpada!

 

 

Fim
Epilogo

 


Tudo acabara acontecendo conforme Samuel planejara, após meia hora os policiais chegaram à casa de Angela com o mandato e começaram a revistar todo o lugar, conforme haviam combinado, Samuel inventara uma desculpa para sair da casa, precisava cobrar os seus favores, não revelou a Angela quem era esta pessoa, mas ela confiava nele e sabia que nada de ruim iria acontecer.

Dois anos e meio se passaram ...

 

Angela e Samuel combinaram de não mais comentar sobre o passado.
O inicio foi um inferno. Os jornalistas ávidos por informações, questionavam por quais motivos Theodoro Villar tinha matado, já que ele havia roubado a fortuna de Angela e fugiria com Vanessa. Depois a cara de Vanessa estampada nas páginas policiais, sendo procurada nos quatro cantos.

Porem os planos de Samuel saíram perfeitamente bem. Tudo foi meticulosamente cuidado, para não haver erros e caso foi encerrado como suicídio.

 

Vanessa foi capturada e confessou o roubo, devolvendo assim a fortuna de Angela.
Quatro meses depois eles foram fotografados por um paparazzi e o relacionamento dos dois veio a tona. Mas Ângela já não interessava tanto assim a mídia, e rapidamente foram esquecidos.


Samuel e Angela estavam sentados na praia, aproveitando as férias dele. Observavam Luan, de apenas um ano brincando com as estrelinhas de plástico na areia. Eles riam e brincavam enquanto o bebê jogava areia para todos os lados.

 

Samuel observava os longos cabelos ruivos de Angela ao vento e pensava em como tinha sorte de amar e ser amado novamente. Algo que ele por muito tempo imaginou ser impossível.

Samuel estava novamente feliz e agora que tinha uma nova família, havia voltado a ser o homem divertido que fora antes. No entanto Angela era a única que conhecia seu lado obscuro, onde todas as noites ele fazia questão de mostrá-la e levá-la a loucura.

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